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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 5 de maio de 2024
 

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Mensagem: Doutor Plínio Ribeiro dos Santos (in memoriam) Hoje, 08 de dezembro de 1991, marca o desaparecimento de um ilustre filho de Montes claros e iniciam-se as festividades do centenário do seu nascimento, que serão comemorados com vários eventos. O doutor Plínio Ribeiro dos Santos foi um grande benfeitor de Montes Claros, pela qual viveu e lutou pelo seu progresso até os seus últimos dias. Na simplicidade de uma cidade do interior, carente de todos os recursos físicos, sociais e econômicos, longe do tumulto das grandes civilizações, numa noite escura e fria do mês de maio de 1892, num casarão antigo de portas largas, portais rústicos de madeira de lei, janelas com vidros coloridos, tipo guilhotina (retrato da arquitetura da época), plantada num quintal enorme, sombreado por mangueiras centenárias, naquele exato momento nascia um forte menino e que na pia batismal recebeu o nome de Plínio Ribeiro dos Santos. Seus pais, major Simeão Ribeiro dos Santos e dona Deolinda da Silva Santos, enlevados na euforia da chegada de mais um filho, nem por instante sequer pensaram que naquele exato momento, num acontecimento tão simples e corriqueiro na vida das famílias, sem alarde, sem foguetes, nascia um grande menino, que seria no futuro, um grande homem e teria uma vida inteira marcada pelo sucesso, seria enfim, um sol brilhando a noite. Em criança, ela foi igual a tantas outras, com as mesmas características e ações. Entretanto, desde cedo uma inteligência extraordinária transparência nas suas atitudes. Quando brincavam juntos, irmãos, amigos e vizinhos naquela antiga rua Bocaiúva, desprovida de conforto, com os pés emergidos na poeira ou na lama quando chovia, ele já se sobressaía entre todos e ao expo suas idéias, em se tratando de brinquedos (por mais simples que fosse), ou quando procurava demonstrar sua opinião em qualquer assunto da escola, ou mesmo da vida, no dia-a-dia, ele sabia se fazer ouvido. Naquela época criança ainda, era já um líder nato. Seu ideal foi sempre estudar Medicina e conseguiu, formando-se muito cedo. Conheci-o, mais tarde, como médico e como médico que era o que poderia dizer: um mestre. Aqui chegando, recém formado, cheio de ideais, e com um temperamento dinâmico e vendo o abandono da nossa cidade, a penúria e a carência em que a comunidade vivia, principalmente na área de saúde, desprovida de assistência médica e hospitalar, ele se desdobrava. Cheio de entusiasmo fazia de sua casa uma verdadeira escola, orientando os jovens de nossa terra, incentivando-os a estudar, fortalecendo, de várias maneiras, o gosto pelas ciências e pela cultura. E conseguiu muitas vitórias. Cumprindo fielmente o juramento que fizera, salvar vidas (ou pelo menos lutar para consegui-lo) era este o seu lema na sua profissão de médico. Filantrópico ao extremo, traço característico da sua personalidade, seu consultório era aberto 24 horas, atendendo a qualquer hora, sem distinção de cor ou de casta, dando pouco valor a cifras. Quando menina, eu era extremamente achacada de amigdalite. E, naquele tempo, sem antibióticos e penicilina, calculem o que sofria. Como era agrimensor, papai viajava demais, dando duro medindo terras, enquanto a mamãe se desdobrava com os problemas domésticos e a casa cheia de crianças não poderia me acompanhar. E eu, dona do meu nariz, resolvi ir ao médico, sozinha. Não era uma tarefa difícil, numa cidade pequena onde todos se conheciam e as distâncias eram mínimas. E, enrolando no pescoço um cachecolzinho de lã, corri ao consultório do doutor Plínio. Achei-o circunspecto e de pouca conversa, mas muito atento, cuidadoso e sobretudo interessado no cliente. Fui logo me queixando das dores e o meu ma. Ele examinou-me atentamente e com uma colher prendendo a minha língua, cutucou as enormes amígdalas que mais pareciam dois furúnculos. Calado e sem comentários mandou-me descer da mesinha, entregou-me a receita e dando um tapinha em meu ombro, perguntou-me: - Menina, de quem você é filha? Fiquei afobada, vermelha (pois me esquecera de levar o dinheiro da consulta) e respondi, sem olhá-lo de frente: - Sou filha de Tobias Tupinambá e é para debitá-lo. Ele olhou-me bastante sério, sobrecenho carregado (gesto seu quando algo o preocupava), deve ter achado muito estranha aquela minha atitude infantil e ao mesmo tempo audaciosa. Saiu rapidamente da sala, voltando em seguida com os medicamentos, dizendo-me: - Não lhe custa nada. E dê um abraço no seu pai. Cheguei em casa contente e com o pacotão de cápsulas, poções e gargarejos, sentindo-me grande e valorizada. Mamãe, admirada, se esqueceu de me passar pito. Ele era um homem singular. Os anos passaram-se e jamais me esqueci deste seu gesto, que só mais tarde pude avaliar e entender. Anos depois nos encontramos novamente. Ele era meu professor de Ciências Naturais e Biológicas, Física e Química, na Escola Normal Oficial de Montes Claros. Como o admirava! Era decidido, autoritário, impertinente, mas um excelente professor, justo e amigo dos alunos. Sua aula era atrativa e, dominando a classe pela lógica e coerência, possuía o dom de transmitir conhecimentos, provocando entusiasmo e interesse de todos. Convivendo com ele, notava-se logo seu amor por Montes Claros, que cantou nos seus versos – os mais belos que conheci. Sua exaltação no poema Boa Noite Montes Claros é tão profunda, com tanta sensibilidade e beleza que nos comove até às lágrimas. Neste mesmo poema, afirma e se orgulha de ser seu filho: Ser teu filho, ó Montes Claros, é ter nervos de aço, caldeados na fogueira do sertão. Doutor Plínio possuía como ninguém, as virtudes tradicionais do político mineiro lúcido, analistas dos acontecimentos, mas também malicioso quando bastasse para não se deixar envolver. Cauto, amante dos meios suasórios, mas extremamente corajoso. Não criava casos nem os alimentava, mas sabia como elimina-los na hora H, com agudo senso de oportunidade. As dimensões de um homem público, acabam por inseri-lo em um contexto muito mais amplo do que o da família ou da vida privada. O seu universo é outro. Doutor Plínio conseguiu transcrever este universo e com facilidade assolava a fé a sua lúcida percepção, porque conhecia Jesus através da pesquisa e de estudos. Ele foi um pensador. Casou-se bem cedo com dona Neném Pimenta, dedicada companheira que muito colaborou para a realização de todos os seus ideais. Desse casamento nasceram cinco filhos: Yedde, Myriam, Roberto, Lonne e Humberto. Sua vida profissional se estendeu à diversas áreas: médico, fazendeiros, industrial, professor, comerciante, deputado federal e pesquisador de produtos farmacêuticos. Exerceu as seguintes atividades: professor catedrático de Ciências Biológicas, Química e Física. Responsável pela reabertura da Escola Normal Oficial de Montes Claros, hoje E.E.Prof. Plínio Ribeiro, cujo terreno para construção da sede foi doado por ele. Fundador do Colégio Agrícola Antônio Versiane Athayde com os deputados Antônio Pimenta e Teófilo Pires, fundou vários grupos escolares em Montes Claros. Atuou em vários setores educativos: magistério, teatro, jornais, rádios etc. Como deputado federal, com vários trabalhos na Câmara: erradicação da doença de Chagas no Norte de Minas, inclusão de Montes Claros na área do Polígono da Seca – SUDENE. Criação da Escola da Medicina, em Montes Claros. Inspirador-fundador, juntamente com outros ilustres confrades, da Academia Montesclarense de Letras. Um dos fundadores do Sanatório Santa Terezinha. Fundador da Associação Comercial de Montes Claros e seu primeiro presidente. Participou de várias entidades de classe: Associação Rural de Montes Claros, Rotary Clube e deu paio a todas as iniciativas da época em Montes Claros. Fundador da Sociedade Educação e Cultura de Montes Claros, ponto inicial para fundação das escolas de nível superior em Montes Claros. Fez várias doações particulares a educandários e entidades beneficentes. Fundador da Legião de Assistências Recuperadora-LAR, para assistência à criança. Pesquisador arqueológico com outros estudiosos no assunto, na Lapa Pintada, descobrindo valiosos achados pré-históricos. Convocando a participar do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, não chegou a tomar pose, devido ao seu falecimento. Nasceu no dia 26 de maio de 1892. Faleceu no dia 8 de dezembro de 1967, em Montes Claros. Assim são decorridos vinte e quatro anos e sua memória, viva e imperecível está em nós, a saudade que nos deixou aquele ilustre benfeitor de Montes Claros, cuja perda ainda sentimos. Foi uma individualidade inconfundível em nosso meio e deixa de si um nome e uma lembrança, que jamais serão esquecidos. Merecida homenagem que vão prestar-lhe na comemoração do centenário de seu nascimento. No decorrer do ano de 1992. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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