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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 18 de abril de 2024


João Carlos Sobreira    [email protected]
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Por João Carlos Sobreira - 4/12/2015 10:28:55
Centenário de Lygia Maia

Todas as vezes que se fala em sogra, sempre aparece alguém contando casos jocosos de marido brigando com mulher por causa da mãe. Há inúmeras piadas a respeito e existe alguma intolerância pela figura, às vezes, comparada à de uma bruxa. Tenho até alguns amigos que dizem ter restrições quanto à progenitora de suas esposas. Não é o meu caso.
Mesmo antes de me casar com Baby, já havia grande amizade e respeito em relação a sua mãe. Minha admiração por ela sempre foi tão grande que, quando, na sua presença, eu fazia qualquer referência a ela, deixava-a visivelmente embaraçada. Mas, no fundo acho que ela até gostava quando me ouvia falar “minha Santa Sogra”. É sobre ela que faço este texto, para lembrar que, no próximo dia 6 de dezembro, Lygia completaria um século de existência.
Celebraremos esta data com missas em Montes Claros e em Belo Horizonte.
Nascida Maria Lygia Maia Magalhães, na cidade de Coração de Jesus, em 06 de dezembro de 1915, filha da professora Maria Escolástica Maia Magalhães e do fazendeiro (também delegado) Virgílio Muniz Magalhães e teve três irmãos mais novos: João, Helber e Maria Sebastiana (Lia). Fez o curso primário em Coração de Jesus e concluiu o curso de Magistério na Escola Normal Oficial de Montes Claros em 1933.
Sua turma era composta de três dezenas de moças 9dentre as quais, sua tia Alice Maia –Leça,
irmã de sua mãe, tia Colaca (como a chamávamos em família) e, surpreendentemente, de um rapaz chamado Cândido Canela, que viria a ser considerado o grande poeta de Montes Claros.
Certa vez, ela me mostrou a foto de formatura, onde em um mar de moças sorridentes, destacava, no canto esquerdo, um rapaz com um semblante sério, vestindo um terno de linho branco! Voltando à sua cidade natal, Lygia lecionou, com a já comprovada eficiência durante cerca de dez anos, no mesmo Grupo Escolar em que havia estudado.
Era tratada por seus amigos e colegas como Lygia Maia e seus primos mais novos que eu, a chamavam de Tia Lygia. Explico: a diferença de idade, entre nossa avó –Vó Alice e Tia Colaca, sua filha mais velha e mãe de Lyigia, era de apenas 15 anos. Vó Alice teve 14 filhos, dos quais 10 sobreviveram. Lygia nasceu um ano depois de Tia Mariquita, irmã mais nova de Tia Colaca..
Casou-se em 15 de janeiro de 1938 com o pecuarista (e também vereador em Coração de Jesus, em Montes Claros e deputado estadual) Jader Dias de Figueiredo, tendo com ele, sete filhos: Maria Geralda (Gerinha), Maria da Consolação (Mary), Maria Isabel (Baby), João Virgílio (Grigo), Helber, Dayse Maria e Maria Alice. Deixou 9 netos e, 14 bisnetos, dos quais, 11 tiveram a felicidade de por ela serem embalados e abraçados inúmeras vezes.
Antecipando a necessidade de estudos a nível de ginásio (últimos quatro anos do ensino fundamental hoje), para os filhos nascidos em Coração de Jesus, Lygia iniciou outro momento na sua trajetória, mudando-se, com a família, para Montes Claros. Tendo, conseguido transferir-se para o Grupo Escolar Carlos Versiani,-morou, inicialmente, no final da rua Governador Valadares, mudando-se, depois, definitivamente, para a rua Dr. Veloso, para uma casa mais ampla, perto das famílias Maia e Figueiredo. A casa tinha uma boa biblioteca, na qual tive o privilégio de iniciar minhas leituras, pegando, seguidamente, por empréstimo, livros de Érico Veríssimo e Machado de Assis. E nunca mais parei! Do Carlos Versiani foi para o Grupo Escolar Francisco Sá, onde logo passou a ter uma nova colega – sua filha Gerinha. Lecionou com a comprovada eficiência, até se aposentar em 1964. Também teve uma atuação marcante ao presidir o Apostolado da Oração da paróquia da Matriz, por mais de vinte anos consecutivos. Padre Dudu não abria mão da sua eficiência e mão firme na direção dessa .
A sua relação entre Lygia e minha mãe - Zaeth, era de irmãs amigas e não de sobrinha e tia.
Havia um respeito e uma admiração mútua. Tanto é que, após o falecimento de mamãe, eu a adotei como segunda mãe e não me arrependi. Minha dedicação e carinho por ela aumentaram com uma convivência muito próxima ao longo dos anos.. Sempre que possível, Baby e eu a levávamos em nossas viagens (Brasília, Belo Horizonte - inúmeras vezes, praias na Bahia e no Espírito Santo), sem mencionar as inúmeras idas à Santa Tereza, fazenda de Grigo, quando incans´vel, ela não perdia tempo: fazia deliciosos queijos todos os dias e aproveitava o abate de algum leitão para fazer linguiça caseira. E se era época, passava horas a fio, junto aos pés de jabuticaba, chupando, avidamente, seus frutos pretinhos.
Este texto não poderia ser encerrado sem referência a um novo método de ensino, que Lygia
teve, na sua dedicada trajetória de magistério, a oportunidade de aperfeiçoar uma técnica de alfabetização, inventada por ela e testada nos netos, bisneta e nos alunos das aulas particulares ministradas em casa (onde tinha uma mini sala de aula, com carteiras e quadro negro), com enorme sucesso. Eu ficava incomodado pelo fato de, em um país com alto índice de analfabetismo, ninguém se interessar em coletar todos os dados desse novo método e divulgá-lo. Finalmente, minha voz foi ouvida pela professora Mércia Procópio, que durante muito tempo fez várias entrevistas com ela, a fim de publicar um livro.
Todos os meus filhos aprenderam a ler aos 4 anos de idade. A escola Balão Vermelho, de Belo Horizonte, realiza todos os anos uma feira literária e expõe frases dos alunos que estão em alfabetização. Na década de 90, minha neta Bárbara, quando tinha 5 anos, teve destaque na feira com a seguinte frase: “Eu aprendi a ler com a minha bisavó. Ela me ensinou a ler pouco em pouco. Ela não é daqui. Ela mora em Montes Claros. Cada vez que eu ia lá, voltava mais sabida. Obrigada, Vó, por tudo o que você me ensinou.”


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Por João Carlos Sobreira - 29/11/2015 15:16:04
O comentarista político da Globonews, Gerson Camarote, relembrou, na noite da prisão do senador que, a primeira vez que ele teve seu nome evidenciado na grande mídia, foi em 2006, quando presidiu a CPI dos Correios, criada após aquela denúncia do então Deputado Federal Roberto Jefferson, abrindo o caminho para a descoberta do mar de lama do mensalão, do petrolão e de outras siglas que, ao que tudo indica, irão ainda aparecer, para desespero do PT e seus admiradores. Camarote revelou também que: -“Naquela época, ele se chamava apenas Delcídio Amaral e descobriria, posteriormente, depois de uma consulta a um numerologista, que seu número de sorte era 8, o mesmo número de letras do primeiro nome e como Amaral só tinha 6 letras, ele deveria acrescentar um “do” para completar, no nome, as 8 letras da sorte!
Gostaria de fazer uma análise, à luz da numerologia, do episódio da última quarta feira, em virtude das coincidências encontradas por mim, ao rememorar, passo a passo, os detalhes que motivaram a referida prisão: Foi, por causa (3+5=8 letras) de uma gravação (8 letras) feita por Bernardo (8 letras), filho de Nestor Serveró, que indiciou (8 letras) o parlamentar à Operação (8 letras) Lava-jato (4+4=8 letras), levando-o (8 letras) à um presídio (8 letras), em 26 (2+6=8) de novembro (8 letras) de 2015 (2+1+5=8). Diante de tudo isso, pergunto: será que 8 é mesmo seu número de sorte?
João Carlos Sobreira (Oops, 8 letras!)


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Por João Carlos Sobreira - 15/9/2015 14:48:21
Chico Pitomba e Mané Juca

Somente hoje, terça-feira, tive oportunidade de ler os textos de Wanderlino Arruda e Luiz Ortiga a respeito do lançamento do livro do escritor e historiador Dário Teixeira Cotrim - Chico Pitomba e Mané Juca - que conta as deliciosas passagens da inesquecível e fantástica dupla humorístico-sertaneja (sempre vestidos a caráter: chapéu de palha, camisa xadrez, calça cáqui dobrada nas pernas, botina rangedeira,” rosto pintado imitando bigode e barbicha), que brindou a região, na década de 1940, com seus programas semanais na D-7.
Após minha mudança para Belo Horizonte, para tratamento de saúde, meus contatos com minha querida cidade se resumem à leitura periódica do montesclaros.com, aos familiares e amigos aí residentes. Passei toda a semana, ocupado na confecção do projeto arquitetônico da uma casa, a ser construída no Condomínio Alphaville, em Belo Horizonte, às margens da Lagoa dos Ingleses, para minha filha Paula e meu genro Kleber, que moram em Campinas. Nesse momento, estou disponível para o deleite da leitura obrigatória do Mural no nosso jornal.
Sinto-me honrado por ter tido um bom relacionamento tanto com Cândido Canela, quanto com Antônio Rodrigues (o Antônio Vitrola). Nas minhas (poucas) idas ao antigo Fórum, nunca deixava de passar no cartório de Seu Cândido, para trocar dois dedos de prosa e, principalmente, ouvir suas sábias palavras Esse relacionamento era sedimentado através de uma enorme amizade minha com seus filhos Reinine e o grande articulista e também poeta Reivaldo Canela.
Já Antônio Rodrigues era dileto amigo desde os tempos da loja A Primavera, de sua propriedade, em um imóvel de minha mãe, à rua Simeão Ribeiro, antes do surgimento do “Quarteirão do Povo”. Nos onze anos que passei na capital, até minha formatura como arquiteto, essa amizade foi reforçada com uma convivência semanal com o velho Antônio. Morei, nessa época, na pensão de Dona Vêla (era assim que a maioria das pessoas chamava tia Quininha, esposa do tio Juquita). Éramos 15 estudantes de Montes Claros, alguns com laços de família com o nosso Vitrola. Metade da turma, gostava de jogar baralho (pôquer e/ou buraco, desde que fosse com pontos valendo poucos centavos). Era sempre uma grande “roda” de jogos acontecia na casa que Antônio tinha na Serra. quase todos os sábados, após o almoço até altas horas da noite. Nós, que não tínhamos o hábito de “jogar valendo” também íamos pelo agradável papo do Vitrola, seus “causos” engraçados que sempre tinha na ponta da língua e suas sessões de violão com modinhas, músicas sertanejas e paródias da dupla Chico Pitomba e Mané Juca. Era sempre muito divertido.
Antônio Rodrigues é uma figura inesquecível. Grande amigo, sempre sorridente. Não me lembro de tê-lo visto triste ou emburrado. Tinha atitudes inéditas. Ele trabalhava, como corretor de venda de seguros do IPASE. Fiz com ele, um seguro de vida, pago em carnet mensal. Combinou comigo que ele mesmo pagaria a mensalidade e eu faria o ressarcimento toda vez que viesse à Montes Claros. E completou: - “Combinei, assim, com todos meus amigos. Afinal, é uma boa maneira de revê-los a cada três meses”. Só mesmo o Nêgo Antônio (era assim que eu o tratava) para fazer uma proposta como esta. ele era único,
Prezado colega Ortiga, você tem toda razão. Aquelas memoráveis apresentações da dupla, no pequeno auditório da ZYD-7 da rua Presidente Vagas e no velho Cine Montes Claros, são inesquecíveis. Inclusive o cheiro da carne assada na brasa da Churrascaria do Leon Soltz que ficava ao lado do cinema! Em tempo: gostaria de lembrar ao amigo Wanderlino que, em 1945, o saudoso Colégio Diocesano se chamava Ginásio Municipal. O novo nome foi dado em 1950 e, nesta época você, Wanderlino, ainda não havia chegado em Montes Claros.
Parabéns para você, Dário. Resgatar nossas raízes significa fazer a elegia dos valores de nossa terra. Gostaria de saber onde posso adquirir o livro aqui, em Belo Horizonte.


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Por João Carlos Sobreira - 25/2/2015 09:54:25
Matas Ciliares

A “bola da vez” é a água. Ou melhor: é a falta d’água. Venho pensando em escrever um texto à respeito, desde o ano passado, meditando e “remoendo”, digitando na memória, enquanto espero o sono chegar. É assim que sempre faço quando tenho que elaborar algum escrito de certa importância. E somente pego o teclado para nele digitár, apenas quando me sinto satisfeito com minha verve. Caso contrário, prefiro aguardar uma ocasião propícia para colocá-lo na telinha do computador. Como agora.
Na quinta-feira passada, 19 de fevereiro, saiu uma reportagem no Jornal Nacional, sobre dois municípios vizinhos, um no sul de Minas e o outro, no norte de São Paulo, cujas prefeituras aprovaram um decreto, obrigando e dando incentivos (de redução de impostos e/ou outros) a quem fizesse a recomposição da mata ciliar, com mudas de árvores doadas pela municipalidade.
Na reportagem, enquanto entrevistavam os fazendeiros, eram mostradas imagens de nascentes de novos córregos, brotados espontaneamente, às dezenas, nas sombras das novas matas ciliares dos rios locais!
Ouço falar em mata ciliar desde a época do ginásio, nas aulas de geografia ministradas pelo excelente professor dr. Francolino, há quase 70 anos. Durante meu curso de arquitetura, todas as vezes que o tema legislação era abordado, mata ciliar era uma das primeiras citações ouvidas por nós alunos. Na Lei de Uso do Solo do Plano Diretor que o inesquecível prefeito Toninho Rebello presenteou a nossa cidade, (e eu tive a honra de colocá-la debaixo do braço, além de reproduzir em slides os mapas nela contidos, mostrá-los, pelo projetor numa tela montada ao lado do caminhão/palanque, defendendo-a nos comícios, quando da minha campanha como candidato a prefeito em 1970). Nesta lei, havia uma obrigatoriedade da preservação da citada mata ciliar, com o replantio de árvores, caso a mesma tivesse sido derrubada. Infelizmente, nenhum prefeito cumpriu a lei. Foi essa reportagem muito bem feita na TV, que me empurrou para a presente digitação.
Imediatamente lembrei-me das reportagens desde o no passado, da imprensa escrita, falada e televisada, além de vários e.mails recebidos de amigos e colegas, versando sobre o problema hídrico, o baixo nível d’água das barragens e represas, a diminuição aterrorizante do volume dos rios e grande quantidades de córregos cortados, já secos há muitos meses. Por isso mesmo, aparecem nas imagens extensas áreas de areia nos seus leitos, mostrando um assoreamento assustador. Fiquei mais assustado ainda, ao constatar nas fotos e filmagens que comprovavam o descrito nas linhas acima, a inexistência de arvores nas duas margens, fato que explica com eloquência o aparecimento do inconcebível assoreamento.
Vejam, a segui o que diz o cientista Rodolfo Alves Pena, à respeito de mata ciliar:
“As matas ciliares são aquelas que ficam bem próximas aos córregos, rios e lagos protegendo suas margens da erosão e do ressecamento dos barrancos, evitando o estreitamento de seus leitos e facilitando a infiltração da água da chuva, que chega com maior facilidade ao lençol freático. Além disso, as matas ciliares ajudam a estabilizar a temperatura ambiente e são ricas em variedade de plantas e animais silvestres, por isso mesmo, são consideradas áreas de preservação permanente pelo código florestal e pelas legislações federais, estaduais e municipais . Esses tipos de vegetação são importantes no sentido de preservarem o ambiente dos cursos d’água. Suas raízes atuam para deixar o solo mais firme, de forma que a sua remoção pode ocasionar processos erosivos nas margens dos rios e intensificar processos de assoreamento, resultando no alargamento dos rios e a consequente diminuição da profundidade.
Outra importante função das matas ciliares é o papel que elas exercem na qualidade da água.
Elas atuam como uma espécie de “filtro” que impede a contaminação dos rios por defensivos agrícolas e poluentes em geral. Por isso, é de extrema importância a preservação dessas coberturas vegetais, pois a sua retirada pelo homem para a realização de atividades agrícolas, pecuaristas e novos loteamentos, pode, inclusive, ocasionar a extinção de cursos d’água.
Todos devemos, portanto, pressionar os dirigentes e legisladores deste país, para planejar e determinar com firmeza, a curto, médio e longo prazo, no sentido de começar, imediatamente, a recuperação das matas ciliares obrigando e incentivando os proprietários a fazê-lo e distribuindo, gratuitamente, mudas de arvores, aos milhões. Isto é um fato incontestável que ajudará aumentar o volume dos rios e, consequentemente, das barragens. A substituição das areias das margens pelas matas ciliares, gerará uma considerável área verde que anexada à superfície das lagoas, barragens e represas cheias pelo aumento de volume dos rios, criarão uma inestimável fonte de evaporação, cuja umidade poderá vir, de volta, em forma de chuva.
Assim é mais lógico do que pedir para São Pedro mandar mais umidade para fazer chover, como a pérola que cometeu, em entrevista à TV, um ministro do atual governo, demonstrando toda sua falta de preparo, demonstrando ter pouca inteligência, fato corriqueiro no universo dos 38 colegas de ministério. Esse planejamento deve ser mais complexo, pois requer tempo para plantar essa imensa quantidade de mudas. Mas, é fundamental começar o quanto antes.

João Carlos Sobreira


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Por João Carlos Sobreira - 5/5/2014 08:18:42
A Lagoa dos Ingleses

Quando fui convocado para prestar o serviço militar obrigatório no CPOR (Curso Preparatório de Oficiais da Reserva) em 1957, já estava certo de que não iria participar das comemorações do 1º Centenário de Montes Claros, pela maneira diferenciada do seu calendário. Criado para ajustar datas de estudo dos alunos do último ano do curso científico e/ou os 2 primeiros do universitário, o CPOR funcionava somente aos domingos no período letivo. Nas férias escolares de fim de ano e em julho, funcionava durante toda a semana, folgando aos domingos. O ano letivo iniciava-se em dezembro e encerrava-se no dia 25 de agosto, Dia do Soldado, para recomeçar novamente em dezembro. Eram 2 anos seguidos de quartel.
Éramos Aspirantes a Oficial e terminávamos o curso com uma estrela de 2º tenente no ombro. Mas, a maioria das aulas era ministrada por sargentos, cujo preparo intelectual não tinha como ser comparado ao de um, no mínimo, pré-universitário, o que tornava as aulas enfadonhas e sonolentas para quem tinha que acordar antes das 5:30 da manhã, todos os dias. As aulas dadas pelos oficiais, entretanto, eram muito boas. No meu caso, que já pensava em arquitetura, o curso de Artilharia me proporcionou uma sólida base que muito me serviu em toda minha vida profissional: muita topografia, prática em aparelhos como teodolito e réguas de cálculo, muitas aulas de trigonometria, desenhos de mapas, etc. Explico. Para o tiro de canhão acertar o alvo, é necessário registrar, no canhão, dados que só podem ser obtidos de acordo com a sua localização, a do observador avançado e a do “inimigo”. Essa localização tinha que ser bem precisa. O levantamento topográfico do terreno, em cima do mapa da região, era fundamental para os cálculos de tiro.
E eram muitos os exercícios de tiros. Nas aulas dominicais, íamos quase sempre para a região de Betim, nas carrocerias de 4 caminhões da marca SAMUÁ (nunca mais vi essa marca), cada um puxando um canhão alemão, KRUPP 75mm (fabricados em 1905, com rodas raiadas de madeira, coisa de museu), recebíamos uma ração para almoço (1 pãozinho com salame, 1 ovo cozido e uma garrafinha de guaraná). Na chegada ao quartel, éramos obrigados a lavar os canhões com água quente e sabão. Ao final, vinha um tenente passando, no interior do cano do canhão, um lenço branco, para checar se as raias estavam limpas. Caso contrário, tínhamos que fazer tudo novamente.
No período das férias universitárias, em geral, fazíamos uma semana de acampamento, nas proximidades do frigorífico Frimisa ou na região da Lagoa dos Ingleses. Nesses acampamentos, havia a participação de todo o CPOR. A Artilharia usava barracas para 12 alunos e, para simplificar a higienização matinal, tínhamos o hábito de deixar, do lado de fora, o capacete de aço cheio d’água, para não ter de ir até a lagoa. Na última noite sempre havia uma festa de confraternização, a carroceria de uma carreta servindo de palco. Durante a semana, exercício de tiro para nós, marcha e fuzis para a Infantaria, construção de pontes para a Engenharia, evoluções de montaria para a Cavalaria e outras atividades.
Para a montagem das peças de artilharia, havia a necessidade de um “reconhecimento” do terreno através de caminhamento mapeado, utilizando instrumentos topográficos. Numa ocasião, o comando decidiu que essa andança deveria ser noturna. Sendo assim, cabia-nos tomar todas as precauções para não sermos percebidos pelo “inimigo” que deveria estar à frente, observando-nos atentos. Passamos o dia todo ensaiando todos os passos que iríamos executar à noite, principalmente no quesito sinalização, pois com o “inimigo à frente, as luzes das lanternas só poderiam ser direcionadas de ré!”. Éramos 5 grupos de 8 alunos que faríamos o caminhamento por rotas diferentes. Já estava escuro quando nos reunimos no pátio, com um tenente, que fora designado para a chefia da importante missão. Recém-chegado, ele parecia ser carioca, pela abundância de xx, nos seus ss!
O frio era intenso. Estávamos de blusa de lã, capote grosso, cachecol e com as pernas das calças cheias de jornal para aquecê-las mais. E o tenentinho (não vou revelar seu nome) com uma simples blusa de gola olímpica, nos gozando! –“Vocês são uns fracos. Soldado tem que ser superior ao tempo”, disse ele. Relembrou todas as recomendações de precauções e disse que iria nos esperar no deck da lagoa. O caminhamento demorou cerca de 1 hora e meia. De longe, avistamos o deck e vimos que chegaríamos à frente dos outros. Encontramos o tenente abraçado a um dos esteios do deck, lábios arroxeados e balbuciando coisas desconexas. Rapidamente, improvisamos uma padiola, usando um casaco, 2 galhos enfiados pelos braços e o levamos correndo para a barraca de saúde. Como por milagre, apareceu uma garrafa de cachaça que logo foi usada para massagear e aquecer seu corpo e nossas gargantas. O acampamento se movimentou todo em um burburinho contínuo, ao saber da notícia.
Começava a clarear o dia e enquanto os acordes da corneta anunciavam a alvorada, ouvimos o ronco do motor de uma viatura militar. Ela estava levando o tenente para Belo Horizonte. Ficamos sabendo depois que ele fora transferido para uma cidade do nordeste, provavelmente para preservá-lo de alguma temperatura baixa. Ao chegar do lado de fora da barraca, vimos sua lona branca do orvalho gelado e a água do capacete com 2 dedos de gelo. A noite tinha sido de temperatura negativa!


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Por João Carlos Sobreira - 27/3/2014 14:24:49
HIROSHIMA,mon amour

Eu estava na esquina das ruas Curitiba com Gonçalves Dias em Belo Horizonte, às 7 horas da manhã, esperando Cláudio, meu colega de turma, passar de lambreta, para me dar carona até a Escola de Arquitetura, como fazia em todos os dias de aula. Nesse momento, passou um caminhão da Policia Militar carregado de soldados. O veículo tinha o apelido de “Cacho de Bananas” porque fora assim adaptado: sem as laterais e com um banco no meio da carroceria, no qual os soldados ficavam assentados, um de costa para o outro. Ficavam com a mão direita segurando uma alça presa no encosto e na esquerda um fuzil em pé, entre as pernas. Por causa da posição dos praças no banco e da farda amarela, de longe parecia mesmo um cacho de bananas amadurecidas. Era uma segunda-feira de sol brilhante do dia 30 de março de 1964. Nem cheguei a comentar esse fato com meu colega quando ele chegou.
Estávamos no 5° e último ano de arquitetura e na semana anterior, o professor de Grandes Projetos de Arquitetura havia proposto um trabalho para ser feito em equipe com oito alunos cada. Naquela manhã, no intervalo das aulas, em um bate papo informal, a nossa equipe combinou fazer a primeira reunião, naquela mesma noite, na nossa sala de aula. Encontraríamos todos às 7:30, em frente ao Café Pérola, perto da Praça Sete, para irmos juntos, no mesmo ônibus Avenida para a Escola.
À noite, quando cheguei ao ponto de encontro, já estavam lá Cláudio, Reynaldo, Marcus Vinicius e Décio. Teríamos de esperar José Júlio e Alvimar, já que Idamar morava ao lado da Escola. O JJ –como o chamávamos- não demorou. Quase 20 minutos depois, chega o Alvimar, como sempre, apressado, esbaforido e foi logo dizendo: -” Vamos deixar a reunião para depois. Hoje é o último dia que vai passar ´Hiroshima, mon amour´ no Art Palácio e não podemos perder esse filme!”. –“Mas, Idamar está nos esperando,” disse alguém. –“Como ele está perto de casa, não fará diferença. Amanhã a gente explica pra ele,” retrucou Alvimar. Não demorou muito tempo para nos convencer, afinal já estava quase na hora do filme começar.
Na terça feira, Cláudio desceu a rua Gonçalves Dias, como de hábito e ao chegar na esquina da rua Pernambuco havia uma barreira policial interrompendo a passagem. A Polícia do Governador Magalhães Pinto tinha “tomado” a Escola de Arquitetura (que fica na rua Paraíba esquina com Gonçalves Dias) na noite anterior, prendeu todas as pessoas que estavam lá e interditou todas as ruas dos quarteirões vizinhos da Escola. Estava começando a Revolução de 64, o Golpe Militar que o povo apelidou de Quartelada. Esta ocupação se repetiu em todas outras faculdades da UFMG e da PUC, em todo estado de Minas Gerais.
Naquela esquina estavam alguns alunos dos outros anos. O boato era que, os que tinham sido presos, foram levados para o DOPS e estavam incomunicáveis. Meio desorientados decidimos voltar para as respectivas casas e aguardar as evoluções dos acontecimentos. Tanto em casa quanto no trabalho – nessa época eu trabalhava à tarde em uma construtora- todos ficavam ligados na rádio Guarani, na rádio Globo ou na rádio Guaíba do Rio Grande do Sul e na TV Itacolomí, sempre à procura de notícias. Passado alguns dias, como a Escola continuava interditada e o ambiente cada vez mais tenso, pedi uns dias de folga na construtora e fui para Montes Claros até a “poeira baixar.”
Idamar ficou preso dez dias e depois nos contou horrores da prisão. Disse que até um colega do primeiro ano, que estava na cantina, bêbado – ele era de Januária e sempre que queixava saudades de sua terra, “enchia a cara”- foi preso, carregado nos braços dos soldados e só acordou no dia seguinte, sem estender nada. Na volta à Escola algumas semanas depois, tivemos o desprazer de encontrar a sala do Diretório de Estudantes totalmente depredada: o arquivo e todos os papéis incinerados, o mimeógrafo, a máquina de escrever e nosso aparelho de som hi-fi, quebrados a golpes de culatra, os alto-falantes furados pelas baionetas e os discos LPs – bossa nova (que estava nascendo), MPB, Jazz (de Armstrong a Piazzola) e clássicos de Mozart, Bach, Vivaldi, Villa Lobos etc.- mais de 500 bolachões quebrados e com as capas rasgadas. Não fazia sentido toda aquela ira dos milicos!!!
E nós que fomos salvos da prisão pelo belíssimo filme dirigido por Alain Resnais, com a francesa Emmanuelle Riva no papel principal, ficamos agradecidos pela insistência do colega Alvimar. Este episódio está para completar 50 anos.


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Por João Carlos Sobreira - 26/2/2014 14:33:13
Há alguns dias li no Mural, um recado de um leitor indignado com a COPASA pelo estrago no asfalto das ruas do bairro Jaraguá. Como foi no dia que viajei, deixei para solidarizar-me com ele na minha volta, que se deu hoje. Para identificar o autor da denúncia, procurei nas páginas do Mural, mas seu texto já tinha sido apagado. Quando o serviço foi (mal) feito, escrevi a crônica abaixo, que foi publicada no JN, em janeiro de 2010, mas ninguém
me respondeu nada. Peço desculpas por não dar o nome do referido autor indignado.
Bairro Jaraguá
Moro no Bairro Jaraguá há exatos 28 anos. Minha família adora. As ruas largas, a tranqüilidade, os colibris aos montes, com seu vôo característico (e sua mágica parada no ar), dando bicotas nas flores. Tem muitos passarinhos cantando (há um casal de joão-de-barro, meu vizinho, que todos os dias, às 6 horas da manhã, nos acorda com seu já conhecido cantar. Já foi até motivo de crônicas de Reivaldo Canela e Wanderlino Arruda no Jornal de Montes Claros!), Lá a temperatura é muito agradável (há uma diferença aproximada de 5ºC, em média, para menos, em comparação com o centro da cidade) e a cordialidade entre os vizinhos é visível. Quem tem o hábito de levantar cedo, encontra vários vizinhos, na rua, fazendo cooper. Quando resolvemos construir nossa casa, os amigos logo se preocuparam com o barulho que os aviões fariam na aterrissagem e decolagem. Que nada! Como a pista de pouso é paralela ao bairro, não sentimos a mínima interferência prejudicial do barulho dos motores. Não incomodam nem de madrugada (nem em altas horas, levando de volta políticos ou artistas quando vêm fazer seus shows aqui). O nosso bairro é o que tem o menor índice de criminalidade de Montes Claros, segundo dados da Polícia Militar.
Na década de setenta, fomos convidados (João Henrique e eu) para fazer o projeto urbanístico do bairro e resolvemos inovar com relação ao que havia em nossa cidade, neste campo. Seria um bairro com lotes grandes (o menor tinha 540m2), ruas e passeios largos e infra-estrutura completa: água, esgoto, luz e ruas asfaltadas. Para não estragar o asfalto, todos os lotes teriam (como têm) ligação de água e esgoto em algum ponto da sua fachada Toda infra-estrutura foi feita (e muito bem feita) pela Pavisan. O nosso asfalto nunca teve problemas de buraco (tão comuns nesta “terra dos buracos”) e as redes de água e esgoto funcionam perfeitamente. O bairro tem ruas sinuosas para acompanharem, da melhor maneira possível, as curvas de nível, ficando, assim, mais suaves, ocasionando uma harmonia visual de alta qualidade.
Comprei um lote e fiz minha casa, financiada pelo BNH, uma das primeiras do bairro. Algum tempo depois, comprei o lote ao lado para fazer nossa área de lazer. No início, foi muito difícil residir no local, porque era tudo longe e o bairro não tinha infra-estrutura comercial. Sem padaria, sem supermercado e sem farmácia. Aliás, é assim até hoje! Mas, ainda assim, nosso bairro é adorável.
Agora, há um outro cenário. Há cerca de 3 meses, uma construtora a serviço da Copasa, iniciou a abertura de valetas em todas as ruas do bairro, visando fazer
a troca da rede de esgotos. Com a abertura das valetas, a terra retirada foi para o meio da rua (as valetas foram abertas em um lado da via), impedindo a passagem dos veículos. As ruas ficaram com o asfalto coberto de terra, muita terra. Identificando-me como arquiteto e morador do bairro, conversei com o encarregado da obra, orientado-o para não jogar água
naquela terra, para não fazer lama. Seria melhor varrer, e depois lavar a rua, o que deveria ser feito após a recomposição do asfalto. Assim o nosso bairro continuaria limpo, bonito e agradável.
A construtora já saiu do bairro. Deixou todas as ruas emporcalhadas de terra e lama e o remendo do asfalto está da pior qualidade. Parece até o serviço de tapa-
buraco feito na BR-135! Mas, as marcas ainda estão lá. Quem sabe, à espera que São Pedro resolva mandar muita chuva a fim de lavar as ruas! Apesar dos pedidos à secretaria municipal competente (competente?), nada foi feito. A quem apelar? Resta-nos espernear! Quem passa pela avenida Governador Magalhães Pinto atualmente, já pode ver as obras de duplicação da mesma, que estão sendo executadas. O trecho em frente à Coteminas está bem adiantado e quase chegando à entrada do nosso bairro. Esperamos
que a empreiteira complete o serviço não deixando os malfadados rastros como os que sua companheira fez no Jaraguá
Mas, aí já é assunto para o próximo papo!


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Por João Carlos Sobreira - 27/10/2013 15:49:31
Machadinho,
Muito boa e oportuna a crônica que Haroldo Tourinho escreveu sobre o colega contemporâneo e grande amigo arquiteto José Corrêa Machado. Tudo que ele escreveu ainda é pouco, pela importância que o homenageado exerceu em todos os campos de atuação que participou na sua breve vida. Há, apenas, uma pequena ressalva que gostaria de fazer, a bem da verdade, na sua extensa relação de projetos arquitetônicos listada pelo colunista. Quando a diretoria da Sociedade Rural houve por bem construir um clube no Parque de Exposições João Alencar Athayde como sua sede social, o próprio Machado sugeriu fazer um Concurso de Projetos a ser realizado com a participação apenas dos arquitetos residentes em Montes Claros. Ficou combinado que o Presidente Fábio Rebello convocaria os arquitetos participantes a fim de, em uma reunião com alguns diretores da Rural, tratarem dos termos do regulamento do concurso. Na reunião ficou decidido que cada arquiteto participante receberia em dinheiro uma cota de participação e o projetista vencedor, um percentual do valor de projeto calculado pela tabela do IAB. Essa redução do valor do projeto, foi uma maneira encontrada pelos arquitetos para ajustar à realidade o preço do projeto, já que os parâmetros da tabela do IAB não coadunam com os da região. A comissão julgadora foi formada por membros da diretoria da Rural e da AREA. Ficou definido que Machadinho não participaria do concurso (a pedido dele), por ser diretor da Rural e que ele seria o Presidente da Comissão Julgadora. Ah, a propósito: o projeto vencedor foi, com muito orgulho, o meu.


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Por João Carlos Sobreira - 16/9/2013 09:29:11
"LEMBRANÇAS QUE TRAZEM SAUDADE José Prates Quando abro o Mural em busca de notícias da terrinha, isto é, de Montes Claros, o passado me vem à mente e me faz revivê-lo em pensamento, principalmente quando leio uma crônica como as de autoria de Alberto Sena, com aquela linguagem gostosa, sem rodeios, que tira o passado do arquivo da memória e a ele nos leva, fazendo-nos, queira ou não queira, revivê-lo como se estivessemos em sonho, porque a presença do passado me faz parar com a leitura, fechar os olhos e deixar que ele projete-se na mente como um filme de curta metragem que eu passo a assistir, vendo-me correndo de bicicleta, de um canto para outro, buscando notícias para o Jornal de Montes Claros que vai circular amanhã e o Meira precisa de matéria para fechar a última página. Isto foi na década de cinqüenta. (...)"

Zé Prates, Sempre que você aparece no fantástico mural em crônicas e recados, faço questão de ler. Dessa maneira, além de me deliciar com seus textos de leitura leve e coloquial, fico relembrando meus tempos de infância e juventude, vividos no Hotel São Luiz, à mesma época que você trabalhava ali pertinho no Mais Lido. Quando meu irmão de criação, Benjamim Baia, fez Tiro de Guerra, ele constantemente falava do Sargento Moura, com certa idolatria e muito respeito. E comentava que "ele podia estar morando aqui, pois assim você o conheceria melhor." O Sargento morava no São José. Não gostaria que ficasse caracterizado esse ajuste do seu texto como uma correção. Na realidade, depois do São José, você estaria descendo a rua Dr. Santos, passando em frente à casa de D. Fininha, ao palacete de Dominguinho Braga (posteriormente adquirido pelo Dr. Luiz de Paula), à casa de Dr. Alpheu para chegar ao JMC. É interessante lembrar que quando mamãe também comprou uma máquina de lavar, ela ouviu de Tia Jujú, comentário semelhante ao de D. Marucas (na época diretora do Grupo Escolar Gonçalves Chaves, onde eu estudava). Era uma máquina grande, para lavar, principalmente, a roupa de cama do hotel, que tinha no alto, acima da tampa, um sistema de "tirar a água" da roupa lavada, que consistia em 2 cilindros revestidos com borracha que giravam (tal qual máquina de abrir massa para fazer macarrão), espremendo os lençóis. As máquinas de então inda não tinham a centrifugação. É isso aí, meu caro Zé Prates. Continue escrevendo para nossa alegria. Um abraço do João Carlos Sobreira.


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Por João Carlos Sobreira - 15/9/2013 11:41:07
LEMBRANÇAS QUE TRAZEM SAUDADE José Prates Quando abro o Mural em busca de notícias da terrinha, isto é, de Montes Claros, o passado me vem à mente e me faz revivê-lo em pensamento, principalmente quando leio uma crônica como as de autoria de Alberto Sena, com aquela linguagem gostosa, sem rodeios, que tira o passado do arquivo da memória e a ele nos leva, fazendo-nos, queira ou não queira, revivê-lo como se estivessemos em sonho, porque a presença do passado me faz parar com a leitura, fechar os olhos e deixar que ele projete-se na mente como um filme de curta metragem que eu passo a assistir, vendo-me correndo de bicicleta, de um canto para outro, buscando notícias para o Jornal de Montes Claros que vai circular amanhã e o Meira precisa de matéria para fechar a última página. Isto foi na década de cinqüenta. É o passado. Eu morava na Rua Januária, lá em cima, margeando a estrada de ferro. Em frente, do outro lado da linha, ficava a algodoeira de "seu" Fraga, onde Luiz de Paula trabalhava como contador. Eu descia a rua, devagar, até a Praça Cel Ribeiro, atravessava, entrava no hotel São Luiz para cumprimentar o Sargento Moura e depois, entrava na Rua Dr Veloso e ia descendo sem pressa, olhando um lado e outro cumprimentando quem encontrava. (...)

Zé Prates, Sempre que você aparece no fantástico mural em crônicas e recados, faço questão de ler. Dessa maneira, além de me deliciar com seus textos de leitura leve e coloquial, fico relembrando meus tempos de infância e juventude, vividos no Hotel São Luiz, à mesma época que você trabalhava ali pertinho no Mais Lido. Quando meu irmão de criação, Benjamim Baia, fez Tiro de Guerra, ele constantemente falava do Sargento Moura, com certa idolatria e muito respeito. E comentava que "ele podia estar morando aqui, pois assim você o conheceria melhor." O Sargento morava no São José. Não gostaria que ficasse caracterizado esse ajuste do seu texto como uma correção. Na realidade, depois do São José, você estaria descendo a rua Dr. Santos, passando em frente à casa de D. Fininha, ao palacete de Dominguinho Braga (posteriormente adquirido pelo Dr. Luiz de Paula), à casa de Dr. Alpheu para chegar ao JMC. É interessante lembrar que quando mamãe também comprou uma máquina de lavar, ela ouviu de Tia Jujú, comentário semelhante ao de D. Marucas (na época diretora do Grupo Escolar Gonçalves Chaves, onde eu estudava). Era uma máquina grande, para lavar, principalmente, a roupa de cama do hotel, que tinha no alto, acima da tampa, um sistema de "tirar a água" da roupa lavada, que consistia em 2 cilindros revestidos com borracha que giravam (tal qual máquina de abrir massa para fazer macarrão), espremendo os lençóis. As máquinas de então inda não tinham a centrifugação. É isso aí, meu caro Zé Prates. Continue escrevendo para nossa alegria. Um abraço do João Carlos Sobreira.


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Por João Carlos Sobreira - 12/7/2013 11:41:56
O Cristo de Godofredo no Hotel São Luiz

João Carlos Sobreira

O salão de refeições do hotel era bastante grande, tinha dezesseis mesas quadradas, de madeira maciça, com um metro e vinte centímetros de lado, pintadas de preto. Também tinha dois móveis de apoio para guardar pratos, pires, xícaras, copos, talheres, toalhas e guardanapos de pano (ainda não se usava de papel!). Os móveis também serviam de aparador e ficavam um de cada lado da escadinha que fazia a ligação com a copa e, através dela, com a cozinha. E havia uma geladeira imensa de quatro portas, mais à direita.
Mas, o que eu quero destacar aqui é a presença, na parede do fundo do salão, de um quadro pintado por Godofredo Guedes. Hoje ele se encontra no meu escritório, compondo minha pequena galeria de arte, constituída de pinturas, fotografias, trabalhos em madeiras e cerâmicas, cartazes etc.. Este Cristo pintado por Godofredo é datado de 1936 e, seguramente, deve ser a mais antiga de suas obras de pintura em Montes Claros. Trata-se de uma peça, em óleo sobre tela, medindo 0,70 x 1,17 metros.
Pelo fato da mesma ter ficado por aproximadamente dezoito anos exposta em um salão de refeitório de um hotel, sob a ação de poeira (neste período as ruas do centro eram apenas encascalhadas) e da fumaça, diariamente vinda da cozinha, de manhã, ao meio dia e à noite, foi restaurada pelo autor em 1959, época em que passamos o hotel para ‘Seu’ Zé Português e o quadro foi conosco para a nossa casa nova, na rua Dr. Veloso.
Godofredo, baiano de Montes Claros, faleceu em 1983 e foi, no meu entender, um verdadeiro gênio das artes. Pintor autodidata, deixou uma imensa galeria de obras, em que apresenta belíssimas pinturas de alto gabarito, paisagens e marinhas repetitivas (estas ele as fazia em série, a exemplo do modelo fordiano). Além disso, foi um excelente músico e executava, com maestria, obras no saxofone e clarineta (instrumentos de que mais gostava), no piano e violão. Era exímio construtor de instrumentos musicais. Fabricava, principalmente, pianos, violões e cavaquinhos. Pesquisadores do Conservatório Lorenzo Fernandes conseguiram resgatar várias composições do Mestre Godofredo para todos os instrumentos citados, incluindo obras de valsas, chorinhos, serestas, sambas, marchas e outros ritmos. Foi, para mim, uma alegria e um grande contentamento conviver com Godofredo na minha juventude. Ele era muito amigo de meus pais. A convivência com seus filhos posteriormente, no âmbito profissional e social, representa também uma imensa satisfação.
O quadro, a que me refiro no segundo parágrafo, traz a figura de Jesus Cristo com uma cara de nordestino, cabeça chata e grande, testa curta, rosto com maçãs proeminentes. Será que ele quis homenagear papai, que era paraibano de Campina Grande? Mostra Cristo em pé, em cima de uma rocha, com as palmas das mãos abertas, viradas para a frente, um pouco abaixo da cintura. Atrás, aquém da rocha, apresenta um mar não muito revolto. Mais ao longe, na linha do horizonte, aparece o final do crepúsculo, com a luminosidade do poente em fase derradeira. E, mais ao alto, no céu, já começam a despontar as primeiras estrelas. A lua amarelada atrás de Sua cabeça confunde-se com o halo de divindade. O semblante do Cristo é tranqüilo e dá a impressão de muita paz. Suas vestes são simples e Ele está descalço. Sempre tive grande admiração por este quadro e é uma imensa satisfação tê-lo em frente à minha mesa, no meu escritório.
Nem sempre o Cristo de Godofredo foi interpretado artisticamente. Muitas vezes, foi um recurso para blagues interessantes. E Godofredo, sabendo dessas estórias ria bastante, com aquele riso aberto e espontâneo que ele sempre trazia no rosto. Como bem me recordo, no hotel, os viajantes sempre procuravam fazer gozações em todas as situações possíveis para atenuar o estresse da labuta diária de vendas e viagens. Seu Oswaldo, viajante da Brahma (é verdade: naquela época as companhias de bebidas – Brahma, Antarctica, Caracu, Cinzano etc. – enviavam seus viajantes periodicamente para vender seus produtos), dizia, sempre ao passar pelo quadro, papai estando por perto: -“Olha lá, Sobreira. O Cristo está dizendo: - Ô Sobreira, é só isso que o pessoal vai almoçar?” Ao que papai retrucava: -“Que nada, Oswaldo. Olhe bem para as mãos Dele. Ele está dizendo claramente para vocês: - “Ô gente! Com uma refeição com essa fartura, o que é que vocês querem mais?” O Cristo de Godofredo dava impressão de estar sorrindo, salvando meu pai de situações embaraçosas...
João Carlos Sobreira –arquiteto-urbanista
[email protected]


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Por João Carlos Sobreira - 24/6/2013 14:17:05
REFLEXÃO SOBRE O TRÂNSITO DE MONTES CLAROS

“Não há problema sem solução! Se ela não foi encontrada, tem que continuar trabalhando o mais sério possível, com determinação e paciência.” (Carlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan)

A frase acima do brasileiro que tirou a Nissan do fundo do poço e as últimas crônicas sobre o trânsito, do competente jornalista Waldir Senna Batista, me levaram à essa reflexão, por dever de consciência e de cidadão que tem muito orgulho de sua cidade. E que não quer ficar de braços cruzados em relação a um problema sério, que pode levar ao caos, se não for tomada nenhuma providência.
Essa minha pretensão leva em conta meu tempo de 60 e tantos anos atrás do volante (comecei com 12 anos) e da experiência adquirida desde a década de 60, quando participei de uma equipe da AREA (Associação Regional de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos), elaborando o primeiro plano de trânsito de Montes Claros. Àquela época, todas as ruas eram de mão dupla e já estava ficando complicado o trânsito na área central. Resolveu-se então tomar o quadrilátero da área central e elaborar um plano de trânsito usando o sistema de binários, com ruas de mão única, intercaladas racionalmente.
No final dessa década, por iniciativa do Prefeito Antonio Lafetá Rebello, a cidade recebeu de presente o Plano Diretor que previa, dentre outras medidas, a implantação de 2 avenidas: uma com 25 metros de largura (esta incluía as ruas Cel. Antonio dos Anjos e Presidente Vargas/Rui Barbosa, desapropriando os quarteirões entre ambas, com mais de 80% de construções velhas) e a outra com 16 metros de largura (desapropriando uma faixa de 9 metros, à esquerda de quem sobe, das ruas Carlos Gomes/ Dr. Santos/Bocaiuva). A equipe previa uma implantação completa em 25 anos aproximadamente, ou seja, 1995.
Acompanhei de perto todas as etapas da elaboração do PD, pois um dos integrantes da equipe, o arquiteto-urbanista Idamar Siqueira da Cruz Gouveia fora meu colega de turma e tínhamos, junto com mais 2 colegas, um escritório de desenho no edifício Codó, av. Amazonas, durante todo o tempo de estudante. Na época do PD, encontrávamos pelo menos 2 vezes por semana. O profundo conhecimento do trabalho me deu segurança para empunhar o PD como “carro-chefe” da campanha eleitoral de1970, quando fui candidato a Prefeito pelo MDB. O povo conheceu o plano através de slides de mapas das ruas, projetados em telões, montados em nossos comícios. Um avanço para a época.
O amigo leitor pode imaginar como seria a cidade com uma avenida indo da UNIMONTES até a avenida Dep. Plínio Ribeiro, cruzando com outra avenida ligando a Fábrica de Cimento ao anel rodoviário, próximo ao trevo da BR 135! Desde o início dos trabalhos, a equipe comentava, com um certo espanto, a respeito da pouca largura das nossas ruas, com avenidas que iam do nada para lugar nenhum (Francisco Sá, Ovídio de Abreu, Afonso Pena, por exemplo).
Acontece que a expectativa da desapropriação tirava o sono de poderosos latifundiários urbanos, temerosos de ver diminuído um pedaço de suas “ricas” posses, incomodados com a possibilidade de a prefeitura pagar menos do que o valor que tinham imaginado para elas, pouco se importando com o progresso da cidade. Por volta de 1975, o prefeito Moacyr Lopes, agindo a serviço dos já citados latifundiários urbanos, aproveitou-se da maioria que tinha na câmara, aumentada com essa parceria, e derrubou o Plano Diretor, deixando a cidade, perigosamente, sem nenhuma lei. A nova Lei de Uso do Solo e o Código de Obras só foram encaminhados ao legislativo, nove meses depois.
Na primeira administração do prefeito Jairo Ataíde, atuei como dirigente do setor de transporte e fiz um estudo de mudança da área central, no qual eu dizia na abertura: - “Considero este trabalho apenas como colaboração, iniciando nova direção para a área central, que não deve vir somente como novo plano de trânsito. Há que se aproveitar para humanizar este espaço, englobando melhorias nas caixas de ruas, na adequação dos passeios, na procura de parcerias da Prefeitura com CDL e ACI em busca de mudanças das fachadas das lojas e da perfeita harmonia delas com as posturas civilizadas ...”
Naquela época já afirmava que “...a cidade inchou, as ruas continuam estreitas e, em alguns lugares, os passeios têm largura incompatível com a necessidade de circulação de pedestres, tão abundantes na área comercial. A convivência destes com bicicletas, motos e automóveis não é nada pacífica! E o número de veículos (carros, ônibus, caminhões, motos, bicicletas e - um espanto! - ainda as pachorrentas carroças) é cada vez maior, aumentando o pandemônio. O advento do mototáxi tem feito crescer o número de acidentes pela maior circulação de motocicletas.”
Havia um aumento do contingente de 300 automóveis e 180 motos mensalmente, para
uma população menor que 200 mil habitantes. A solução viável e lógica seria diminuir o número de veículos circulando na área central, refazendo os trajetos dos ônibus (todas as linhas passavam pelo centro), dando outras opções de circulação, inibindo e restringindo o tráfego de caminhões, regulamentando horário de carga e descarga etc. E procurar novas alternativas para pedestres. Era, portanto, imperativo que se encontrassem soluções para minimizar os efeitos desta “guerra”.
A ideia inicial era “... criar dois anéis de circulação, próximos ao limite do hipercentro (quadrilátero formado pelas ruas Barão do Rio Branco, Grão Mogol, Belo Horizonte, Oswaldo Cruz, Santa Maria, Gonçalves Figueira e av. Cel. Prates), o primeiro anel no sentido horário e o outro no sentido anti-horário. Dadas as características de concepção, estes anéis terão velocidade de tráfego bem superior às que as atuais ruas permitem. Como esta concepção é para aumentar a velocidade de circulação dos veículos (procura-se assim evitar a ocorrência de engarrafamentos), haverá necessidade de tornar obrigatória a proibição de estacionar em qualquer ponto dos anéis, possibilitando a criação de pista dupla em toda extensão dos mesmos (contrariando a mania montesclarina de dirigir sempre no meio da rua!). Entretanto, poderá ser permitida, ao longo dos anéis, a parada rápida para entrada e saída de passageiros.
Nas ruas do interior destes anéis os veículos poderão penetrar para estacionar, mas não poderão circular. Para conseguir este intento, pensou-se em transformar o hipercentro, deixando-o como se fosse um grande estacionamento de um enorme shopping center a céu aberto, onde as pessoas entrariam para estacionar seu veículo e completariam, a pé, seu caminho para as lojas, para os bancos ou para seu trabalho. Além da oportunidade de ver as vitrines das outras lojas, haveria mais conforto e segurança para todos os pedestres. É preciso acabar com essa tendência preguiçosa do montesclarense de querer parar o carro na porta da loja onde vai fazer suas compras.
Nas vias que ficam no interior dos dois anéis, para inibir a circulação dos veículos (lembrando que os veículos só poderão entrar ali para estacionar, não havendo motivação para circular), a direção do tráfego será imposta de tal maneira que, em cada esquina, o veículo fará, obrigatoriamente, uma conversão à direita ou à esquerda (não podendo seguir em frente), descartando desta forma a possibilidade de circulação desnecessária pela área central.”
Expus aqui apenas uma síntese do estudo que é bem mais detalhado, contendo ainda plantas e mapas. Este trabalho foi apresentado em uma reunião com o prefeito Jairo Ataíde e todos os secretários. O prefeito agradeceu e elogiou o trabalho, prometendo retornar em breve ao assunto. Fui convidado pelo Rotary,ACI, CDL, AREA e Elos Clube para mostrar o trabalho. Pelo nível de perguntas nos debates entendo que fui bem sucedido. Entretanto, Jairo não mais voltou a falar sobre o assunto.
Esse trabalho, elaborado na década de 90, não serve mais para a Montes Claros atual. Se àquela época era uma ideia a ser discutida e se aceita (nunca pretendi ser infalível!), tentar torná-lo real pela elaboração de propostas factíveis, hoje ele falha, pelos exagerados crescimentos da cidade e do número de motos e carros (mais do dobro), enquanto as larguras das vias permanecem as mesmas, isto é, ridiculamente estreitas. Se houver consenso, pode-se adequá-lo à realidade atual.
Neste caso, haverá necessidade de implantar ligação bairro-a-bairro através de um anel duplo e concêntrico, semelhante ao do hipercentro, contendo linhas de ônibus circular. Sua localização seria entre o anel rodoviário (atualmente ele é aberto: dever-se-á ser viabilizado seu fechamento) e o anel da área central. O novo anel teria o mesmo tratamento dado ao do hipercentro: pista dupla em toda extensão, proibição de estacionar em ambos os lados e ser via preferencial. A ligação entre os anéis será por meio de vias radiais com as mesmas características destes.
Qualquer projeto para ser implantado, deve ser checado, revisto e burilado. Faz-se necessário realizar pesquisas, proceder a contagem de tráfego, detalhar caixas de rua, verificar locais de possíveis viadutos e/ou trincheiras e outros procedimentos encontrados pelo avanço da tecnologia. Enfim, colocar equipes que assimilem a ideia para trabalhar pesado e verificar as possíveis falhas, corrigindo-as e apontando novas soluções. Como todo planejamento, esse também deve ter um caráter dinâmico e sua concepção final deve dar a ele a força necessária para que o mesmo não fique estático e se torne obsoleto com o passar dos anos. O tratamento paisagístico é prioritário.
De nada valeria um projeto de trânsito apenas de transformações físicas. É preciso encontrar as várias soluções, principalmente para reduzir o número de veículos em circulação. Até parece que o governo federal optou pelo aumento abusivo de automóveis circulando, com medidas visivelmente eleitoreiras e tendenciosas: autoriza os financiamentos com elevado número de prestações, possibilitando valores baixíssimos e, ao mesmo tempo, pela diminuição considerável do IPI, abaixando o preço dos carros e outros bens de consumo. Como consequência, deu condições a quem tem rendimento baixo, mesmo em detrimento do orçamento familiar, alcançar o sonhado desejo de ter um carro. A despesa com manutenção (oficina, combustível, impostos etc.), multas e até alguns acidentes –seguros, nem pensar- não são levados em conta. Depois, as financiadoras se virem para receber as prestações!
Entretanto, há várias maneiras de diminuir o número de automóveis em circulação: criar lei tornando obrigatória a circulação de automóveis de placa final par, apenas na 2ª, 4ª e 6ª feira e de placa ímpar, 3ª, 5ª e sábado, ficando o domingo liberado; fazer “parceria de caronas” com vizinhos e/ou colegas (83,7% dos automóveis circulam com apenas 1 pessoa); ir à pé em pequenos trajetos; deixar o carro na garagem e optar pelo transporte coletivo. Neste caso é necessário dar mais atenção a este serviço: repensar o trajeto das linhas; tornar o preço atraente; ter na frota ônibus confortáveis, limpos e bem cuidados; construir pontos cobertos de tamanhos condizentes com a demanda; empenhar em ter horários rígidos e confiáveis; conservar o piso dos trajetos, principalmente sem buracos etc. É também preciso incutir na população a necessidade da colaboração de cada um.
Pela exposição mostrada, verifica-se que a implantação de um plano de trânsito feito pela AREA, na década de 60, foi o único que já tivemos, uma vez que as modificações posteriores (colocação de semáforos, placas, sinalização horizontal, abertura – ou fechamento - de canteiro central, mão-inglesa, inserção de ruas e avenidas novas etc.), são pontuais e não representaram modificações substantivas que lograssem ser consideradas como um verdadeiro Novo Plano de Trânsito. Está passando da hora de “arregaçar as mangas” e partir para fazê-lo agora!
A conjuntura atual apresenta oportunidade histórica na qual aparecem, pelo menos, 2 vias para tentar conseguir recursos: a Copa de 2014 e o clima de mudanças criado pela população com as grandes passeatas, primeiro nas grandes cidades, agora já pelo país afora, levando temor aos governos, sem saber quando e como vai parar. Esse temor ficou claro no pronunciamento da Presidente Dilma quando ela propõe a criação de um Pacto Nacional para tentar resolver os problemas da educação, da saúde, do transporte urbano etc.
Acorda Prefeito Ruy Muniz. Não perca essa oportunidade histórica que o destino está oferecendo a Montes Claros, na época de sua administração. Você é um homem brilhante, de rara inteligência e raciocínio rápido, ainda tem 3 anos e alguns meses de mandato e dependendo da sua atuação, mais 4 anos. Seu futuro político está em suas mãos. A cidade necessita mais do que nunca de um Plano Diretor, não só de trânsito, mas total! Ouça o grito da população nas passeatas: -“Queremos mais recursos na saúde, na educação, no transporte coletivo. Abaixo a corrupção”.
Recursos, só se obtêm com bons projetos e um planejamento correto e confiável. Procure pessoas de gabarito comprovado para elaborar um edital de concorrência bem feito, na qual só possam participar empresas com currículo comprovado. Cerque-se de pessoal competente, não importa o partido. Se for preciso, faça uma reforma administrativa, repensando o secretariado. Citei acima as 2 vias possíveis de recursos, mas você conhece o “caminho das pedras”, pois foi deputado, sabe aonde encontrar verbas. Mostre que chegou sua hora! Termino repetindo a frase que comecei: “Não há problema sem solução!”
João Carlos Sobreira –arquiteto-urbanista
[email protected]


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Por João Carlos Sobreira - 2/5/2012 08:16:32
Um jogo de 180 minutos

João Carlos Sobreira

Eram os times A e B que disputavam no campo o direito de irem à final do campeonato, caso vencessem sua chave. O time A tinha a vantagem de dois empates ou dois resultados iguais, desde que fossem com a mesma diferença de gols, vantagem adquirida pela melhor colocação na tabela, no final da disputa da competição, assim programada. Além disso, o time A era considerado pela sua fanática torcida como um dos melhores times do mundo, em razão dos bons resultados anteriormente conseguidos. Para ela, a disputa eram “favas contadas” e seria apenas para cumprir tabela, dada a diferença de categoria entre os dois times.
Na semana anterior ao início da refrega, jogadores e dirigentes dos dois lados, instigados por repórteres de jornais, rádios e TV, abusaram de declarações tecendo loas aos respectivos times, garantindo que a vitória estaria do seu lado, tendo até um jogador do time A feito uma declaração, dando a entender que o time B era uma equipe de qualidade inferior.
No primeiro jogo o time B teve o “mando de campo”, mas não acredito que isso tenha influenciado no resultado. A equipe, em casa, jogou com cautela e com mais tranquilidade, tendo feito os gols necessários à vitoria, resistindo bravamente aos ataques do então poderoso adversário. Alguns jogadores do time A se mostravam ainda atônitos, não acreditando no resultado que reverteu a vantagem para o time B, mas, ainda se sentiam superiores: –“Não tem importância. Nós somos melhores e vamos mostrar isso no próximo jogo, com uma grande vitória”, disse um dos jogadores do A.
Como não podia deixar de ser, as entrevistas da semana entre as duas partidas, voltaram a ser acaloradas com palavras próximas ao insulto de parte a parte, esquentando de vez o ambiente. A expectativa era de que o próximo embate, poderia ser mais ríspido do que o civilizadamente desejado. Todos temiam que o mesmo se transformasse em guerra.
Veio o segundo jogo dos 180 minutos programados, com o mando de campo do time A. O que se viu foi um time B tocando a bola com calma, inteligência e uma tranquilidade confiante, enquanto o time A, mesmo jogando “em casa” se mostrava nervoso, intranquilo, errando muito os passes e seus jogadores reclamando muito entre eles a cada erro. Parecia que a zebra estava solta. Ainda no primeiro tempo que terminou 1x1, um dos seus melhores jogadores do time A, o artilheiro da equipe, incrivelmente perdeu um penalty (diga-se de passagem, inexistente), deixando todos seus torcedores boquiabertos e irritados pela perda da oportunidade de reaver a vantagem, para felicidade da torcida B.
Com o placar em 1x1, o time B poderia jogar o segundo tempo recuado, garantindo assim sua classificação para a final. Mas, não foi o que aconteceu. Retornou jogando o mesmo futebol da primeira etapa, cadenciado, passando com calma e poucos erros, contratacando com eficiência, sempre levando perigo à meta adversária, com tal categoria que, irritados, os jogadores do time contrário começaram a fazer faltas feias e desnecessárias, resultando na aplicação de vários cartões amarelos pelo juiz.
Faltando menos de cinco minutos para o término da partida, com o técnico do A tendo feito várias substituições na tentativa de marcar um gol e o time A atacando desesperadamente, aconteceu o inesperado: uma bola espirrada da defesa do tima B, sobra para seu jogador mais antigo, sozinho na frente do goleiro adversário. Ao atacante, com a calma de jogador tarimbado, o gol foi inevitável. Os jogadores do B poderiam até dizer ACABOU antes mesmo da apito final do juiz. Com 2x1, o time B estava classificado para disputar com o vencedor da outra chave quem será o campeão.
Ah, ah, ah. Vocês acham que acabei de comentar sobre o jogo de domingo passado em Sete Lagoas? Estão muito enganados. Acabei de contar a história da partida entre o Chelsea da Inglaterra e o Barcelona da Espanha, realizada há poucos dias. Pode ser que haja uma semelhança do jogo de 180 minutos no qual o “timinho” do América conquistou o direito de disputar o titulo mineiro. Foi apenas uma coincidência.
A bem da verdade, não havia melhor maneira do Coelho comemorar seu Centenário, comemorando o 30 de abril de 2012 antecipadamente, brindando sua pequena, mas aguerrida torcida com essas memoráveis vitórias. Viva o América.
Aproveito para enviar grande abraço ao Nelson Sayão, marido da minha prima Cida Maia e ao jonalista Gelson Dias, felizes americanos como eu.
[email protected]


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Por João Carlos Sobreira - 25/2/2012 11:37:03
Centenário do Dr. Aroldo Tourinho

João Carlos Sobreira

Sou amigo da Família Tourinho desde menino. Quando Dr. Mário Tourinho chegou em Montes Claros, na década de 1940, com esposa e filhos, ficou hospedado no Hotel São Luiz até encontrar uma casa boa, confortável e bem localizada para morar e montar seu consultório médico. Seus filhos, Genival da mesma idade de Newton, meu irmão e Mário Filho, identicamente da mesma idade minha, se tornaram, naturalmente, nossos amigos. Essa aproximação deu início a uma amizade sincera a ponto de nos considerarmos irmãos. Fatos posteriores mostram como foi consolidada essa irmandade. Alguns anos mais tarde, chega à nossa cidade Dr. Aroldo com D. Lourdes e filhos, ampliando o clã dos Tourinhos no sertão mineiro.
Quando fui estudar em Belo Horizonte, em 1954, fiquei hospedado na pensão de Tia Quininha (muitos em Montes Claros a chamavam de D. Vêla). Como companheiros de quarto, convivi por vários anos com Genival e Raimundo Tourinho. Este ainda adolescente e ainda imberbe. Genival já era universitário e irrequieto estudante de Direito, bem falante, com toda eloqüente verve conhecida até os tempos atuais. Ele era estudioso, culto e muito entusiasmado com a política. Tinha o hábito de ficar estudando até altas horas da noite, fato que nos obrigou a aprender a dormir com a luz acesa.
Formado em 1964, estabeleci-me com a CONAL, em 2 salas no segundo andar da casa de minha mãe, tendo como vizinho na contra-esquina a CONTRUMOC. Era uma grande loja de materiais de construção, pertencente a Pedro Narciso e Raimundo Tourinho. Costumávamos reunir na loja, não todos os dias, mas sempre à tardinha, para um bate-papo: além de Pedro e Raimundo, nós da CONAL (Mércio, Eldan e eu), Machadinho, às vezes Dr. Aroldo e Genival – quando estava na cidade.
Em meados de 1965, numa dessas reuniões, Genival lançou a idéia de fundar em Montes Claros o MDB, mobilizando apenas iniciantes em política, já que os políticos antigos, tarimbados e calejados, haviam preferido ficar “sob as asas quentes do governo”, filiando-se na ARENA, que se tornara partido oficial dos milicos. Dentre os dez primeiros que criaram o MDB-MOC, encontrava-se Dr. Aroldo Tourinho. A partir da fundação confirmada, as reuniões de bate-papo passaram a ser recheadas com os novos companheiros do MDB. Afonso Prates, Zé da Conceição, Zé Maria “Peito de Aço”, por exemplo, passaram a ser presenças constantes e agora a política era também assunto do bate-papo. Logo nas primeiras reuniões regulares do MDB, resolvemos lançar candidatos apenas ao cargo de vereador, já que o candidato a prefeito do outro partido era Toninho Rebello, homem inteligente, trabalhador, de reputação ilibada, que deveria ter o apoio de toda cidade, na qualidade de candidato único, o que realmente aconteceu.
O MDB teve um desempenho brilhante nessa eleição: apesar de ter direito a 25, só conseguiu registrar apenas 8 candidatos. Mas o partido elegeu 4 vereadores, ou seja, 50% dos pretendentes! Performance digna de constar no Guiness, o livro dos recordes. Tudo isso graças, principalmente, ao desempenho de Dr. Aroldo, com um surpreendente número de votos, o maior até então obtido por um vereador desde a primeira eleição na cidade, para edis. Esse motivo elevou, em muito, o quociente eleitoral do MDB, possibilitando a entrada de mais eleitos do que os esperados pelos dirigentes do partido oposto. Conforme esperávamos, Dr. Aroldo brilhou intensamente no desempenho da vereança.
Na eleição seguinte, em 1970, o partido resolveu que teríamos a chapa completa, procurando conseguir um nome para prefeito e preencher todas as vagas de candidatos a vereador. Teríamos que trabalhar exaustivamente no sentido de arregimentar novos membros para o objetivo pretendido, sem entretanto, perder a qualidade e o compromisso ético dos primeiros “desbravadores” inscritos, até o prazo antes da convenção para a escolha dos candidatos. A data foi definida para o dia 19 de setembro.
` Não pude comparecer à convenção porque estava dando assistência à Baby na Santa Casa, pela chegada de Isabela, nossa primeira filha. Ao entardecer recebemos a visita dos amigos Genival, Pedro Narciso, Afonso Prates, Dr. Aroldo e Raimundo Tourinho, trazendo um bouquet de rosas para, segundo as palavras de Genival, as mulheres da família, em nome do MDB. Vieram também informar o resultado da convenção: fui escolhido como candidato a prefeito, tendo como vice Dr. Aroldo.
A campanha foi tensa e difícil, ao mesmo tempo divertida. Explico: primeiro, porque o governo militar e a ARENA, sua aliada, estavam sempre dispostos a nos perseguir, fazendo nossos comícios terem mais investigadores e policiais do que platéia. A maioria dos nossos simpatizantes ficava amedrontada com o aparato armado de máquinas fotográficas, gravadores e armas de fogo acintosamente à mostra. Divertida porque nas constates reuniões que promovíamos antes dos comícios, Dr. Aroldo sempre quebrava o gelo do ambiente (de certa forma, o pessoal um pouco amedrontado com as veladas ameaças), com tiradas bem humoradas e gozações aos companheiros, que sempre nos faziam rir. Ele mostrava seu lado humano que poucos conheciam.
Na época do nascimento de Rafael, Dra. Maria de Jesus, que acompanhara o pré-natal estava viajando. Era domingo e eu levei Baby à Santa Casa para Irmã Malvina verificar um incômodo que ela estava sentindo. Depois do exame a freira veio apressada me comunicar: - “O senhorr pode buscarr o maleta, eu vou telefonarr parra doctorr Arroldo, o criança estar nascendo.” Quando cheguei com a maleta e minha sogra, subimos a rampa logo atrás de Dr. Aroldo. No painel luminoso já anunciava: MENINO.
Antes de voltar para casa, Dr. Aroldo passou pelo apartamento onde Baby estava e foi logo dizendo: -“ Cheguei só para fazer os finalmentes do parto. Ô Joãozinho, tenha cuidado com o próximo parto de sua mulher. A criança pode nascer na rua. Ela é muito boa parideira!”
Dr. Aroldo sempre foi “boa praça”, amigo e companheiro, sempre alegre e muito cortês, por isso mesmo é meu personagem inesquecível e faço qestao de relembrá-lo neste 20 de fevereiro, quando comemoramos seu centenário.


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Por João Carlos Sobreira - 27/1/2012 14:04:52
ZÉ AMORIM

João Carlos Sobreira

Décadas de 60/70 do século passado. Amigos de infância, colegas de ginásio, contemporâneos na UFMG, o engenheiro Eldan Veloso, o arquiteto Geraldo Mércio Guimarães e eu resolvemos constituir uma empresa construtora aqui em Montes Claros. A CONAL – Construtora Nacional Ltda, foi constituída para empregar nossos conhecimentos na área de construção civil. Foi uma época de grande crescimento da cidade, com a SUDENE a todo vapor, com projetos industriais e pecuários injetando muito dinheiro na economia regional. Nessa época, os fazendeiros, em razão dos projetos aprovados na SUDENE, resolveram construir boas casas na cidade com ajuda e competência dos arquitetos locais. Parecia uma disputa, cada um querendo fazer a casa maior, melhor e a mais bonita. E a CONAL, na crista da onda, participava tanto na construção civil de prédios e residências quanto, em parceria com empresas especializadas em projetos agropecuários, na confecção de projetos específicos da nossa área de atuação. Conseguimos montar a construtora como uma grande família, tanto no setor de administração quanto no setor construtivo. Vivíamos o dia a dia da empresa e qualquer que fosse a quebra de rotina era por nós assimilado imediata e intensamente. Quando João Jacques, um pedreiro iniciante, quebrou a perna com fratura exposta, ao escorregar em um canto da forma da laje, foi imediatamente levado à clínica de Dr. Alfredo Barreto e por nós assistido nos quase 5 meses que ficou no estaleiro. Ele voltou a trabalhar normalmente e, pouco tempo depois, progredindo, chegou a encarregado de obra.
Estávamos sempre atentos na possibilidade de progresso e melhora da posição de cada empregado. Havia um servente de pedreiro que era muito amável e atencioso. Ele era grandão, bom de serviço e, como tantos outros, assinava o nome usando a almofada de carimbos. Tinha o apelido de João Pêga. Sempre que tinha oportunidade, eu brincava com ele: - ”Ô Pêga. Você, um homem desse tamanho assinando com o dedão na almofada! Aproveite o MOBRAL e mude para a caneta!” Ele ria e não falava nada. Um dia, numa sexta feira de pagamento, Rays (João Raymundo Novaes que era gerente do escritório) voltou das obras e me disse:-“ Vamos ter problemas. Pêga não quis o pagamento. Falou que quer receber aqui no escritório”. Ficamos na expectativa até o final da tarde quando Pêga chegou. Sentou-se em frente à minha mesa e fui logo pegando a almofada para sua “assinatura”. Ele encheu o peito e disse; - “Não doutor. Hoje eu quero a caneta, pois vou, pela primeira vez, assinar meu pagamento sem usar o dedão, como o senhor tem me pedido.” Até hoje, meus olhos se umedecem ao relembrar a emoção que senti naquele momento!
Pelo menos uma vez por ano fazíamos uma comemoração, juntando o pessoal do escritório com os encarregados dos diversos setores das obras. Rays, Tony (Marco Antônio Rocha Souza) e Carlos Curiango (desenhistas), Pedro Piteira (mestre de obras), Zé Newton Pimentel (eletricista e bombeiro), Adão (carpinteiro), Vicente Cangirana (armador). O local escolhido era sempre o “Espeto de Ouro”, por vários motivos. Tinha comida farta e excelente; ficava na mesma quadra do escritório e era dirigido por Zé Amorim: grande amigo, sempre alegre, solícito e com incríveis tiradas de humor. Era capaz de apresentar atitudes inusitadas. Tinha também a competência dos garçons Belém e Pedro Elétrico (com seu reluzente dente de ouro) e, na cozinha, o saltitante Olguinha com toda sua frescura e uma divina mão no preparo das comidas.
Naquela época, Zé Amorim tinha uma Rural Willys, azul com teto branco, que era um brinco de bem cuidada. Ela estava sempre limpinha e, parece que ele mandava dar cera nela todos os dias de tão brilhante que ficava.. Estávamos no meio da nossa comemoração com Zé rodeando em volta da mesa dizendo, como sempre, coisas engraçadas, quando começou a trovejar. Naquela época sempre chovia em dezembro. Armou, barulhou e daí a pouco caiu aquele toró que deve ter durado uns 40 minutos. Havíamos até nos esquecido de Zé Amorim quando ele entra esbaforido com um guarda chuva pingando bastante, de capa e chapéu, calça arregaçada e galocha protegendo o sapato. Alguém falou: -“Uai Zé! Onde você foi?” E ele respondeu:- “Ô fera, fui lá em casa levar minha Rural prá garagem. Cê acha que eu ia deixar ela tomar essa chuva toda? Nem pensar!!!”


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Por João Carlos Sobreira - 30/11/2011 15:07:10
Fiquei “fora do ar” por 2 semanas em virtude de outra trombose, desta vez na perna esquerda, que me levou à hospitalização por esse período e em conseqüência, também fora do affaire Praça de Esportes. A injustificada venda tem colocado várias vozes contra, às quais faço questão de me incluir solenemente. Só o fato de estar ombro-a-ombro com D. Ruth Tupinambá, Waldir Senna Batista, Oswaldo Antunes, Jorge Silveira, Alberto Senna, além de todos que participamos da história e grandeza do MCTC, nos deixa feliz. A nossa Praça, que o prefeito insiste em transformá-la em mctc com a mutilação proposta, não merece tal tratamento. Tem razão Alberto Senna quando diz que o prefeito nunca freqüentou suas instalações. Toda juventude de Montes Claros que viveu, a partir da década de 40 do século passado, se lembra com saudade de seu Marino e seu Pimenta no comando da Praça, de Sabú na piscina e de Zim Bolão nas quadras, das proezas de João Galo nas provas de natação e das eletrizantes partidas de basquete e vôlei masculino e feminino contra equipes de Bocaiuva, Pirapora, Curvelo, Corinto e Diamantina nos Jogos do Interior. Falar dos jogos na Praça é lembrar de Zembla, Lucy, Marlene e outras, de Piloto, Terezino, Tu Peixoto, Tutica e Roberto Amaral, Hélio Alcântara e tantos outros amigos e companheiros de quadra. Tenho reclamado sempre, nos meus textos, que Montes Claros é uma cidade que não preza sua memória. Pois não é que agora vem um prefeito que, tendo obrigação de preservá-la, quer acabar com o pouco que resta?


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Por João Carlos Sobreira - 4/11/2011 11:44:20
Prontocor

João Carlos Sobreira

Em meados dos anos 1960, fui convidado pelo Dr. João Valle Maurício para participar de uma reunião em seu consultório visando à criação do Prontocor. Também estavam presentes os cardiologistas André Antunes, Iran Rêgo, Paulo Araújo e Cláudio Souza Lima e o bioquímico Nivaldo, que comandaria o laboratório da futura clínica. Eles tinham alugado a casa na rua Dr. Santos, na qual, durante vários anos, funcionara a tradicional Pensão Guimarães, para ali instalarem a Clínica Cardiológica Prontocor, exclusiva para atendimento aos incômodos do coração. A finalidade da reunião era discutir os detalhes da reforma, que transformaria a velha pensão em um eficiente local para tratamento cardiológico. Transformação realizado com bastante sucesso.
Em 1978, através da Aliança Francesa, consegui uma bolsa de estudos da UNESCO, para passar três meses na França, especializando-me em Implantação de Campus Universitário. Dr. Maurício, então Reitor da FUNM (Fundação Universitária Norte Mineira de Ensino Superior, hoje UNIMONTES), ao saber que eu iria viajar para a França, me pediu para, aproveitando o local da minha bolsa, tentar ir até Lyon e visitar o Hôpital Cardiologique, na época considerado o melhor hospital cardiológico do mundo, pois eles pretendiam construir o Hospital do Prontocor e faziam questão que o projeto fosse da minha autoria.
No escritório da UNESCO em Paris, quando da programação de uma ida ao sul da França em visitas às universidades das cidades de Toulouse e Grenoble solicitei a inclusão de Lyon, no caminho entre as duas comunas, agendando encontro com o autor do projeto arquitetônico do hospital. Fui recebido pelo colega M. Martin, acompanhado pelo Provedor e por outro diretor do hospital. Almoçamos no refeitório privativo da diretoria, após breve reunião para conhecimento dos detalhes gerais, partindo depois da excelente refeição para uma visita completa às instalações, na qual pudemos até visualizar, pelo teto de vidro, uma cirurgia no coração (pulsando) de uma jovem de treze anos. Voltamos à sala de M. Martin para tomarmos champanhe comemorativo à visita. Pude aproveitar melhor esse encontro, aprofundando meus conhecimentos e atualizando-me na arquitetura hospitalar, tendo em vista meu domínio no idioma francês, felizmente.
O projeto arquitetônico foi feito na minha volta após longa reunião com os médicos, iniciada com explanação detalhada da minha visita ao hospital de Lyon. Para executar o projeto, o Prontocor me apresentou o levantamento topográfico do terreno que era composto de 2 lotes irregulares pertencentes a 2 loteamentos diferentes. O terreno de um dos loteamentos tinha frente para avenida Mestra Fininha e o do outro loteamento para a rua que terminava na lateral do primeiro lote tornando-a rua sem saída. No final do projeto, essa área foi transformada em uma pequena praça para estacionamento e retorno, cujo canteiro principal abriga, atualmente, o busto do inesquecível Dr. Maurício. O formato em curva do partido do projeto final, foi forçado pela junção dos 2 terrenos irregulares determinando, pela irregularidade, um perímetro atípico.
Além de confeccionar o projeto inspirado em Lyon, também acompanhei a construção como responsável técnico. Um fato inusitado aconteceu durante a obra. No projeto inicial, coloquei a caixa d’água 4 metros acima do telhado, prevendo um crescimento futuro adicionando um terceiro pavimento. Ela estaria apoiada em 4 pilares de concreto com o formato de um cubo com as arestas chanfradas, tendo ainda, nas 4 faces do cubo, uma faixa em baixo relevo, pintada na cor laranja e o nome PROTOCOR na cor branca, também em baixo relevo. Durante a obra, fui alertado pelo engenheiro que estava fazendo o projeto de incêndio, que havia necessidade de aumentar o volume de água da caixa, por exigência do Corpo de Bombeiros. Autorizei, então, o crescimento da caixa nos 2 sentidos, perpendiculares à avenida.
Certo dia, aconteceu o grande susto. Recebi, ainda em casa, um telefonema apavorado do Dr. Maurício: -“Joãozinho das moças (ele sempre me tratava assim), gostaria que você repensasse a forma da caixa d’água. Nem que tenha que demolir e fazer outra diferente, porque a que está lá é igualzinha a um caixão de defunto.” Fui correndo para a obra e lá já estava o Dr. Paulo Araújo muito apreensivo. No trajeto, minha cabeça estava a mil, procurando visualizar a modificação promovida pelo alongamento e tentando encontrar outra solução que não fosse a demolição. Quando os operários retiraram a forma de madeira, aquele inocente formato de cubo alongado se apresentou agourentamente como um esquife suspenso acima do hospital em obras.
Não foi fácil. Demorou alguns dias e várias páginas de rascunhos até chegar à forma atual. A solução foi transformar a tampa da caixa em uma pirâmide de alvenaria, aproveitando a inclinação dos chanfros e criando um cilindro vazado na lateral mais longa da nova figura geométrica, de modo ao buraco criado diminuir a ação do vento sobre a lateral da “pirâmide”. A estranha forma de caixa d’água gerou motivo de gozação na cidade, motivando até o colunista conterrâneo Manuel Hygino escrever um bem humorado artigo no jornal Hoje em Dia, no qual finaliza elogiando a solução encontrada.
Recentemente, já no século atual, o Prontocor abriu-se para receber novos sócios com a finalidade de ampliação, construindo o terceiro andar. Convidado a participar, fiz no projeto o bloco cirúrgico, o CTI, a esterilização, além do prolongamento da rampa, escadas e caixa do futuro elevador. Essa ampliação, que fez o Prontocor deixar de cser exclusivamente do coração, possibilitou a modificação do nome, de Hospital Cardiológico Prontocor para Hospital Geral Prontocor. Tenho orgulho de fazer parte da história dessa fantástica casa.


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Por João Carlos Sobreira - 3/11/2011 16:16:06
Foi com uma mistura de tristeza e saudade que li a mensagem do incansável historiador Nelson W. Vianna, datada de 29/10, na qual noticia a posse dos vereadores de 1962. Tristeza. É que a qualidade intelectual dos edis listados por ele não pode ser comparada com a das câmaras desde o final do século passado. Saudade. Vejam alguns nomes da lista: Geraldo Athayde, Cel. José Coelho de Araujo, Cândido Caneka, Ubaldino Assis, José Linhares Frota Machado, Orlando Ferreira Lima, João Luiz de Almeida Filho, Humberto Souto Simeão Ribeiro Pires. É bom lembrar que naquela época, vereador não recebia nenhum salário, mas era uma honra ocupar o cargo e eles se sentia orgulhosos disso. Pois é!


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Por João Carlos Sobreira - 27/10/2011 14:46:55
O velho Mercado Municipal

João Carlos Sobreira

A proximidade do Hotel São Luiz ao Mercado Municipal nos proporcionava as mais diversas incursões de aspecto olfativo, visual, tátil e, porque não dizer, histórico e folclórico local. Com os cheiros que sentíamos, conseguíamos distinguir os diferentes períodos de safras. Naquela época havia poucas bancas no Mercado. As mercadorias eram colocadas no chão nú, às vezes forrado com um pano encardido ou uma esteira de palha. A gente podia distinguir de longe as cargas de goiaba, manga ubá, pequi, panã, pelo perfume, para uns ou odor desagradável para quem os detestava. As diversas fragrâncias se misturavam vigorosamente: o suor dos animais, seus excrementos e urinas, o peixe salgado e a carne de sol, os queijos e requeijões, a fumaça do preparo dos churrasquinhos e “pê-éfes” e o cheiro enjoativo dos couros exalados das selas e arreios. Não é novidade, pois tudo isto é cheiro de qualquer mercado. Só que o nosso, além do cheiro, tinha atrativo ‘montesclarês ’.
Havia uma ala especializada em bordados e outra onde comercializavam cestas, peneiras, esteiras e uma grande variedade de baús de vários tamanhos. Também havia o local de venda dos potes, bilhas, pratos, cofrinhos com formato de leitão, miniatura de jogos de chá e café, “cachê-pots” para plantas ornamentais etc., tudo em barro cozido em forno próprio.
O prédio do Mercado Municipal era do século XIX, estruturado com esteios de aroeira e pé direito muito alto. Na sua fachada destacavam-se as portas altíssimas e a torre do relógio. Ele tinha um sino que batia as horas e as meias-horas, ouvidas em quase toda a cidade. Ao longo das ruas Cel. Antonio dos Anjos e Ruy Barbosa estavam os açougues e as lojas que vendiam cereais. Havia, além delas, lojas de roupas e armarinhos, materiais de construção e ferragens. Tinha de tudo no mercado velho. No miolo do prédio ficavam algumas bancas e os bruaqueiros fixos, que funcionavam durante a semana. No sábado, que era o dia de feira, as ruas laterais eram literalmente ocupadas pelos feirantes, ficando, portanto, interrompida para o trânsito de veículos, que, diga-se de passagem, eram poucos. O prédio ocupava a metade do terreno onde hoje está construído o Shopping Popular Mário Ribeiro. Na outra metade ficava um terreno vago que, nos dias de feira, era ocupado pelos animais: burros, cavalos e carros de boi que traziam os feirantes e suas mercadorias; havia até cabritos, bodes e porcos vivos para serem comercializados.
Quando a Prefeitura construiu ali várias lojas (algumas deixaram marca de sucesso e credibilidade como a Casa Amaral –especializada na venda dos produtos da Camisaria Anita, fábrica dos próprios donos da loja: D. Anita e ´Seu´ Amaral- e a Casa dos Alumínios, da família Costa), os animais passaram a ser estacionados no terreno vago onde hoje está o Quartel do Corpo de Bombeiros.
Do outro lado das ruas laterais, algumas lojas também deixaram suas marcas: na Cel. Antônio dos Anjos, a Casa 5 Irmãos da família de ´Seu´ Dé, na rua São Francisco a enorme loja, se não me engano, denominada “A Esmeralda”, de Deraldo Calixto de Carvalho, onde hoje se encontra a Casa Nina, do companheiro Waldir Veloso e, na rua Ruy Barbosa, a Sapataria Ely, de José de Souza Zumba, o Armazém Loyola, de Loyola & Cia, a Casa Zita, de Benjamim Rêgo e a loja, cujo nome não me lembro, do amigo José Mário de Araújo, (não sei porquê, todo mundo se referia a ele chamando-o de “Zé Amaro”).
José Mário era uma pessoa extremamente simpática e cordial. Ele se dava bem com todos e era muito expansivo. Todos gostávamos daquele gordo baixinho, sorridente, de voz gutural e com um diapasão extremamente alto. Certa ocasião, na época das eleições, ele achou que estava na hora de ser candidato a vereador, pois em todo lugar a que comparecia era aplaudido e tinha o nome gritado pelo povo. Não atinou que era pura gozação de alguns não tão amigos. Pensou que poderia colaborar com o “meu amigo Toninho Rebello”, candidato a prefeito. Pelo volume de aplausos onde ele aparecia, nas solenidades e até nas seções de cinemas, “Zé Amaro” entendeu que já estava eleito (como acontece ainda hoje com muitos candidatos). Para sua frustração, teve uma votação ridícula. Mas, isto não o desanimou. Ele concluiu que sua ação política colaborou, de alguma forma, para a eleição de Toninho Rebello. O que não deixa de ser verdade.
Como sua loja ficava próxima do Hotel São Luiz, “Zé Amaro”, que sempre foi muito amigo de meu pai, na falta dele, tornou-se parceiro de mamãe no bate-papo. Praticamente todas as manhãs, por volta das 10:30/11:00 horas, quando o comércio entrava. em uma espécie de letargia enquanto não chegava a hora do almoço, ele ia para a porta do hotel “papear”. Ele tinha uma enorme consideração e admiração por mjnha mãe.
Certo dia, por volta de 10:00h, eu estava voltando correndo da Praça de Esportes após um treino, uniformizado com camiseta, calção e tênis, todo suado e muito vermelho (por causa de minha pele de cor clara, qualquer esforço físico me deixa com o rosto -como dizem aqui- com a cor de alemão). Ao chegar à porta do Hotel, estava mamãe conversando com “Zé Amaro”. E ele, ao me ver, disse, aparentemente apreensivo, para mamãe: “Dona Nazareth, a senhora precisa ter cuidado com o João Carlim (era assim que ele me chamava), pois ele está muito sanguinário!”
Quem estava por perto não conseguiu segurar o riso!


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Por João Carlos Sobreira - 12/10/2011 16:10:50
Os postes da CEMIG

João Carlos Sobreira
No inicio do século passado, Montes Claros era iluminada através da energia que vinha de um gerador instalado em um pequeno galpão (4 paredes caiadas em amarelo-ocre com telhado de 2 águas, será que ainda existe?) na beira do poço, abaixo da cachoeira do rio do Cedro, na fazenda da família Ribeiro Pires. Eu disse iluminada? Coloquei a dúvida porque era corrente na cidade uma piada que dizia ser necessário riscar um fósforo para saber se a luz estava acesa. Pode ser que logo que foi instalado, o gerador tivesse força bastante para acender todas as lâmpadas ligadas a ele. Com o crescimento da população e conseqüente construção de novas casas, sua pequena capacidade foi insuficiente para atender, a contento, a uma demanda maior. O serviço era conhecido como luz de D. Vidinha, assim chamada porque o fornecimento era controlado por ela, que enviava mensalmente a conta de luz para todos os usuários. Era assim que todos chamavam D. Maria Ribeiro Pires, mãe de, entre outros, Simeão Ribeiro Pires, ex-prefeito da nossa cidade. Só me lembro dela mais idosa. Ela era muito simpática e morava em um belo casarão, bem na frente da porta da antiga igrejinha do Rosário. O casarão ainda está lá na avenida Cel. Prates.
A era da luz do Cedro terminou em 1944, quando começou a funcionar a Usina Santa Marta, no rio Ticororó, município de Grão Mogol, inicialmente, atendendo de maneira eficaz a todas as necessidades da urbes. Algum tempo depois, começaram a aparecer deficiência na iluminação e repetidos apagões. Novamente, o crescimento da cidade e a pequena capacidade de geração de energia, aliados à grande distancia da captação e da construção provavelmente mal feita e da má conservação da longa linha de transmissão, foram responsabilizados pelos apagões. A solução paliativa e de promessa para ser temporária foi a utilização de imensos geradores a óleo diesel, denominados “planta movIl”. Esses monstrengos barulhentos, do tamanho de uma locomotiva diesel das estradas de ferro, foram instalados no terreno vago onde hoje se encontra o prédio da CEMIG, infernizando a vida dos moradores vizinhos, já incomodados com a presença da zona boêmia nos arredores. Alguns dos freqüentadores dos lupanares se irritavam, reclamando que, além do barulho e da fumaça, a potência das máquinas estremecia tudo, chegando a balançar os leitos. Outros até gostavam dessa última parte!
A notícia do início da construção, no rio São Francisco, da Barragem de Três Marias (que foi inaugurada em 1962), deu novo ânimo a todos os setores da cidade. Quando soube da construção da linha de transmissão com torres de estrutura metálica, o povo vibrou. Todos queriam saber, de quem vinha de Belo Horizonte pela rodovia (que nessa ocasião passava por Água Boa, Jequitaí, Várzea da Palma, Contria e Corinto), se o viajante tinha visto as torres e onde elas já estavam. Todos também falavam da construção da Estação Rebaixadora atrás do Seminário Diocesano, onde hoje funciona a UNIMONTES. Mas, o que causou mais reboliço foi quando a CEMIG deu início à retirada dos velhos postes de madeira pelos modernos, enormes e roliços postes de concreto armado. Eles vinham em carretas com carrocerias próprias para o transporte de postes, diretamente da fábrica localizada nas proximidades de Vespasiano.
Os postes deixados no depósito eram transportados para o local da troca, em caminhões contendo um guindaste “Munck”, que servia para retirar o poste da carroceria e colocá-lo na guia da rua, junto ao meio fio. Enquanto isso, outra turma desembaraçava do poste de madeira os fios a ele amarrados e o guindaste do caminhão tratava de retirá-lo do chão puxando-o para cima. Na parte de trás da carroceria, o caminhão era equipado com uma furadeira, de dimensões o suficiente para comportar a base do poste de concreto e que alargava o buraco até a profundidade necessária para o poste ficar firme. Nos locais onde a marquise do prédio avançava no passeio até a prumada do meio fio, os funcionários cortavam-na em um semicírculo de modo a encaixar o poste, arrematando o local com massa de cimento.
Tudo ia às mil maravilhas até que aconteceu um inusitado incidente. A Loja Imperial que pertencia ao casal Mercês Prates e Joaquim Correia, ficava na esquina da rua Camilo Prates com Presidente Vargas, tendo o prédio, até hoje, uma marquise nos moldes da última frase do parágrafo anterior. Ao avistar o funcionário da empreiteira subindo a escada com as ferramentas para cortar a marquise, seu Correia gritou, da porta da loja, com seu sotaque lusitano e com toda autoridade de proprietário contrariado: -“Oh, gajo! Desças já daí porque ninguém vai cortar minha marquise sem minha autorização, ora, pois, pois!” Pronto! Já estava criado o impasse. O pedreiro na escada respondeu com grosseria, o que foi o bastante para o dono da loja “virar bicho” e ficar espumando de raiva. Para agravar a situação, o fato se deu perto do meio dia, horário que a rua 15 (esse era o apelido da rua Presidente Vargas) parecia reviver o footing diário da noite: estava repleta de alunos de uniforme cáqui do Colégio Diocesano e alunas de boina e saia plissada azul marinho e blusa branca com distintivo do Colégio Imaculada, saídos da aula. Os meninos que viram o início da discussão formaram um bloquinho gritando e batendo palmas e mesmo sem intenção, alertaram os colegas que iam passando. Foi uma bagunça pacífica, logo dissolvida pela retirada do pessoal da obra e a entrada do proprietário para o interior da loja. Antes, o pessoal da CEMIG teve de improvisar uma gambiarra com uma vara de bambu, para levantar os fios, pois o poste de madeira retirado, já tinha ido para o depósito.
As démarches para resolver o impasse demoraram alguns dias, terminando com seu Correia concordando no corte da marquise desde que fosse deixado o espaço de pelo menos um dedo entre ela e o poste. –“Já pensaram se vem um caminhão e tromba no poste derrubando-o. Se ele estiver grudado, derruba minha marquise também, opá!” disse ele. Enquanto durou o impasse, em todo término de aula, os estudantes faziam sempre uma grande algazarra. Um fato hilário aconteceu: como o poste passou várias noites deitado junto ao meio fio com o pé próximo ao buraco, um gaiato deixou perto do mesmo um saquinho de plástico contendo 8 pequís e um punhado de amendoim em casca, com um bilhete:
Só mesmo os nossos afrodisíascos conseguirão fazer o poste ficar ereto!


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Por João Carlos Sobreira - 4/10/2011 12:14:38
Hotel São Luiz – Dia dos Viajantes

João Carlos Sobreira

Não me lembro quando começaram as comemorações do Dia dos Viajantes, anualmente em primeiro de outubro, no Hotel São Luiz (destruído em incêndio na década de 1970. Localizava-se à rua Dr. Santos esquina com a praça Dr. Carlos, onde hoje se encontra o moderno prédio da COPASA, construído para sede da extinta Caixa Econômica Estadual). Tenho a impressão que foi desde sempre. Quando ele foi inaugurado, em 1939, eu tinha apenas dois anos. Na minha lembrança sempre houve, no hotel, a celebração deste dia, até envolvendo, às vezes, vários setores da cidade. É claro que o tamanho e a quantidade dos eventos, dependiam do número e do entusiasmo dos viajantes presentes na cidade. Lembro-me de dia que começava com foguetório na madrugada, seguido de alvorada pela banda da Polícia Militar, mais tarde missa cantada na Catedral (após a morte de papai, a visita ao seu túmulo no cemitério virou um hábito). Aí pelas dez horas uma partida de vôlei e outra de basquete na Praça de Esportes, envolvendo equipes de alguma casa comercial ou empresa industrial versus, naturalmente, equipes de barrigudos viajantes. À tarde, como não podia deixar de ser, uma partida de futebol no velho campo da União (que ficava na rua Dr. Veloso, atrás da atual igreja do Asilo), de novo com barrigudos viajantes se esforçando para correr atrás da bola – alguns até batiam um bolão, como Joãozinho da Souza Cruz - sempre muito divertida.
O encerramento começava com um banquete no salão do Hotel São Luiz com a participação de todos os viajantes (hóspedes ou não e os residentes na cidade) e de diversas autoridades, tendo como background algum conjunto musical ou mesmo cantor da cidade. (É interessante notar que àquela época autoridade aqui era delegado, juiz de direito, gerente de banco etc, além de prefeito e bispo). Seu João Cozinheiro caprichava no menu escolhido por mamãe. A bebida era cedida gratuitamente pelas fabricantes através dos seus viajantes (Oswaldo da Brahma e Ataliba da Antárctica) e sempre haviam, no final, calorosos discursos. Mas, nem muitos nem longos, todos restavam ligados no baile de encerramento no Clube dos Bancários. Que sempre terminava pela madrugada, ordeiramente, com todos muito felizes.
O mais entusiasmado nessas festividades era meu pai, que quando, na década de 20, conheceu minha mãe, ele era viajante. Quando ele faleceu em 1950, ela manteve a tradição, assumindo a comemoração, talves como uma forma de homenagear o marido morto. A maioria dos viajantes era sempre alegre e divertida. Havia os que, nas horas de folga, gostavam de jogar baralho. Outros de tocar algum instrumento musical, alguns tinham bonita voz. Por falar em bonita voz, havia um que era tenor e vivia cantando árias de óperas, muito bem interpretadas. A maioria mesmo vivia em rodinhas de bate-papo, contando causos e piadas não tão novas, sempre envolvendo algum da roda.
Todas essas reminiscências chegaram à minha mente no momento que, pela manhã, abrindo o jornal, me dei conta que hoje é primeiro de outubro, Dia Nacional do Viajante Comercial. Será que ainda tem alguém que sabe disto? Que comemora essa data? Eu, que convivi com essa classe durante quase vinte anos, me sinto no dever de homenageá-la na sua data nacional. Fiz inúmeros amigos verdadeiros e aprendi muito com seu convívio. Todos tratavam D. Zaeth como sua mãe em Montes Claros. Quando meu pai morreu, eu tinha acabado de completar 13 anos. Os viajantes mais freqüentes me adotaram como filho, dando conselhos, orientações e acompanhamento, colaborando, sem que ela soubesse, para que o adolescente não saísse do caminho correto, por causa da perda do pai. Desejo expressar minha gratidão a todos eles, “heróis anônimos”, como diz o seu Hino. Ainda sinto muitas saudades daqueles bons tempos


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Por João Carlos Sobreira - 28/9/2011 18:05:44
Pentáurea - A respeito do meu artigo sobre o clube, recebi do meu amigo e historiador Haroldo Lívio, um e.mail que, para restaurar a verdade e já corrigindo o texto original, reproduzo parte da sua mensagem:
Que documento precioso, para os pesquisadores do futuro, esta sua narrativa.da origem do Pentáurea. Seria tão bom se outras testemunhas oculares desses fatos de nosso passado, a seu exemplo, também prestassem depoimento sobre o que viram e ouviram de pessoas que participaram da construção e evolução de nossa cidade. Em resumo, este comentário é um "nariz de cera" para solicitar ao eminente cronista correção, o mais breve possível, da atribuição ao imortal Hermes de Paula da autoria do neologismo Pentáurea. O autor foi o Cônego Joaquim Cesário dos Santos Macedo, latinista emérito e de saudosa memória, de quem colhi a informação. O registro da propriedade intelectual correta só fará engrandecer ainda mais suas apreciadas memórias. Gratíssimo. Haroldo Lívio


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Por João Carlos Sobreira - 27/9/2011 11:18:27
Pentáurea

João Carlos Sobreira

Certo dia, no início dos preparativos para as festividades do Centenário de Montes Claros, minha mãe me disse que estava no Mercado Municipal e se encontrou com Dr. Hermes de Paula. Com o entusiasmo de sempre, ele contou que descobrira uma extensa área, exatamente na metade do caminho entre Montes Claros e Bocaiúva, ideal para construir um clube campestre. Sua idéia era vender cotas para pessoas influentes das duas cidades, com o intuito principal de acabar com a rivalidade existente entre as duas comunas, há muitos anos. Ao adquirir uma cota, o associado receberia um lote pequeno, para construir nele uma “cabana” com tamanho suficiente para sua família passar o fim de semana, gozando as delícias de um clima frio, suficientemente ameno, contrastando com o sufocante calor existente nas duas cidades, noventa por cento do tempo no período de um ano. Seria construída uma ótima sede social com amplo restaurante, piscinas, quadras esportivas e um campo de futebol.
Ele entendia que deveria ser aproveitada a coincidência de o centenário ser na mesma data em que a cidade completaria duzentos e cinqüenta anos de fundação, ou seja, o correspondente a cinco bodas de ouro. Partindo desse raciocínio, Dr. Hermes inventou o nome penta (5)+aurea(ouro) que, imediatamente, caiu no gosto popular, hoje fazendo parte do linguajar da região.
A mente dinâmica de Dr. Hermes vislumbrava que o afluxo de autoridades presentes nas comemorações do centenário traria a cordialidade e em conseqüência, a paz que, certamente, seria concretizada e ratificada nas instalações do novo clube, comum às duas cidades. Ele estava certo. Desde as primeiras festas ali realizadas, montesclarenses e bocaiuvenses sempre se confraternizaram sincera e civilizadamente. A sugestão de cada associado fazer uma construção no seu lote não vingou, fato que beneficiaria, no futuro, a limpeza de grandes áreas para estacionamentos, necessários à acomodação dos inúmeros veículos, nas famosas e tradicionais festas de São Pedro. Festas que, a pedido dos filhos, nos faziam encher a bagagem do carro com vinhos, refrigerantes e salgadinhos à guisa de “matula”, fazendo várias viagens ao estacionamento e tiritando de frio no rigoroso “inverno pentaureano” do fim de junho, apreciando e se aquecendo na fogueira cada ano mais alta.
No princípio, o acesso era um pouco desconfortável: a nova BR-135 estava só encascalhada e a descida para o clube era tortuosa e de pouca largura, trazendo muitos transtornos para a volta, dada a quantidade de lama, especialmente no período chuvoso. O engenheiro do DER, o conterrâneo Newton Velloso, deu sua valiosa contribuição ao clube, ao fazer o atual traçado do acesso, colocando o equipamento de terraplanagem, sob sua orientação, na construção da nova estrada, tendo aproveitado a ocasião e a sobra de a terraplenagem para construir a atual barragem. Esta foi feita no sentido de utilizar o minúsculo córrego existente, acumulando seu líquido para formar o espelho d`água que tanto embeleza o nosso Pentáurea. Recém formado, tive o privilégio de acompanhar todos os passos de Dr. Newton (era assim que o chamávamos) em toda essa empreitada. Gostaria de fazer justiça neste momento, deixando, para os anais do clube, registrada a sua contribuição à inegável melhoria do patrimônio.
Algum tempo depois, em conversa com Carlos Alberto Salgado, na época Engenheiro Chefe do DER, em Montes Claros, tomei conhecimento da existência de um enorme estoque de diversas mudas de árvores no horto florestal da empresa, nas proximidades da cidade. Perguntei se havia possibilidade da doação de algumas mudas ao Pentáurea, recebi a resposta positiva que levaria ao clube quinhentas mudas para serem plantadas lá. No meio da semana seguinte, estávamos lá, Dr. Hermes, alguns diretores e inclusive Carlos Alberto junto comigo, esperando a chegada das mudas, quando divisamos o caminhão do DER naquela curva, descendo a estrada, trazendo para o clube a maravilha verde tão desejada.
Nesse dia, aconteceu uma história muito engraçada. Na hora que chegamos à sede social, o funcionário que tomava conta do clube durante o meio da semana (já que nesse período a freqüência era quase nula), estava cavando um rego que saia da lagoa em direção ao clube. Dr. Hermes, vendo aquilo, foi logo perguntando: -“O quê você está fazendo aí, rapaz?” –“Um rego prá levar água inté a porta da conzinha, dotô”, respondeu ele. –“Você não sabe que a água não sobe morro?” disse Dr. Hermes, pacientemente. -”É, dotô, mais eu vou subindo devagarzinho, que ela num vai disconfiar. Quando assustar, já estará lá em cima.”


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Por João Carlos Sobreira - 15/9/2011 08:49:38
Minha curta carreira política -2

João Carlos Sobreira

Na tarde do dia 19 de setembro de 1970, eu estava na Santa Casa acompanhando Baby, que acabara de dar à luz a Isabela, quando fui surpreendido com a inesperada visita de uma comitiva dos amigos do MDB. Até achei que era uma cortesia pelo nascimento de nossa primogênita. A surpresa foi maior ainda, quando Genival comunicou que vinham da convenção do partido, cujos presentes, com a totalidade de votos, havia escolhido meu nome para candidato a prefeito pelo MDB, sendo meu vice Dr. Aroldo Tourinho. Refeito do susto inicial, pedi um prazo para responder, pois era imprescindível para mim, o total apoio e aquiescência de Baby e particularmente, eu tinha algumas exigências e sugestões a fazer. Marcamos, então, uma reunião para daí a quatro dias; afinal era necessário que eu dialogasse com minha mulher, antes de qualquer resposta.
Procurei demonstrar, na reunião, que não poderíamos deixar passar a oportunidade de provar, aos velhos políticos, que seria possível fazer uma campanha política, gastando pouco dinheiro e sem a necessidade de atingir verbalmente os adversários, na intenção de obter votos. Assim, mostrando sermos pessoas altamente democráticas e com um comportamento ético irrepreensível, alcançaríamos nosso objetivo, sem a necessidade de “xingar a mãe de ninguém!”. Gostaríamos também, de fazer algo diferente: antes de cada comício, sugeri, faríamos uma reunião, na qual determinaríamos a ordem de entrada de cada orador, assim como o assunto a ser abordado, para evitar as aborrecidas falas repetitivas. Como candidato a prefeito, seria o último a falar e faria, coerentemente, explanações sobre o plano diretor, defendido por mim na câmara. Mostraria onde haveria os benefícios, na região que estávamos realizando o comício, através de imagens apresentadas em um telão, através de um projetor de slides. Um avanço!
Conseguimos, dessa forma, realizar comícios fantásticos. Como ainda imperava a “revolução” no país, os nossos conclaves estavam sempre recheados de soldados fardados da polícia militar e sem farda da civil, sempre com máquinas fotografando todo mundo. Era o modo que as ARENAs achavam que iriam intimidar, tanto o povo que nos ouvia e dialogava conosco, quanto nós guerreiros em cima do pequeno caminhão. A nossa equipe de trabalho resolveu, por pura intuição, reservar o ginásio Darcy Ribeiro e comprar o horário da Rádio Sociedade, para os três últimos dias de comícios, antecipadamente. Parece até que São Pedro torcia por nós: choveu intensamente nesses dias, até altas horas das noites.
Sabíamos que seria muito difícil ganhar porque no outro lado estavam o Dr. Pedro Santos como free lancer e Dr. Hermes de Paula, como candidato do prefeito. No dia da eleição, cheguei à Escola Normal (era o local que tinha o maior número de sessões eleitorais da cidade) e passando entre as imensas filas, recebia a saudação de um ou outro eleitor. Quando eu já estava de saída, Dr. Pedro entrou e foi ovacionado intensamente. Foi muito frustrante e naquele momento, vi claramente o tamanho da derrota que estava por vir. O resultado não foi tão ruim como imaginávamos: na cidade, Pedrão em primeiro, nós em segundo e Dr. Hermes em terceiro. A zona rural nos mandou para a lanterna. O resultado final mostrou a força eleitoral de Pedro Santos: ele obteve mais votos que a soma dos outros dois candidatos acrescida dos votos brancos.
Como de costume, fizemos a reunião de avaliação, a reunião final. Fui o último a falar. Além de agradecer nominalmente o empenho de cada um, aproveitei para fazer uma análise da campanha como um todo. Na realidade, eu esperava outra coisa no comportamento dos eleitores. Espantei-me com a quantidade de gente que, apenas por ser ocasião de eleição, se achava no direito de fazer determinadas propostas (que sempre as considerei indecorosas) para beneficiá-lo, em troca de votos, no seu suposto curral eleitoral. Depois de cumprimentar os companheiros pelo simbolismo de termos sido relevantes personagens no lançamento da semente da oposição em Montes Claros, novamente agradeci a todos. Aproveitei para revelar que, por tudo que aconteceu de decepcionante na campanha, a partir daquele momento, eu estava prometendo aos meus amigos, à minha família e a mim mesmo que aquela tinha sido a última vez que eu me candidataria a qualquer cargo eletivo. Continuaria às ordens com os companheiros, para servir em outra ocasião, mas, eu estava, naquele momento, encerrando a minha (felizmente) curta carreira política! Com a cabeça erguida, cumpri a palavra empenhada.


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Por João Carlos Sobreira - 8/9/2011 12:16:33
Minha curta carreira política- 1/2

João Carlos Sobreira

Certo dia, em meados de 1965, Pedro Narciso telefonou pedindo para eu ir até a Construmoc (que ficava na contra-esquina do meu escritório) a chamado de um grande amigo meu, chegado de Belo Horizonte e que queria me ver. Era Genival Tourinho e lá se encontravam também Dr. Aroldo, Zé da Conceição, Afonso Prates, Alciliano e naturalmente Raymundo Tourinho. Depois dos abraços e as costumeiras gozações, sentamo-nos em roda e Genival começou explicar o motivo da reunião: como todos nós não tínhamos conseguido “engolir” a quartelada de primeiro de abril do ano anterior, vinha nos convidar para fundar o MDB (“o velho MDB, jamais confundir com o atual PMDB”, como disse Roberto Pompeu de Toledo na revista Veja) em Montes Claros, que ficaria completamente isento e afastado dos velhos e retrógados políticos antigos da cidade. Esses, amedrontadamente, já haviam se bandeados para a ARENA e como eram grupos diferentes como água e óleo, não se misturavam. A solução foi dividir o partido em ARENA 1 e ARENA 2 para ficarem bem, aos olhos do marechal presidente e dos generais ministros.
Todos concordamos e já partimos para “os finalmentes”: fazer uma caixinha para as primeiras despesas na formação do partido como livro de atas, fichas de inscrição etc.; a composição e eleição da primeira diretoria e candidatos à próxima eleição de outubro. As duas ARENAs já haviam definido Antonio Lafetá Rebello como candidato único delas e nós, que conhecíamos bem suas qualidades de homem sério, honesto, inteligente e batalhador, atributos que a cidade necessitava urgentemente para comandar a política municipal, resolvemos que o MDB não lançaria candidato a prefeito, por confiar em Toninho e se preparar, durante os próximos anos, para tentar substituí-lo. Lançaríamos o maior numero possível de candidatos à vereança.
Dada a proximidade de encerramento do período legal para a inscrição e solicitação ao juiz para ser candidato, só conseguimos inscrever oito nomes: Dr. Aroldo Tourinho, Pedro Narciso, José da Conceição Santos, Manoel Messias, Afonso Prates Corrêia, Alciliano Ribeiro da Cruz, José Maria Francisco de Oliveira, o “Peito de Aço” e eu. Seguramente, deveríamos ir para o “Livro dos Récordes”, o Guiness, já que foram eleitos os quatro primeiros dessa lista, ou seja, o MDB de Montes Claros elegeu 50% dos seus candidatos!
Toninho Rebello foi, sem a menor dúvida, um dos melhores prefeitos que Montes Claros já teve, como nós esperávamos. O MDB deu total apoio à sua administração. Por exemplo: quando ele enviou à Câmara o projeto do Plano Diretor, fui convocado pelo partido para, na qualidade de suplente e arquiteto, assumir uma cadeira na câmara, no sentido de analisar, dirimir dúvidas e principalmente, defender tão importante projeto que iria definir e orientar o crescimento da cidade, pelo menos nos vinte anos futuros. Esse Plano Diretor foi aprovado integralmente no final do governo de Toninho. Pena que o mesmo teve pequena sobrevida. Três anos depois, o Prefeito Moacyr Lopes, pressionado pelas oligarquias endinheiradas (que, não tendo entendido o PD, ficaram com medo de perder o rico “terreninho”), tendo ele o comanda da Câmara de Vereadores nas mãos, derrubou o Plano Diretor, deixando a cidade sem lei, por dez meses. O ponto alto desse plano era a desapropriação de áreas, a fim de criar duas largas avenidas em cruz: uma, com 25 metros, englobando as ruas Governador Valadares e Cel. Antonio dos Anjos e outra, com 16 metros, alargando a Dr. Santos em 9 metros. O Plano Diretor previa um prazo máximo de 40 anos para que a prefeitura pudesse implantar totalmente essas avenidas, a baixo custo. Este prazo seria completado no ano próximo passado. Já imaginaram como seria o trânsito de Montes Claros, hoje, com duas avenidas com larguras iguais às da av. Afonso Pena e av. Amazonas, de Belo Horizonte, cortando a cidade da UNIMONTES até a av. deputado Plínio Ribeiro e do trevo da fábrica de cimento até outro trevo no anel rodoviário depois da Igreja São Judas Tadeu?


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Por João Carlos Sobreira - 3/9/2011 16:58:43
A odisséia da cisterna

João Carlos Sobreira

Quando mudamos para a nova casa do Bairro Jaraguá, já sabíamos que teríamos que conviver com a falta d’água. A circunvizinhança era servida através de uma caixa d’água, abastecida por um poço tubular, situada numa pracinha localizada no ponto mais alto do bairro. E na COPASA não havia a mínima perspectiva de levar a rede d’água até lá. Por este motivo, ao entregar o projeto de urbanização do Bairro Jaraguá a Geraldo Brant, quis comprar o lote onde estava localizado o poço tubular da antiga fazenda. Então, propus a ele, pagar o poço, inscrevendo-me no DNOCS para a perfuração de um novo. Esta seria executada no local da conveniência de Geraldo, tão logo chegasse a autorização do órgão. Acertamos a aquisição do terreno e Geraldo ainda me presenteou com os equipamentos (bomba e motor de 5 HP) que estavam instalados na boca do poço. E o DNOCS liberou o novo poço em menos de cinco meses.
Enquanto éramos poucos moradores (no início, apenas Geraldo, Zumba, Wellington e nós), a água era mais que suficiente para todos. Com o crescimento do bairro, o automático do motor do nosso poço passou a ligar várias vezes por dia, por causa da escassez de água. A COPASA continuava muda e a conta da CEMIG, a cada mês, vinha mais alta, por causa do motor de 5 HP. Resolvemos, então, mandar cavar uma cisterna no terreno ao lado, que havíamos adquirido para construir a área de lazer: piscina, quadra e espaço para churrasqueira. Na cisterna, poderíamos usar uma bomba pequena com motor de ½ HP, sem problemas e com pouca despesa, já que a profundidade para alcançar a água seria cinco vezes menor que a do poço.
Contratei o cisterneiro Miguel para cavar uma cisterna de sessenta centímetros de diâmetro, comprei logo os anéis de concreto com essa dimensão, pois queria que a cisterna ficasse revestida. Miguel foi cavando e descendo os anéis e nada de sinal de água. Um dia ele me chamou e disse: -“Chegamos aos dezoito metros e vejo que o toá está bem molhado. Mas ainda não posso dizer que tem água.” Só que, aos vinte metros, Miguel encontrou um grande bloco de pedra, que ele chamou de rocha de serra. - “Agora só com dinamite para quebrar esta rocha de serra e este serviço eu não faço. Amanhã posso trazer meu ‘cumpade Pulim pru mode’ conversar com o senhor, prá dar os tiros?” Diante deste fato, autorizei a vinda do seu compadre.
De fato, Paulinho veio no dia seguinte e combinei o serviço com ele. Foi a maior ‘mão-de-obra’ para conseguir autorização do Exército na aquisição de dinamite. E, todos os dias, vinha um sargento conferir tudo, verificar a quantidade de dinamite que estava sendo efetivamente usada, se não havia desvio de material. O trabalho de Paulinho era estafante e perigoso. Furar vários buracos na pedra para colocar o explosivo e, na hora do tiro, a boca do buraco tinha que ser tampada com uma placa de Eucatex, para evitar que os estilhaços da explosão saíssem fora da cratera e pudessem atingir alguém. Ele rompeu dois metros na rocha sem o mínimo vestígio de água, a não ser apenas umidade. Resolvi parar o serviço até que surgisse alguma alternativa nova. Que não demorou aparecer.
Certo dia, conversando com Sandoval, amigo meu e dono de uma pedreira, contei-lhe a história da infrutífera tentativa de ter água de cisterna na minha casa. Ele disse que usava na pedreira marteletes com brocas de seis metros de comprimento e que poderíamos tentar fazer, no fundo da cisterna, uma série de furos, como uma ‘tábua de pirulito’. - “Quem sabe se a gente consegue encontrar algum veio d’água nesta rocha?” Ele disse e acrescentou: -“Se você conseguir que a COPASA empreste o compressor móvel, eu mando meu pessoal fazer esta ‘tábua de pirulitos’ na sua cisterna.” A COPASA emprestou o compressor e Sandoval cumpriu o que prometera. Não adiantou nada! Nem sombra d’água.
Numa reunião mensal da AREA, sentei-me ao lado do dileto amigo e colega Nazareno (Manoel Nazareno Procópio de Moura, engenheiro do DNOCS, que no momento, também estava com uma recém criada empresa de perfuração de poços) e comentei com ele minha odisséia com a cisterna. E ele disse: -“Ô Jota (ele só me chama assim), pertinho de sua casa tem um poço que foi perfurado pelo DNOCS. Eu vou pegar, no arquivo, o perfil geológico deste poço, para ver se encontramos uma solução.” Este poço a que ele se referia era justamente o que abastecia o bairro. Na semana seguinte, ele me ligou e me perguntou se eu teria condições de informá-lo qual a diferença de nível entre a boca do poço e a cisterna. Como o projeto do Jaraguá é da minha autoria, foi fácil pegar a planta do bairro e verificar, pelas curvas de nível, que a diferença pedida era de cinco metros e meio.
Quando passei essa informação para o Nazal, ele me disse eufórico: -“Você falou que sua cisterna tem vinte metros revestida, mais dois metros cavados na rocha e mais seis metros de furos feitos com marteletes, o que dá um total de vinte e oito metros. Encontrei no perfil geológico do poço, uma fenda de vinte centímetros, com água, na profundidade de trinta e cinco metros. Se somarmos os cinco e meio da diferença de nível aos vinte e oito da cisterna chegaremos a trinta e três metros e meio, ou seja, faltam apenas um metro e meio para atingir a água! Na próxima semana, vou trazer de Janaúba uma perfuratriz para fazer a revisão periódica, que deve demorar uns dez dias. E eu vou precisar de um local para fazer um teste”. Aí eu disse incontinente: “O local do teste eu consigo encontrar, pode deixar por minha conta!” E caímos na gargalhada!
Para orientar a lança da perfuratriz, foi instalado, no meio da cisterna, um tubo de seis polegadas de diâmetro interno, a mesma bitola do furo que iria ser feito na rocha. A perfuratriz ia trabalhando muito bem, mostrando que o teste estava sendo um sucesso. Quando o buraco chegou na profundidade de trinta e cinco metros, pudemos ouvir o barulho da água borbulhando tubo acima. Ela subiu e parou no nível estático de treze metros, formando uma coluna d’água de vinte e dois metros de altura. Água de rocha, pura, límpida, gostosa e abundante, dádiva de Deus! Foi aquela festa, com todos os presentes nos abraçando e rodopiando de felicidade. A cisterna, com uma bombinha de ½ HP, funciona até hoje, vinte e cinco anos depois, completando semanalmente o nível da piscina, molhando as plantas e a horta, graças a Deus. Para o abastecimento da casa a COPASA só chegou uns cinco anos depois, período em que a cisterna cumpriu seu papel galhardamente.
Devo enfatizar: foi muito importante ter sido persistente!


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Por João Carlos Sobreira - 31/8/2011 08:10:09
Incêndio na praça do Rosário

João Carlos Sobreira

A praça da Igreja do Rosário (hoje praça Portugal) era tranqüila e bucólica em meados da década de sessenta. Podemos representá-la por um triangulo alongado, tendo um dos lados iniciado na esquina da rua Viúva Francisco Ribeiro, onde havia um velho casarão e hoje funciona a principal agência do Banco do Brasil na nossa cidade. Ali funcionava o Grupo Escolar D. João Pimenta, tendo ao lado um terreno murado, vago, que estava sendo usado como depósito de gás a céu aberto. Ao seu lado a residência do casal Fernanda e Arthur Ramos, existente até hoje, com finalidade comercial. Da outra esquina, onde começa a rua Lafetá até rua Governador Valadares, havia um muro contínuo com apenas alguns portões, de garagens existentes nos quintais das casas com frente para a rua Dr. Veloso. Na esquina do outro lado da rua Governador Valadares, um prédio de dois pavimentos, onde eu morava com minha mãe no térreo e funcionavam salas de escritório, em cima.
Fechando o triangulo, no lado menor, a nova Igrejinha do Rosário, recém construída em substituição à antiga e linda Capela, que o progresso exigiu e a prefeitura foi obrigada a demolir, porque estava interrompendo, quase que completamente, o prosseguimento da avenida Cel. Prates. Em compensação, a localização da nova Capela, fechando o início da avenida Afonso Pena, interrompeu o seu prolongamento existente, trocando, a meu ver, “seis por meia dúzia”. Confirmou-se aí, mais uma vez, o surrado refrão que diz: “Montes Claros é, cada vez mais, uma cidade sem memória”. A demolição da velha Capelinha, se deu sob vigorosos protestos da população e rios de lágrimas das piedosas rezadeiras,
O mato tomou conta do deposito de gás, ou por esquecimento, ou por deficiência no lay-out de arrumação dos botijões de gás, perfeitamente visível do lado de fora. Não havia espaço para passagem de um capinador entre as pilhas, que podiam ser vistas acima do muro não taon alto. As folhas do mato já estavam ultrapassando os botijões e perigosamente amareladas, portanto, secas. Não apareceu nenhum fiscal da prefeitura para autuar o responsável, a fim de corrigir o perigoso erro. A baixa umidade relativa do ar, permanentemente na cidade, o calor constante e o clima seco, se associados à uma ponta de cigarro aceso, poderiam transformar tudo em uma previsível tragédia. Pois não deu outra!
Certo dia, pela manhã o mato seco começou pegar fogo. Foi combustão espontânea, disseram uns. Que nada, só pode ter sido uma ponta de cigarro, afirmaram outros. A dúvida ficou, mas o sinistro foi real, barulhento e amedrontador. As labaredas subiram acima dos botijões, atingindo, primeiro sua válvula de segurança, que derretida, liberou o gás sob pressão, transformando o botijão em um possante maçarico, capaz de fazer a língua de fogo alcançar uma distancia superior a quarenta metros. Os botijões vazios quando atingido pelo agora maçarico, explodiam e eram arremessados em todas as direções, principalmente para o ar. Encontrei, posteriormente, no telhado lá de casa, a sessenta metros do foco de fogo, três botijões retorcidos, amassados e rasgados pela explosão, que haviam quebrado várias telhas e foram parar na laje de forro das salas. Oito deles, no mesmo estado, foram encontrados na praça da Matriz e alguns foram localizados nas proximidades da ponte do rio Vieira, que dá acesso ao Orfanato. As casas e quintais da circunvizinhança, devem ter sido aquinhoadas com o inusitado “meteoro” sem que tenha sido dado conhecimento posteriormente.
O meu dileto amigo José Marques, conhecido na cidade como Zé Português, tinha, na ocasião, um caminhão que fazia transportes de materiais para outras cidades e o deixou, carregado de tecidos, pernoitando, como de hábito, no outro lado da avenida, bem em frente ao depósito de gás. A língua de fogo do “lança chamas” o atingiu, destruindo, por completo, caminhão e mercadorias. Felizmente, no terreno vago, o único combustível para o incêndio era o gás dos botijões cheios. Acabado esse, não havendo mais nada para alimentar o fogo, o incêndio extinguiu por si próprio. Foi um acontecimento apavorante, de pequena duração.
Quando o incêndio começou, eu já estava visitando uma das minhas obras. Até que chegou o eletricista, com a notícia que estava tendo um “fogaréu perto da casa de Dona Zaeth”. Contou para nós, rapidamente o que sabia e incontinente, corri para casa. Ao chegar, mamãe e minhas tias e primos que moravam próximos, estavam nas cinco janelas que abrem para a rua Governador Valadares, todas fechadas. Como eu já havia feito o serviço militar no CPOR, na arma de Artilharia e sabia muito bem que cada explosão é responsável por um deslocamento de ar, capaz de estilhaçar vidros como os das cinco janelas, tratei de abrir todas elas imediatamente.
Chegando ao quarto de mamãe, onde estava a primeira janela aberta por mim, qual não foi minha surpresa ao vê-la fechada. Abri de novo e fui verificar as outras. Também fechadas! Furioso, procurei saber quem estava me fazendo perder tempo com essa desastrosa brincadeira. Encontrei tia Jujú, apavorada e com muito medo (ela sempre foi assim) procurando “o irresponsável que estava fazendo todos correr o risco do perigo de uma tragédia abrindo as janelas!” Com o fato esclarecido, tudo se acalmou e pudemos acompanhar o resto do incêndio com as janelas abertas. E acabado o sinistro, ao comentarmos o ocorrido, todos demos boas gargalhadas.


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Por João Carlos Sobreira - 24/8/2011 07:37:46
Conrado Pereira

João Carlos Sobreira

Conheci Conrado Pereira na campanha política que elegeu Tadeu Leite para governar Montes Claros por seis anos, a partir de 1982. Sua área de atuação era a região em torno do bairro dos Santos Reis, onde era muito querido e respeitado, fato que justificava e explicava a quantidade esplêndida de votos que o elegeu como vereador dos mais bem aquinhoados pelos eleitores. A cidade foi colhida de surpresa por aquele político completamente desconhecido que conseguiu bater e deixar para trás alguns coronéis, chefes políticos antigos e tarimbados da região.
A surpresa deu continuidade quando, nas reuniões da câmara, ele começou a aparecer com seus discursos desinibidos como se fosse um tarimbado edil. O impacto maior, entretanto, foi gerado pela quantidade de erros de português e de concordâncias. Chegava a ser hilária sua fala que sempre causava risos, tanto entre seus companheiros, quanto aos assistentes na platéia, a cada escorregão seu. Apesar disso, Conrado conseguia transmitir suas idéias com relativa clareza, em que pese o desconforto da dor nos ouvidos, causada pela sua incomoda e porque não dizer, impiedosa e inusitada verve verbal.
Fui secretario dessa administração durante os seis anos: Secretário de Planejamento, depois Secretário de Obras e até o final do governa, Presidente da ESURB. Dado ao fato de ter sido um vereador dos mais bem votados, aliado à sua amizade com o prefeito, Conrado foi liberado por esse, com “passe livre” para assistir a qualquer reunião que houvesse na Prefeitura. Assim, pude conhecê-lo bem, pois o encontrava sempre, pelo menos uma vez por semana, nas reuniões de secretários que duravam uma manhã inteira. Conheci um Conrado alegre, descontraído, inteligente, gentil, correto e amante do seu bairro. Tornei-me seu amigo e dos seus filhos, senti muito sua morte prematura.
Na estréia de Conrado nas reuniões de secretários, ele não deixou escapar a primeira oportunidade que surgiu: pede a palavra para reclamar da atuação da diretora de certa escola municipal do Santos Reis que estava permitindo que alunos continuassem analfabetos, sem tomar a mínima providencia. Ele falou mais ou menos assim: -“ Ela num faz nenhuma força prá corrigi os minino que são marfabeto. Vou ripití com todas letra: MAR FA BE TOS.” Minha surpresa só não foi muito grande por pensar que “aquilo” significava o que imaginei, porque, logo em seguida ele tratou de enfatizar, reafirmando, pausadamente e batendo a mão aberta na mesa, a cada sílaba pronunciada. Foi o que bastou para eu começar a anotar, em uma folha separada, o início das aberrações que viriam nos próximos anos.
A partir de então, em todas as reuniões, quando Conrado aparecia, eu logo pegava aquela folha, a qual dei o título de Glossário do Conrado, ficando atento a qualquer escorregão seu, entretanto, sem perder “o fio da meada” da reunião que estava participando. Eis aqui o esperado
GLOSSÁRIO DO CONRADO
marfabeto=analfabeto; carçá=calçar; inprano=no plano; coidade=cuidado; vebra=verba; tombem=também; conto=quanto; canajura=Tanajura; auscibilidade=possibilidade; pusição=oposição; premêra=primeira; uispicialmente=especialmente; falença=falência; ônis=ônibus; terreino=terreno; saral=salário; sabo=sábado; cutiloso=cauteloso; dificulidade=dificuldade; floviára=pluvial; pilhó=pior; lançamento=orçamento; iscurção=discussão; versal=aniversário; pendebê=PMDB; argüem=alguem; criditi=acredito; tôrra da tv=torre de tv; prefeitchura=prefeitura; priguntá=perguntar; feritiradente=alféres Tiradentes; miponta os erro=me aponte os erros; çumitéro=cemitério; próxo=próximo; marm=mármore; escrusivo=inclusive; aduá=douar; bulí ou mulí=demolir; fancionano=funcionando; percuro=procuro; ingergí=exigir; premetê=prometer; orgo=orgão; inhantes=antes; diministração=administração; diquirí=adquirir; egirge=exige; maca=máquina; niguração=inauguração; bermuta=permuta; potógro=topógrafo; quais=quase; orgênça=urgência; trabaio=trabalho; oral=horário; petrol=petróleo; iuspitá=hospital; cundefé=vai ver que... manejáro=remanejaram; boate=boato; kilibrada=equilibrada; livêia=alivia; ita=ítem; papaganda=propaganda; lustrar=ilustrar; fisolomia=fisionomia; carapintêro=carpinteiro, vetoriôs=itorioso; dismorecê=esmorecer; alegê=eleger; reta=retroescavadeira; xanxa=chance; aduamento=doação; bijutaria=bijoteria; cumpanhô=acompanhou;
Quero deixar claro que, embora não pareça, esta crônica não foi escrita com a intenção de ridicularizar meu amigo. Pelo contrario, ela presta uma justa homenagem a um homem simples que marcou sua passagem na vida política da cidade, com honestidade, retidão e humildade, dando bom exemplo aos filhos, com a cabeça erguida, apesar da pouca instrução. Para terminar: perguntado por um repórter em uma entrevista na televisão, se não se sentia constrangido por falar tão errado, Conrado, sem titubear, deu a seguinte resposta:-“Eu num falo errado, eu prenunceio errado!”




Selecione o Cronista abaixo:
Avay Miranda
Iara Tribuzi
Iara Tribuzzi
Ivana Ferrante Rebello
Manoel Hygino
Afonso Cláudio
Alberto Sena
Augusto Vieira
Avay Miranda
Carmen Netto
Dário Cotrim
Dário Teixeira Cotrim
Davidson Caldeira
Edes Barbosa
Efemérides - Nelson Vianna
Enoque Alves
Flavio Pinto
Genival Tourinho
Gustavo Mameluque
Haroldo Lívio
Haroldo Santos
Haroldo Tourinho Filho
Hoje em Dia
Iara Tribuzzi
Isaías
Isaias Caldeira
Isaías Caldeira Brant
Isaías Caldeira Veloso
Ivana Rebello
João Carlos Sobreira
Jorge Silveira
José Ponciano Neto
José Prates
Luiz Cunha Ortiga
Luiz de Paula
Manoel Hygino
Marcelo Eduardo Freitas
Marden Carvalho
Maria Luiza Silveira Teles
Maria Ribeiro Pires
Mário Genival Tourinho
montesclaros.com
Oswaldo Antunes
Paulo Braga
Paulo Narciso
Petronio Braz
Raphael Reys
Raquel Chaves
Roberto Elísio
Ruth Tupinambá
Saulo
Ucho Ribeiro
Virginia de Paula
Waldyr Senna
Walter Abreu
Wanderlino Arruda
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Yvonne Silveira