"Ouvi então que pássaros do entardecer desceram, deixando canto e lamento que sugeriam dizer - “isto não, isto não…”
Quarta 09/03/22 - 11h36Notícia publicada originariamente, com imagens, no @montesclaroscom - Clique aqui para ir e seguir o @montesclaroscom no Instagram, em 8 de março:
A árvore deitada
Caminhando ao fim da tarde pelo lugar mais bonito de M. Claros, a 10 dias da próxima Lua Cheia, a do outono, vi que ao pé de árvores centenárias abriram uma vala.
Vala, trincheira, fenda, logo ocupada pelas águas, por curta extensão.
Sem dificuldades, compreendi: trata-se de esforço devido para drenar a água que mina ao pé do arvoredo, depois das muitas chuvas, água que escorria pela pista de caminhadas. Ok
Apenas causou-me incômodo certo desmerecimento, ou des-cuidado, com irmãs tão longamente beneméritas.
As irmãs árvores, cujas raizes podem ter sido atingidas e mutiladas, ainda que boa e virtuosa tenha sido a intenção.
Vetustas árvores, vizinhas “de grito” da singular “árvore deitada”, esta particularmente do apreço da criançada; e em cuja sombra, bem na dobra do caminho, por tempos descansou a escultura, despretensiosa, que exulta, e agora clama, pelo fundador do Parque, o eterno prefeito Toninho.
A reverência explícita que devemos a ele dissolveu-se, sem explicação; pode ter ido pelo éter da ingratidão, e dos malmequeres; escafedeu-se, faz tempo.
Mistério ainda não resolvido
Deixou por testemunho um cano mudo, hirto no seu pedestal inútil (inútil e vazio, ainda que cercado por canteirinho que alguma boa alma elevou).
E agora sem qualquer motivo para ali seguir, a não ser como estaca de um sentimento que não nos cabe - o de ser povo ingrato, e sem memória…
Ouvi então que pássaros do entardecer desceram, deixando canto e lamento que sugeriam dizer - “isto não, isto não…