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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 19 de maio de 2024
 

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Mensagem: Para matar as saudades dos nossos cinemas.


Aqueles Cinemas e Seus Filmes Maravilhosos

Montes Claros teve sua fase áurea de cinemas. Eles eram o universo de diversão da cidade. Cines São Luís, Montes Claros, Cel. Ribeiro; cines Ipiranga na rua Melo Viana, Cine Nova Olinda na avenida Ovídio de Abreu e por último o cine Fátima considerado na época um dos melhores do interior de Minas. Vivíamos sob o signo do cinema. Imitávamos os penteados, as roupas, às vezes até os costumes que a Vênus Platinada Hollywood mostrava em seus filmes.
Ir ao cinema naquela época, era mais que uma simples distração, era como uma necessidade de viver ilusão, sair da realidade. A gente se preparava para exercer o sagrado direito ao refúgio no mundo dos grandes romances, das músicas temas, da vida encenada nas telas e que se eternizaram em nossas memórias. Para sair da rotina, da mesmice do cotidiano, ir ao cinema, entrar na tela e sumir com os heróis dos filmes, era um hábito. Por que não ir com Humphrei Bogart para Casablanca, com Gregory Peck para Roma, ou com Clarck Gable para Atlanta? Vivíamos sob o encantamento do cinema, vínhamos de uma meninice embalada pela fábrica de sonhos de Hollywood. Filmes água-com-áçúcar, épicos, grandes dramas, faroestes, policiais; as chanchadas da Atlântida com Grande Otelo e Oscarito, os desenhos de Walt Disney. Os musicais da Metro faziam grande sucesso e levavam a sonhos e fantasia. Os filmes em Tecnicolor, cinemascope e som estereofônico enlouqueciam nossa imaginação. Sonhávamos com as façanhas de Tarzan, vivíamos as peripécias da 2ª Guerra Mundial: bombardeios em Londres, espionagem em Paris, Truculência na Alemanha. Amamos, odiamos e invejamos Scarlet O’hara. Adoramos Natascha em “Guerra e Paz”. Apaixonamos por Jeniffer Jones e William Holder em “Suplício de uma saudade”. A paixão por esse filme foi tanta, que, ao escutar a música tema “Love is many splendor thing” todo mundo chorava. A moda chinesa invadiu nosso tropical Brasil e ganhei um vestido de cetim estampado azul-turquesa igual ao que Jeniffer Jones usava nesse filme.
“Pic-nic” com Kim Novak e William Holden arrebentou corações, quando ela, ao som de “Moonglow” descia uma escadinha e caía nos braços do mesmo. Sensualidade e sedução à flor da pele.
Debora Kerr e Burt Lancaster protagonizaram o beijo mais bonito do cinema em “A um passo da eternidade”, quando envolvidos pela espuma das ondas do Pacífico, seus lábios se encontraram pouco antes de “Pearl Harbor” ser bombardeada pelos japoneses. E os faroestes? Garry Cooper saía do “Saloon”, montava em seu cavalo e desaparecia nas savanas americanas. E o duelo entre o bandido e o mocinho na rua deserta do povoado Rolos de capim, rodopiavam ao sabor do vento, os espectadores num silêncio absoluto, aguardando o tiro mortal, quando um gaiato gritou: Êta São João da Ponte! A platéia veio abaixo na risada, pois foi numa época de brigas e tiroteios na vizinha cidade. O gordoe o magro faziam rir ao lado dos Três Patetas e Cantiflas. O público juvenil vibrava com John Wayne , Charles Starret, Roy Rogers, Randoeph Scott, batendo os pés e gritando: É isso aí, dá-lhe uma direita! Os seriados Nioka, Flash Gordon, A Deusa de Joba eram o melhor da matinê. Ai de quem procedesse mal durante a semana, o castigo era perder a matinê.
No cine Cel. Ribeiro, passava às sextas-feiras a sessão das 22 horas. Eram filmes proibidos para menores de 18 anos. A maioria dos filmes eram franceses. Resolvemos assistir “Les Amants” com Michele Morgan ou seria Martine Carol? Coração disparado, maquiagem mais carregada, lá fomos nós. Cinema lotado de casais, homens e rapazes. Uma de nós, lembrou de Altininho que era comissário de menores, e, se ele aparecesse e pedisse a carteirinha, seria o vexame. O filme começa em preto e branco, nós discretamente na última fila, assombradas com o filme e a nossa ousadia em assistí-lo. Já quase no final ficamos próximas à cortina e assim que o FIM apareceu, saímos em desabalada carreira, rua Camilo Prates abaixo, quase meia-noite, e pé-ante-pé, chegamos em casa. Graças a Deus nossas mães não desconfiaram e foi a primeira e última vez que, aos dezesseis anos não respeitamos a censura. Hoje, “Les Amants” passaria tranqüilamente em qualquer sessão da tarde.
Bons tempos! Filmes mexicanos e seus dramas, o neo-realismo italiano, a “nouvelle-vague”, francesa engatinhando.
Vivíamos cinematograficamente amando William Holden, Rock Hudson, James Dean, Tyrone Power, Gary Grant e invejando Elizabeth Taylor, Vivam Leight, Kim Novak, Deborah Kerr, Jeniffer Jones. Ingênua geração que através da era de ouro de Hollywood viveu os sonhos mais lindos de sua juventude. Despreparadas para o mundo que nos esperava, fomos a geração sanduíche imprensada sob o rigor vitoriano de nossas famílias e a abertura dos anos 70, onde a liberdade extrapolou para a liberalidade dos costumes e tempos novos surgiram.

Carmen Netto

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