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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: O FUTURO MUDOU QUASE TUDO Alberto Sena Informa a nota: “Vendido o lote do tradicional restaurante Skema, no Bairro Todos os Santos, ao lado do Orfanato Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. No local, agora ou mais adiante, será construído um prédio”. A notícia me remeteu, num átimo, aos novos tempos da adolescência, em Montes Claros, década de 60, quando próximo dali surgia o campo do Cassimiro de Abreu, onde por algum tempo atuei como ponta direita do chamado “Time de Bonga”. Vezes incontáveis transitamos por ali. O pensamento perpassava o interior daquele prédio do orfanato e ficava imaginando o que se dava ali dentro onde centenas de meninos e meninas despossuídos de pais viviam. Na Montes Claros da época não havia a Avenida Sanitária. Uma ponte sobre o Ribeirão Vieira gasta pelo uso e tempo fazia a ligação com o Bairro Todos os Santos. Ali morou por mais de quatro décadas o meu irmão Waldyr Senna. O Ribeirão Vieira corria com mais velocidade e menos poluição, para não dizer que é cloaca a céu aberto. Ali ainda era um lugar onde adolescentes da época, estilingue pendurado no pescoço, encontravam mato e rolinha para caçar. Mas o futuro, hoje presente, era uma certeza. Um dia chegaria. Chegou. E quase tudo mudou. Vieram os prédios de apartamentos, vieram os muros altos, as cercas elétricas também vieram. Só não contávamos, lá atrás, com toda essa parafernália de segurança, quando o jornalista Fialho Pacheco fez a previsão. Ou a cidade se livrava das amarras para cumprir com a sua vocação de metrópole, ou implodiria, previu ele, em finais da década de 60, das vezes em que esteve em Montes Claros na condição de repórter do jornal Estado de Minas, e conversávamos em frente ao “O Jornal de Montes Claros” extinto, na Rua Doutor Santos, 103, Centro, onde é hoje uma agência bancária. O atual vaivém de carros em meio às motocicletas comparáveis a mosquitinhos, e gente, muita gente a trombar umas nas outras sobre as calçadas curtas onde os pedestres fazem verdadeira ginástica para não serem apanhados por um veículo qualquer, desembestado, esse movimento era previsto. A diferença é a de que na época havia mais bicicletas do que motocicletas. Hoje é o contrário. Motocicletas e carros predominam. Tudo se resume numa palavra: sina. Esta era e é a sina de Montes Claros que se foi crescendo intempestivamente ao ponto de se tornar uma cidade – para mim é difícil dizer isto – inóspita, como inóspita Belo Horizonte se tornou. Uma é onde nasci e vivi 22 anos. A outra me acolheu durante 43 anos. Amo as duas cidades, mas de longe. Para morar, não mais. Não se depender da minha própria iniciativa, mas ninguém pode afirmar, com certeza, nada sobre o dia de amanhã. Vezes sem conta atravessava aquela ponte e isso faz tanto tempo que a ponte nem deve existir mais. E tanto tempo sem retornar ao bairro a essa altura da corrida temporal, o Bairro Todos os Santos deve estar todinho tomado. Sem sequer um palmo desocupado. Mais um prédio vai surgir. A exploração imobiliária é implacável. É ela uma das responsáveis pela extinção da memória do patrimônio público. Uma cidade sem memória é como alguém acometido de Alzheimer. Isso tudo não quer dizer saudosismo. Não. Quer dizer consciência da necessidade de preservar a memória coletiva. Com algumas raras exceções, Montes Claros não se ocupou com a preservação da sua memória, do seu patrimônio histórico, senão a Rua Doutor Santos – e outros lugares – não teria sido modificada a tal ponto de não ser reconhecida por montesclarinos ausentes da cidade a partir do Anos 70. E como Montes Claros possui história, que se vai perdendo na voragem do tempo. N’algum momento alguém haverá de recolher retalhos dos feitos de antepassados e a história da nossa época, daqui a meio século, quando os que vierem depois chamarem esse nosso tempo de passado.

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