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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: ENCONTRO COM BONGA, 4 DÉCADAS DEPOIS Alberto Sena Vi a silhueta de um homem alto através da porta de vidro. Vi também quando ele bateu na porta com os nós dos dedos. Mais próxima, Sílvia foi atendê-lo. Ouvi-o falar o meu nome. Pelo tom de voz não consegui identificar quem seria ele. Por minha cabeça não passou o nome de ninguém da convivência no dia a dia. Era o Bonga, epíteto de João Bispo. Reconheci-o logo no primeiro instante. Havíamos acabado de chegar duma subida à Serra do Espinhaço, de modo que ele me encontrou de short como costumo ficar em casa para aliviar do calorão. Eu não via o Bonga fazia umas quatro décadas. Ele era o técnico do juvenil do Cassimiro de Abreu, no bairro Todos os Santos, década de 60. Com ele atuei nos áureos tempos do futebol montesclarino. Pelo jeito, Bonga continua o mesmo Bonga de sempre, fisicamente. Com algumas marcas decorrentes do tempo, sujeito ao qual todos estamos, mas o mesmo homem de aparência séria, compenetrado naquilo que fazia e ainda faz. Brincava quando o momento era de brincadeira, mas quando era para valer, brincadeira ficava de lado. Ele se ocupava tanto com os seus pupilos que baixou logo uma portaria verbal que, evidentemente, era desobedecida às escondidas: “No meu time ninguém fuma”. Imagina uma proibição desta numa época em que era considerado chique sair cuspindo fumaça como cano de descarga de carro. Quando via alguém fumando, ele tomava o cigarro e o maço. Era desse jeito. Em compensação, o juvenil do Cassimiro de Abreu formado por ele ficou invicto dezenas de partidas. Fomos bicampeões em Montes Claros em cima do rival Ateneu. Ostentamos faixas e tudo mais. Bonga tratava o time como se fosse profissional. Não faltava nada. O time revelou craques como Duílio, Zoca, Adilson, Carlinhos, Helton, entre outros. Duas torsões de tornozelo seguidas me fizeram abandonar a carreira de ponta direita, quando em alta velocidade ia até a linha de fundo e servia os companheiros de ataque. Bonga demonstrou possuir boa memória, recordou-se do apelido que me dera: “Invisível”, por causa das minhas carreiras pela ponta direita. Disse-me ele ter guardado os registros das partidas, dia, hora, resultado, os gols marcados e os autores. Certamente, ele guardou também fotos e será interessante poder um dia reencontrá-lo em Montes Claros para rever os registros da época, boa época, quando a cidade era tranquila, mas prenunciava o que seria décadas depois. Bonga veio a Grão Mogol com a família – Francimeire Araújo Bispo, a esposa; Franciele Araújo Bispo, a filha; e o amigo Edson Luiz, Lula chamado – convidados para o casamento de Maria Fernanda, filha de Élcio Paulino. O carro que o levaria de volta a Montes Claros estava na porta com o motor ligado. Portanto, não houve tempo para mais conversas além da troca de número de telefone. Apenas disse ele que trabalha no mesmo ramo de conserto de motores. Na época em tela a oficina dele era um ponto de encontro dos jovens aficionados do futebol. O mesmo acontecia na sapataria de Tião Boi, que era técnico de futebol de salão, hoje futsal chamado. Além de consertar motores, o Bonga trabalha com os irmãos Maristas, no Colégio São José. Se a memória do Bonga é boa, a minha é ótima. Recordo-me como se tudo estivesse acontecendo agora o dia em que fomos de ônibus ao Rio de Janeiro para enfrentar o juvenil do Botafogo, em General Severiano. Foi uma viagem e tanto. Resultado, perdemos a invencibilidade, 4 a 1. Bonga chamou o mesmo time do Botafogo a Montes Claros e no Estádio João Rebello nós empatamos em zero a zero. O mais importante é que o nosso goleiro, Duílio, agarrou dois pênaltis. O Botafogo levou Duílio, que, segundo soube, atuou também pelo Flamengo e nunca mais ouvi falar dele. Bonga se despediu. Antes, porém, pelo celular, Sílvia sacou fotos. Depois, ele desceu os 22 degraus da nossa escada como se ainda fosse o goleiro do time titular do Cassimiro de Abreu, juntamente a seu irmão, Bispo, zagueiro, com a mesma postura ereta dos tempos do “campo do União”, década de 50, e de “Todos os Santos”, década de 60. P.S.: O “campo do União” ficava em frente a nossa casa, na Rua Corrêa Machado, 238, e ia até os fundos da casa de Bonga, na Rua João Pinheiro. Era um lugar mágico. A vida seguia lenta, pachorrenta.

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