Manoel Hygino
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Por Manoel Hygino - 7/6/2023 09:17:19 |
Perde nosso cinema Manoel Hygino Apesar da imensidão de temas a desenvolver neste espaço de jornal, não poderia deixar de registrar o falecimento, no dia 27 de maio, do cineasta Carlos Alberto Prates Correia, nascido como em Montes Claros, como minha irmã, Maristela, naquela data. Ele foi indiscutivelmente um dos mais importantes nomes do cinema mineiro, nas décadas recentes, e responsável por filmes exitosos como “Cabaré Mineiro”, de 1980, e “Noites de Verão”, quatro anos após, com Débora Bloch e Tony Ramos. Da cidade natal para Belo Horizonte, iniciou carreira como crítico de cinema no “Diário de Minas”. Uma experiência que deu prestígio muito legítimo. Em 1965, trabalhou como assistente de direção de Joaquim Pedro de Andrade em "O padre e a moça", estrelado por Paulo José, também estreando no cinema na época. Na década de 1960, fundou o Centro Mineiro de Cinema Experimental (Cemice), e produziu o filme "O Milagre de Lourdes" (1965), que retrata a história de um padre corrupto que se esconde em um bordel para fugir dos fiéis enfurecidos. Em 1966, Correia se mudou para o Rio de Janeiro, onde dirigiu o episódio "Guilherme" do filme "Os marginais" (1966), em parceria novamente com Paulo José. Em 1969, trabalhou como assistente de direção de Joaquim Pedro de Andrade e Paulo José no clássico "Macunaíma", e seu primeiro filme como diretor foi "Crioulo doido" (1970), drama ambientado em Sabará, que acompanha a história de um alfaiate de origem humilde que busca ascender socialmente. Correia também atuou como produtor em "Os inconfidentes" (1972) e "Guerra conjugal" (1974), ambos de Joaquim Pedro de Andrade, e "Vai trabalhar, vagabundo" (1973), de Hugo Carvana, colaborando com o diretor Cacá Diegues nos filmes "Quando o carnaval chegar" (1972) e "Joana Francesa" (1975). Em sua filmografia, destacam-se os filmes "Cabaret Mineiro" e "Noites do sertão". O primeiro, estrelado por Nelson Dantas, retrata a jornada de um sertanejo pelo interior de Minas, onde encontra mulheres marcantes e elementos típicos da região. O filme recebeu vários prêmios no Festival de Gramado de 1981. No mesmo ano, Correia adaptou a novela "Buriti", de Guimarães Rosa, para o cinema com o título, porque não poderia faltar com o romancista de Cordisburgo, e membro da Academia Brasileira de Letras. |
Por Manoel Hygino - 6/6/2023 10:19:19 |
Palavra de sílaba única Manoel Hygino Não assisto com rigorosa tranquilidade à vida do brasileiro nestes dias, que podem ser comparados aos dos últimos meses do quatriênio de Bolsonaro e os dos primeiros dias de 2023. Afinal de contas, o Brasil não parou para contemplar o transcurso do tempo, que me parece ainda carregado de pesadas nuvens. Oito de janeiro não se transformou num marco limitante de dois períodos da vida nacional. Pelo contrário, permite enxergar melhor o ambiente de refregas anteriores não decididas. Inquietos, acompanhamos os fatos que se marcaram pelos antagonismos nas frentes de decisões políticas, sem vislumbre de paz. No entanto, o presidente brasileiro defende o fim da guerra da Rússia contra a Ucrânia, como se estivessem na época dos tsares; um conflito insensato deflagrado por Moscou há mais de um ano. São mais de doze meses sem sequer o telefonema mágico com a palavrinha paz, em português com apenas três letras. Não há possibilidade de avaliar o mar de sangue que se terá derramado naquela emblemática e problemática região do planeta que habitamos. Mas, engana-se Lula ao pregar a pacificação no front externo, se não a conseguimos em âmbito interno. As posições adotadas pelo governo até agora não conseguiram sensibilizar os partidos políticos em termos necessários, como se depreende da votação de medidas provisórias no Parlamento. A reunião de presidentes latino-americanos no Itamaraty não ampliou o prestígio do Brasil no campo internacional. Ao receber o diretor Maduro em Brasília, Lula não conseguiu senão aclarar a aversão que os demais países nutrem pelo governante de Caracas e seu sistema ditatorial de gerir os negócios de Estado. E todo o mundo conhece o que acontece na Venezuela como na Guatemala. Assim como os ucranianos protestaram em Portugal pelas declarações de Lula sobre a guerra naquele pedaço de mundo, tratando vítima e agressor do mesmo modo, também o presidente brasileiro foi alvo de duras críticas pelo ostensivo e privilegiado tratamento oferecido a Maduro, nas horas em que esteve em solo nacional. Pelas declarações do diplomata Marcos Azambuja, na noite de domingo último pela televisão, depreende-se que o chefe do governo brasileiro terá de reavaliar suas posições em relação a Caracas. Enquanto Maduro se mantiver como até agora, não haverá possibilidade de a paz se estabelecer abaixo das margens do Rio Grande. A palavrinha “paz” anda longe. |
Por Manoel Hygino - 3/6/2023 07:37:21 |
![]() As barraquinhas Manoel Hygino Era por esta época do ano, no mês de junho, das noites mais belas do ano, como exaltava uma canção muito popular, que se realizavam nos bairros de Belo Horizonte, as barraquinhas, conservadas com saudades por sucessivas gerações. Nas proximidades das igrejas católicas, a comunidade, com incentivo da autoridade paroquial, erguia as tendas humildes, munidas de jogos diversos, para atrair principalmente os jovens para os inocentes divertimentos. Milhares se reuniam por ali, participando de múltiplos sorteios, enquanto o serviço de som tocava músicas alegres e os namorados se encontravam. Acontecia na Floresta, Renascença, Venda Nova e Santa Efigênia, por exemplo, este último formada a população com descendentes dos que vieram durante a construção da capital. No bairro do Quartel, como se apelidara a região que recebeu o primeiro batalhão da Policia Militar, tudo era festivo e amável. A ampliação do som era pela firma Ítalo & Andrade, proprietários. O primeiro descendente de italianos que se transferiram a Belo Horizonte desde a construção; o segundo de conhecida família de Ouro Preto, o Benedito, Bené, irmão do Delê, da Orquestra; e Francisco Andrade, homem culto e de teatro. Completava a equipe Maurício Gorle, o mais novo, de raízes libanesas. As músicas eram interpretadas, ao vivo, por uma jovem, Maura, que seria sucesso em exibições na Europa, e regressou a Belo Horizonte, onde estudou no Arnaldo, a primeira na época do sexo feminino. Tudo terminou. Os tempos são outros, as ideias, os costumes, as músicas, mas resta um profundo sentimento de reverência a um período feliz, que durou décadas. Permaneceu a Santa Casa, agora com 124 anos, que segue cumprindo sua histórica e solidária missão de servir. Dá o que pensar e sentir. As épocas não se repetem. As barraquinhas de bairros não existem mais, é apenas o que se pode lembrar neste junho que começa. No entanto, o passado, não tão distante assim, suscita o sonho de que deveriam voltar. Não fariam mal a ninguém, enfim. Lamentavelmente, as épocas não se repetem, por mais que se aproximem. A mentalidade é outra, os gostos e instrumentos de diversão não são mais aqueles que levavam horas de enlevo e alegria nas décadas do século XX. Todos nós transformamos, não se pode revogar esta constatação até dolorosa. Restaram a Praça, hoje Hugo Werneck, e a Santa Casa, com suas lições de altruísmo e solidariedade. |
Por Manoel Hygino - 2/6/2023 13:08:13 |
A invasão foi vitoriosa e multidões exultaram nas ruas. Soldados e populares se confraternizaram nas principais cidades, sobretudo Buenos Aires. Mas, depois a casa caiu. O Norte de Minas é terra considerada de gente brava. De lá saíram mineiros que participaram de grandes embates em que se envolveu a nação ou as províncias e estados. Basta aprofundar-se um pouco na leitura na história. Da Guerra do Paraguai para cá, moradores de nossas montanhas ou das planícies jamais fugiram às refregas. A imprensa que se faz por aqui sempre foi vigorosa e sem medo. Lembrar é preciso da Guerra das Malvinas, quando Margaret Thatcher se tornara primeira-ministra do Reino Unido, pela eleição em 1979 dos conservadores, abrindo as portas dos anos 1980, quando se privatizou a maior parte do setor público. Foi o período em que os ingleses descobriram petróleo no Mar do Norte. Em 1982, fortalecida pela vitória sobre a Argentina na chamada Guerra das Malvinas, Londres se julgou nas alturas. Buenos Aires viveu o outro lado da moeda. Um dos poucos jornalistas brasileiros a cobrir o conflito e o único de Minas, Celso Fernando Zuba, nascido em Montes Claros, no considerado ainda remoto sertão, começara a carreira na imprensa local, na “Gazeta do Norte”, depois no “Diário de Montes Claros”, além de participar de outros periódicos, inclusive da revista “Encontro”. Derrotada 30 anos entes na guerra pelo controle do arquipélago, a Argentina julgou chegada sua vez e hora de virar o jogo. E era especialmente importante, porque sua situação econômica era gravíssima, a nação dirigida pelos militares em ditadura, e a população convicta de que as ilhas eram um território seu e direito intransferível da nação. As Malvinas se localizavam ali mesmo, do outro lado de uma faixa atlântica, e a Inglaterra se situava muito distante, num outro continente. A Casa Rosada pensou em agir judicialmente e o governo britânico admitiu discutir a soberania das ilhas, desde que seus 30 mil habitantes formulassem o respectivo pedido. As tentativas de solução diplomática não evoluíam, mesmo com intervenção dos Estados Unidos. Em 2 de abril de 1982, o presidente Reagan conversou com o colega Galtieri, da Argentina, sem resultado, quando forças do país sulino já eram mobilizadas para ocupar as Malvinas. Ou Falklands, como usavam os britânicos. Com o início da ocupação pelos argentinos, igualmente 2 de abril, reagiram os britânicos, em cuja eficácia não acreditavam os contendores. No dia 5, porém, unidades da Tax Task Force partiram para o Atlântico, podendo-se dizer que principiava oficialmente o conflito. Os generais platinos, abalados em prestígio, acharam chegado o ensejo de assenhorear-se das Malvinas, reabilitando-se o governo perante o povo. A invasão foi vitoriosa e multidões exultaram nas ruas. Soldados e populares se confraternizaram nas principais cidades, sobretudo Buenos Aires. O mundo se dividiu. A Casa Branca não se solidarizou com Buenos Aires, preferindo perfilhar com a Inglaterra, sua aliada em grandes conflitos. A Rússia deu apoio tímido, mínimo. O Chile, ainda ferido com a questão do canal de Beagle, permitiu acesso em seu território de aviões ingleses em voo para as Falklands. O Brasil silenciou. Dois milhões de dólares foram utilizados pelos ingleses. Houve mais de mil mortos, além de feridos e desaparecidos. As Malvinas seguiram Falklands. A capitulação argentina se deu em 14 de junho de 1982. Em menos de dois meses, a popularidade de Margareth Thatcher chegara ao ápice. Os militares em Buenos Aires entraram em plano inclinado até a frustração final. Décio Gonçalves de Queiroz, diretor do extinto “Diário de Montes Claros”, conta como conheceu Zuba: “Apareceu na nossa redação um menino gordinho, espinhas no rosto, boa pinta, cabelos bem cuidados, calça jeans e camiseta vermelha que, com seus olhos arregalados, se identificou”: Foi logo dizendo que era seu sonho ser repórter. Assim, começou a carreira de um profissional raro. Seduzido em anos de profissão, foi incumbido de cobrir a Guerra das Malvinas, voando de São Paulo para Buenos Aires pela Aerolineas Argentinas, num imenso Boing que não tinha mais do que uns quinze passageiros. “Daí a sensação de grandeza – e também de vazio”, “a sensação de perigo vindo e indo em lampejos”, mas não faltava bom vinho servido generosamente pela comissária. Descrever o desenrolar dos fatos exigiria mais espaço, e o já repórter o faria depois, no livro “Crônicas de Guerra”. Inicialmente, o Hotel Sheraton, em Buenos Aires, onde funcionava o Centro de Informações das Forças Armadas, de onde saíam todos os comunicados. Confessa o jornalista: “Alguns fatos diretamente ligados ao conflito e outros correndo à margem dos acontecimentos deixaram marcas em minha presença na cobertura da Guerra das Malvinas. O replay, em clima de terror e comoção, ainda nos faz reviver como se de novo encontrasse ali, a cena das dezenas de corpos de jovens marinheiros da guarnição do cruzador “General Belgrano” (torpedeado e afundado pelos ingleses) chegando em Bahia Blanca. Mais de 300 resgatados do mar entre destroços fumegantes e envoltos em sacos pretos de plástico, eles vão sendo alinhados ao longo da pista de pouso”. Fernando Zuba cobria o conflito no sul do continente, preocupado com a rotina das sessões de hemodiálise semanalmente, a doença hemorrágica hereditária e sem cura, que aflige 13 mil pessoas no Brasil presentemente. Além dos eventos hemorrágicos alterarem o sistema biológico do paciente, ele precisava de um tratamento multidisciplinar. Mas o jornalista fora para o front como se os cuidados fossem dispensáveis. Fábio Doyle, jornalista, advogado, diretor de diário em BH, da Academia Mineira de Letras, que já partiu de nosso convívio, comentou: “Um dia (Zuba) nos deixou. Foi seguir o seu destino. Por onde andou, deixou sua marca de talento, de correção, de ética, de respeito”. A Guerra das Malvinas, que durou 74 dias, foi apenas uma das suas façanhas. Não foi um conflito qualquer; talvez tendo contribuído para diminuir “a alegria no ambiente perfeito, onde trabalhar é um prazer”, como sentenciou Ivan Drummond. Ao regressar ao Brasil e escrever seu livro, relacionou perdas argentinas e inglesas: GRÃ-BRETANHA Marinha: 111 navios (40 da Royal Navy), 24 da Esquadra Auxiliar e 45 mercantes requisitados; 3ª. Brigada de Comandos dos Royal Marines (3 batalhões), um regimento de artilharia e outras unidades especiais de comandos. Exército: um batalhão de paraquedistas, uma brigada de infantaria, um batalhão Gurka (integrado por nepaleses) e tanques leves Scorpion e Scimitar. Aviação Naval: helicópteros Lynx Mk2 e Sea King Mk5; caças Sea Harrier. Perdas: 255 mortos e 777 feridos; 10 aviões e 24 helicópteros destruídos; 2 destroiéres, 2 fragatas e 2 navios auxiliares afundados; 3 destroiéres, 3 fragatas e 2 navios auxiliares avariados. ARGENTINA: Guarnição Militar das Malvinas: 10.000 homens do Exército, incluindo algumas unidades de fuzileiros navais, veículos blindados Panhard, aviões Pucará, Hércules C- 130, helicópteros Bell UH e Puma; caças Skyhawk, Dagger, Mirage III e Super Etendard (operando desde o continente). Perdas: 1.000 mortos e número não divulgado de feridos; 76 aviões e 26 helicópteros destruídos; 1 cruzador, 1 barco patrulha e 3 navios auxiliares afundados; além de dois barcos patrulha avariados. O grande Zuba, conterrâneo e companheiro de profissão, poderia ter vivido mais: nasceu em 15 de setembro de 1947 e partiu em 31 de outubro de 2010. |
Por Manoel Hygino - 31/5/2023 09:42:28 |
União nas Américas Manoel Hygino Países da América Latina pretendem organizar uma entidade que represente os 12 do subcontinente, independente do viés ideológico do governo, segundo o Palácio do Planalto. Gisela Padovan, secretária da América Latina e Caribe do Itamarati declarou: ‘nós temos a consciência de que há diferenças de visão entre os vários países, diferenças ideológicas, e, por isso mesmo, consideramos um começo; que os países se sentem à mesa e dialoguem, busquem pontos em comum para retomar esse movimento tão importante”. E é para já, segundo o Planalto que agendou uma reunião para este princípio de junho. Confirmaram presença os presidentes da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai, Venezuela. O encontro tem como objetivo retomar o diálogo com os países sul-americanos, que ficou muito truncado nos últimos anos, e é uma prioridade do governo atual. Há pelo menos sete anos que não ocorre um encontro desse porte. Sabemos que a situação nas Américas de língua espanhola não é das mais benévolas. Basta ler o noticiário dos jornais com certa atenção e algum cuidado. Da América Central é o que se sabe, com grande parte da população sonhando em transferir-se para os Estados Unidos, com as dificuldades imensas para atravessar o Rio Grande, com reportagens chocantes que as televisões mostram. Na Colômbia, embora o presidente seja um antigo revoltoso, o problema é enfático e as autoridades de lá estão vindo ao Brasil para aprender métodos de luta com ferramentas mais eficientes. O Equador está em polvorosa, o mesmo se podendo observar com relação ao Peru e Chile. A Argentina está quase em frangalhos, com a inflação em 10%. Pode-se dizer que salva-se quase apenas o Uruguai. Sobre o Brasil, ninguém conhece mais do que nós mesmos. Mario Vargas Llosa, o escritor hispano-peruano, Prêmio Nobel de Literatura em 2010, além de detentor de outras altas distinções em outras plagas, é um vibrante acompanhador do que acontece neste território nosso. Fácil usuário da linguagem de sua pátria, Llosa é daqueles que não apenas gosta de falar em tom alto, além de escrever. Há algum tempo, afirmou: “nós, latino-americanos, somos sonhadores por natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real e a ficção. É por isso que temos ótimos músicos, poetas, pintores e escritores, e também governantes tão horríveis e medíocres”. |
Por Manoel Hygino - 30/5/2023 09:24:44 |
Os líderes e seu povo Manoel Hygino O desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima não perde o ensejo de dividir com seus amigos e confrades, com os leitores de seus comentários pela Imprensa, o que lhe causa interesse e suscita a vontade de focalizar. Como conterrâneos de Tancredo Neves em São João del-Rei, nada lhe escapa à crítica ou ao elogio, se este se lhe afigura merecedor. No dia 30 de março, enviou-me e-mail em que afirma ter manuseado o livro “Tancredo Neves, sua palavra na história”, publicado pela Fundação que tem o nome do ilustre mineiro, em 1988. Ele explica que se trata de uma coletânea de discursos e palestras do saudoso presidente e conterrâneo. Entre os estupendos textos, destaco o discurso fúnebre proferido pelo então deputado Tancredo Neves, em memória do presidente Juscelino Kubitschek, falecido em 1976 (Câmara dos Deputados, Brasília, 14.09.1976). A oração é aberta com a citação do livro “Quando os carvalhos se abatem”, do escritor francês André Malraux, ministro da Cultura do presidente Charles de Gaulle. De Gaulle estava sendo sepultado em Paris, em 1970. Uma grande fileira de militares protegia o cortejo fúnebre. Não permitiram que uma humilde velhinha, saída da aglomeração popular, se aproximasse do caixão. Malraux viu a cena e ordenou a um fuzileiro naval: - Deixe-a passar. O General ficaria satisfeito. Ela fala como a França. Segundo Tancredo, esse mesmo sentimento se apoderou da multidão que seguiu o féretro de JK, em Brasília: “Houve em cada lar uma prece, em cada face uma lágrima, em cada coração um voto de pesar e de saudade. É que Juscelino Kubitschek de Oliveira pertencia àquela rara estirpe do herói de Sófocles, na Antígona: não viera para partilhar o ódio, mas para distribuir o amor”. Já não se fazem homens como De Gaulle, Malraux, JK e Tancredo”. Ademais nas despedidas, eliminam-se as diferenças entre os grandes e pequenos, e estes se aproximam daqueles com reverência e demonstrações de respeito. Na paz e silêncio dos cemitérios, falam alto e espontaneamente os sentimentos das pessoas. Por estas passageiras observações do insigne magistrado, poder-se-ia evocar a lição de São Francisco de Sales, que entendia que, se o barulho não faz bem, o bem não deve fazer barulho, como fazem alguns líderes de várias atividades, inclusive política. Ao contrário do que quase rotineiramente se julga, líder é aquele que promove os outros e não a si mesmo. |
Por Manoel Hygino - 27/5/2023 07:53:12 |
O PIX e a Covid Manoel Hygino As autoridades brasileiras, parece, chegaram ao ponto de não saberem mais como agir para enfrentar o crescimento registrado pelos facínoras que praticamente tomaram boa parte do país, aplicando golpes aos cidadãos e segmentos honestos. Há ou não solução para evitar o que acontece desde o Pix, principalmente? Pergunto-me se os malfeitores têm mais criatividade para manter seus negócios sujos, porque ilícitos... É o que parece, com todo respeito que os conterrâneos têm com os agentes da lei. O aumento do uso de serviços bancários digitais, como o PIX, durante a pandemia, levou a aumento significativo nos golpes e fraudes financeiras. Além do uso de softwares instalados nos celulares dos usuários, os golpes também envolvem técnicas de engenharia social, em que criminosos manipulam e enganam as pessoas para obter acesso a senhas e informações pessoais. Um dos golpes mais recentes é conhecido como "golpe do falso policial", em que os mafiosos se passam por policiais e afirmam que a conta da vítima foi invadida, pedindo que cortem o cartão, mas preservem o chip. Outro golpe é o "golpe do vírus do PIX", em que os fraudadores se passam por funcionários bancários e enviam links para instalar aplicativos que dão acesso aos dados do celular da vítima. Outros incluem o "golpe do falso emprego", em que os inimigos da lei se passam por agências de emprego e pedem transferências em PIX para falsos exames médicos, e o "golpe do falso brinde/falso presente de aniversário", em que os golpistas oferecem presentes e cobram uma taxa, desviando a atenção da vítima para obter sua senha. Também existe o "golpe do falso investimento", em que se criam perfis falsos de corretores ou funcionários de instituições financeiras para oferecer investimentos com altos retornos e pressionam a vítima a fechar negócio rapidamente. É importante não fornecer informações pessoais ou senhas por telefone ou em links suspeitos, verificando a autenticidade de chamadas e mensagens, bem como mantendo o sistema operacional do celular atualizado. Que se há de fazer? Os criminosos estão operando tenazmente nessa área. Os falcatrueiros são experientes e corajosos. E daí? São tão ou mais perniciosos que os coronavírus e a Covid. O período que se encerra foi marcado por uma das maiores tragédias da história: a pandemia de Covid-19. Em nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias, graças à competência do nosso Sistema Único de Saúde. (Fonte: Agência Câmara de Notícias) |
Por Manoel Hygino - 24/5/2023 09:11:41 |
Pampulha projetada Manoel Hygino Belo Horizonte festeja os oitenta anos do complexo turístico da Pampulha, que é mais do que presentemente, mas foi algo com que sonhara Juscelino. Antes dele, o prefeito Otacílio Negrão de Lima cuidava de solucionar os problemas fundamentais da capital, como registrou o engenheiro Álvaro Andrade. No âmbito de “uma longa série de obras importantes, estava a represa da Pampulha, a ser utilizada, em tempo oportuno, como fonte de aprisionamento de água além de servir a prática de esportes aquáticos, inexistentes entre nós, pela ausência de uma massa líquida apropriada”. O engenheiro Henrique Novais foi contratado para elaborar os estudos à construção da represa, considerando as alternativas para localização da barragem, levando-se em conta um campo de aviação logo abaixo. Pensava-se com as várias captações de água projetadas inclusive com a resultante da lagoa que se formaria, atender a capital até o ano 1960. O que se conteria na Pampulha ficaria destinada exclusivamente ao atendimento daquela região. O planejamento para fins turísticos se ampliou. Como o jogo era livre, JK – ao assumir a PBH – também fez crescer seu projeto, fazendo-o grandioso. Então se ergueram os edifícios que foram o conjunto arquitetônico, agora patrimônio da humanidade, por decisão da UNESCO. O funcionamento de tudo aquilo, para o que contribuíram as maiores expressões das artes e da arquitetura do Brasil, a começar por Oscar Niemeyer, atraía gente de todo o Brasil e mesmo do exterior. A capital mineira passou a gozar de fama maior até do que Petrópolis, com o Hotel Quitandinha. Artistas de cinema vieram até aqui, cantores se apresentavam no Cassino, a fina flor da sociedade, como então se dizia, comparecia às programações luxuosas, permitindo que alguns intérpretes se apresentassem para o povão no Paissandu, um grande auditório construído junto à Feira Permanente e de Amostras, onde estão hoje a Rodoviária e seus anexos. Belo tempo, com personalidades percorrendo as ruas da capital e participando de um período áureo. Mas chegou ao Catete o novo presidente da República, cuja esposa o obrigou a proibir a jogatina. E, em 1954, estourou a barragem da Pampulha. |
Por Manoel Hygino - 23/5/2023 09:15:36 |
Fantasia de Índio Manoel Hygino Nossos indígenas, verdadeiros e originais donos da terra que habitamos, estão em evidência. Nem poderia ser de outro jeito. Os invasores brancos, que aqui desembarcaram há mais de 500 anos, tomaram conta do território que lhes pertencia e os deixam em situação de submissão ou dominação, para fazerem prevalecer sua língua e seus propósitos. Não se tratava de grupos de selvagens, como imaginaram os descobridores, mas de gente de identidade sabida, habitantes de regiões diversas nos múltiplos quadrantes. O Pe. Antônio Vieira, que sentiu seus anseios, dizia que eram setenta e duas línguas na Babel do rio das Amazonas. E advertiu: “Vede, agora, quanto estudo e quanto trabalho será necessário, para que falem e ouçam”. Estava imensamente enganado o bravo sacerdote. Segundo dados do IBGE, além do português oficial, há 274 línguas indígenas falantes no território brasileiro. Tudo isto, sim. E Darcy Ribeiro, conterrâneo meu de Montes Claros-MG, e ardoroso defensor da causa indígena, observou: “Somos uma nação etnicamente unificada e coesa, sem qualquer contingente oprimido a disputar autodeterminação. É verdade que uns quantos povos indígenas, para nossa vergonha, ainda estão reclamando a propriedade dos territórios em que viveram desde sempre e o direito de continuarem vivendo dentro de sua própria Cultura. Eles são tão poucos, e o que pedem é tão insignificante, que a dignidade nacional não há de negar-lhe. Isso seria fatal, hoje, não para o nosso destino, mas para a nossa honra”. Mas ocorre, porque gerações posteriores aos invasores de 1500, não lhes dão sossego e lhes surrupiam o ouro do subsolo, madeiras, frutos, raízes e mais que possam. Não sem razão, Ailton Krenak, índio cá de Minas, reconhecido intelectualmente e pensador consciente, afirmou recentemente: “Talvez a gente esteja vivendo, hoje, um dos piores momentos da nossa história social. Não apenas para o povo indígena, mas de intolerância e violência racial como um todo. Eu escutei de uma mãe, me contando que a filha dela, de 6 anos, surpreendeu a todo mundo, na escola. Foi liberada pela professora de usar o uniforme porque, no dia seguinte, poderia ir “fantasiada de índio”. E a estudante perguntou: “Índio é uma fantasia?”. |
Por Manoel Hygino - 20/5/2023 07:33:34 |
Aniversário chegando - 124 Manoel Hygino Não me permito esquecer ou deixar para depois a redação do texto. No dia 21 de maio, comemora-se mais um aniversário da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, a primeira entidade da área de saúde da capital. A capital mineira inaugurada em 1897, e em menos de dois anos, em 1899, apareceu a grande obra pia, concebida segundo os princípios de quem fundara, no ocaso do século XV: a rainha de Portugal, Leonor de Lancastre. Dispensável talvez, esclareço que Misericórdia é palavra que significa “doar seu coração a outrem”, aos que necessitam, aos carentes, citados por São Mateus, em seu Evangelho. E é o que inspirou a soberana lusitana, depois da morte de seu marido e de seu filho único, em acidente. Em 15 de agosto de 1498, numa capela anexa à Sé de Lisboa, instalou-se a primeira irmandade da Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia, na época dos grandes descobrimentos e da disseminação do ideal cristão das Misericórdias. O nascimento da Santa Casa de Belo Horizonte sucedeu à Sociedade Humanitária, da Cidade de Minas, de curta existência. Mas já estava cristalizada a ideia da Santa Casa, as autoridades se uniram, médicos vinham de São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto famílias e pessoas procedentes das regiões mais distantes fluíam em busca de lenitivo e cura de seus males na primeira capital brasileira a servir de sede estadual. Assim foi. Menos de dez anos após a proclamação da República, a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte começou a receber doentes e atende-los em barracas de lona, antes empregadas pelos operários de obras. De lá para cá, no bairro que se transformou em sede do quartel da força pública, a Santa Casa só cresceu, fruto da solidariedade dos que estavam à frente do empreendimento, desdobrando-se unicamente pela imposição cristã de servir aos que careciam de amparo médico. Associação não oficial procurou ajuda no poder público sempre que necessário. A Santa Casa de Belo Horizonte é um complexo hospitalar de grandes dimensões, maior do que muitos no gênero. Ocupa várias áreas do bairro Santa Efigênia, presta assistência de elevado nível, conta com mais de 5.500 colaboradores-empregados, goza da confiança da sociedade, a cujos segmentos permanece servindo nas mais diversas especializações. É um orgulho para todos nós. |
Por Manoel Hygino - 17/5/2023 08:55:39 |
Independência e pobreza Manoel Hygino Os veículos de comunicação exploraram à suficiência o transcurso de mais um aniversário do 13 de maio, do fim da escravidão no Brasil?, em 1888. Procederam como deviam, considerando a importância de uma data de tamanha relevância. Continuamos também sofrendo os horrores da desigualdade, depois de duzentos anos de independência. Que independência é esta? O povão se aproveita dos finais de semana prolongado para explosões de alegria (no fundo, sem razões), gastando o dinheiro suado do ganho nos dias antecedentes, ou angariado por força do furto ou do roubo, que constituem um marco do tempo difícil que se atravessa. Quando se festejou os 200 anos da nação independente, Cristovam Buarque, professor emérito da Universidade do Brasil e membro da Comissão Internacional da Unesco para o futuro da Educação, perguntava o que havia a saudar, se o Brasil se encontrava com 33 milhões de pessoas famintas e mais de 20 milhões com alimentação deficiente; cerca de 13 milhões de analfabetos e 25% da população pobre. Para Cristovam, a pobreza continua porque não desperta sentimento político de solidariedade, nem entendimento conceitual correto. Para ele, o problema está no coração dos políticos, que não sofrem por causa da pobreza. Sente-se que a principal fonte da pobreza é a ausência do entendimento de suas causas. Ela não é gerada pela falta de crescimento e de renda na economia, mas por falta de comida, moradia, água, esgoto, atendimento médico, transporte urbano, escola, segurança. Para praticamente tudo, há necessidade de políticas de Estado. E saiba-se: a escravidão afeta não somente os pobres, pois amarra toda a sociedade. Para Joaquim Nabuco, tão pouco lembrado, exige-se o “instituto nacional”, com entendimento adequado das políticas estatais e com estratégia que assegure a cada um o que precisa para sair da penúria. Falta, pois, ainda muito para conquistar efetivamente a independência e o fim da escravidão, que não é só de negros. Os tempos correram céleres ou vagarosos, no entanto, as “classes” superiores, as privilegiadas, não quiseram perceber o mal que causam para as gerações que virão. É preciso, imprescindível, mudar a mentalidade e o sentimento dos que vivem esta hora “dificultosa”, como diria Guimarães Rosa. |
Por Manoel Hygino - 13/5/2023 08:00:01 |
Sob nova direção Manoel Hygino Cumprindo dois mandatos à frente da Academia Mineira de Letras, seu presidente Rogério Vasconcelos Faria Tavares entregará para cargo a seu sucessor, Jacynto Lins Brandão, eleito sem a polarização registrada no âmbito da administração pública federal. Tudo transcorreu na maior tranquilidade, embora com entusiasmo que o pleito impôs por óbvias razões. A primeira por sinal era lícita: Rogério, pelos estatutos, não poderia concorrer uma terceira vez, enquanto o segundo mandato terminava. O presidente está com a consciência tranquila. Fez o que podia e talvez mais para dar à centenária entidade o vigor e as inovações que os tempos obrigam, já que fundada em Juiz de Fora, passou dos cem anos. Muita coisa evoluiu, as pessoas são outras, embora permaneça aquele interesse por oferecer, a cada eleição, vitalidade e juventude à veterana instituição. Nestes anos mais recentes, a AML ingressou no universo virtual, tornando mais acessível sua riqueza a novos públicos, o que já constata por ter produzido resultados notáveis, inclusive disponibilizando palestras, entrevistas e debates em seu canal do YouTube. O ainda presidente elencou uma série de inovações, que honram os que ocupam cadeiras em sodalício tão respeitável. Ainda neste mês, assume o cargo o professor Jacynto Lins Brandão, nome dos mais prestigiados de nossas letras e de nosso magistério universitário. Professor emérito da UFMG e um dos tradutores mais respeitados do Brasil, é profundo conhecedor da poesia clássica e devotado estudioso da literatura antiga, aparecendo em nossos meios literários com destaque como pesquisador, romancista e tradutor. Ao chegar agora aos 69 anos, Jacynto surge no cenário como poeta, cujo conteúdo se liga ao trabalho que vem desenvolvendo durante os 41 anos de carreira acadêmica. “Mais (um) nada”, lançado pela Editora Quixote+Do, é um livro grave, “escrito pelo viés de uma percepção pessimista do mundo”. Seus versos passam pela reflexão presente, de perda coletiva vivida no Brasil e no mundo. O autor mesmo diz: “o livro traz reflexão que se aplica este momento de perda, reflexão sobre o nada, a efemeridade das coisas humanas”. O que não é efêmero é a Academia e os planos de Jacynto, dando sequência aos que empreendera o seu antecessor. Ainda bem. |
Por Manoel Hygino - 9/5/2023 07:58:20 |
Falando de Prados Manoel Hygino O resgate do nome e da participação de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo na Inconfidência Mineira, em solenidade em Ouro Preto, em 29 de abril último, é uma inequívoca demonstração de que a História pode atrasar, mas não se exima de fazer justiça aos que a merecem. Foram necessários 234 anos após o desenlace da conjuração para a nação render homenagem devida à única Integrante ativa do movimento. Hipólita não só recebia os idealizadores do movimento libertário em sua fazenda Ponta do Morro, em Prados, nas imediações de São João del-Rei, como incentivava o movimento com a cessão de sua casa para os necessários entendimentos, além de oferecer apoio financeiro a algumas de suas ações. O fato não ficou ignorado pelos donos do poder colonial, tanto que todos os bens do casal - ela e o marido - foram arrestados pela coroa portuguesa, como relata a historiadora Heloísa Starling, também professora da UFMG. Ao depositar uma caixa com terra da propriedade de Hipólita junto aos despojos das demais Inconfidentes no Panteão do Museu da Inconfidência, na velha Vila Rica, Minas e o Brasil se recuperam do olvido de mais de dois séculos, como também destacou a ministra Carmen Lúcia, do STF, durante a solenidade. Chegara a oportunidade de um resgate histórico, Já que as mulheres lembradas da conjuração não tiveram papel concreto no movimento, que puniu com enforcamento Tiradentes.Recordo Prados, onde nasceu, em 1748, Hipólita nas terras mais ricas da comarca do Rio de Mortes. Seu topônimo é inspirado nos Irmãos Prados, iniciadores da exploração de ouro no local, que já pertenceu ao município de São José del-Rei, hoje Tiradentes, e se tornou município e vila por decreto de 1890. Suponho ser esta hora de um livro, contando a história, na versão conveniente e, há muito ainda a lembrar sobre a conjuração que fez de Joaquim José o herói consagrado pela República. Àquele grupo o Brasil deve muito do que é e poderá ainda ser. Quanto a Prados, lá fui, no governo Magalhães Pinto, quando presidente da Cemig, o ex-prefeito da capital, Celso Mello de Azevedo que me convidara para assessorá-lo. Tratava-se da inauguração da rede de distribuição de energia do município. O motorista diminuiu a velocidade do carro na tranquila cidade e explicou que evitava atropelar os porquinhos que fugiam dos quintais de seus proprietários por buracos nos muros divisórios. Alguns apelidavam Prados de Porcolândia, mas soube também que excelentes fabricantes de selas ali residiam. |
Por Manoel Hygino - 3/5/2023 09:01:01 |
Tempo de Silviano Brandão Manoel Hygino Há dias, evocamos aqui em João Pinheiro, mais do que nome de uma avenida em Belo Horizonte, mas uma das mais vigorosas expressões da política e da administração pública brasileira em período delicado na vida do estado e do país. Não posso, entretanto, deixar no esquecimento Silviano Brandão, que esteve à frente dos destinos de Minas entre 7 de setembro de 1898 a 21 de fevereiro de 1902 sendo a capital já Belo Horizonte. Minas Gerais viveu em sua gestão terrível crise, e o chefe do governo se viu na contingência de enfrentar. Ele o fez com coragem, desprendimento e sacrifício, que levaram à morte, o primeiro da longa série de dirigentes que faleceram no posto. Como ressalta João Camillo de Oliveira Torres: “teve de lançar mão de todos os recursos. Cortou despesas enquanto lhe possível, fechando escolas em estabelecimentos de grande necessidade, demitindo funcionários. Dizem depoimentos pessoais que assinava os atos chorando, pois compreendia que levava o mal a amplos setores do povo, mas não lhe restava outro meio”. Minas, endividada ao máximo, não conseguia empréstimos para fazer frente suas enormes e incontáveis dívidas. Silviano, contudo, não se deu por vencido e se viu na contingência de buscar socorro no Morro Velho, a famosa de São João del-Rei. Foram os ingleses de Nova Lima que forneceram dinheiro ao Palácio da Liberdade, até que Silviano encontrasse outros meios e instrumentos. Entre estes, a criação do imposto territorial, o que não repercutiu bem. Mas o que fazer aquela altura? Era uma solução heroica, adjetivo usado por João Camillo. Os fazendeiros, que constituíam a força mais poderosa de Minas, reagiram, pretendendo fundar um partido para defesa de seus interesses. Conta-se que Silviano Brandão chegou arrumar as malas para deixar o Palácio. Os piores tempos foram vencidos, mas o presidente de Minas não teve tempo para assistir alegro finale. Suprimiu verbas, suspendeu serviços, extinguiu cargos e comissões, reformou o sistema tributário, conseguindo a representação mineira no Congresso Nacional. |
Por Manoel Hygino - 2/5/2023 09:30:30 |
Novo canal do Panamá Manoel Hygino A notícia parecerá nova para milhões de pessoas. E há razão. Seu conteúdo é inédito para elas, que não leram antes, muitos decênios antes. Trata-se da construção de uma mega estrada, com 2.200 quilômetros, ligando os oceanos Pacífico e Atlântico. Deste modo, ligará o Brasil ao Chile, desde Santos, nosso maior porto marítimo, a Antofagasta, já Pacífico, passando pelo Paraguai e Argentina. Graças a esse projeto fantástico, mas perfeitamente realizável, a realidade econômica da América do Sul se transformará. Para melhor. E a ideia é mais ambiciosa: haverá uma ferrovia paralela, que contribuirá para mudança ansiosamente sonhada pelos que veem longe e com esperança. Chega-se a afirmar que o duplo empreendimento será uma espécie de Canal do Panamá, que mudou mais que a geografia. Só a rodovia facilitará o transporte de gado e produtos de exportação para os portos do Atlântico e Pacífico, beneficiando fazendeiros e camponeses, reduzindo a logística em até 25% para exportações aos mercados da China e da Índia, os países mais populosos do mundo. Os governos dos países envolvidos no projeto demonstraram apoio, incluindo o presidente paraguaio Mário Abdo, que afirmou que a rodovia reduzirá em cerca de 25% os custos de logística para o setor produtivo. A rodovia passará por áreas como o Gran Chaco, no Paraguai, abrigando diversas espécies de animais e plantas. Falta, em verdade, disposição sincera e decisiva para empreendimento, já que as nações da América do Sul seguem enfrentando suas disputas e mazelas políticas, mesquinhas em grande parte, em prejuízo de seu futuro e do futuro de seu povo. Claro que, para se passar do terreno do sonho ao da realidade, também têm de agir os setores produtivos e empresariais regionais, que ainda não se motivaram para tão magno desideratum. Ter-se-á, quem sabe, de apelar para a pertinácia e suprema vontade de um Ferdinand de Lesseps, francês, diplomata, de quem partiu a iniciativa de Suez mesmo enfrentando a frieza da Inglaterra. Levantou ele 300 milhões de francos, com que deu partida à consumação de seu ideal, lá pela metade do século XIX. Vencedor naquela parte do mundo, finalmente acedeu ao chamamento do outro lado do planeta e incentivou a abertura do canal de Panamá, nas Américas. |
Por Manoel Hygino - 29/4/2023 07:23:19 |
A voz de Minas Manoel Hygino Transcorridos 231 anos do sacrifício de Joaquim José da Silva Xavier, no Rio de Janeiro, comove-se o povo brasileiro que conhece as causas que levaram à condenação e enforcamento de Tiradentes. Os conterrâneos de Minas Gerais, de ontem e de hoje, conheciam e conhecem as motivações superiores que levaram ao fatal desenlace. A nação nesse extenso período aprendeu a conviver com os faustos de seus governantes e dos mais abonados pela riqueza. Nunca, porém, os segmentos conscientes da população ignoraram o clamor que emanava dos segmentos mais expressivos da população, porque os mineiros tinham voz e queriam ser ouvidos. Tiradentes pregou a ideia de liberdade, com grande veemência e sem maiores cuidados e receios. Com menos de 50 anos, entrou para a História pela ousadia de, aliado a outros descontentes corajosos, pretendiam aqui instalar uma grande nação. Há oitenta anos exatamente, de Minas partiu uma nova conjuração, então contra a ditadura instalada a partir de 1937. As montanhas não se calaram. Na Europa. Os brasileiros lutavam contra o nazifascismo. O Brasil, que, no século XIX, fora modelo de governo democrático, que desde 1824 tinha Constituição e, desde 1826, eleições, além de liberdade de Imprensa, sentiu que não poderia viver indefinidamente sob o jugo ditatorial. Minas, mais uma vez, partiu para o bom combate, através de um Manifesto, tornado público em 24 de outubro de 1943, há exatamente oitenta anos. Divulgado o texto, bem moderado por sinal, em cópias datilografadas e mimeografadas, o governo federal desfechou uma acirrada onda de perseguições contra seus signatários. Mas a voz de Joaquim José estava nas palavras do Manifesto dos Mineiros era altiva, clara e uníssona. O agora Estado, novamente, fez ecoar seu apelo por todos os recantos da nação, no que seria acompanhado pelas vozes mais autênticas e fortes em defesa da democracia, como aliás se repete nestes decênios posteriores. Em verdade, o esforço não pode ser considerado definitivo. Ainda há aqueles que não compartem com Minas Gerais os ideais que conduziram a se vencer horas sombrias para nossa gente, seus princípios e objetivos. Historicamente, as montanhas não se renderam, nem se renderão. |
Por Manoel Hygino - 26/4/2023 10:38:21 |
Koch crescendo Manoel Hygino Belo Horizonte teve fama de ser a cidade que abrigava o maior número de tuberculosos do Brasil. O clima era bom, ameno, servia perfeitamente aos que padeciam de doenças respiratórias e para receber os que pretendiam recuperação. Instalavam-se pensões exclusivamente para hospedar os enfermos. Uma época difícil. A Santa Casa, fundada em 1899, cumpriu então a missão de receber esses pacientes. Assim, em 1910, inaugurou o Pavilhão Robert Koch para internação dos já diagnosticados, construído na área interna do terreno de que dispunha. Logo se constatou que havia necessidade de mais leitos, criando-se o Pavilhão São Carlos, só para sexo masculino, enquanto o interior se destinava ao feminino. A cidade crescia e também a tuberculose. Assim, com 100 leitos especializados para a patologia, construiu-se e se pôs em funcionamento em 1934 o Hospital Imaculada, só para tuberculosos e onde se iniciou a cirurgia torácica na capital. Belo Horizonte, graças em grande parte à Santa Casa de Misericórdia, conseguiu vencer a empreitada, contando com esforços médicos, com o interesse do governo e, em determinado momento, a Juscelino, já presidente da República. No entanto, o problema volta a ameaçar em dimensões nacionais. O mal estava superado apenas temporariamente. Presentemente a enfermidade mata 14 pessoas por dia no país - uma a cada 36 horas em Minas Gerais. No ano passado, foram 78 mil novos casos em território nacional, sendo 3.893 apenas em Minas Gerais. Observe-se que, são expressivos os dados relativos aos menores de 15 anos, revelando o maior índice desde que a pesquisa começou a ser feita pelo governo federal, em 2012. Considerada a subnotificação, admite-se, consoantes informações da Organização Mundial de Saúde, que a doença atinja alto percentual entre as patologias estudadas. É hora de todos ficarem atentos e com sentimento no problema. Não se admitirá um novo retrocesso, na segunda década do século XXI. Já perdemos numerosas vidas durante o período anterior, que inclusive gerou má referência sobre a Capital, embora as reconhecidas vantagens que se ofereciam aos doentes procedentes de toda a nação. A ciência evoluiu sim, mas a população tem de ajuda-la e a si mesma, não faltando às medidas profiláticas existentes, a começar pela vacinação contra diversas patologias. |
Por Manoel Hygino - 25/4/2023 09:36:31 |
Prazer para o público Manoel Hygino Edmilson Caminha lançou mais um livro, exatamente um mês depois da data de meu “cumpleãnos”, como dizem os de língua espanhola. O evento, como se costuma dizer agora, foi na sede da Associação Nacional de Escritores, na Asa Sul, em Brasília, pela editora Vitália. Antes da sessão de autógrafos, o autor fez palestra sobre os “100 anos de Fernando Sabino, que “nasceu homem, morreu menino”, no auditório Cyro dos Anjos, da ANE. Tudo disfarçadamente sem chamar atenção, pois Cyro, mineiro de Montes Claros, foi colaborador muito próximo de Benedito Valadares, governador de Minas, durante o tempo em que Vargas esteve no Catete; e Fernando Sabino, cujo centenário ora se festeja, se fez genro do ocupante do Palácio da Liberdade, além de presentear o distinto público com seus excelentes “O encontro marcado” e “O grande mentecapto”. A nova obra de Edmilson Caminha tem o título de “A noite em que dei autógrafo a Belchior”, recorda o já remoto tempo em que foram estudantes de Medicina na Universidade Federal do Ceará, com o escritor no primeiro ano, e o cantor e compositor já no quinto. O cronista e articulista comenta: “Pelo menos duas coisas em comum: abandonáramos os estudos médicos e apreciávamos a poesia de Carlos Drummond de Andrade”. E aqui entra mais um mineiro em cena. Esta é a vigésima publicação de Caminha, todas recebidas com entusiasmo pelo leitor, durante os 30 anos residente em Brasília, em que integra prestigiosas instituições dedicadas às letras, como a Academia Brasiliense e o PEN Clube do Brasil, afora o Observatório da Língua Portuguesa, em Lisboa. Um artigo focaliza Guimarães Rosa, o mineiro de Cordisburgo que conquistou o Brasil com sua obra consagrada e um segundo evoca Santos Dumont, vencedor dos espaços aéreos e admirado não só pelos franceses de sua época. Enfim, o novo livro deste cearense irá agradar ao gosto e à inteligência brasileira merecendo o elogio merecido num período em que tanta besteira chega às livrarias. Edmilson - já se pode afirmar sem medo de errar - se tornou um nome em termos de literatura brasileira, em que começou como professor em seu estado de nascimento. Viajou pelo mundo, conheceu lugares fantásticos, participou de aventuras inimagináveis, descreve com habilidade que só os bons autores fazem. Ler o que ele escreve é, assim, quase um saboroso dever didático, que se tem de desfrutar. É o que prova no novo livro, que tem Belchior e muito mais gente de prestígio como personagens. |
Por Manoel Hygino - 22/4/2023 07:52:15 |
Casa de João Pinheiro Manoel Hygino O recente incêndio em parte da Escola Normal Modelo de Belo Horizonte, hoje Instituto de Educação, nos reacende a chama do interesse em torno de João Pinheiro. Afinal, foi ele o construtor da obra, como presidente de Minas no princípio do século XX. E não foi reduzido o legado que transferiu ao seu sucessor ao deixar, pela morte prematura, a chefia do governo. O saudoso advogado Aristóteles Atheniense, ex-presidente da Academia Mineira de Letras Jurídicas e membro do IHGMG, por João Pinheiro também fundado, evocou a personalidade do filho do imigrante italiano vindo da Toscana, em discurso pronunciado em 16 de dezembro de 2017, em frente ao monumento erguido em sua homenagem na praça Afonso Arinos, no dia de seu aniversário. Aristóteles registra, repetindo o historiador José Murilo de Carvalho, que Teófilo Otoni, João Pinheiro e Juscelino trouxeram consigo características comuns: todos vieram das cidades mineradoras, descendiam de famílias pobres e ganharam a vida à custa de seus próprios esforços. De Pinheiro se pode afirmar que representou a voz da terra e do ferro, a passagem da mentalidade agrária para o desenvolvimento. Disse o orador: “Vale repetir agora, nesta fase calamitosa que nos aflige, reverberações que não perderam a sua valia, contidas no manifesto Programa do seu governo, lançado em 1905”: “A escrupulosa gestão dos dinheiros públicos, a interna obediência às leis, o máximo respeito às liberdades do cidadão, o acatamento aos reclamos da opinião pública, à livre manifestação das urnas, são os fatores saudáveis onde o coração republicano bebe força e alento, para ser digno dos princípios que professa e do ideal que ama”. Em jornal editado na sul-mineira Campanha, novamente alertava o ilustre Pinheiro: “Com a implantação da República, não há senhor, rei ou imperador, todos são cidadãos republicanos submetidos ao império da Lei e no governo de todos para todos”. João Pinheiro viveu as experiências da pobreza e das dificuldades da ascensão social, que se transformaram na proposta dirigida aos seus eleitores contra as eleições a bico de pena, que beneficiavam as famílias provindas das tradicionais. Com seu falecimento, em 25 de outubro de 1908, às vésperas de chegar aos 48 anos, como exemplo à atuação em Minas e no país, João Pinheiro permanecia sem dinheiro. Para comprar-lhe uma casa, reuniram-se amigos e admiradores e juntaram dinheiro para a casa própria do ex-presidente. |
Por Manoel Hygino - 19/4/2023 10:32:50 |
Festa de maio Manoel Hygino No quinto mês deste ano, a temperatura ficará mais aquecida em Montes Claros, a cidade de maior poder econômico do Norte de Minas. Não me refiro ao registro do termômetro, mas ao clima cultural e artístico da região, já que então se realizará ali o II Festival Literário do Autor Montes-clarense, repetindo-se o êxito do primeiro evento. O programa será cumprido no Centro Cultural Hermes de Paula, de 16 as 21 horas, nos dias 02 a 07 de maio, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, da Unimontes e sua editora, numa iniciativa e condução da Academia Montes-clarense de Letras e da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, embora os promotores do evento sublinhem que quem faz o FLAM é autor montes-clarense. Na Cidade da Arte e da Cultura, como jactanciosamente os escritores locais vem mostrar, mais uma vez, que a vocação literária de Montes Claros mantém-se viva e vigorosa, depois de ter dois de seus filhos: Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro elevados à Academia Brasileira de Letras. Tanto é verdade que, no final ao ano passado, o presidente da AML, Rogério Faria Tavares, transferiu simbolicamente a sua sede para MOC. Como na edição anterior, a Organização do 2º FLAM está programando atrações culturais do interesse da indústria livreira e da população local. Haverá lançamentos de livros, Livraria 2º FLAM de autores montes-clarenses, mas também é aberta a autores mineiros presentes ao evento, haverá ainda palestras, shows, rodas de conversa, oficina criativa, Trilha da Leitura, documentários e afins, para enriquecer o Festival. A Livraria FLAM de 2022 foi uma festa de livros raros, há décadas fora do circuito e que, a população, atendendo ao pedido da Organização do evento tirou das gavetas e ofereceu ao público leitor obras de grandes escritores. Foram sessões de raro deleite para quem teve a sorte de adquiri-los a preços módicos. Este ano o feito se repetirá. O ambiente do Centro Cultural contará com nova identidade visual, criada por Júnia Rebello, sobre a marca do ano passado, enfatizando as cores das duas academias: azul e lilás, para chamar a atenção de autores e leitores para que participem dessa festa do intelecto, com incentivo à cultura e ao conhecimento. Serão lançados 12 livros para adultos, sendo dois em cada noite e quatro para crianças e adolescentes à tarde. Os autores deverão ser montes-clarenses nativos ou moradores na cidade. |
Por Manoel Hygino - 18/4/2023 09:18:30 |
A China como é Manoel Hygino Enquanto a comitiva do presidente da República descia em Xangai apanho, por coincidência, o volume de “Ensaios Humanísticos”, de Marco Aurélio Baggio, lançado em 2009, em que há um artigo sobre o título “China”, com o objetivo de “querer entender as coisas”. Médico psiquiatra e psicanalista, Baggio (que não está mais entre os vivos) foi permanente participante de congressos e conferências, e comentou o entusiasmo do Ocidente pela grande nação asiática. Escreveu ele: “A mídia enaltece a prosperidade chinesa, embaçada pelo crescimento médio do PIB em 10%, sustentando há cerca de 30 anos: 1979-2008. Comentaristas internacionais não cansam de propalar que a China será a segunda potência do mundo ou, mesmo, que superará os 15 bilhões de dólares do produto interno bruto dos EUA”. Mas observa: “É próprio da natureza humana criar ilusões – dragões – para com ele maravilhar-se e temê-los. Há 15 anos, Lester Thurow em seu livro “Cabeça a cabeça”, 1993, Rocco, previa que o Japão seria a economia preponderante na virada do século vinte, vencendo a competição com os Estados Unidos e a União Europeia). Sua previsão falhou. Há quinze anos, o Japão patina sobre suas contradições, com um crescimento pífio. É hora de avaliar o que sucede com a China”. E o professor mineiro aduz a suas anotações: “O Império do Meio possui 20% da população mundial, 1.3 bilhões de indivíduos. Dispõe de apenas 7% da água do mundo. Poluíram e esvaziaram o rio-mar da China – o Huang – o rio Amarelo, criando o segundo maior desastre ambiental do planeta. Apenas menor que o desastre ecológico que os russos concentraram sobre o mar de Aral. A maior parte do rio Amarelo tornou-se biologicamente estéril, imprópria para o consumo humano. Tornaram-se os habitantes de sua bacia vitimados por altíssimas taxas de câncer de estômago e de esôfago, envenenados pelas águas poluídas por dejetos industriais e humanos. Em nove dos dez anos da década de 90, o Amarelo foi sangrando a tal ponto que não conseguiu chegar a sua foz, na bacia do mar de Bohai”. A despeito de tudo isso e muito mais, a China é a grande potência com a qual o Brasil mantém uma pauta comercial fantástica. Vamos ver o que Lula traz de novidade útil para este lado do mundo. |
Por Manoel Hygino - 15/4/2023 07:26:11 |
Uma hora delicada Manoel Hygino Estamos no segundo trimestre do agora chamado Lula 3, o terceiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Foi um grande desafio vencer a guerra no pleito do ano passado para definir o sucessor de Jair Bolsonaro. Um prélio difícil e acirrado, dadas as condições especiais do mundo naquele período e as circunstâncias bem típicas do Brasil no período final do presidente anterior. Agora, sente-se que as divergências, algumas radicais entre os contendores, persistem, como aliás se previa. A situação mundial permanece nebulosa e têm sequência disputas territoriais e ideológicas. Que dizer da participação de Putin em tudo isso a que se assiste? Enquanto o presidente Lula sonha em contribuir para dar fim à guerra com a Ucrânia, o distinto eleitorado brasileiro luta contra os preços de bens alimentícios, dentre os demais. Um esforço enorme espera os novos dirigentes da nação. Sabe-se que há forças que apostam em obstar o trabalho que se quererá certamente empreender. É incontestável que segmentos democráticos que se posicionaram a presidente Lula, particularmente no segundo turno, têm grande responsabilidade em tudo isso, porque há um cenário de ingentes dificuldades econômicas e instabilidade política que precisam ser superadas, para que o país possa voltar a ter uma vida normal. O apoio das forças que compõem a ampla coalizão do governo, independentemente de idiossincrasias pessoais e divergências políticas pontuais, é fundamental para defesa da democracia. O presidente tem responsabilidade imensa para fazer por onde merecer esse apoio, sem o que não terá a oportunidade de levar seu governo a bom termo e sucesso. Transcorridos os primeiros cem dias de gestão, o ambiente ainda é obscuro internamente. Tanto é verdade que o chefe da nação optou por viagens ao exterior, cujo bom sucesso repercutirá no plano interno, em que ainda não se encontraram tempo e vias para atendimento às reivindicações. Desavenças e desentendimentos tampouco resolvidos ou superados, não é bom sinal, em face do quadro de demandas que persistem em todas as áreas de atuação do governo. O povo terá de demonstrar muita paciência, porque nem tudo reside em ajuda financeira aos mais desvalidos. Até porque há ainda os que se aproveitam da situação difícil como se constata com o grande número dos que pleiteiam o auxílio família a que não têm direito. Há espertalhões em todos os setores e segmentos da população. Infelizmente. |
Por Manoel Hygino - 13/4/2023 08:55:20 |
A `gripezinha` mortal Manoel Hygino A desatenção pode ter resultado em desconhecimento de um fato dos mais importantes dos últimos anos, talvez de um período muito extenso de tempo. Em verdade, a pandemia que estigmatizou a vida de milhões de pessoas não é um registro simplesmente para o Brasil. Houve uma catástrofe que se estendeu por todos os países, ricos ou pobres, do ocidente ou do oriente. Em março último, que já é passado, completaram-se três anos da primeira morte por Covid-19 entre nós, quando o Brasil alcançou a triste marca de 700 mil óbitos. O total consolida o Brasil como o segundo país em número de mortes pela pérfida enfermidade, apenas à frente os Estados Unidos. Os jornais do dia 29 cá entre nós, compararam: é como se a população de uma capital inteira, como Aracaju, tivesse sumido do mapa pouco a pouco, nos últimos três anos. A traiçoeira história de vidas perdidas assinala também uma transformação no perfil da mortalidade se comparado com outros períodos, inclusive com referência a pessoas com mais de oitenta anos e imunodeprimidas. A Fundação Oswaldo Cruz, que monitora registros de síndromes respiratórias graves, incluindo a Covid-19, também aponta mortalidade até três vezes superior em pessoas não vacinadas comparativamente àquelas que receberam doses para imunização. O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (de que sequer o nome é falado ultimamente), advertiu em tempo hábil para a necessidade da vacinação. Não foi ouvido, recebeu criticas, foi afastado da vida política nacional, e a consequência é a que ora vivenciamos com números indesejáveis. Tentativas de mudar a situação em tempo oportuno em nada resultaram. Ou melhor: o resultado é este que ai está, para lágrimas e sofrimentos de milhares de famílias, enquanto ainda padecem com os desastrosos danos da enfermidade. E é bom que atentemos: a Covid-19 permanece ainda a nos causar muitos incômodos cá no Brasil, como em outras nações. A Organização Mundial de Saúde alerta: a doença não foi eliminada. Eliminados foram os 700 mil habitantes desta parte do planeta que acreditaram que se tratava de uma gripezinha corriqueira e passageira. Não era. Tanto é verdade que há semanalmente dezenas de novos casos registrados nos mais de 8 milhões e quinhentos mil quilômetros do território. Eles não podem ser esquecidos e descuidados, mas advertidos da possibilidade de serem contaminados outros grupos. A vida é uma só. |
Por Manoel Hygino - 11/4/2023 13:56:05 |
124 anos bem vividos Manoel Hygino Mês que vem é tempo de comemorar. Em maio, das Pastorinhas pelo interior brasileiro principalmente, também Belo Horizonte se rejubila por mais um aniversário da Santa Casa. Primeira Instituição de saúde da capital, foi fundada em 21 de maio de 1899, exatamente 10 anos da proclamação da República. A propósito, a defesa de Tiradentes, nosso herói maior, foi feita na Justiça com recursos financeiros fornecidos pela Santa Casa do Rio de Janeiro. A entidade belo-horizontina é fruto do esforço, iniciativa e dedicação de cidadãos que – no principiozinho da nova metrópole – sentiram que na sede do governo mineiro, seria imprescindível um estabelecimento para oferecer assistência médica e hospitalar aos que para aqui se tinham transferido. Assim é o espírito da SCMBH: atender quem ela precisa e isso vem muito anos antes do SUS, que agora presta relevantes serviços à coletividade, sobretudo dos segmentos menos favorecidos da população. Este o ideal inicial, este o proposito até agora e para sempre. Hoje, a instituição maior das Santas Casas em Minas e uma das mais expressivas em todo o mundo lusitano em que se inspirou, desde a sua criação pela rainha D. Leonor de Lancastre. Quem passa mesmo ao longe pelas ruas na metrópole vê aquele conjunto imenso nos lados do bairro Santa Efigênia, o antigo bairro do Quartel, e a identifica imediatamente. É o conjunto de maiores dimensões físicas e igualmente de prestação de serviços a enfermos. Obedece piamente à missão cristã de ajudar quem precisa na hora em que precisa. Minorar dores e salvar vidas é o objetivo maior. E, agora em que o 124 anos é festejado, a instituição pede mais colaboração da sociedade. Seus planos são muitos, inúmeros os necessitados, e à filantrópica jamais faleceu a solidariedade dos belo-horizontinos. Comprar produtos de qualidade, a um preço acessível, e ainda ajudar o maior hospital filantrópico 100% SUS de Minas Gerais. Desde o último dia 6 de março, é possível se unir a essa corrente de solidariedade, no Bazar Beneficente da Santa Casa BH, que abriu suas portas de forma permanente, na capital mineira. O Bazar está funcionando em um ponto próximo ao hospital, na rua Álvares Maciel, nº 588, no bairro Santa Efigênia. |
Por Manoel Hygino - 8/4/2023 07:28:52 |
Um bom que parte Manoel Hygino Este espaço pretende ser útil a todas as pessoas e segmentos que precisem dele para o bem comum. Quem acompanha os temas aqui examinados sentirá que estamos além ou acima dos fatos menos dignos da vida. Hoje, vamos falar um pouco do menino Franciscus Henricus van der Poel, nascido em 3 de agosto de 1940, na cidade de Zoeterwoude, na Holanda. Vinte anos após, ingressou no noviciado e na vida franciscana. Ordenou-se em 14 de julho de 1967. Formou-se em Teologia em sua pátria e licenciou-se em Filosofia na Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, em São João del-Rei, transferido ao Brasil em 1967. Novo Mundo, nova existência, a consumação de projetos já definidos de vida e de servir. Foi parar bem longe no território brasileiro: no Vale do Jequitinhonha, famoso pela pobreza de seu povo, humilde, distante dos mais importantes centros de desenvolvimento. Chegou, viu e gostou. Em 1968, ei-lo iniciando deveres como sacerdote. Conheceu uma aliada em seus propósitos, Maria Lira Marques Borges, com quem iniciou um anônimo trabalho no campo musical na cidade de Araçuaí, agora recebendo um rico empreendimento de exploração de Lítio. Antes só se falava. Por enquanto, o fundamental seria aproveitar a notável índole daquela gente para as artes. E também o artesanato. Foi toda uma década, de aprendizado e ensino. Passou por um processo de conversão. Entendeu a religiosidade popular e percebeu-se no direito de explicar-se. Mudando-se para Betim, mergulhou nas águas profundas da religiosidade popular. Estudou e viajou, participou de festas e romarias, visitou terreiros, navegou pelo São Francisco, caminhou pelo Nordeste. Começou a elaborar um “Dicionário da Religiosidade Popular”, hoje com 1.150 páginas, enfocando do catolicismo a umbanda. Em 14 de janeiro de 2023, Frei Chico realizou a sua Páscoa, aos 82 anos. Fundador do Coral Trovadores do Vale, percorreu Brasil afora e outros países, sendo um dos grandes incentivadores da secular festa da Irmandade dos Homens Pretos do Rio Araçuaí. Organizador e regente do Coral Tangarás de Santa Isabel, em Betim. Frei Chico era membro do corpo docente do Instituto Jung, em Belo Horizonte; do Conselho do Centro da Memória da Medicina, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); do corpo docente de Teologia do Instituto Santo Tomás de Aquino; da Comissão Mineira do Folclore; do IHGMG, e da Ordem dos Músicos do Brasil. |
Por Manoel Hygino - 5/4/2023 09:13:13 |
Esperando livro raro Manoel Hygino Vai-se ligando fatos, datas e personagens. Publicara recentemente artigo sobre o dia em que ocorreu o famoso tiroteio de Montes Claros, estopim – segundo alguns – da precipitação da revolução de 1930, que resultaria na ascensão de Getúlio Vargas à presidência. Então, observei que, também num 6 de fevereiro, nascera em Lisboa o padre Antonio Vieira, que dispensa apresentação. Foi numa casa da rua dos Cônegos, filho de Cristóvão Vieira Ravasco, um santareno de família alentejana, e da lisboeta Maria de Azevedo. Só fico conhecendo o detalhe por artigo do desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, publicado na “Magiscultura”, de setembro de 2021. O magistrado, por sinal, passou recente fim de semana, encarcerado (a expressão é dele) em domicílio por causa do plantão judicial a seu encargo, mas também adiantando a redação de seu próximo livro. Bom saber que o Dr. Rogério Medeiros, mineiro de São João del-Rei, irá publicar proximamente uma seleção de textos postados no Facebook e Instagram. O que não o impede de escrever reflexões sobre novas tecnologias, Internet, redes sociais com seus benefícios e malefícios, linguagem e literatura, temas que sempre lhe despertaram singular atenção. O mundo moderno o exige. O desembargador vem pesquisando bastante e, para isto, consulta com frequência a “História da Civilização Ocidental”, do historiador e professor norte-americano Edward Mcnall Burns, cujo terceiro tomo foi editado pela Globo em Porto Alegre, em 1975. Aliás, o nobre magistrado confessa que recorreu ao excelente livro, em 1977, pois adotado no segundo ano de seu curso, o artigo Científico, na Escola Preparatória de Cadetes do Ar – Epcar, em Barbacena. O magistrado revela que foi uma leitura difícil aos 15, 16 anos de idade, mas de especial alicerce para sua formação humanística. Posteriormente, já estudante de Direito, foi a vez do clássico “A cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma”, do francês Fustel de Coulanges (1830 – 1889). Foi nele que encontrou uma frase marcante: “Felizmente, o passado nunca morre totalmente para o homem”. E havia muito mais que interessa. Marco Túlio Cícero, o grande orador e homem público romano (106-43 a.C.), filosofou: “De que vale uma vida humana se não estiver entrelaçada à vida de nossos antepassados, através dos registros da História? (in HADAS, Moses. Roma Imperial. Biblioteca de História Universal Time-Life, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1969, p. 7). |
Por Manoel Hygino - 1/4/2023 07:32:47 |
Tesouros alheios Manoel Hygino Encanta-me a chegada de mensagens via e-mail. De gente da melhor qualidade, que muito me honra com suas palavras. No período azedo que o mundo atravessa e que de azedume impregna os homens, sem dominá-los contudo, sinto-me privilegiado pelas lições que surgem da impressora, sobretudo nos dias agitados de agora. Jornalista, advogado, empresário bem sucedido no âmbito das comunicações, residente em Montes Claros por sinal, Paulo Narciso Soares, egresso da PUC, comenta: “Vivemos dias de grande perplexidade e incompreensão, generalizadas. A gratidão tão valorizada por nossos pais se esvai. A tecnologia, meritória que seja, afugentou o mundo que tínhamos, sem nada colocar no lugar. A verdade é severamente ridicularizada e o vicio se tornou a regra, e sua predicação fere em todos os sentidos. Os romanos já percebiam isso no “O, tempora! O, mores!” que seguimos repetindo”. A seu turno, o ilustre desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, lá da bela São João del-Rei, não deixa de acrescentar observações valiosas ao espírito e ao coração. Eis: “Nos últimos três dias, discorri bastante sobre a fé. Hoje escreverei sobre a razão. Para uns, adversária da fé (tal como Voltaire). Para outros – a quem acompanho – sua aliada (São Tomás de Aquino, por exemplo). Meu filho Marcos, quase completando onze anos de idade, enfrenta uma dura adaptação à rotina de estudos do 6º ano (seria o antigo 1º ano ginasial). Tenho o ajudado nas tarefas escolares. Disse a ele que eu ia pelos treze anos de idade e cursava a antiga 8ª série no saudoso Colégio São João (Salesiano), em São João del-Rei, um professor mencionou o filósofo francês René Descartes (1596-1650), citando sua célebre frase: “penso, logo existo”. Precisamos utilizar bem a inteligência com que Deus nos brindou, enquanto seres humanos racionais. Na Faculdade de Direito, li integralmente “O discurso do método” de Descartes. É um dos livros da minha vida. Começa o autor: “O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída”. Hei de concordar, apesar de o mundo ser hoje um palco de burrices. Passei a me guiar pelas regras do método cartesiano: só aceitar como verdadeiro o que for evidente ao espírito; dividir o objeto de estudo no maior número possível de partes; começar pelas partes mais simples e avançar para as mais complexas; sintetizar o que foi apreendido; fazer uma revisão completa e cuidadosa. Sou cartesiano. Com temperos, claro. O excesso de racionalidade apaga a nossa sensibilidade. A razão precisa ser temperada pela poesia, pela beleza e pelo amor. A racionalidade exasperada levou a regimes totalitários, de esquerda e de direita”. * Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras |
Por Manoel Hygino - 30/3/2023 09:43:31 |
Em pratos limpos Manoel Hygino Atravessamos um período convulso no Brasil. Bastaria lembrar o que tem acontecido nestes quase três meses de 2023, para concluirmos que não estamos em paz e tranquilidade. Os fatos registrados em 8 de janeiro, em Brasília, não foram esquecidos ou guardados nas gavetas. Os brasileiros percebem e sentem que algo de errado e pernicioso ronda os destinos nacionais, enquanto as demais nações buscam soluções para problemas jamais equacionados à altura das imposições de um modo moderno, que resultasse em paz entre os povos. Afinal por que estamos em guerra ou por ela ameaçados em todos os continentes e ocasiões? Não há possibilidade de se discutirem antecipadamente propostas e desafios que afugentem o conflito armado? Já teremos esquecido os mortos e o sangue derramado em dois conflitos mundiais? Especificamente quanto ao Brasil, quais as pretensões exatas dos que invadiram as sedes dos Três Poderes da República no primeiro mês? As perguntas das primeiras horas ainda não tiveram as respostas claras e definitivas que a nação merece e requer. Há algo de perverso rondando o reino sul-americano em que vivemos, tanto quanto os imaginados na Dinamarca de séculos antes. Os noticiários policiais das emissoras de televisão sobretudo de São Paulo, o estado mais rico da União, dão o recado e a síntese do ambiente em que estamos e da magnitude dos projetos da criminalidade ali instalada. Não se trata de mera invencionice ou de divulgação de fatos apenas maquinados por muitas e bem estruturadas equipes da bandidagem impostas ao país, de que os presídios recebem somente ao diminuto grupo de foras da lei. Estamos cercados por eles e eles também inseridos no inaceitável convívio. Os recentes acontecimentos envolvendo criminosos que planejavam sequestrar e matar autoridades, inclusive o ex-juiz Sérgio Moro e familiares, bem como outros servidores identificados com o bem público, não são algo imaginários e frutos vadios da criatividade humana. Estamos em momento extremamente grave e inquietante. Não se pode crer que a rebelião dos criminosos no Rio Grande do Norte seja simplesmente parte de um vasto plano de malfeitores presos ou daqueles que ainda não o foram. É algo que põe em risco a nossa já violentada paz, que fere duramente o direito de todos os de boa vontade e limpos de espírito. * Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras |
Por Manoel Hygino - 28/3/2023 10:42:15 |
Silviano, enfim Manoel Hygino Assentou-se, finalmente, a data de posse de Silviano Santiago na Academia Mineira de Letras: 24 de março de 2023. Poderia ter acontecido há mais tempo, se o escritor tivesse decidido assim. Ele esperou muito, como muitos esperaram que ele se dispusesse a ingressar na casa que recebeu de braços e corações abertos outros ilustres autores mineiros. Estas montanhas têm servido de berço a grandes escritores. Alguns não chegaram a adentrar as portas do sodalício fundado em Juiz de Fora. Uma demora que não perdoou vários intelectuais e cultores das letras. Alguns alcançaram à glória da Academia Brasileira, sem subir os degraus da Mineira, apesar de seus mais de cem anos. É o caso, por exemplo, de Guimarães Rosa, nascido ali em Cordisburgo, quase chegando à famosa e fantástica gruta e Maquiné, que se achou preferível a casa de Machado à de que fora presidente Vivaldi Moreira. O mesmo se registrou com Darcy Ribeiro. Quase igualmente, aliás, ocorreu com o novo acadêmico. Silviano já praticamente eleito para a entidade do Rio de Janeiro, quando abriu mão da nobilíssima deferência, preferindo a Mineira. Quem poderá julgar os alheios projetos? Em junho de 1922, Silviano retirou sua candidatura à Casa de Machado ambicionada por notáveis de nossas letras. Ele mesmo declarou as razões: “Foi uma questão de foro íntimo e se refere muito à minha própria carreira. Eu me sustentei a vida inteira pela Universidade, sendo professor. Então, minha vida social sempre foi muito restrita à Universidade. Eu nunca dei aula em mais de duas Universidades simultaneamente. E, assim como sempre tive uma única Universidade, agora minha única academia. Não se acumula essas coisas. Tenho 86 anos. Restou, como se diz, a respeito de remédios, com a data de validade a perigo”. O escritor nasceu em Formiga e se transferiu com a família para Belo Horizonte quando menino. Muita coisa aconteceu com ele desde então, após 50 anos no Rio de Janeiro com temporadas de estudos na Europa. Quem ler sua entrevista em jornal da capital, recentemente, conhecerá o outro Silviano, aquele dos dias cadentes no início de carreira, vendo a foto com o sociólogo Theotônio dos Santos Júnior, o cineasta Maurício Gomes Leite, o poeta Ary Xavier, o produtor musical Ezequiel Neves, o poeta Pierre Santos e o crítico Heitor Martins. Perceberá que muito de belo nascerá ainda do apreciado escritor, agora imortal. O rapazola talvez não pensara naquele distante 1955, que subiria as escadas do velho prédio de Borges da Costa na Rua da Bahia, cercado da admiração e do apreço de tantos outros autores do Brasil. * Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras |
Por Manoel Hygino - 22/3/2023 10:21:24 |
Brasil vende ao México Manoel Hygino Bastou que se identificasse um caso de vaca louca nestes oito milhões e quinhentos mil quilômetros de extensão territórial para a China, nosso maior importador e consumidor, estrilar e suspender a aquisição do produto. As mas notícias são céleres. E era somente uma pobre vaquinha lá no imenso chão do Pará. Coube explicar que o humilde vacum era caso singular e único de toda a manada, nada representando em perigo para os comilões asiáticos. No mesmo período, aconteceu o contrário com o México, de que somos admiradores e apreciadores contumazes de boletos e de rum. Nosso país poderá novamente exportar carne bovina para a terra de Agustin Lara, - que após longo intermezzo nesse comércio - volta a importar a carne bovina do país que antes lhe fornecia sambas e outros gêneros e ritmos musicais. Oportuno contar que o México autorizou a compra depois de doze anos de negociações. Isto mesmo, uma dúzia. Para efetivar o negócio, o governo brasileiro habilitou 34 plantas frigoríficas. O México poderá comprar carne bovina de Santa Catarina, estado reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Aninal, OMSA, como zona livre de febre aftosa. Mas também poderá comprar carne in natura e desossada de outros quatorze estados declarados livres da malsinada aftosa, mediante vacinação. O governo mexicano já publicou os requisitos zoosanitários para a compra de carne bovina do Brasil, último passo para a liberação dos 34 frigoríficos. A autorização ocorre um mês após o México liberar também à importação da carne suína brasileira. Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, a abertura do mercado mexicano representa uma oportunidade histórica para as relações comerciais brasileiras. A expansão dos mercados, informou a pasta, propicia a retomada do crescimento da pecuária, que sofreu um golpe no mês passado, com a tal descoberta de um caso atípico de mal da vaca louca numa fazenda em Marabá-PA, como se disse. Em 2011, o Brasil havia pedido ao México autorização para exportar aves, bovinos e suínos àquele país. Desde o início do ano, destacou o Ministério da Agricultura e Pecuária, foram habilitadas plantas frigoríficas para a exportação para a Indonésia e derrubadas as suspensões de mais três frigoríficos para a comercialização aos chineses. Enfim, alguma informação benévola conosco. * Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras |
Por Manoel Hygino - 21/3/2023 09:17:58 |
Uma nova biografia Manoel Hygino Montes Claros é uma cidade que tem visgo. Gente de diversas regiões do país se dirigem para lá e decidem permanecer por períodos variáveis de tempo. Alguns até preferem estabelecer-se. Compram casa, definem-se por um negócio, mudam planos e eis montes-clarenses cheios de projetos. Pessoas pobres e ricas, ainda jovens e já maduros, instalam-se de vez. É seu novo habitat. Escritor e prestigioso, o baiano Urbino Viana, há décadas, apareceu por lá e laborou uma monografia sobre a história local, que se transformou em sucesso em meio de leitores aparentemente desinteressados. Estava atento a tudo e todos. De uma hora para outra, pegava o cavalo, para descer no centro carioca. Encontrava-se com famosos autores e atualizava-se enquanto contava o que aprendera sobre a cidade sertaneja. Nélson Washington Vianna, nascido em Curvelo e diplomado pela celebrada Escola de Ouro Preto, se afeiçoou. Casado, fixou-se na cadente localidade e ali permaneceu com a esposa durante décadas, sem filhos, até resolver transferir-se para a capital para o descanso final. Os dois Viannas levaram saudade e a deixaram entre amigos inesquecíveis. Ali, os visitantes ou habitantes ocasionais carregam consigo pegadas que não desprezam. Os exemplos são muitos, os nomes inumeráveis. Os naturais do pedaço ficam felizes e alegres, evidentemente. Um desses brasileiros (porque também há estrangeiros de várias partes do mundo) é Dário Teixeira Cotrim, nascido em Guanambi, Bahia. Montou residência em 1968, após aposentar-se no Brasil. Advogado com excelentes condições de dedicar-se às pesquisas e às letras, tem-se revelado historiador, teatrólogo, poeta e articulista, oferecendo colaboração a todos os veículos de comunicação, além de participação nas entidades culturais do município, inclusive como sócio emérito IHC de MOC e de MG. Após numerosos livros editados, e para isso criou a sua casa publicadora, Dário Teixeira Cotrim vem de lançar a biografia de João Chaves, um dos grandes valores intelectuais, artísticos e jurídicos de Minas, no século passado. Mestre de todos os instrumentos de uma banda de música, poeta de reconhecido merecimento, jornalista combativo e de mérito, como o classificou Newton Prates, João Chaves é um orgulho de sua cidade, merecendo a pequena biografia que acaba de se publicar. * Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras |
Por Manoel Hygino - 18/3/2023 08:59:02 |
Paraguai e PIB Manoel Hygino O tempo não para a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Já transcorreu um trimestre do quatriênio governamental do presidente Lula. Dir-se-á: três meses no período de 48 é algo diminuto. Mas muito aconteceu de bom e mal, neste lapso. Quem se der ao trabalho de conferir o que se fez e poderia ter sido feito constatará que mais se teria diligenciado e produzido, mesmo com os naturais obstáculos do processo de transição. Há notícias boas e más. Enquanto ampliamos as relações com outras nações, debilitadas ou prejudicadas pela gestão anterior, percebemos que houve involução em determinados setores. Veja-se o caso da produção agrícola, que é um dos nossos apanágios. O IBGE, no décimo dia de março, divulgava a redução em 1,3 por cento da safra deste ano, em termos de soja, arroz e milho. O Instituto, que é um dos organismos respeitáveis na administração, informou então sobre a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas, com a diminuição mencionada, de janeiro para fevereiro, principalmente devido à estiagem provocada pela Niña no Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor de grãos do país. O trigo passa igualmente por mau momento. Não é algo para espantar, mas vale como advertência. Até porque a Fundação Getúlio Vargas, ao mesmo tempo que o IBGE, registrava recuo de 11 pontos no Indicador de Clima Econômico. Com o desempenho, o Brasil está no grupo de países pesquisados que registrou queda nos três indicadores do primeiro trimestre de 2013. “O cenário para o Brasil descrito pela pesquisa de estabilidade nas expectativas de uma piora acentuada (acima de 20 pontos), na avaliação da situação atual”. Simultaneamente, o Paraguai puxa a melhora do clima econômico da região. Vejam só. Para crescimento do PIB, em 2023, houve mudanças nas previsões dos especialistas, com o “patamar revisto para cima no Paraguai, México e Argentina. A maior taxa de crescimento na região ficou com o Paraguai, onde a projeção do PIB passou de 3,9% para 4,6%. No México, a variação do PIB aumentou de 1,4% para 1,7% e na Argentina, de 1,1% para 1,2%”. No entanto, nem tudo está perdido. O fundamental, ou melhor, o essencial é que haja tranquilidade para o brasileiro produzir. Sinceramente, não vejo com bons olhos o ambiente e a hora em que nos encontramos. Precisamos de paz efetiva, compreensão e convivência, o que até agora não alcançamos. * Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras |
Por Manoel Hygino - 15/3/2023 09:15:37 |
Pampulha octogenária Manoel Hygino Juscelino era um cidadão bem-humorado. Provou-o desde a infância, quando percorria as ruas de sua cidade natal para vender guloseimas, com cujo resultado diário contribuía com a mãe, Dona Júlia, para manter as despesas do lar, já que o pai não oferecia dinheiro suficiente para manter a família. Foi um período de muito esforço e boa vontade, como aliás descrevo em livro publicado há poucos anos. Juscelino não desanimou, não era de seu gênio e feitio. Soube enfrentar as dificuldades e desafios ao longo da vida. Venceu cada etapa como cidadão e depois como médico e como político. Desdobrando-se como prefeito, conseguiu construir o conjunto arquitetônico da Pampulha, quando era presidente da República Getúlio Vargas e governador de Minas, Benedito Valadares. Inaugurado em 16 de maio de 1943, o complexo da Pampulha (a barragem para acumular a água para obra do prefeito Otacílio Negrão de Lima), é composto do Museu de Artes – antigo Cassino, a Casa do Baile, o Iate Tênis Clube, e a Igreja de São Francisco, além do espelho d’agua e da lagoa. A construção do complexo constituíra um desafio, porque não poucos julgavam que se tratava de um empreendimento perdulário, dinheiro jogado fora, como se dizia. JK jamais esmoreceu. Acreditava em Belo Horizonte e nos planos que alimentara para a cidade. Com o fim do Estado Novo, mais dificuldades. O presidente Dutra, sucessor de Vargas, tinha uma esposa, D. Carmela, com pensamento de que o jogo não contribuía para formação da sociedade e, religiosa e fiel a princípios, impeliu a União a decretar o fim de casinos no país. O projeto teve de ser refeito integralmente, pois a própria igrejinha de São Francisco, projeto de Niemeyer, não foi imediatamente liberada para cerimônias religiosas. Um extenso tempo transcorreu para tornar viável o empreendimento, sendo o Museu, por exemplo, utilizado para instalação do Museu de Arte, na gestão do prefeito Celso Azevedo. Agora, no octogésimo aniversário do conjunto, o grande problema são as condições ambientais da região, cujo mau cheiro de longe se percebe. E é um bem tomado pela Unesco, imaginem! As soluções das autoridades no país são lentas, conduzindo para seu retardamento e crescimento dos preços. Isto tem de mudar! |
Por Manoel Hygino - 11/3/2023 07:54:33 |
O símbolo destroçado Manoel Hygino O aparecimento da ChatGPT, de Inteligênvia Artificial, está causando furor na internet mundial. Não podia ser de outra maneira. O mundo vai se tornando mais acessível ao homem. Os jornais, as folhas impressas, parecem algo extremamente longínquo no tempo e no espaço. O advento da novidade foi saudada como o acontecimento mais importante neste planeta desde o surgimento da própria internet. Em Montes Claros, quinta cidade de Minas Gerais em população e capital de um verdadeiro outro estado, constituído por extensa região do Norte, a do Polígono das Secas, a boa e progressista gente se vangloriou. Ela estava presente no Chat. Lá se registrava: “Montes Claros é uma cidade localizada no estado de Minas Gerais, Brasil. Fundada no século XVII, é conhecida por sua rica história e tradições culturais”. Pois para permitir as atividades de uma indústria cimenteira, autorizou-se pesquisar lá calcário do morro Dois Irmãos, mas adredemente informada a empresa de que não alteraria o símbolo da comunidade construída por muitos séculos, com sacrifício da população laboriosa e amante de suas históricas belezas. Como dizia o professor Afonso Lamounier, ex-diretor do Atlético, “tudo combinado, nada obedecidos”. Notícia da imprensa local é clara e indiscutível: “Exatamente, há dez anos depois do primeiro licenciamento o Morro Dois Irmãos e da Boa Vista estão visivelmente destruídos em face de um novo licenciamento (Conforme LO 007/2021) que foi solicitado pela antiga Lafarge / Holcim Brasil – hoje, Companhia de Siderurgia Nacional – CSN - para explorar o lado Leste do complexo - o mais visível da cidade. Trata-se da lavra do Morro da Boa Vista que está inserida na zona de amortecimento do Parque Lapa Grande e do Parque Sapucaia, dentro do perímetro urbano”. Já toquei no assunto, mas nada evoluiu. O que foi mal feito assim continuou. Silêncio completo dos que deveriam prestar alguma informação. A população foi simplesmente enganada, porque se estabelecera a priori que a exploração do calcário não afetaria a silhueta altiva do Morro Dois Irmãos, descaracterizando o símbolo do brasão e da bandeira da maior e mais poderosa comunidade norte-mineira. Ficariam as perguntas: E agora? Quem irá agir diante das desconformidades das primeiras condicionantes, acordadas em 2011? |
Por Manoel Hygino - 8/3/2023 09:42:32 |
Ninguém esquece Manoel Hygino No último dia 27, penúltimo de fevereiro, Paris foi cenário de uma solenidade incomparável. A FIFA, entidade maior do futebol internacional, homenageou os que mais se destacaram e mereceram consagração durante 2022. Se Messi, mais uma vez, recebeu o troféu principal, por sua condição de melhor jogador do mundo na temporada 2021/22, dando ênfase aos argentinos que conquistaram a Copa do Mundo, não se esqueceu Pelé, falecido em dezembro. Ronaldo Fenômeno lembrou-lhe a carreira como jogador singular entre as quatro linhas, “servindo de inspiração para ele e para o futebol”. A empresária Marcia Aoki, esposa de Pelé, em lágrimas durante a solenidade, discursou em inglês sobre o marido: “É uma honra estar aqui, neste tributo da FIFA ao Édson Arantes, o Pele´. Tenho algumas palavras para dizer. Deus nos deu o Édson, e o Édson nos deu Pelé. E o mundo tão bem recebeu ambos. Essas são as palavras que tenho de agradecimento”. Mineiro do Noroeste do estado, terra fértil e benfazeja, o advogado Napoleão Valadares, residente em Brasília, escritor conceituado e membro de atuantes e prestigiadas entidades literárias e culturais, um dos fundadores da ANE-Associação Nacional dos Escritores, não perde o ensejo também de, em poema inspirado e oportuno, lembrar o conterrâneo lá do Sul, de Três Corações. “Parte agora o grande atleta, talvez vibrando, talvez sorrindo, como outras vezes ele partiu para o abraço depois do seu gol de placa. Jogou com bola de meia, cabeceou vida certeira, fintando todos os vícios e amortecendo no peito os conselhos de Dondinho. Titular de quatro copas, de três delas campeão, da Seleção artilheiro, rei e cidadão do mundo, teve sete bolas de ouro. Dos homens o mais famoso, com mil, duzentos e oitenta e três gols, ninguém chegou a seus pés, somente a bola, a menina dos seus olhos. Como goleador sem par e o jogador mais completo que pisou nesses gramados, colecionou mil troféus e foi o atleta do século. São Pedro, sabendo disso, convocou-o para o Céu, e ele respondeu de pronto: “Já vou. E começo aqui e agora a minha arrancada.” Voz grave, pedindo a bola, recebeu um lançamento disparando pelo espaço, driblou Mercúrio três vezes e deixou Vênus pra trás. Bateu a mão para a Terra, jogou beijo para a Lua, avançou, passou por Marte, aplicou fintas em Júpiter, saindo pela direita. Num passe para Garrincha, deslocou-se para o meio, tabelando com Didi, fez uma ginga e passou entre Saturno e Urano. Desviou-se de Netuno, deu um chapéu em Plutão, chutou, balançou a rede e saltou, sem gravidade, abraçando o infinito. |
Por Manoel Hygino - 1/3/2023 08:58:24 |
O MST em campo Manoel Hygino Não se completou um trimestre para começar a crítica de determinados grupos até recentemente favoráveis ao novo quatriênio governamental. É o que se deduz das notícias veiculadas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o muito conhecido MST, e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, CONTAG, põem as manguinhas de fora. As duas entidades, que tiveram franca atuação contra governos anteriores, demonstram desagrado pela falta de prioridade à questão agrária neste principio de gestão de Luís Inácio. Quem quiser saber mais deve recorrer a imprensa nestes tempos do novo mandato do presidente. Em manifestação de contrariedade, está agendada para abril a instalação de acampamentos em locais simbólicos e realização de marchas em regiões estratégicas, para cujo êxito as necessárias medidas ao êxito das marchas que estão em pleno desenvolvimento. Apesar disso, existe uma perspectiva mais promissora: que o governo apresente até lá um plano emergencial para o problema. Caso isso não aconteça, os promotores da iniciativa deverão retomar as ações de ocupação de áreas já selecionadas. É algo que dá o que pensar e temer, consideradas as experiências anteriores. Os movimentos até recentemente eram dois. Agora, há ainda a Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – o Contraf-CUT e o Via Campesina, já com antipatia ou censura à dedicação que o atual governo tem revelado à causa indígena. Estas provas de preferência pela causa dos índios se mostram claramente nas mudanças expressivas nas estruturas governamentais e grande divulgação. Para os baluartes dos movimentos referidos, o novo governo pode fazer muito mais pelas demandas do campo, que também não são de hoje, não se justificando os sintomas de contestação. O Brasil conhece sobremaneira a maneira de atuar do MST e dos demais organizadores da iniciativa programada. Eles tardam, mas não faltam. Os gestores oficiais terão de dizer alguma coisa, logo. Os demandantes não apreciam longas esperas. E os acampamentos poderão voltar, causando evidentemente temor entre os proprietários de terras do país, mesmo que uma nesga na imensidão territorial. A sociedade certamente irá posicionar-se diante das evidências, de modo a evitar consequências mais do que desagradáveis – porque nocivas à nação sempre em busca de reencontrar-se. Pelo visto e sabido, está –ou é- complexa e difícil, a hora. Um desafio. |
Por Manoel Hygino - 28/2/2023 10:08:21 |
Aparente religiosidade Manoel Hygino Napoleão Valadares, nascido no Noroeste de Minas, diplomado em Direito pela UnB, ex-Diretor de Secretaria da Justiça Federal, dentre outros cargos de relevo, é escritor de grande conceito, um dos fundadores e ex-presidente da Associação Nacional de Escritores e membro da Academia de Letras do Brasil, e muito fiel a suas origens e personagens. Em um de seu livros mais recentes, “Do Sertão”, ele conta o caso de Eurico, menino dos mais ladinos de sua cidade e doentiamente dedicado ao certo, correto e justo. Assim, escreveu uma carta a São Pedro, que por caminhos ínvios chegou ao agente postal. Ele reclamava do porteiro do Céu uma situação de fazer vergonha, depois que foi instituída a tal de reeleição, quando todos os presidentes se reelegeram. Existem dois mandatos, ficando no poder por oito anos para a contaminação da rapina. E a reeleição se dá em razão de diversos fatores, como o uso da máquina governamental sem o menor escrúpulo. Agora, outro mineiro, também jornalista amplamente conhecido nas grandes folhas, o Aylê-Salassié Figueiras Quintão, lá das profundas áreas da Região da Mata, traz à cena o caso do presidente da República, que ascendeu ao poder, há dois meses mais ou menos, e já pensa e fala em novo mandato, no que é coadjuvado pela ministra Marina Silva. Aylê é de clareza meridiana: “Quando fala em "transversalidade", a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, não está blefando; nem o Presidente Lula, ao anunciar que vai trazer para o Brasil (Belém) a Conferencia Mundial de Mudanças Climáticas (COP-30) em 2024. Eles pretendem recolocar no palco as organizações não governamentais sem fins lucrativos , as ONGs, grandes cabos eleitorais neste mundo, defensoras do chamado "ambientalismo emancipatório". E o propósito, Marina não escondeu: é levar Lula a ser indicado ao prêmio Nobel e, quem sabe, ela própria à condição de candidata à Presidência da República em 2027. Afinal, afirmou, “nossa causa é universal, a sustentabilidade, e não faz distinção entre capitalistas, nacionalistas, comunistas ou socialistas”. Tentemos entender o cenário meio profético... Certa vez, numa palestra em Londres sobre a questão ambiental, na qual estava presente o príncipe Charles, hoje o rei Carlos III, da Inglaterra, o ambientalista brasileiro José Lutzenberger, surpreendeu o auditório ao concluir sua fala dizendo: "O meio ambiente é uma questão religiosa!". (...). |
Por Manoel Hygino - 27/2/2023 15:48:17 |
![]() Há datas que marcam a família, cidade, província ou estado, uma nação, um povo. Seis de fevereiro de 1930 foi aquele dia que assinalou a cidade de Montes Claros, no distante sertão mineiro, chamando atenção do Brasil. A cidade já gozava de prestígio na política e na economia, principalmente com o início de operação da rede ferroviária, a Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1926. Crescera com a chegada de famílias de várias regiões do país. Renascera a esperança de futuro luminoso, de progresso municipal e de riqueza para os que lá se instalaram. Repercutiam ainda os reflexos do governo Artur Bernardes, em suas escaramuças com o Palácio do Catete. Com Washington Luís na presidência da República, acentuaram-se os ânimos políticos, enquanto se expunha à consideração do eleitorado a proposta de poder da dupla café-com-leite alternando-se a chefia nacional: em quatriênio um paulista, um mineiro a seguir. Controvertido e prepotente, Washington Luís apresenta Júlio Prestes, de São Paulo, para sucedê-lo, com eleição marcada para 1º de março de 1930. É quando se apresenta à cena o presidente mineiro Antônio Carlos, com credenciais históricas, opondo-se tenazmente ao Catete. Formou-se, então, a Aliança Liberal com apoio do Rio Grande do Sul e Paraíba, que lançaram os nomes de Getúlio Vargas e João Pessoa, representantes do Sul e do Nordeste, para a presidência e vice. Milene Antonieta Coutinho Maurício, com um livro premiado, sintetiza: “Estava assim definida a competição eleitoral que, muito logo, assumiu marcas de facciosismo do Governo Central, o que, muito logicamente, acendeu o estopim de conflitos que passaram a ocorrer nos diversos pontos do País”. No Norte de Minas, consubstanciando um projeto antigo, agendou-se para 7,8 e 9 de fevereiro um Congresso de Algodão e Cereais, acentuando-se seu viés político e reunindo várias cidades da região, sob Presidência de Honra de Fernando de Mello Vianna (foto), vice-presidente da República e ex-presidente de Minas, de Manoel Thomaz de Carvalho Brito e do Conde Alfredo Dolabela Portela, chefe da Concentração Conservadora. Nas principais estações pelas quais passava a composição férrea, havia manifestações em favor dos candidatos à presidência da República, Júlio Prestes e Mello Vianna, ao Palácio da Liberdade. Muitos discursos e foguetes até que se chegou a Montes Claros, sede do congresso, que deveria ser do Algodão e dos Cereais. Pelo menos, era o que se propagava. Prevendo possíveis choques com adversários, os próceres e autoridades de Montes Claros soltaram boletins pedindo à população que evitasse comparecer aos eventos programados e se envolver em discussões de qualquer natureza e escaramuças. Mas os ânimos se exaltavam. A escritora Milene Antonieta revela que foi enorme o comparecimento à chegada do candidato à estação da Central. Era a primeira vez que visitava o sertão mineiro um vice-Presidente da República, em campanha para o governo de Minas. Terminada a recepção tão festiva na gare, formou-se uma passeata que percorreria as ruas, com um itinerário definido. Uma banda de música tocava o dobrado 220, secundada pelo foguetório, por gritos e vivas a Prestes e Mello Vianna. Um grupo de rapazes, à frente, atirava bombas, e gritava vivas com estribilho em favor dos candidatos da Concentração Conservadora. Sem se saber por que, o percurso da passeata foi mudado, convergindo à direita, para percorrer a Praça Gonçalves Chaves, onde residia o chefe aliancista, João Alves. Era em torno de 23 horas, um pouco mais quando desfilavam em frente à residência sobremodo conhecida. João Alves e Mello Vianna eram velhos conhecidos. O médico desejava demonstrar publicamente não ter receio. Foi quando alguém do cortejo gritou: “Morra a Aliança Liberal”. O médico e político levantou um lenço vermelho e gritou tranquilo: “Viva a Aliança Liberal”. Incontinenti, uma bomba explodiu a seus pés. Ele, hipertenso, sofreu uma hemorragia, com crise de tosse e sufocamento, parecendo ferido a bala. Simultaneamente, um rapazinho que ele criava, a seu lado, levou um tiro na cabeça e caiu ao solo. Nunca se soube de onde e de quem partiu o primeiro tiro. Parecia que todos ali se achavam armados e prontos para uma batalha. Eram, muitas dezenas na multidão, alguns se jogaram ao chão, outros corriam afoitamente para fugir ao tiroteio. Havia a notícia de que um grupo de jagunços de Granjas Reunidas, onde havia um grande empreendimento industrial dos Dolabella, se tinham infiltrado. O pânico na transposição de um dia para outro se estabeleceu, de 6 para 7. Foram apenas minutos, mas o tumulto deixou estigmas. Corpos tombados foram transportados à residência antes festiva de João Alves e Tiburtina, que prestaram os primeiros socorros, enquanto o marido ainda sofria efeitos da crise cardíaca. Ela acomodava na dependência da casa os feridos e os mais nervosos. Aos ensanguentados dava assistência emergencial. Enfim, o violento choque deixara seis mortos e muitos feridos. Lá fora, os remanescentes escaparam às carreiras à estação ferroviária e o trem começou a fazer a viagem de volta em marcha-à-ré. O episódio trágico ganhou dimensões nacionais. Uma das vítimas fatais fora Rafael Fleury da Rocha, como o poeta João Soares da Silva, aquele secretário particular do vice-presidente, ferido com um tiro na cabeça e com estilhaços do projétil disseminados em derredor, inclusive Mello Viana. Washington Luís, no dia seguinte, se manifestou: “São Paulo como todo o Brasil Republicano e civilizado, profliga indignado o bárbaro atentado que à semelhança de uma Emboscada de Bugres, ensanguentou a nobre terra de Minas”. O padre Aderbal Murta, da Academia Montes-clarense de Letras, escreveu: “De início, no calor das paixões enfurecidas, na insegurança das dúvidas, na irresponsabilidade das interpretações irrefletidas, o episódio de Montes Claros chegou a ser o estopim da Revolução de 1930, de proporções nacionais e decisivas para a própria história do Brasil”. Neste 2023, registra-se o aniversário de Tiburtina Andrade Alves, nascida em 10 de agosto de 1873, na pequenina São João Batista, hoje Itamarandiba. São decorridos 150 anos de profundas transformações no Brasil. O nome dela permaneceu vivo e lembrado. De D. Tiburtina, esposa do líder aliancista de Montes Claros, se falou tudo o que de mal se poderia: Uma pessoa perversa, que perpetrara o episódio macabro do Norte de Minas, causador de tantas mortes e lágrimas às famílias. Houve, entretanto, veementes contestações, inclusive da Imprensa: Assis Chateaubriand, diretor dos Diários Associados, se expressou, publicamente: “A presença daquela senhora me deixara surpreso. Aquela mulher que eu tinha ante os meus olhos, em atitude de tal energia, me fazia recordar certos personagens de lendas de que eu ouvira falar quando menino”. *Ouvidor e editor do jornal Santa Casa Notícias, Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Associação Mineira de Imprensa, Academia Montes-Clarense de Letras, Academia de Letras de Salinas, Academia de Letras, Ciência e Artes do São Francisco, Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Sócio Honorário da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. |
Por Manoel Hygino - 25/2/2023 07:23:41 |
O fim da Covid Manoel Hygino Não houve, este ano, antecedendo ao Carnaval brasileiro, uma preocupação maior em advertir a população sobre os riscos de aglomerações principalmente em ambientes fechados. Na realidade, dias terríveis já vivenciara o povo deste país, com relação à disseminação do coronavírus e à transmissão da Covid. Certeza ou confiança de que o pior ficara no passado? Os períodos anteriores inquietaram de Norte a Sul, nestes oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados de território. Razões de sobra. Em nenhum outro país, a quantidade de vítimas fatais foi tão elevada proporcionalmente à população, quanto nas terras descobertas por Cabral, há séculos. Se outras epidemias e endemias já tinham causado medo entre os nascidos neste país, a Covid deixou uma marca terrível, ainda que determinadas autoridades quisessem menosprezar os números de óbitos e mazelas. Notava-se em todos os lugares: no calendário pré-carnavalesco de 2023, houve certa tranquilidade, abrindo caminho para as festividades de Momo, em que os naturais daqui são exímios e entusiastas ao extremo. Apesar de tudo, as organizações médicas, científicas e empresariais do setor estavam atentas. É o caso da Organização Mundial da Saúde, que o mundo todo sabe hoje que existe, por sua inabalável atenção no cumprimento de sua missão. A OMS permaneceu cuidadosa. Três anos após decretar a Covid-19 como emergência global em saúde pública, a entidade informou – no dia 30 de janeiro último – que ainda não iria declarar o fim da pandemia e do estado de alerta causado pelo vírus. Tedros Adhanom, diretor-geral, falou de cátedra. Agora, é aguardar as estatísticas trágicas e letais, confiando cristãmente que efetivamente o pior se tornou coisa do passado. Evidentemente, conhecendo que uma campanha de vacinação contra outras enfermidades está em pleno desenvolvimento. Não é só Covid que mata. A história nos demonstra. O fim, além do mais, não é tão fácil. O próprio Congresso Nacional está com a incumbência de construção de uma rede de Cuidados de Vítimas da Covid-19 e seus familiares. O documento, aprovado em maio no Conselho de Segurança Nacional defende o fortalecimento da atenção primária em saúde visando atuar diretamente nas sequelas da Covid-19. |
Por Manoel Hygino - 22/2/2023 09:00:50 |
Acertando as contas Manoel Hygino Principalmente depois do atentado contra a democracia no Brasil, perpetrado por alguns milhares de brasileiros desinformados, mal informados e mal formados, em 8 de janeiro, o mundo concentrou sua atenção muito especificamente em nosso país. Entre tantas perguntas que fluíram ao pensamento e sentimento do povo brasileiro, havia uma costumeira: por quê? Além do mais, o cidadão se indagava: a quem beneficiaria o resultado ou consequência da destruição do patrimônio das sedes das três casas do Poder? As apurações que ora se fazem – e a conclusão só se alcançará com maior tempo – esclarecerão pormenores das razões dos tresloucados agentes da ruína no primeiro mês do ano. Reconhece-se que não poderá permitir que a sujeira praticada seja atirada sob os tapetes das belas edificações danificadas e que lá se preservava. Antes de mais nada, esclarecer as razões e os objetivos da turba multa. Mas, simultaneamente se terá de exigir do novo governo que aja em consonância com os melhores desejos e imposições da coletividade. É o caso, por exemplo, do pagamento de pesados débitos de nações com o Tesouro Nacional através de empréstimos concedidos e que - vencidos - faz-se de conta que tudo está ok. No caso da Venezuela, afundada em crise política profunda, perguntar-se-ia o que se fez com a exportação do petróleo, que lhe dera poder e projeção internacional. Quanto ao governo brasileiro, caberá insistir na cobrança, porque há milhões de subalimentados carecendo do poder público. E mais: o Brasil financiou importantes empreendimentos a tais nações, em prejuízo de obras em território nacional. O mesmo se dirá com relação a Cuba quanto ao financiamento do porto de Mariel. É chegada a hora de quitar débitos e fazer justiça a nosso cidadão, que paga caro por realizações que não o beneficiam. É o caso do Metrô de Caracas, que bem serve à capital Venezuela, enquanto Belo Horizonte sofre sucessivas greves e o serviço não se expande como devido. Não me referi às rodovias de que se desincumbiria a União construir, entre as quais as BRs 381 e 262, novelas perenes. As estradas estaduais, a sua vez, estão deixando até intransitáveis numerosos trechos em detrimento do interesse nacional. Precisamos pensar no Brasil, nos seus estados e municípios. Do jeito que está, não pode persistir. O que dirão as gerações futuras? |
Por Manoel Hygino - 16/2/2023 08:44:03 |
A fé religiosa Manoel Hygino Sem subir novamente a escada para uma cadeira no Ministério nomeado pelo presidente da República, Patrus Ananias de Souza, embora deputado federal, pode agora propiciar-nos colaboração em revistas e livros, e atuação na cátedra da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e isto é muito bom. Professor, nascido em Bocaiuva como Cícero Dumont e José Maria Alkmim, tem muito a dizer, inclusive por sua experiência na cátedra e na tribuna, até da Academia Mineira de Letras. Em recente artigo sobre Jacques Maritain e Marcelo Perine, Patrus confessa que sua militância política, que Perine acompanhou de perto em certo período, “fez com que as reflexões buscassem um ponto de convergência com o momento histórico que estamos vivendo, hoje, especialmente no Brasil. Enfrentamos sérios desafios com relação à democracia, aos direitos fundamentais, às políticas públicas que possibilitam a vida no plano pessoal, familiar e comunitário”. Patrus confirma que Maritain teve papel relevante na sua formação política, além dos dois grandes mestres de sua juventude: Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde e Edgar de Godoy da Mata Machado, “por sinal maritainianos convictos”, sendo correto pensar que Perine resgata “o legado de Maritain com questões que hoje nos afligem e desafiam, relacionados com a democracia, as liberdades públicas, o bem comum; a expansão das melhores possibilidades humanas no plano pessoal e no plano comunitário; a construção da Paz”. Evidentemente, nem todos terão a ventura de entender em sua grandeza, o pensamento de Patrus. Este, em síntese, afirma que o “Humanismo Integral”, de que antecede à Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos posteriores, que levaram, entre outras importantes realizações e conquistas humanitárias, à Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que contou, na sua elaboração, com contribuições de Jacques Maritain”. A temática é propícia a um longo e minucioso estudo, sobretudo na hora que atravessamos, sendo oportuno convir que “o humanismo proposto por Maritain se contrapunha de forma radical ao humanismo racionalista e liberal, inspirador do Renascimento e do Humanismo que, segundo ele, levou à anarquia e ao totalismo”. Em resumo: “em contraste com a reflexão dos anos 30, no entendimento de Maritain, a fé religiosa e os princípios metafísicos não são mais considerados capazes de unificar as sociedades como o foram na Idade Média”. |
Por Manoel Hygino - 13/2/2023 07:56:47 |
Lagoa Santa misteriosa Manoel Hygino Quem sobe a Rua Ceará desde seu início em Santa Efigênia até seu final na Avenida do Contorno, onde se forma amável praça, encontrará no lado esquerdo, no número 2037, o Instituto Cultural Amilcar Martins. Chega-se, assim, a um privilegiado local de Belo Horizonte. Subindo a escada de acesso ao Icam, tem-se ingresso num dos mais preciosos locais para inteligência e para a história de Minas Gerais, até porque o Instituto se orgulha de ser “parte da história do mundo”. Há razões. A coleção de obras raras do Icam, e isto consta de suas publicações, é o primeiro acervo bibliográfico brasileiro reconhecido pela Unesco como parte da memória do mundo. Esta tem como objetivo identificar, registrar e proteger acervos documentais bibliográficos considerados importantes para a Memória do mundo, o programa “Memory of the World, o MoW”, daquela unidade da ONU. E tudo fica bem pertinho dos belo-horizontinos que desejam aprender mais sobre a velha província de Minas. É o que se constata e se comprova com a edição de Milagre no Sertão de Minas, a Prodigiosa Lagoa, primorosa obra organizada por Amilcar Vianna Martins Filho e Vera Alice Cardoso Silva. Na apresentação, Amilcar sublinha que se trata de “uma nova edição comentada do famoso opúsculo” Prodígios lagoa descuberta nas Congonhas das Minas de Sabará, publicada de maneira apócrifa em Portugal na primeira metade do século XVIII, cuja autoria é atribuída ao cirurgião baiano João Cardoso de Miranda”. Às perguntas, numerosas e explicáveis, a obra do Icam procura dar respostas convincentes, através de artigos magníficos de colaboradores e de documentos localizados nas pesquisas. É secular o estudo da matéria, muito polêmica, a começar por se identificar o verdadeiro autor, mas, sobretudo pelo raro conteúdo. O leitor, curioso ou interessado, terá concluído que a Lagoa Grande se faz conhecida agora como Lagoa Santa, a mesma que encantou o cientista dinamarquês Peter Lund, o pai da paleontologia no Brasil. Outra indagação a que não se escapa eram as águas dali realmente prodigiosas, milagrosas, capazes de curar uma série de doenças? São mistérios que precisavam ser desvendados e revelados. Daí, o elevado valor da obra do Icam, que pretendemos ampliar designando os colaboradores, que são muitos e cujos títulos não poderíamos omitir. |
Por Manoel Hygino - 8/2/2023 08:48:59 |
Agora é continuar Manoel Hygino 2021 não foi um ano fácil em lugar algum do mundo, se se considerar a disseminação da Covid por todos os países. E a situação ainda não está definitivamente resolvida. No penúltimo dia de 2022, três anos após declarar a doença como emergência global em saúde pública, a OMS-Organização Mundial de Saúde ainda age, como de sua missão, com cuidado. Ela informou que ainda não podia anunciar o fim da pandemia e do estado de alerta causado pelo vírus. O diretor-Geral Tedros Adhanom Ghebreyesus foi muito claro e objetivo. Ainda há muito caminho a trilhar. No mês de carnaval deste ano, somos obrigados a convir que o período foi marcado por uma das maiores tragédias da história. As estatísticas mostram que, em nenhum outro país, a quantidade de vítimas fatais foi tão elevada proporcionalmente à população quanto o nosso, embora uma das Nações mais preparadas para enfrentar emergências sanitárias, em grande parte graças à competência do Sistema Único de Saúde, a despeito das dificuldades sabidas, começando pelas baixas remunerações. Observa-se, contudo, que a Santa Casa de Belo Horizonte, referência no atendimento na capital e Região Metropolitana, atuou de forma estratégica no combate ao vírus, sem deixar de dar assistência aos pacientes das demais e muitas enfermidades. Enobrece os que se dedicam à saúde, o que se vê. Com mais de 1.200 leitos, a instituição realizou 2.281.658 exames, e mais de 3 milhões de atendimentos, além de 38.096 cirurgias por seus 2 mil médicos. Somaram 52.454 as internações e 325.166 as consultas. Para não ficar cansativo ao leitor, lembraria simplesmente que, nas unidades da Santa Casa de Belo Horizonte, trabalhavam no fim do ano 5.638 pessoas em regime CLT. Não vou insistir em repetir números, porque o principal é que a população saiba que a instituição segue rigorosamente a missão que assumiu em 1899, quando constituída. E não parou, nem para. Há planos em definição e projetos em execução, contando com colaboradores em inúmeras iniciativas para serviços de excelência de forma humanizada, formando o maior grupo hospitalar de Minas Gerais, com suas seis unidades. Esquecia-me. A despeito da Covid, que interferiu em suas atividades, sem diminuí-las, manteve-se a Santa Casa como o maior hospital transplantador de órgãos, tecidos e células de Minas e um dos maiores do Brasil. O que resta fazer é fabuloso. O país tem um déficit estimado de 1 milhão e 100 mil procedimentos represados desde o começo da pandemia mundial provocada pelo coronavírus. |
Por Manoel Hygino - 7/2/2023 09:12:57 |
Ainda o 8 de janeiro Manoel Hygino Acabo de ler. O professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia, emite sua opinião sobre os episódios de 8 de janeiro, em Brasília. Tratar-se-ia de um movimento social de direita, marcado pela irracionalidade. Para ele, “o radicalismo posto em prática nas sedes dos três poderes são a demonstração mais avassaladora de um movimento com origens no início da década de 2010”. Acrescentou: “É a confluência de várias correntes marcadas pelo ultraconservadorismo e pela superficialidade das redes sociais”. Para Marcelo Aith, advogado e presidente da Comissão Estadual de Direito Penal Econômico da Abracrim-SP, estamos diante de um caso objetivo de cegueira deliberada, uma construção jurisprudencial originária do direito anglo-saxônico, que preconiza a possibilidade de punição do indivíduo que deliberadamente se mantém em estado de ignorância em relação à natureza ilícita de seus atos”. Para Aith, as forças policiais de Brasília tinham, no dia dos acontecimentos, a obrigação de recompor imediatamente a ordem pública e prender em flagrante todos os invasores pelo crime de “abolição violenta do Estado democrático de direito” e “golpe de Estado”, previstos, respectivamente, nos artigos 350-1 e 359-M, ambos do Código Penal, que dispõe: “Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos Poderes constitucionais” e “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”. Para o advogado paulista, foi “vergonhosa a condução do governador do Distrito Federal e do secretário de Segurança, que flagrantemente lenientes no combate aos atos criminosos. Era uma crônica de uma morte anunciada”. Ele aduz que “o governador Ibaneis Rocha e o secretário de Segurança Anderson Torres devem ser responsabilizados diante da Cegueira Deliberada”. Para ele, somando sua opinião à de milhares, ou milhões, de brasileiros, “a investigação deve ser exauriente, e os envolvidos, severamente punidos, quer pela ação, quer pela omissão, quer ainda pela incitação”. Enfim, é o que se está fazendo, como é de interesse da nação e de todos os que se cingiram a acompanhar os fatos pelas redes de televisão ou noticiário dos jornais. Não se pode amenizar episódio de tantos e tão pérfidos prejuízos para o Brasil, que repercutiu negativamente para a pátria entre todos os povos democratas neste nosso tempo. Cada um tem de pagar pelos danos que causaram e que repercutirão na História. |
Por Manoel Hygino - 1/2/2023 08:56:50 |
Hora de ação Manoel Hygino Não é de hoje que se conhece a situação dramática das populações indígenas da Amazônia. Fazemos de conta que ignoramos o que acontece, a existência de cenários dolorosos, trágicos, que a mídia vem oferecendo à nação, ao vivo pelas televisões. Também as demais nações ficam sabendo o que há por aqui. Aprofundo-me no assunto, recorrendo sempre que necessário ao jornalista Aylé-Salassié Filgueiras Quintão, mineiro lá do Leste, das linhas divisórias da Zona da Mata, com uma experiência muito maior do que a minha na matéria. Ele tem percorrido terras brasílicas, há anos, mantendo contato com autoridades que tratam das questões indigenistas e com os próprios índios, para sentir de perto as vicissitudes com que se deparam os donos da terra, na época de Cabral. Mas hoje os problemas são inteiramente outros, tribos enfrentam dificuldades e problemas que lhes foram trazidos pelos invasores, que lhes querem tomar as áreas que ocupam, roubando-lhes o sossego a que tinham direito. As promessas e compromissos assumidos pelas autoridades não funcionam e o que se assiste pelas telas das TVs são um testemunho incontestável. A população, a esta altura, preocupa-se mais em conseguir reais para gastar no período mesmo que se aproxima. Tudo isso leva, automaticamente, ao registro do publicado pelo companheiro de ofício na capital federal, como transcrevo, literalmente: “Ao desembarcar em Boa Vista, Roraima, um dos territórios brasileiros com maior concentração de cidadãos indígenas, em sua maioria, da nação Yanomami, ao mesmo tempo um dos mais depredados pelas frentes de garimpo, de desmatamento e da agricultura ilegais do País, o presidente Luís Inácio da Silva surpreendeu-se com o estado de abandono da população e enxergou uma calamidade pública, uma tragédia no campo da saúde, segundo ele mesmo. (...) Não bastasse, concomitante, o Covid, levado pelos brancos garimpeiros, havia matado 1.207 índios e contaminado 59.234 outros, conforme dados do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena. A malária, endêmica, infecta a região e já há registros dos dois últimos anos de 11.500 casos. Mais gritante ainda era a morte de 507 crianças, sobretudo por falta de alimentação e de atendimento médico. Por recomendação do Presidente, a nova ministra da Saúde, a sanitarista Nísia Trindade, participando da comitiva, declarou “Emergência sanitária no estado”. Para o governo brasileiro, como para cada um de nós, é um grave dever humano e cristão. Num primeiro instante, iremos medir o que Brasília diz e como age. E com prioridade e dignidade. |
Por Manoel Hygino - 31/1/2023 08:45:23 |
Esta hora grave Manoel Hygino Embora esteja o Brasil vivendo problemas graves, entre os quais o de subalimentação dos Yanomami, em Roraima, sem contar os que se acumulam em torno ou no meio das grandes cidades, com moradores de rua crescendo numericamente nas capitais, há aqueles que se preocupam com as festividades carnavalescas. Dizem que o brasileiro gosta dessa época do ano, deixando para depois os problemas cotidianos. Há de se perguntar: estômagos vazios, como os dos indígenas, não são sentidos nas demais regiões do País, como as do Sudeste? São Paulo, o estado mais rico, e sua metrópole, a mais populosa, não estão passando por uma grande crise de segurança, exatamente pela evolução indesejada de seus segmentos mais pobres e assumidos no rol da criminalidade? Não se desconhecem os fins de semana de grupos enormes de pessoas de baixo ou baixíssimo nível econômico para os ajuntamentos coletivos na periferia ou em bairros, embalados com música em volumes elevados, muito álcool e drogas de toda espécie e origem. De onde viria o dinheiro? Passou da hora e do instante de se pensar mais seriamente. Milhões estão sem alimentos suficientes, e não só os índios. Milhares e milhares se desencaminharam à criminalidade, sem contar multidões que se desviaram para o consumo de drogas altamente perniciosas, quando não letais. No entanto – fazemos de conta que tudo inexiste, e permanecemos nas vias dos males que dizimaram inúmeras pessoas, famílias inteiras. O problema é gravíssimo e não pode ser simplesmente ignorado. Os economistas, empresários e autoridades sabem que este não é o momento para usufruir (porque não temos o quê). Os planos de desenvolvimento, em particular nos países pobres, estão em xeque. O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas prevê um crescimento de apenas 1,9% neste ano, das mais baixas taxas das últimas décadas. Uma série de acontecimentos assolou a economia mundial em 2022: a pandemia da COVID-19, a guerra na Ucrânia, as crises de energia e de alimentos, aumento da inflação, restrição da dívida, a emergência climática. Será que sequer se lê jornais para saber do mau período em que nos encontramos? Não há medo? O próprio secretário geral da ONU, o português Antônio Guterres, adverte sobretudo às nações em desenvolvimento. Não se pode ficar surdo e cego. |
Por Manoel Hygino - 28/1/2023 07:39:56 |
Fim de novela? Manoel Hygino O ex-governador e vice-presidente Aureliano Chaves gostava de usar a expressão “tapar o sol com a peneira”. Pois foi exatamente o que aconteceu com o ex-comandante do Exército, general Arruda, com relação à ordem para acabar com os acampamentos em frente a dispositivos militares nas proximidades dos edifícios na Praça dos Três Poderes. O noticiário da agência Metrópole, de Brasília, no dia 22, esclareceu, textualmente: “O general Júlio César de Arruda perdeu o comando do Exército após enfrentar ordens indiretas de Lula. No mais incisivo dos embates, de dedo em riste, impediu a prisão de bolsonaristas extremistas”. Além do mais, seguia prestigiando o coronel Cid, sumamente alinhado com Bolsonaro, como se noticiava. Na noite de 8 de janeiro, com a intervenção federal já decretada, o general não autorizou a entrada da PM-DF na área militar para prender extremistas em frente ao QG. A PM-DF seguia as instruções do interventor Ricardo Cappelli, nomeado pelo novo presidente. Naquela noite, Arruda dirigiu-se para o então comandante da PM-DF, Fábio Augusto Vieira, e desafiou: “O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?”. Lula vira como uma afronta a barreira formada por homens do Exército e, sobretudo, o uso de veículos militares blindados para impedir o avanço da PM. Um agravante: antes mesmo desse episódio, o presidente já estava furioso por o Exército não ter impedido a invasão ao Planalto. Ao fim daquele 8 de janeiro, o destino de Arruda já estava selado. Só o que faltava para demiti-lo era encontrar um general estrelado que se mostrasse disposto a enfrentar com rigor as ameaças golpistas. Surgiu o do general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que servira no Haiti e contra gente da favela do Alemão, no Rio. Prestigiado e legalista por origem, foi escolhido. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, fez o anúncio. Explicou em poucas palavras: “As relações, principalmente no Comando do Exército, sofreram uma fratura num nível de confiança e achávamos que precisávamos estancar isso logo de início para superar esse episódio. Queria apresentar o substituto, general Tomás, que a partir de hoje é o novo comandante. Hoje, nós estamos investindo mais uma vez na aproximação das nossas Forças Armadas com o governo do presidente Lula”. Em mais de uma oportunidade, inclusive falando em Buenos Aires, em reunião com o presidente argentino e com outras autoridades e empresários, Lula afirmava que não podia submeter-se a uma situação que não condizia com a maneira de conviver entre o dignitário mais alto e um subordinado, mesmo que do Exército. |
Por Manoel Hygino - 25/1/2023 09:02:19 |
No front do Planalto Manoel Hygino A economia já perdera fôlego no final do ano passado, como se constatou pelos indicadores. Passados o Natal e as festas tradicionais, começou-se a pensar em 2023, sonhando perspectivas não sombrias, disseminadas por todos os países. No Brasil, os fatos registrados no primeiro mês já adivinhavam pesadelos. Em minha terra, houve o verde, patrocinado pelas chuvas que chegavam, pacificando os corações e alegrando. Registrou-se a sucessão nos cargos mais altos da administração pública, depois dos bravios debates da campanha eleitoral não reconhecida como educada e respeitosa. Uma verdadeira guerra. O professor universitário e jornalista, com longa experiência em grandes veículos brasileiros de comunicação, Aylê-Salassié, de seu quartel em Brasília, já em 5 de janeiro, prenunciava “as festas de posse e da transmissão de cargos, que não conseguem esconder o cenário desolado, sombrio mesmo que, com que se estabelece, silenciosamente, na Praça dos Três Poderes e dentro daqueles edifícios verdes da Esplanada. Tudo coincide com o fim da era Pelé, menino pobre que, com ousadia e criatividade pessoal, contribuiu para que os brasileiros se orgulhassem de seu país com todas essas ambiguidades, sem a necessidade de fazer guerra com ninguém, nem com Maradona, que virou seu amigo”. Estas aparentes divagações emergem quando o presidente da República determinou a exoneração do ministro do Exército, nomeado em dezembro findo. Um ato até certo ponto inesperado, porque o novo ocupante do Palácio do Planalto parecia profundamente interessado em esquecer um passado bem recente e unir em torno da nova gestão as Forças Armadas, em que tanto o antecessor procurara influenciar visando à continuação do quatriênio, mesmo que mediante golpe. Aliás, este motivou, incontestavelmente, o 8 de janeiro, uma nova data na crônica do Brasil sempre litigante em seus meandros. O ministro da Defesa Civil seguiu a orientação mais alta. Exonerou o chefe do Exército e nomeou outro incontinenti. A sorte estava lançada. Luiz Inácio partiu para Roraima para ver a situação dos yanomami em emergência. O titular da Defesa foi claro e explicou que as relações no comando do Exército tinham sofrido uma fratura, que cumpria resolver com segurança e rapidamente. Aconteceu antes que um mês preocupante para a nação cerrasse as cortinas. Ainda bem. |
Por Manoel Hygino - 21/1/2023 07:15:49 |
O terrorismo Manoel Hygino Transcorridos dias desde 8 de janeiro, quando ocorreram os atentados contra as sedes dos três poderes da República, no local escolhido por Juscelino para instalar uma nova capital, distanciada da agitada vida no Rio de Janeiro, persistem dúvidas candentes sobre os agentes que levaram à dramática situação da mais bela capital deste século. Ao comentário anterior dei o título de “Guerra Irregular”, também nome do livro de Alessandro Visacro, ex-oficial das Forças Armadas do Brasil e um especialista no tema. Ele escreve: “O público não precisa assistir ao desabamento de arranha-céus para ver-se diante de ataques terroristas. Sendo um ato de guerra irregular, abrange um enorme repertório de métodos, com objetivos, amplitude e características variáveis. Guerrilheiros, rebeldes e insurgentes sempre recorreram ao terror. Na verdade, guerrilha, subversão, sabotagem e terrorismo constituem ações de guerra irregular que se complementam”. Deste modo, não será tão difícil classificar os acontecimentos do segundo domingo de 2023, na capital federal. Poderão autoidentificar-se os próprios componentes dor grupos que se formaram com determinado e claro objetivo, assim como os investigadores que fazem ou farão a apuração das partes, considerando principalmente os resultados do segundo turno da eleição. O autor acrescenta ainda: “Assim como as demais formas de guerra irregular, o terrorismo sofreu notável expansão após o término da Segunda Guerra Mundial, com enorme incidência no Terceiro Mundo, abarcando as guerras de liberação nacional, as revoluções marxistas e as práticas de grupos reacionários da extrema direita”. Para que se possa caracterizar um ato terrorista, é bom conhecer o que diz a Agência Brasileira de Inteligência: “Ato premeditado, ou que ameaça por motivação política e/ou ideológica, visando atingir, influenciar ou coagir o Estado e/ou a sociedade, com emprego de violência. Entende-se, especialmente, por atos terroristas aqueles definidos nos instrumentos internacionais sobre a matéria, ratificados pelo Estado brasileiro”. Seja como for, as práticas de terrorismo, subversão e guerrilha difundiram-se de tal forma que afetaram, direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, a quase totalidade das nações do globo, incluindo o Brasil. O episódio em Brasília é típico. |
Por Manoel Hygino - 18/1/2023 12:17:08 |
8 de janeiro Manoel Hygino No domingo, 8 de janeiro, o mundo viu (porque as televisões mostraram a todo o planeta) cenas que não se quereria porque o Brasil constava como nação civilizada, além da maior do hemisfério sul-americano. A invasão das sedes dos três poderes em Brasília foi algo quase inacreditável, que nos retroage à invasão dos bárbaros na Europa. O que aconteceu encontra dificuldades para descrições à altura, dadas as cenas de desapreço a bens altamente valiosos ao Brasil. Os estragos então perpetrados por seres humanos se comparam aos males causados por terremotos, incêndio e dilúvios, funestas desgraças que pudesse a imaginação conceber. O ocorrido naquela tarde dominical foi prova convincente da crueldade e extensão das devastações como a dos bárbaros. Uma espécie de profunda noite envolveu a capital da República, glória e honra dos brasileiros, mundialmente reconhecida e admirada. E todo o projeto destruidor foi minuciosamente elaborado e discutido, antes de posto em prática. Um crime hediondo cuidadosamente urdido e consumado, com a participação de milhares de pessoas, agentes robôs de mandantes criminosos. Baltazar Garzón, juiz espanhol que condenou à prisão Augusto Pinochet e a 640 anos o argentino Scilingo, dos voos da morte, a maldita Operação Condor, em entrevista a jornal brasileiro, observou com propriedade: “Não foi algo casual, nem espontâneo. É preciso chegar até o fim nas investigações e sancionar os autores intelectuais, assim como àqueles que financiaram esses atos violentos, de terrorismo e de graves atentados. Foi um verdadeiro atentado à democracia, um golpe de Estado que deve ser severamente condenado como tal”. Garzón também declara: “Os problemas que enfrentamos são complexos, e as soluções também serão. Creio que os progressistas não devem minimizar o crescimento da ultradireita, pois, ao fazê-lo, podemos nos deparar com acontecimentos como o de 8 de janeiro, em Brasília. Colocaremos em risco a democracia se permanecermos indiferentes a esse fenômeno”. |
Por Manoel Hygino - 14/1/2023 07:56:12 |
![]() Hora de Francisco Sá Manoel Hygino Sem desejarmos fazer coluna de registros históricos, não podemos, contudo, omitir-nos se os fatos o impuserem. Como agora. Segundo Joaquim Ribeiro Costa, na “Toponímia de Minas Gerais”, atualizada por Joaquim Ribeiro Filho, o município de Francisco Sá está comemorando, este ano, centenário, nos termos da Lei nº 843, de 7 de novembro de 1923, embora somente adquirisse o nome atual em 1938. Tudo para chegar ao âmago. O nome da cidade, Francisco Sá, se deve aos relevantes serviços à região, a Minas e ao Brasil pelo homenageado, nascido de família proeminente na economia e na política norte-mineira. O avô do menino Chico era Josefino Vieira Machado, barão de Guaicuí, republicano e abolicionista, inclusive na navegação do rio das velhas, lavouras de café, algodão, cana-de-acúcar e serrarias. Fez curso primário no Seminário de Diamantina, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando engenharia na Politécnica, concluído na Escola de Minas de Ouro Preto. Quando a província do Ceará foi presidida pelo mineiro Carlos Honório Benedito Otoni, Francisco Sá se viu conduzido a engenheiro fiscal da Estrada de Ferro Baturité, a primeira do Ceará, ligando-a a Pernambuco. Daí para frente, só novas incumbências e graves responsabilidades naquele tempo de constantes variações políticas regionais. Deputado provincial por Minas Gerais em 1888-1889, deputado geral pelo Ceará em 1889, reeleito para as legislaturas 1897-1899, 1900-1902, 1903-1905, e senador em 1906-1909, 1912-1915, 1922-1926 e 1927-1930. Esteve à frente da exploração de depósitos de salitre em Minas Gerais, no vale do Rio das Velhas, e Bahia, e engenheiro fiscal da Estrada de Ferro Mogiana. Em Minas, foi inspetor de terras e colonização, na gestão de Afonso Pena (1892-1894), e secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, com Crispim Jacques Bias Fortes (1894-1898), renunciando para assumir mandato de deputado federal. Nomeado ministro de Viação e Obras Públicas (1909-1910) por Nilo Peçanha (1909-1910), inaugurou o rádio no Brasil. No ministério, destacou-se pela criação da Inspetoria de Obras Contra a Seca (1909), que passou a coordenar as ações destinadas a prevenir e atenuar os efeitos das estiagens, antes distribuídos dispersamente no ministério, responsável pela construção de açudes, poços, canais de irrigação e barragens. Era antecipação nacional de combate às secas e da própria Sudene. Deve muito a nação à atuação de Francisco Sá, responsável em termos norte-mineiros, pela implantação da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1926, finalmente, com muita festa, música e foguete, se inaugurou o ramal de Montes Claros, a mais importante cidade da região. |
Por Manoel Hygino - 11/1/2023 09:17:00 |
A guerra irregular Manoel Hygino Um profissional de imprensa foi mais uma vez vítima por estar no exercício de suas obrigações. Aconteceu no último dia 5, quinta-feira, nas proximidades de um acampamento instalado nas proximidades da Companhia de Comando da 4ª Brigada Militar, na avenida Raja Gabaglia. Mencionado profissional, fotógrafo do jornal “Hoje em Dia”, apenas cumpria ordens para produção de matéria sobre a permanência de grupos que ali se instalaram. À distância, ele realizava seu trabalho, quando foi perseguido por manifestantes abusivamente. Viu-se, assim, pessoas sem atividade útil qualquer naquela ocasião e local, partirem para ataque a um cidadão que simplesmente cumpria sua missão. O malogrado tentou escapar à fúria dos acampados, correndo a esconder-se detrás de um carro. Era o que lhe restava, mas foi derrubado e arrastado pelo piso da via pública, recebendo socos, chutes e até pauladas. Sofreu um corte na cabeça, o que o obrigou a atendimento médico em unidade de saúde. Quanto aos seus equipamentos, os resultados também foram perversos. A câmera fotográfica desapareceu e as respectivas lentes foram danificadas, impedindo seu uso a partir de então. Como não poderia deixar de ser, prestigiosas entidades sociais e de profissionais de todo o país hipotecaram solidariedade ao trabalhador de comunicação, pedindo – ou exigindo – “justiça e punição” para os agressores, até porque não se trata do primeiro episódio do tipo, que se estende a outros atentados no Ceará, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Estas atitudes se tornaram costumeiras, sobretudo à porta dos quartéis causando intranquilidade e medo nas vias públicas, principalmente nas capitais. Segundo autoridade no assunto, as guerras não são mais as mesmas. Em vez da confrontação militar, o mundo vem assistindo a uma série de embates “irregulares”, como terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência e conflitos assimétricos em geral. É o caso da Raja Gabaglia, que exige atenção do poder público, se repetiu em Brasília, criminosamente. O que aconteceu na Capital Federal, domingo, foi uma exibição contra a democracia, com atos de terrorismo não típicos da índole do povo brasileiro. O prólogo foi em Belo Horizonte. |
Por Manoel Hygino - 10/1/2023 09:20:04 |
Bento XVI diz adeus Manoel Hygino Aconteceu como seu sucessor, Francisco, praticamente previra. O papa Bento XVI, de 95 anos, não resistiu ao agravamento de seu quadro clínico e da idade e faleceu com o ano 2022, enquanto as ruas de todo o mundo exultavam o número novo no calendário. As manifestações de pesar e solidariedade se repetiram por todas as nações, inclusive entre aquelas que não integram a Igreja de Roma, como a Ortodoxa russa. Considerado um dos maiores teólogos deste nosso tempo, Bento XVI encerrou seu período à frente da Igreja em um aposento solitário no Vaticano, anos após participar no Brasil das festividades de canonização de Frei Galvão, o primeiro santo aqui nascido. Esteve presente em todos os atos, reconhecendo o milagre da restauração da saúde de Enzo, de 7 anos, desenganado pelos meios médicos. Mas o notabilíssimo estudioso da Igreja, de sua história, de dúvidas que resistiam apesar da fluência do tempo, dos erros tornados públicos, como o desvio sexual de sacerdotes e de questões envolvendo o Banco do Vaticano. O pontífice alemão não conseguiu resistir mais, contudo, às dores e atropelos e resolveu renunciar ao trono que Pedro inaugurara séculos antes. Em sua visita ao Brasil, em maio de 2007, Bento XVI teve ensejo, em várias ocasiões, de apelar em favor dos pobres e enfermos, enfim de todos os necessitados. Às lideranças políticas brasileiras, usou um tom de cobrança, perfeitamente válido nesta hora de sucessão no comando da administração. Afirmou: “Cumpre formar nas classe políticas e empresariais um autêntico espírito de veracidade e de honestidade. Quem assume uma liderança na sociedade deve procurar prever as consequências sociais, diretas e indiretas, a curto e a longo prazos, das próprias decisões, agindo segundo critérios de maximização do bem comum, ao invés de procurar ganâncias pessoais”. Visitando em Guaratinguetá, uma obra de reabilitação de dependentes químicos, admoestou: “O Brasil possui uma estatística, das mais relevantes, no que diz respeito à dependência de drogas e entorpecentes”. Logo imprescindível e urgente, prioritária, a reinserção dos que caíram no engodo criminoso das drogas e a volta ao abrigo do bem, do lar, da saúde e de Deus. |
Por Manoel Hygino - 7/1/2023 08:35:31 |
Agora, sem rei Manoel Hygino Seria, ou é, impossível alguma opinião, sequer uma simples frase, ao que já se disse e publicou sobre o passamento de Pelé, já pretérito, triste, para uma nação que ultimamente sente tantas dores e decepções. O pesar pelo falecimento do atleta do século foi uma explosão de um povo que acompanha o futebol como esporte maior e recarrega baterias para os deveres do dia e do porvir, com de precária alegria. Pelé permanecerá, já lenda e história, enquanto o corpo do cidadão brasileiro de 82 anos descansará dos embates que caracterizaram uma vida quase em plenitude. Sem se imiscuir na vida política, julgou-se no direito ou dever de não jogar em 1974 “por desgosto em relação ao regime político do país”. Era a época da ditadura”. Nascido no curato do Santíssimo Coração, elevado a paróquia por decreto imperial de 1832. Três Corações, no Sul de Minas, não é uma cidadezinha, como a descreveram alguns repórteres de rádio e televisão. É um núcleo com cerca de 100 mil habitantes, às margens de rodovia federal, em que se ergueu uma estátua ao herói do futebol. O nome atual lhe foi dado por lei de 1923, há um século. Cidadão brasileiro reverenciado em todas as nações, Edson Arantes do Nascimento é um dos poucos esportistas que jamais se envolveu em disputas mesquinhas, em agressão física ao adversário, em participar de questiúnculas de vestiários e malévolas conversas da frivolidade social. Viveu a existência intensamente. As gerações de hoje irão orgulhar-se por terem visto o craque eterno nos campos de futebol de todo o mundo, de tê-lo acompanhado em partidas sensacionais, o que constitui um privilégio. O menino que saiu da terra natal aos 4 anos, de família humilde interiorana, no auge da carreira não deixava de dar graças a Deus por seu êxito e de rogar em nome dEle bênçãos para as pessoas de sua convivência, ou a quem devia algum tipo de agradecimento. Edson Arantes do Nascimento exibia sorrisos quase sempre diante dos fotógrafos. Era bom humorado e otimista. Tinha razão: enfim sua mãe tinha nome adequado – Celeste. Com mais de cem anos, ela sobreviveu para assistir a glorificação do filho, rogando para que suba aos céus. |
Por Manoel Hygino - 3/1/2023 08:56:20 |
Um período difícil Manoel Hygino O novo governo da velha República tem início estigmatizado pelos desencontros das eleições realizadas em 2022 e que despertaram uma onda de dúvidas quanto ao futuro, acalentada duramente pelos temores legados por movimentos de pessoas e grupos associados ao quatriênio que terminou. O brasileiro, agora desencantado com as perspectivas de um tempo mais pródigo e sadio, se revela ansioso por conquistar igualdade entre os segmentos da sociedade, nivelados no direito a uma vida digna material e espiritualmente. Pensa e remói incertezas. O panorama mundial não é dos mais promissores, a América Latina novamente se envolve em perigosas expressões de desconfiança ou de desaprovação de seus dirigentes, e no Brasil, temos não poucas divisões e litigâncias, facilmente identificáveis pela mídia. Aylê Quintão, jornalista mineiro radicado em Brasília, professor, com experiência em importantes veículos de comunicação e atuação no exterior, também se atribula diante das circunstâncias adversas da hora presente. Em recente artigo, manifestou-se: “Cerca de 13,7 milhões vivem abaixo da linha da pobreza extrema; milhões de trabalhadores estão desempregados; dez milhões são analfabetos. O saldo é de quase miséria e desigualdade, crescentes. Para a socióloga Renata Duarte, da UFPe, crianças nascidas em um contexto de pobreza têm maior probabilidade de se tornarem famílias pobres de amanhã. Todo cuidado é pouco. Não tiramos ainda a sorte grande. Recomenda-se calma. Nesse cenário ministerial confuso, não há e não haverá futebol nem Natal que salve o brasileiro. O Planejamento não resolve problemas, traça perfis. Sem bom senso, teremos de conviver ainda por muito tempo com um Brasil problemático”. A Copa do Mundo se foi, os hermanos limítrofes ao Sul se consagraram, apesar de seus numerosos e difíceis desafios, inclusive da inflação que corrói orçamentos e destrói planos e sonhos. Para o Brasil, sequer sobrou a ilusão do próximo período carnavalesco e de fim de ano, já transcorrido, boicotado por salários baixos e, além e acima de tudo, com o espectro da Covid perambulando pelo grande território. Não há soluções definidas e prontas para soluções em curto prazo. O novo governo, assentado há poucos dias, enfrentará uma guerra extensa e violenta em todos os quadrantes, enquanto os candidatos a cargos públicos na gestão recém-iniciada levantam as mãos e gritam: olha, eu aqui. |
Por Manoel Hygino - 31/12/2022 07:57:18 |
Escoteiros sempre Manoel Hygino A iniciativa de George Washington de Oliveira Souza, no final de semana, na capital da República, visando fazer explodir um artefato nas proximidades do aeroporto, está sendo investigada no âmbito da polícia civil. O que demonstra que a autoridade pública está atenta aos acontecimentos, como não poderia deixar de ser. Em depoimento à polícia, o indivíduo suspeito declarou que planejara com manifestantes nas proximidades do Quartel General do Exército, a instalação de explosivos, em, no mínimo, dois locais da cidade- sede do governo federal, desse equipamento para “dar início ao caos” que levaria à “decretação do estado de sítio no país, podendo assim provocar a intervenção das Forças Armadas”. Em resumo, empresário, por vontade pessoal, um indivíduo de nacionalidade brasileira, decidiu intervir na vida do país, depois dos resultados eleitorais do pleito deste 2022, com os quais não concordara. Acrescentou, ele, ainda, outros pormenores do plano frustrado, com instalação de uma bomba na subestação de energia elétrica em Taguatinga e de explosivos em postes de iluminação, naquela cidade do Distrito Federal. Para seus propósitos perversos, esperava contar com outros simpatizantes de sua ideia, graças ao que conseguiria o desfecho de uma tragédia no centro dirigente dos destinos nacionais. O famigerado planejador confessou que, para seu projeto, utilizava seus próprios meios financeiros, e seria seguido por pessoas solidárias, inclusive para aquisição de armas como as de que dispunha e trouxera do Pará, estado em que reside. Num país que se julgava pacífico e que atribuiria maquinações dessa espécie às esquerdas, o plano macabro e terrorista esclarece que também a direita estava disposta ao embate que convulsionaria o Brasil. Temos de ficar em alerta, como escoteiros da pátria, em todos os rincões e com qualquer idade. O novo governo, deste modo, começa lidando com um problema, que considero grave e, além disso, que exige providências urgentes para que as consequências não sejam mais funestas. O imprescindível e inadiável é que nascemos cidadãos deste país que habitamos e em que nascemos sejam antes de tudo patriotas, o que vem faltando, ininterruptamente quase. Em todo caso, cabe esperar com confiança e fé. |
Por Manoel Hygino - 28/12/2022 09:33:11 |
![]() Uma voz ao Sul Manoel Hygino Pode ser que esteja sendo vítima de pessimismo. Não é bem assim, mesmo vivendo em um período difícil do Brasil como nação, de país que abriga gente aqui nascida ou procedente de outros rincões do planeta. Mas os números e comentários de outros autores, que não eu, revelam a coincidência de pensamento e julgamento sobre temas marcantes da vida brasileira, sobretudo com as incertezas e rudezas da hora. Mas, há também semelhança em termos de análise, e manifestação sobre autores daqui e dali. É o caso de Enéias Athanázio, do Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Tornou-se personalidade da história local e estadual, pelo muito que já difundiu sobre a província de que um mineiro foi presidente em priscas eras. Refiro-me a Antônio Gonçalves Chaves, que já passara pela chefia dos destinos de Minas por duas vezes, sendo honrado com a direção dos negócios públicos da bela província do Sul. Minas e Santa Catarina se apresentam de mãos dadas em oportunidades várias. Uma delas, aliás, graças a Enéas, ardoroso admirador da obra de Godofredo Rangel e de Monteiro Lobato, representantes das três unidades da Federação ligadas por escritores de nível nacional. As qualidades indiscutíveis do autor de Santa Catarina foram, mais uma vez, há pouco, enaltecidas em “Opúsculo”, o articulismo cultural de Enéas Athanázio, do mineiro Guilherme Queiroz de Macedo, que focalizou o precioso conteúdo da obra do escritor catarinense. Ele se explica: “Diante de 75 livros já publicados por Athanázio (60 livros e 15 opúsculos), é impossível, dentro dos limites de espaço, citarmos todas as obras. Gostaria de destacar as seguintes obras: a novela literária ‘A Liberdade fica Longe’ (2001, 2007), uma das obras que sintetiza como se constitui o leitor e o escritor, através do gosto e do prazer estético pela leitura e escrita literárias. Dentre as obras enviadas pelo autor destaco ainda ‘Vida Confinada’, relato de autoficção do autor sobre a sua trajetória estudantil em um colégio interno católico no final das décadas de 1940 e início da década de 1950 do século XX, a qual foi objeto de abordagem em dois artigos publicados no periódico “Escrituras Brasileiras” (2008). Outra interessante obra literária do autor, entre 1999 e 2001, foi o livro ‘Fazer o Piauí: crônicas do meio norte’ (2000), sobre o intercâmbio do autor com os autores e a vida cultural daquele estado, cujos frutos mereceram posteriormente outra obra, denominada ‘Meu Amigo, o Piauí’, lançada em 2008”. |
Por Manoel Hygino - 24/12/2022 07:56:31 |
Minas, como ela é Manoel Hygino De querida senhora da sociedade de minha terra natal, Montes Claros, recebi a pergunta: “O que você acha que vai ser do nosso amado Brasil daqui para frente? Estou muito angustiada quanto aos acontecimentos nacionais”. O desembargador Rogério Medeiros me ajuda na resposta, citando Alceu Amoroso Lima, na revista “MagisCultura”: “As montanhas de Minas Gerais limitam os horizontes e os habitantes vivem de forma tranquila e pressa. Os mineiros são ensimesmados e meditativos”. Affonso Romano de Sant’Anna observa: “Minas é um modo de ser e de estar”. A riqueza de Minas está inscrita no seu próprio nome – é um estado plural. Plural de montanhas, plural de minérios e de mineiros (...). “Os mineiros se divertem a si mesmos e aos demais falando da “mineiridade” (sabedoria) e da “mineirice” (esperteza)”. Na política, Benedito, Alkmim e Tancredo Neves ilustram esse anedotário. E outros se especializaram nessa irônica interpretação, como Guimarães Rosa, Drummond e Fernando Sabino. O próprio genro de Benedito Valadares, governador de Estado quando nos demais eram interventores, o que explica o jeito e a maneira de ser mineiro: “Ser mineiro é esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão para não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão em cumbuca. Não dar passo maior que as pernas. Não amarrar cachorro com linguiça. Porque mineiro não prega prego sem estopa. Mineiro não dá ponto sem nó. Mineiro não perde trem (...). “Evém mineiro. Ele não olha: espia. Não presta atenção: vigia só. Não conversa: confabula. Não combina: conspira. Não se vinga: espera. Faz parte do decálogo, que alguém já elaborou. E não enlouquece: piora. Ou declara, conforme manda a delicadeza. No mais, é confiar desconfiando. Dois é bom, três é comício. Devagar, que eu tenho pressa (...). Um Estado de nariz imenso, um estado de espírito: um jeito de ser. “Manhoso, ladino, cauteloso, desconfiado – prudência e capitalização”. Assim sendo, o homem de Minas deixa a viola da seresta e parte sem temor para uma revolução, como se fossem assemelhados. O que mineiro não aprova é perder a namorada ou uma batalha. Basta conferir na história, também varia em muitos setênios. Como disse Drummond, poeta e mineiro, “o Estado mais conservador da União abriga o espírito mais livre, porque a aparente docilidade esconde reservas de insubmissão, às vezes convertida em ironia”. |
Por Manoel Hygino - 21/12/2022 09:18:46 |
Quando Jesus nasceu Manoel Hygino Quem desejar conhecer mais a Bíblia sem se arvorar a dizer-se especialista, poderá seguir o meu exemplo: recorrer a “O livro de curiosidades da Bíblia”, de Pedro Rogério Moreira, ex-correspondente da Globo na Amazônia, embora uma coisa nada tenha a ver com a outra. O escritor, filho do ex-presidente da Academia Mineira de Letras, Vivaldi Moreira, e que lá o substituiu, esclarece sobremaneira quando se tem necessidade. Como estamos na semana natalina, resolvi consultar Pedro Rogério sobre o aniversário de Jesus. Ele respondeu incontinenti: Os evangelistas não informaram o dia, nem o ano, do nascimento do mestre. As pesquisas documentais e astronômicas mais atuais, algumas baseadas em referências históricas encontráveis nos Evangelhos, mesmo as meteorológicas e cômicas (como a aparição do cometa tido como a Estrela de Belém), informam que Jesus deve ter nascido no fim do ano de 748 de Roma, correspondente ao ano 6 da Era Cristã. Já é algo de precioso chegar-se à conclusão. Mas o escritor se julgou no dever de também perguntar: Por que a diferença entre o antigo calendário romano e o calendário cristão? Ele explica: Culpa cabe a um monge, chamado Dionísio, o Exíguo, a quem a Igreja solicitou que ficasse a data de nascimento de Jesus. E, segundo a “Vida de Cristo”, de Ricciotti, o Exíguo errou no cálculo astronômico, fixando-o no ano 753, e o mundo moderno aceitou e perpetuou o erro. Outro pormenor que se aprende: Os chamados reis que foram adorar o Menino Jesus em Belém não eram soberanos, mas magos - segundo o único evangelista a mencioná-los, em Mateus 2.1. A interpretação dos estudiosos indica que eram astrônomos persas procedentes do Oriente, ou seja, sacerdotes do zoroastrismo. Mais um pormenor: o evangelista não diz que eram três, nem os seus nomes não são citados. O Belchior, Baltazar e Gaspar foram dados pelo folclore dos primeiros séculos da cristandade, e os nomes “pegaram” e usados até este século XXI. Para finalizar: o profeta Isaías foi quem denominou o Cristo, na sua antevisão do nascimento do Menino Jesus: “Nasceu para nós um menino; o nome que lhe foi dado é Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz”. |
Por Manoel Hygino - 17/12/2022 07:26:44 |
O novo limiar Manoel Hygino Estamos no limiar de um novo ano. Limiar é uma palavra bonita, curta e sonora. É a porta de entrada, o começo, princípio. Realmente 2022 se está esvaindo, agonizante. Depois do fracasso fragoroso do Brasil, disputa de uma competição de esporte em que era considerado um dos maiores do mundo, tudo parece gris, cinzento, sobretudo para este povo que se formou no hemisfério Sul da América e sonhou com o melhor e mais promissor. E o escritor português Camilo Castelo Branco anotou em romance: “Não te digo que faças confissão pública dos teus erros, no limiar da Igreja”, a que outro conterrâneo acrescentaria: “Antes de qualquer ideia de desconfiança, coloque a sua comoção no limiar do raciocínio”, algo que soa como uma espécie de aconselhamento aos que alimentavam na Copa a expectativa de bom sucesso. Num mundo em que perpassam tantas incertezas, um novo começo é sempre portador de desconfiança. Daqui a pouco, instala-se um governo gerado por uma terrível dicotomia política, por polarização jamais tão poderosa após a Revolução de 1930 e, depois, pelos efeitos da de 1964, sobre a qual tanto se discute sem resultar em propostas positivas práticas. O que nos reserva a História depois dos acirrados debates eleitorais de 2022? O mundo atravessa difícil processo de tentativas de refazer-se no campo político, econômico, geográfico e social. Ainda persistem sinais de desavenças que podem conduzir a enfrentamentos bélicos, que admitem até a ação nuclear. Estamos numa terrível encruzilhada em que a guerra da Rússia contra a Ucrânia se tornou apenas uma experiência mal sucedida de conquistar quinhões de terra para favorecimento dos mais poderosos e ambiciosos. Segundo advertiu recentemente o jornalista Aylê-Salassié, o mundo poderá entrar em guerra logo. Os mandões nos países de maior expressão territorial e forças militares desdenham as consequências, protegidos pelos aparelhos do Estado. Quem vai sentir a sua cidade destruída, sua casa invadida, fugir das bombas e morrer é a população civil. Em um cenário como esse, a palavra perde o sentido assim como o cidadão os direitos enraizados na cultura e a própria terra de origem. Os líderes, perversos não se comprometem a respeitar limites, o próprio planeta, sem pensar na destruição e desolação que causam. |
Por Manoel Hygino - 13/12/2022 08:56:39 |
As capitais Manoel Hygino Belo Horizonte faz aniversário. São 125 anos desde sua inauguração naquele memorável 12 de dezembro de 1897, quando as atenções da República para cá se transportaram. Foi uma extensa campanha para a transferência da sede da capital do Estado para onde finalmente ela se implantou. O historiador Waldemar de Almeida Barbosa, que para que veio 1927, sublinho como se deu a importante medida, que constituiu verdadeira guerra que os ouro-pretanos se moveram contra a mudança. Uma comissão foi obrigada a ir ao Rio para procurar o Marechal Deodoro, presidente da República, para pedir sua interferência no sentido de impedi-la. Tamanho e tão sério ambiente de hostilidade da antiga Vila Rica contra os mudancistas, que o Congresso Mineiro se viu coagido a funcionar em Barbacena, a fim de decidir livremente. Mas o que é mais valioso, como ressalta Almeida Barbosa, é que a providência, isto é, a transferência, teve o mérito de salvar Ouro Preto. Caso a capital tivesse lá permanecido, a criação de órgãos administrativos, a ampliação de empreendimentos indispensáveis à gestão pública, teriam resultado no sacrifício de notáveis edificações arquitetônicas antigas, além de relíquias artísticas e históricas. São eles, aliás, que fazem da velha cidade, mais uma vez sob a direção do Prefeito Ângelo Osvaldo de Araújo Santos, a maravilha que atrai e recebe visitantes de todo o país e do exterior. Se Ouro Preto é, ainda hoje, o que é, deve-o inegavelmente a Belo Horizonte. A nova metrópole se tornou uma espécie de anjo salvador de Vila Rica, sucessora de Mariana como sede do governo. Daí, a responsabilidade social do belo-horizontino ao zelar pela nova capital. Está, por via de consequência, contribuindo para preservar o notável legado que o passado atribuiu à antiga capital, de insuperável grandeza como reconhecido por organismos internacionais. Não sem razão, Bouvard, chefe do serviço de urbanismo de Paris, declarou, em 1911, que cabe “aos poderes públicos apenas respeitar seu plano, e prosseguir na obra inteligentemente delineada”. |
Por Manoel Hygino - 10/12/2022 06:43:32 |
Sem nada para frente Manoel Hygino Um ano não apropriado à eleição para quem já está no poder. O presidente, cujo mandato está agonizante, que o diga. Bastaria lembrar que se computavam 33 milhões o número de pessoas passando fome. Mas recentemente, independente de Copa do Mundo, fica-se sabendo mais em torno de um problema essencial. Morrer por falta de comida na terra de Canaã não é algo admissível. O IBGE revelou que, no ano passado, 62,5 milhões de habitantes do país eram considerados pobres. Isso significa 29,4% da população total, que anda pelos 212,6 milhões. É muita gente, mas se deve advertir que, dos mais de 62 milhões de apenados por falta de alimento indispensável, 17,9 milhões viviam em situação de extrema pobreza, correspondendo a 8,4% da população geral. Dá dó, e ainda se deve levar em conta que ONGs, instituições filantrópicas e famílias bem intencionadas oferecem cestas básicas solidariamente, além de empresas que propiciam esse benefício a seus empregados. Os dados mencionados, aliás, refletem um quadro que se vem repetindo desde 2012, como ressalta a fonte. Agência noticiosa enfatiza que esses números deprimentes equivalem à população inteira do Estado do Paraná. E não é invenção de mentes interessadas em divulgar o que é ruim ou humilhante; são informações emanadas de instituição digna de confiança e oficial. De fato, o IBGE levanta os dados e analisa estatísticas em específicas áreas, como padrão de vida, trabalho e saúde, visando oferecer suporte técnico para as ações de governo. O Instituto observa que a evolução negativa para os carentes resultam da diminuição dos valores de socorro, a despeito da propaganda exposta principalmente pelas televisões. Por outro lado, o crescimento de percentuais negativas de pessoas assistidas provenha da retomada incompleta do mercado de trabalho. Em resumo, o retorno das atividades econômicas não foi suficiente para impedir a perda de rendas e salários à época. Há mais um dado que se deve expor: o percentual de crianças de até 14 anos abaixo da linha de pobreza alcançou 46,2% no Brasil, o que é extremamente desalentador e inquietante. Como se comportará esse continente humano a partir das idades seguintes? |
Por Manoel Hygino - 7/12/2022 09:36:21 |
E agora, fazer o quê... Manoel Hygino Eu me pergunto: como se sentiriam o presidente Artur Bernardes e o imenso poeta Carlos Drummond de Andrade no momento histórico que Itabira e Minas ora atravessam diante da expressiva redução da produção de minério de ferro pela Companhia Vale do Rio Doce? Não se ignora e não se pode esquecer que a empresa é responsável por grande parte da arrecadação de tributos nas terras da velha província e pela ocupação de milhares de brasileiros. Mas a situação agora é muito diferente da época do antigo presidente do estado e da nação. E a situação não é das mais confortáveis, a julgar pelos dados contidos nos relatórios oficiais. E não se poderá esquecer as informações por eles oferecidas. A primeira é que a produção de minério de ferro em Minas registra uma queda, até certo ponto esperada, mas sumamente grave para uma unidade da Federação que muito já sofre pelas novas demandas da população e por tantas outras que cabe ao poder público resolver. Nossa produção do minério revela um declive notável, pois chegou a 36,3% entre 2017 e 2021. Significa que de 194,9 milhões de toneladas baixou para 141,1 milhões, isto é, mostrando uma diminuição de 70,8 milhões. Isso, em resumo, equivale a todo o complexo Sudeste em 2021, que compreende a produção de Mariana, Itabira e Minas Centrais. São fatos e números dolorosos para a economia mineira, exatamente quando não se sabe o que nos reserva nossa economia. Consequentemente, milhares de pessoas perderão seus vínculos empregatícios com a Vale em Minas. Em números frios são 20 mil, evidentemente com suas famílias e as perspectivas de futuro promissor. É uma realidade que não se deveria esquecer, porque há décadas o minério era retirado e já sofria os efeitos da exploração. Para a Vale, nada de doer. Ela tem reservas em outros estados, a começar pelo Pará, que também oferece um produto de melhor qualidade que o nosso. Eis a hora de perguntar ao poeta maior: e, agora, José? |
Por Manoel Hygino - 6/12/2022 08:42:25 |
Perigo à vista Manoel Hygino Há uma lastimável, sob todos os aspectos, onda de violência perpetrada por adolescentes em cidades do país. Minas não ficou de fora destes registros e ocorrências, que geram natural inquietação entre os brasileiros, porque surgem rotuladas pela aparência ou sinais de verdadeiro neonazismo. Em uma cidade do Espírito Santo, vidas de jovens estudantes de dois educandários e de professores foram ceifadas a tiros. Em escola de Contagem, seus bens foram danificados amplamente, enquanto símbolos nazistas foram desenhados nas paredes. Sabe-se que os envolvidos poderão responder por vandalismo e racismo, por exibirem mensagens de ódio. As provas estão à vista, assinaladas por mensagens suásticas, em flagrante desrespeito à lei 7.716/ 1989. As autoridades, como não poderiam deixar de ser, foram despertadas para o problema e desenvolvem investigações. Estas exigem cuidados especiais por serem os autores menores, possivelmente impelidos por terceiros, talvez os próprios pais ou responsáveis. Agora, acabo de ler em jornal o caso de um adolescente de 14 anos, flagrado com martelo e machadinha em uma escola da rede estadual de Ubá. Ele teria confessado aos policiais que pretendia realizar um massacre, inspirado em vídeos da rede social, Tik Tok. Na sua mochila, encontrou-se caderno com desenhos de bonecos se atacando, além de bilhete com os dizeres: “Vou fazer massacre com um machado e martelo”. Depreende-se que o problema é bem mais amplo do que se julgaria, fazendo-se indispensável que as autoridades ajam com cuidados, mas também com a firmeza e Lucidez impostos pelas circunstâncias. Tem-se de admitir que não somente os partidários e fanáticos do nazismo de décadas atrás estão por detrás de projetos contra o Brasil e os brasileiros. Há adversários ideológicos, mas também equipamentos comerciais prontos a pôr em risco a nossa juventude e, por extensão, os planos e sonhos de grandeza da pátria. Não podemos ignorar que, consoante a realidade, o Brasil vive uma situação alarmante em termos de violência de suas crianças. Entre 2020 e junho de 2022, pelo menos 4.279 crianças e adolescentes sofreram violência só em Minas Gerais. Assim mesmo, considerando apenas os 178 municípios do Estado, em que os Conselhos Tutelares usam o sistema que computa dados. |
Por Manoel Hygino - 3/12/2022 07:24:30 |
Hora da decisão Manoel Hygino Durante vários dias, o Brasil parou – quando não andava já bem das pernas – para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Futebol é um esporte que agrada aos nascidos nesta parte do planeta que se localiza no hemisfério Sul das Américas, o Novo Mundo celebrado não apenas por Colombo. Na primeira partida, tudo bem. A seleção, dita Canarinha, derrotou o contendor por 2 a 0. E agora? Em verdade, a população deste território está preocupada com o valor das mensalidades escolares e com os preços dos comestíveis nos supermercados e feiras-livres, ou não livres. Eles andam pela hora da morte (para usar a expressão popular), até porque os valores são muito elevados para quem precisa alimentar famílias mais numerosas. Os integrantes da comissão de transição no âmbito do governo federal se estagnam sem definir por esta ou aquela proposta defendida na enorme comissão constituída. Os membros de mencionado órgão parecem estar em dúvida, como aquele vendedor de abóboras do interior mineiro: não sabem se são a favor ou contra aquela medida, antes pelo contrário. Sabedoria de roceiro, que não é bobo, não senhor. No final de contas, os técnicos consideram que as desigualdades sociais, regionais e de renda no Brasil contribuem para perpetuar uma estrutura de baixa mobilidade social no país. Esta situação dificulta a ascensão dos mais pobres e assegura a permanência dos mais ricos, os privilegiados, no poder. Fazer o quê? Até o início efetivo da gestão do novo presidente, muita água vai correr sob a ponte da vida nacional, possivelmente engrossando o caudal viscoso dos preços de artigos de primeira necessidade. Quem viver, verá. O economista Breno Sampaio, autor, ou um dos autores de estudo em questão, comenta: “Uma parte do Brasil sustenta o discurso de que, se você se esforça na vida, você se dá bem”. Outro economista opina: “Somos uma sociedade bastante desigual em termos de oportunidade. O esforço não significa sucesso”. Ainda, segundo os pesquisadores: “o papel da educação parece ser central na determinação da renda futura das crianças. E a qualidade do ensino tende a explicar as diferenças regionais. Um dos indícios é a constatação de que quanto mais novos são os filhos no momento da migração, maior é o impacto da mudança sobre sua renda futura”. E a interrogação se mantém. Os pesquisadores recorreram dados e pareceres técnicos de vários países e organizações internacionais. Agora é esperar e rezar. |
Por Manoel Hygino - 30/11/2022 09:50:07 |
Esperando o BID Manoel Hygino A eleição de Ilan Goldfajn à presidência do BID tem dado o que falar, e se compreende perfeitamente. Embora o nome, ele é brasileiro e personalidade conceituada nos altos negócios do Brasil. Sabe-se que o BID é importante fornecedor de crédito para países da América Latina e Caribe e, para chegar ao mais elevado posto da instituição, Goldfajn teve de enfrentar poderosos grupos e personalidades no mundo do dinheiro e do empresariado, inclusive os interesses de outros governos pretendentes ao cargo. Desenvolto e rápido na manifestação de suas posições nas áreas que enfrentará, como já demonstrou no Banco Central, de que foi diretor, o novo presidente do BID não se deixou envolver pelas opiniões e manifestações daqueles que são contra seus pontos de vista. Ele sabe o que pensa e o diz com competência e argumentação de hábil contendor. O que o move agora é o poder que adquiriu, ao ascender à presidência com 80% de votos do seleto eleitorado, sem se misturar com outros possíveis técnicos da área econômica. Não se trata, no caso específico, de uma Copa do Mundo, do lado de cá do planeta. Ilan conhece o que tem em suas mãos. Apenas para o setor público, o BID dispõe de uma carteira de empréstimos de US$ 14 bilhões. Para a área privada, há uma divisão como a BID Investe, com aproximadamente, US$ 4,53 bilhões disponíveis. Não é só: por sua BID Lab, há US$ 100 bilhões, que as destinam a financiar startups, que andam tão em moda internacionalmente. As nações das Américas e do Caribe especialmente estão de olhos gordos nestes créditos. Não se esqueça, ademais, que uma das maiores negociações com o BID e o Brasil se concretizou com Minas Gerais, durante o mandato do governador Israel Pinheiro. Foi a de financiamento do Planoroeste o mais elevado empréstimo aos países representados no Banco, naquele período. Recordo que, então Israel ressaltava o significado dos 145 milhões de cruzeiros aplicados de 1970 a 1975 pelo BID, enquanto o governo mineiro entraria com igual importância para concretização do projeto anunciado. Seria oportuno que se inspirasse no passado e se avaliassem os resultados do projeto e da opção dada pelo BID naquela oportunidade. Um novo estado surgia naquela extensa região de Minas, abrindo expectativas para novos e vultosos empreendimentos. Os bons exemplos se encontram evidentemente no pretérito. |
Por Manoel Hygino - 29/11/2022 09:39:39 |
Oito bilhões mais Manoel Hygino No dia em que o Brasil comemorou mais um aniversário de Proclamação da República – 15 de novembro de 2022 -, a população mundial fez um registro: passou para 8 bilhões de pessoas. A imprensa pôde aproveitar o fato único, utilizando todos os meios de que dispunha. E o fez bem. A Organização das Nações Unidas deu ênfase ao título, com justas razões. A entidade considerou “um importante marco no desenvolvimento humano”, mas ressaltou também “nossa responsabilidade compartilhada do cuidar de nosso planeta”. São obvias as razões, a partir do fato de que “esse crescimento sem precedentes é resultado de um aumento progressivo da expectativa de vida, graças aos avanços em saúde pública, nutrição, higiene pessoal e medicina”. Os avanços que conduziram à nova cifra apresentam ou representam deveres, dando continuação ao esforço que vinha de 1950, quando o planeta abrigava 2,5 bilhões de habitantes. Foi uma grande vitória, mas estabeleceu uma nova cadeia de deveres à humanidade. E a própria organização internacional, a ONU, advertiu para os enormes desafios para os países mais pobres, onde a evolução demográfica é mais acentuada. Há de dar-se atenção ao fato e suas resultantes. O planeta ultrapassa a casa dos 8 bilhões de habitantes em meio à Conferência Mundial do Clima, a COP 27, no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, por exemplo. Os países ricos medem seus deveres, porque eles são os maiores responsáveis pelo aquecimento global, e também dos pobres, que pedem ajuda para enfrentá-lo, de chegarem a um acordo para reduzir de forma mais contundente as emissões de gases de efeito estufa derivadas das atividades humanas. Uma pesquisadora da ONU foi enfática: “Nosso impacto no planeta é determinado muito mais por nosso comportamento de que por nossos números”. Traduzindo: teremos de trabalhar e produzir muito mais para dar conta do recado, milhões de bocas que exigem mais alimentos e milhões de corpos mais assistência. Ainda bem que não somos a Índia. Esta, com 1,4 bilhão de habitantes, superou a China e já é o país mais habitado do mundo. Neste fim de ano, cabe-nos, pois, meditar sobre o que cada habitante da Terra precisará fazer para diminuir o impacto da nova ordem das cousas. Ou, então, caminhar fragorosamente para o destino final, para o qual nós estamos preparando nuclearmente. Não se trata de um mero aviso, mas de uma tragédia amplamente anunciada. Cada homem de nosso tempo e desta hora tem grave responsabilidade nesta emergência. O destino da humanidade está nas mãos de cada um e de todos. |
Por Manoel Hygino - 23/11/2022 09:55:07 |
A boa lição Manoel Hygino Estamos nos dias quase finais de 2022, vivendo os momentos ainda renitentes do pleito eleitoral, quando já se suponha que o assunto estivesse morto e sepultado. Não aconteceu assim, embora o distinto público que elege seus mandatários desejasse paz para devotar-se a seus fazeres e enfrentar suas responsabilidades na comunidade. Assim se faz em uma democracia que se preza. Persistem as tentativas de impedir as pessoas de ir e vir, o que é essencial direito do cidadão. Há legislação específica e a ela se submete aquele que se diz patriota e democrata. Para conhecer o caminho a ser percorrido há experiências em países do planeta e, no Brasil, já as provamos e aprovamos, ou os reprovamos. O mundo atravessa um período difícil, um dos mais preocupantes de toda a história da humanidade, em que o risco e o medo de uma guerra nuclear estão muito próximos. O arsenal atômico perpassa sobre todas as cabeças e corações, como uma perigosa e plúmbea ameaça. Não podem as nações como o Brasil ignorar os fatos como são e as ameaças permanentes em torno de nós. Não vamos atear fogo ao palheiro. A vida de milhões está em jogo, a começar pela nossa, de nossos filhos, ancestrais, vizinhos de casa e por limitações geográficas. Ademais, é útil lembrar que o Brasil é o maior país do hemisfério Sul do novo mundo. Temos graves deveres perante a História e sucessivas futuras gerações. Temos obrigação, dar exemplo de bom comportamento, como se diz nas aulas de cursos preliminares. O mundo, o planeta e tudo que nele vive estão em processo de evolução, que pode ser para o bem e o mal, cabendo aos brasileiros de hoje, nos instantes atuais, definir-se para a hora presente o tempo vindouro. Não é lícito fazermos coro aos discursos de ódio e belicosidade que se fazem em hora dramática para o porvir de nossas nações e nossos povos. As melhores lições e pregações são pela paz e pelo amor. Já vivemos períodos dolorosos e pérfidos de ditadura. Estamos em democracia desde 1985. Vamos honrá-la e dar-lhe força e grandeza. |
Por Manoel Hygino - 19/11/2022 08:41:50 |
Foi em 1889 Manoel Hygino O 15 de novembro passou, neste 2022. Mas, não se pense que a transição da monarquia para a República foi tão simples. Considerou-se deposta a dinastia imperial e, consequentemente, extinto o regime monárquico. Então se constituiu um governo provisório, que adotou as medidas no caso indicadas. Então, o novo governo expediu um documento à nação, que merece ser lido agora neste ano. A proclamação dizia: “O povo, o Exército e a Armada Nacional, em perfeita comunhão de sentimentos com os nossos concidadãos residentes nas províncias, acabam de decretar a deposição da dinastia imperial e, em decorrência, a extinção do sistema monárquico – representativo”. Acrescentava: “Como resultado imediato desta revolução nacional, de caráter essencialmente patriótico, acaba de ser instituído um governo provisório, cuja principal missão é garantir com a ordem pública a liberdade e o direito dos cidadãos”. Estavam suficientemente definidos os objetivos fundamentais. Não cabia dúvida. Era o período de transição, mas tudo muito às claras: “Para comporem esse governo, enquanto a nação soberana, pelos seus órgãos competentes, não proceder à escolha do governo definitivo, nomearam-se cidadãos de conduta sabidamente digna”. Os nomeados ficavam cientes de que o governo provisório “simples agente temporário da soberania nacional”, é o governo da paz, da liberdade, da fraternidade e da ordem. Por força dessa determinação, “para a defesa da integridade da pátria e da ordem pública, o governo provisório, por todos os meios ao seu alcance, promete e garante a todos os habitantes do Brasil, nacionais e estrangeiros, a segurança da vida e da prosperidade, o respeito aos direitos individuais e políticos, salvas quanto a estes, as limitações exigidas pelo bem da pátria, e pela legítima defesa do governo proclamado pelo povo, pelo Exército, pela Aramada Nacional”. E mais: “o governo provisório reconhece e acata todos os compromissos nacionais contraídos durante o regime anterior, os tratados subsistentes com as potências estrangeiras, a dívida pública externa e interna, os contratos vigentes e mais obrigações legalmente estatuídas”. É o que se pode fazer agora, mutatis mutandis. |
Por Manoel Hygino - 16/11/2022 10:39:51 |
O nosso petróleo Manoel Hygino Os excelentes dividendos distribuídos aos acionistas da Petrobras adverte-nos para o que constituiu a luta pela criação e implantação da empresa no país. Foram décadas de tenacidade dos defensores da ideia, enquanto numerosos insistiam na tese de que não havia petróleo por aqui no que eram fortalecidos pelos grandes grupos internacionais de exploração e distribuição do ouro negro. Naquela época, os estudantes se engajaram na difícil empreitada. Em Belo Horizonte, a campanha do “Petróleo é nosso” encontrou cenário apropriado nas proximidades da Faculdade de Direito e Praça Afonso Arinos. Faixas foram estendidas entre os postes e houve tardes e manhãs de veementes discursos. O repórter Edgar Morel, do jornal O Cruzeiro, nunca havia visto um poço de óleo e foi ao Recôncavo Baiano, onde surgira oficialmente o petróleo em solo brasileiro, em 21 de janeiro de 1939. Deveu-se à teimosia de Oscar Cordeiro, com 1,55 de altura, pobre, mas que acreditava existir óleo no Recôncavo, apenas 30 quilômetros de Salvador. Para sua aventurosa empreitada, Oscar recorreu ao que havia de mais antiquado em termos de ferramentas da época e máquinas que, de tão velhas, só poderiam ser encontradas na Abissínia, e olhe lá, disse Morel. É preciso observar que isso caminha para 100 anos, pois, em 1933, quando perfurava o poço que se dizia de Lobato, e de onde Oscar viu aquela “coisa”, visguenta, jorrar. Então, os jornalistas Lourival Coutinho e Joel Silveira puderam constatar o fenômeno, pois viram Cordeiro encharcar as “próprias mãos, embriagados de patriotismo”. Parecia algo tão importante quanto descobrir o Brasil. Depois do acontecido, Oscar Cordeiro tomou coragem e se dirigiu ao Ministério da Agricultura para levantar recursos e continuar as pesquisas, utilizando — assim esperava — sondas e brocas. Acabou alijado do programa e até proibido de entrar no acampamento. Edgar Morel observou: “o Conselho Nacional do Petróleo reiniciou a perfuração do poço e Getúlio anunciou a descoberta de petróleo no Brasil, ficando famosa sua fotografia mostrando a mão suja de óleo negro”. O jornalista insistiu. Queria conhecer o pioneiro Oscar Cordeiro. Encontrou-o atirado à miséria, empregado na Bolsa de Mercadorias de Salvador, com o ínfimo ordenado mensal de R$ 4 mil. Os técnicos concluíram que o poço era produto de má-fé e desídia, que atrasara em cinco anos o início da exploração petrolífera no Brasil. Conseguiram desacreditar Oscar, o pioneiro. |
Por Manoel Hygino - 14/11/2022 08:41:56 |
Brasil no mundo Manoel Hygino Enquanto os navios de cruzeiro chegam à costa trazendo muitas centenas de turistas procedentes de vários países a visitar a terra descoberta ou encontrada por Cabral em 1500, meditamos sobre o que aqui encontrarão. Em verdade, não vivemos no melhor local do planeta, mas não desconhecemos tampouco a situação de enormes dificuldades enfrentadas pelos demais países, até considerados mais ricos, poderosos e, talvez, mais felizes. O mundo está tomado por problemas gravíssimos, não somente os de natureza econômica. Ainda não se descobriu um meio – ou mais de um – para viver em paz. Haja vista não apenas a insana guerra iniciada por Moscou com a Ucrânia já vai fazer um ano, para a qual não se prevê fim. Este depende, ou dependeria, principalmente da disposição de Wladimir Putin, que não se dispõe a abdicar de sua ambição de poder. Em outro território do planeta, os países ensaiam interminavelmente uma guerra efetiva com mísseis cruzando os céus e concorrendo com outras naves de grande poder ofensivo, missões que não se pode adivinhar como e quando chegarão a término. Afinal, com que sonham ou o que pretendem esses países, que poderiam oferecer notável contribuição a um mundo de tranquilidade em que bem se entendessem seus povos. E se sabe que ponderável parte do planeta Terra ainda é habitado por milhões de pessoas que desejam apenas paz, saúde e um pouco de alimentação, neste que é o vigésimo-segundo ano de um século, que poderia destinar mais de bens e serviços que fizessem parte da humanidade menos desventurado. Assim caminha a humanidade, em meio a desigualdades crônicas, que os lideres não conseguem eliminar. No Brasil, sabe-se que ser mulher, preto ou pardo diminui as oportunidades de ascensão social e realização pessoal. E há vias e meios de consegui-lo. Enquanto os passageiros descem no litoral brasileiro para uma temporada feliz por aqui, enfrentamos nossos dramas que podem ser avaliados pelas estatísticas, que desfazem a ansiedade internacional em busca de férias reconfortantes. |
Por Manoel Hygino - 9/11/2022 09:01:28 |
Drummond sempre Manoel Hygino O Brasil comemora, este ano, o centenário de ilustres filhos seus. Entre eles, dentre muitos já focalizados e outros que o serão no decorrer dos meses faltantes, de dois que nasceram nas montanhas. Nas montanhas, sim: Juscelino, que é de Diamantina, e Carlos Drummond de Andrade, de Itabira, e o topônimo define o suficiente. Neste 2022, de tantas e tamanhas incertezas e de desagradáveis e perigosas certezas, em que a Covid-19 ameaça com uma nova e dramática da nova onde anunciada pelo coronavírus, tem-se assistido às acanhadas festividades de doze décadas do filho de D. Júlia, mas também, e com toda razão, de Drummond, com dois dês, como consta do batismo e do registro em cartório. Nem as criminosas enchentes e respectivas mortes em Petrópolis, nem tantos sucessos e insucessos de acontecimentos que marcaram o calendário, foram obstáculos ao que se tem dito e publicado, inclusive pelas televisões, para lembra o poeta. Ele é gloriosamente lembrado em livro de Humberto Werneck, cujo conteúdo já é ansiosamente aguardado pelos intelectuais e escritores cá de nossa fecunda terrinha. Stratford-upon-Avon agora se transportou para o interior mineiro, porque lá veio à vida e às letras brasileiras Drummond, o mais popular dos que fizeram poesia por aqui no século passado. Fazendo estreia no ano em que nasci, com “Alguma Poesia”, ele conquistou lugar ao sol e à lua na cidade em que JK foi prefeito, para ascender ao Palácio da Liberdade e construir uma cidade extraterrestre no planalto. Sem deixar de ser poeta, o que seria impossível, Drummond foi um arguto presente em todos os movimentos e momento marcantes da vida brasileira, sem medo de qualquer natureza. Em plena revolução, a de 64, ele disse: “O maior erro de um Presidente da República, em nosso sistema de governo, está em considerar-se dono do País e de seus habitantes. Esquece-se de que é um servidor – um servente de ajuda no trabalho – como outros, e até mais tolhido e desamparado do que os outros, em seu período livre de exercício e na imensidão de obrigações que deveriam assustá-lo em lugar de enchê-lo de arrogância. É preciso muita lucidez, muita polícia íntima, para que o presidente se ponha no seu lugar, aparentemente o mais alto de todos e, no sentido moral, tão frágil e escravizado à lei quanto o de um mata-mosquito”. Drummond nos deixou em 17 de agosto de 1987, dez anos antes do centenário de sua Belo Horizonte. |
Por Manoel Hygino - 8/11/2022 09:05:25 |
Eis a Venezuela Manoel Hygino Para o que caminha a Venezuela? Por um expressivo período de sua existência independente, até onde esta possa ser como tal considerada, o país viveu em sobressaltos. Sua população sofre desde sempre e os grandes grupos de pessoas que fogem para os países vizinhos quer apenas viver em paz e alimentado. O que se vê presentemente, com multidões escapando para o Brasil principalmente, é uma amostra do desamparo e fuga incessante em busca de um pouco de felicidade. A história política da nação ao Norte merece ser conhecida para ser devidamente avaliada e julgada. Tempo houve em que se afirmava que, independentemente de dimensões geográficas, os países mais representativos da América do Sul, eram Venezuela e Uruguai. O primeiro pela riqueza que fulgurava com exploração de grandes poços de petróleo na região do Lago Maracaibo; e o segundo, pela altivez e nível educativo de sua população, que jamais se dobrou ao poderio dos vizinhos mais fortes. Na ditadura de Pérez Jiménez (e eu passei por lá à época), a Venezuela, beneficiando-se dos enormes ingressos de petrodólares, já figurava - como registra Carlos Taquari - como um dos maiores produtores de petróleo do planeta. Com população de apenas 6,5 milhões de habitantes e PIB de 5,8 bilhões de dólares em 2010, sua população alcançou no período a maior renda per capita da América Latina. Nas ruas de Caracas, havia um desfilar de carros de luxo importados, embora a maioria não se beneficiasse com os resultados fantásticos da exportação do ouro negro. O governo se valeu da situação e construiu obras suntuosas. Verbas para saúde a educação eram minguadas, embora atendessem às demandas dos militares no poder. Favelas surgiam e cresciam. Conjuntos habitacionais erguidos com dinheiro público se transformaram em cortiços. A agricultura ficou em plano inferior. Triste período da história! Quando Pérez Jiménez caiu, em 1958, ouve uma sucessão de caudilhos. Viveu-se uma pausa por somente 10 meses, em 1948. Para se ter uma ideia mais correta, bastaria lembrar que o próprio Simón Bolívar, que comandou a fase final da luta pela independência, se viu na obrigação de sair afastado por um golpe militar. Hoje, quem está sucedendo a Hugo Chávez, um dos caudilhos proclamados, é Nicolás Maduro, obrigando a população já tão sacrificada à abdicação de seus anseios e sonhos, ao preço da miséria e morte. |
Por Manoel Hygino - 5/11/2022 07:35:12 |
As casas de Neruda Manoel Hygino Não acontece apenas no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo, entristece a notícia que leio nos jornais. A Fundação que administra o legado do poeta chileno e Prêmio Nobel de Literatura, Pablo Neruda, está fazendo um veemente apelo visando a levantar ajuda para manter o funcionamento de suas antigas casas, hoje casas-museus, em sua pátria. Neruda se consagrou como um dos maiores poetas do mundo em seu século, e não foi por favor algum que a Academia Sueca lhe prestou a homenagem, sonhada pelos maiores autores do planeta. Também diplomata na gestão do comunista ou socialista Salvador Allende (1970 – 1973) gozava de prestígio universal, independentemente de posição ideológica. Sua criação estava sobre tudo e todos. Visitadas, carinhosamente pelo jornalista e advogado Paulo Narciso, as casas-museus eram preciosas para Neruda, nascido no bosque andino, como gostava de enfatizar. Lá, viveu a infância, como relata em apreciada autobiografia – “Confesso que vivi”. De lá partiu, sem apresentações e companhia pelos caminhos do mundo, mesmo se sentindo perdido na cidade. Começou, assim sua rocambolesca imersão no universo da cidade grande enfrentando dificuldades e desejos. Como vagabundo, desceu na cosmopolita Valparaiso, um caminho sem volta. A partir daí, conhece gente de toda espécie e natureza, percorre as Américas, aproxima-se de nomes já consagrados no meio literário, participa de congressos políticos, desembarca na Índia, acercando-se de pessoas que considera “desventurada família humana”. Em suas memórias, constituem alguns dos melhores trechos, pela natureza das descrições e das pessoas que com ele conviveram. Ele próprio confessa: “Estas memórias ou lembranças são intermitentes e, por momentos, me escapam porque é exatamente assim. A intermitência do sonho nos permite suportar os dias de trabalho. Muitas de minhas lembranças se toldaram ao evoca-las, viraram pó como um cristal irremediavelmente ferido”. Os que sonhariam visitar o Chile para conhecer as casas-museus poderão ficar desencorajados diante do seu possível fechamento, embora pontos turísticos importantes para apreciadores do notável poeta. Sobre ele e sua produção, muito falávamos durante minha época de Montevideo com o também poeta, Ruben Romero Arenillas, que não mais está entre nós. Ou cá nos Brasís, com o excelente ser humano e homem culto, que foi Abílio Machado Filho, secretário do governador Milton Campos, que não deixou de trazer livros inéditos por aqui, focalizando o vate da Isla Negra. |
Por Manoel Hygino - 3/11/2022 09:27:22 |
Números espantosos Manoel Hygino O Brasil amigo e cordial, que atraía pessoas de todo o mundo para conhecê-lo, não existe mais. A onda de violência que invadiu todos os estados, as capitais e cidades de maior dimensão geográfica e populacional, tanto quanto os menores distribuídos por todo o território, foram contaminados pela intolerância, pela bandidagem, pela violência, flagrante nos veículos de comunicação. Embora esforços das autoridades, resultados positivos em favor da tranquilidade e da paz que deveria gerar convivência saudável entre seres humanos, não produziram bons frutos. É o que dizem as estatísticas, que realmente não deixam mentir. Nossas cadeias e todo o tipo de presídio estão cheias de detidos e prisioneiros, passando por violação massiva de direitos, como se sabe. Mas milhares de outros infratores estão soltos, pelas ruas, praticamente impedindo a ir e vir dos cidadãos de bem, um fundamento da democracia. Instrumentos foram criados nas últimas décadas, como lei Maria da Penha e antidrogas. No entanto, mulheres seguem vítimas de toda sorte de sevícias, sem se conseguir sequer amenizar o quadro ignóbil a que assistimos. Permanece uma situação de violação massiva e generalizada de direitos fundamentais que afeta um número enorme de pessoas. Quanto às drogas, bastaria acompanhar por jornais, rádios e televisões a imensidão de toneladas, desde a maconha à cocaína e heroína, que circulam por nossas rodovias, portos e aeroportos, diariamente, sem que os vigilantes da lei consigam apreendê-las, sequer intimidar os criminosos, que agem em escala internacional. Que fazer? Como fazer? Quem se der ao cuidado de recorrer aos números da delinquência e do crime em escala internacional, constatará que estamos em posição de destaque, ocupando os lugares principais em assaltos, roubos, sequestros, homicídios, feminicídios, sem que se alcancem os objetivos colimados. Até quando? Em 1992, época de Carandiru, o Brasil contabilizava 114,3 mil detentos, segundo órgão oficial federal. Quase 30 anos após, em dezembro de 2021, eram 835.643 pessoas com algum tipo de restrição de liberdade, isto é, 0,5% da população adulta. E a situação piorou. |
Por Manoel Hygino - 1/11/2022 09:06:37 |
Reflexões de após Manoel Hygino Ao fim e ao cabo da campanha eleitoral de 2022 no Brasil, pergunto-me preocupado com o futuro: Acabou mesmo? Certamente, ninguém afirmará que sim, num raciocínio em plena consciência. Marcas profundas resistirão à tênue limitação definida pela legislação. Da audiência e assistência visual ou presencial dos acontecimentos dos últimos meses participaram homens e mulheres, de extensa gama de idades, de formação educativa familiar e religiosa, de convivência diversa, de múltiplas origens e disposições psicológicas, que receberam as informações e debates de maneira diferenciada. A multiplicidade de fontes nos tempos atuais terão influenciado estes segmentos do povo de modo também diversificado e até antagônico. A imprensa como tal, como sonharam na divulgação de texto impresso em papel, partiu para novos rumos e caminhos a partir das novas ferramentas e instrumentais por via eletrônica. Os jornais, revistas e livros engolidos por novos meios, impensados há um século, há dezenas de anos. O pensamento expresso não é de um autor, de um grupo ideológico, porque a disseminação se tornou acessível a um número cada vez mais crescente de indivíduos. E, como resultado inevitável, vieram as redes sociais, que facilitam a interlocução e a propagação a distantes regiões, mesmo em outras línguas, provavelmente escapando ao escopo primeiro e fundamental. Estamos chegando cada vez mais longe, mas nos estamos entendendo efetivamente? Nossas palavras e mensagens estão alcançando o público alvo? Indagações inúmeras e complexas são formuladas, sem talvez atingir seu objetivo inicial. Além da eleição dos candidatos preferidos da maioria da população o que restará após 30 de outubro? Gerações e séculos aguardam respostas, que podem não vir. O manancial infindo de informações, de toda natureza, se terão perdido de vez no caudal do tempo? São dúvidas inarredáveis e cruéis. E a imprensa, e seus utilizadores para propaganda de ideias e ideais podem ser interpretados erroneamente para gáudio e proveito pessoal ou grupal dos que querem e sabem utilizar-se da ferramenta para propósitos escusos e perniciosos. |
Por Manoel Hygino - 31/10/2022 08:51:49 |
No tempo do Jair Manoel Hygino Pedro Rogério Moreira está com novo livro na praça. Enquanto muitos se dedicaram no pós-pandemia a um retrospecto dos dias amargos que a Covid-19 nos coagiu, o escritor mineiro usou sua inspiração e capacidade de produzir a completar uma trilogia iniciada com “Memórias da Diverticulite” (Thesaurus Editora, 2019) e “O livro de Carlinhos Balzac” (Topbooks, 2021). Se o fez, é porque os dois anteriores alcançaram o êxito que mereciam. Boni, o poderoso líder da Globo, isto é, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, na última capa da edição, dá o tom do que os leitores encontrarão em todos os livros de Pedro Rogério Moreira. “Livros fazem parte do enredo. Esta é uma das duas características da obra do escritor que na mocidade foi meu brilhante repórter na Globo; a outra é a escrita confessional, às vezes a ficção se misturando com a realidade autos biográficos”. Assim é, de fato. E Pedro Rogério dá um passo a mais no tempo, retroagindo à época em que foi balconista da Livraria Itatiaia, na rua da Bahia, em Belo Horizonte, ponto de encontro obrigatório do que se considerava a fina flor da literatura na metrópole dos mineiros. Assimilou imensamente então, conviveu muito, e com pessoas que poderiam acrescentar-lhe à carreira a que se devotaria na imprensa e na literatura. Não a toa integra a Academia Mineira de Letras. “Helô, Diário de uma paixão secreta” é o nome do trabalho. Conta a história de Toninho, empresário aposentado, viúvo sem filhos, morador do Rio de Janeiro, que conhece e se apaixona por uma jovem de 28 anos, bela executiva, que também reside nas imediações e com quem faz passeios lá pelos lados do aterro do Flamengo, em pleno século, sendo presidente da República Jair Messias Bolsonaro. Bom de conversa, arguto, relacionado com os moradores do mesmo prédio, vive-se o ambiente adequado e conveniente a bons relacionamentos, de que participam um almirante reformado, a mana do protagonista e uma jovem que com eles mora, além dos personagens que emanam dos dois romances anteriores. Formado o elenco, urde-se a trama, das mais inteligentes, atraentes, em que um dos episódios mais marcantes é o desaparecimento de Helô, o que obriga Toninho a uma perigosa busca nos becos tortuosos da favela da Rocinha. Não cabe descrever tudo. Melhor mesmo é ir à leitura e lembrar também os bons tempos da Cidade dita Maravilhosa. |
Por Manoel Hygino - 25/10/2022 09:04:08 |
Nossas finanças Manoel Hygino Em junho, tivemos a ventura de publicar que, segundo o Banco Central, a atividade econômica no Brasil tivera alta de 0,69% no mês, comparativamente a maio. Desconsideravam-se os feriados e a oscilação relativas aos feriados, oscilação das atividades típicas de determinadas épocas do ano. Como a alegria é perene, a situação mudou. A economia brasileira mostrou queda em agosto e interrompeu uma sequência de duas altas mensais, conforme o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). O indicador caiu 1,13%, considerando a série livre de efeitos sazonais. Em julho, a alta havia sido 1,67%. Nem tudo, entretanto, estava perdido. O indicador do Banco Central desde agosto, em face do mesmo mês de 2021, manteve-se dentro do intervalo projetado pelos analistas do mercado financeiro, que esperavam de avanço financeiro de 2% a crescimento, mas abaixo da medida positiva de 5,1%. Vale dizer, não estamos no melhor dos mundos, mas resta-nos aguardar com otimismo o restante do ano. Em pouco mais de três meses, há o que fazer, até porque o Boletim Focus deu a boa nova de melhora marginal da estimativa do crescimento do Produto Interno Bruto em 2022. A previsão da alta do PIB, no presente exercício, passou de 2,70% para 2,71% contra 2,65% há um mês. Enquanto isso, economistas do mercado financeiro mantiveram a previsão de superávit da balança comercial em US$ 60 bilhões, antes US$ 65 bilhões de um mês atrás. Do jeito em que se encontram as finanças do Brasil e do mundo, em que até a China inspira dúvidas, o melhor mesmo é aguardar. Nada que aconteça surpreenderá. Às nações compete produzir e, além de economizar, agir com prudência a fim de evitar que a situação se agrave, obrigando a substituição de chefes de governo, de primeiros-ministros de curta gestão, como aconteceu com a Inglaterra e pode ocorrer com a Itália. A situação da economia mundial não é cômoda e fácil, cabendo a cada nação atuar com zelo para não agudizar o problema, cujos resultados perversos recaem sobre o cidadão e as empresas. |
Por Manoel Hygino - 22/10/2022 07:59:23 |
Minas sem fim Manoel Hygino Jornal da capital dedicou quatro páginas de sua edição de 14 de outubro à saga dos cavaleiros do Apocalipse, em matéria extensa assinada por Gustavo Werneck e que apresentou longo depoimento de Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, em segundo mandato. Era espaço suficiente para que o dirigente do sodalício focalizasse dois protagonistas das letras do Estado, em época marcante da vida brasileira: 1922. Foi quando nasceram Otto Lara Resende, em São João del-Rei, e Paulo Mendes Campos, em Belo Horizonte. Otto era filho de Antonio de Lara Resende, ex-aluno do histórico colégio do Caraça, pelo qual passaram figuras da maior expressão na política e da cena intelectual da velha província. Era estabelecimento de profundo rigor na prática religiosa e no ensino, símbolo de uma era de educação rígida e severa. Muito já se escreveu sobre o educandário, inclusive cenário do filme “Caraça, porta do céu”, produzido inteiramente e filmado cá nas montanhas. Fundador do Instituto Padre Machado, Antônio Lara Resende trouxe-o para Belo Horizonte e, quando para cá se transferiu, mantendo o mesmo rigorismo do educandário dos padres, o que conduziu a uma querela pública quando expulsou alguns estudantes, não passíveis de penalidades maiores (nesse período, o autor destes registros, ligado a entidade de jovens, teve atuação direta e pessoal). Pois Otto fora aluno, no Instituto Padre Machado, quando conheceu, aos 15 anos, Paulo Mendes Campos, que jogava basquete no time antagonista do Colégio Santo Antônio. Rogério Faria Tavares, em minúcias e fiel às fontes, a vida de Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende, que se tornariam dois dos mais lidos e comentados autores brasileiros no gênero ou gêneros a que se dedicaram, alcançando aplauso em todo o país. Inquestionáveis se demonstram as qualidades de Otto (que nascera asmático) e de Paulo, filho de Mário Mendes Campos, médico conceituado e escritor da melhor qualidade. Mas o que se publicou é apenas o que se diria de dois dos quatro cavaleiros do Apocalipse. Faltam, ainda, dois outros: Fernando Sabino e Hélio Pellegrino, que merecem lugar ao sol, neste ano centenário. Paulo é citado e repetido em trecho de uma crônica: “Na velha cidadezinha de São João del-Rei, e cujo prefeito recebe 900 cruzeiros mensais, há mais asas do que inquilinos”. Otto Lara Resende anota: “Mineiros fora de Minas, que carregamos. Minas para lá de suas fronteiras, também nós sabemos que Minas existe e não se acaba”. |
Por Manoel Hygino - 19/10/2022 08:52:34 |
O cerco da violência Manoel Hygino O real foi a 8ª moeda que mais se valorizou em relação ao dólar dos Estados Unidos em 2022. A moeda brasileira subiu 6,9% neste ano, segundo levantamento da Austin Rating. O estudo tomou como base a cotação do dólar divulgada pelo Banco Central. Enquanto isso, o Kwanza, de Angola, foi a moeda que apresentou a maior alta no período (+29,7%) e o rublo russo e o dram (da Armênia) ficaram logo atrás como as que mais ganharam força no período. O fato, contudo, não diminuiu a violência no Brasil, que já foi uma das nações mais pacíficas do planeta, de gente cordial e de fácil convivência. Quem quiser arriscar-se, é só dar uma volta pelo Rio de Janeiro e tomar uma rua errada em determinadas regiões. A ex-ministra Damares Alves, eleita senadora por Brasília, fez revelação sobre a violência com crianças: "Isso tudo é falado nas ruas do Marajó, nas ruas da fronteira, no começo do meu vídeo eu falo Marajó porque é onde a gente começou um programa, mas o tráfico de crianças no Brasil acontece na fronteira. Em áreas de fronteiras a gente ouve coisas absurdas como o tráfico de mulheres e de crianças. Essa coisa de quando as crianças saem dopadas e seus dentinhos são arrancados onde chegam". A ex-ministra Damares Alves, disse ter "ouvido nas ruas" relatos sobre estupro e tráfico de crianças no Marajó, como se sabe localiza-se no Brasil. Mas a situação não se restringe a algumas partes, mas por todo lado, a situação é complicada. Em Minas Gerais, um jornalista comentou sobre a violência política: a violência política no Brasil bateu recorde nos dois últimos meses antes do primeiro turno das eleições deste ano. Em apenas 60 dias, foram registrados 121 assassinatos, atentados, ameaças, agressões, ofensas, criminalizações e invasões, somando 247 casos em 2022, 436% a mais que em 2018, com 46 casos. Uma pessoa foi vítima de violência política a cada 26 horas. Até 2018, casos desse tipo ocorriam a cada oito dias. O número cresceu drasticamente a partir de 2019 – 136 ocorrências, uma a cada dois dias; e chegou a 151 casos em 2020, a última vez que os eleitores brasileiros foram às urnas. Os dados foram divulgados na segunda-feira (10/10), são da segunda edição da pesquisa Violência política e eleitoral no Brasil, elaborada pelas organizações Terra de Direitos e Justiça Global. A pesquisa analisou o período entre 1º de agosto e 2 de outubro, e leva em conta apenas candidatos, lideranças partidárias e assessores. Foram considerados apenas os casos divulgados na mídia, o que sugere que podem ter ocorrido ainda mais situações de violência. |
Por Manoel Hygino - 18/10/2022 08:26:51 |
Um centenário válido Manoel Hygino Estamos no fim do ano. Mas ainda há muito a registrar, mesmo a festejar, antes que se mude o calendário. Entre os fatos presentemente dignos de comemorar, lembro o centenário de inauguração do Hospital São Lucas, o primeiro por aqui com as características que ele impôs à cidade. Considerado o primeiro de elite entre nós, no Dia do Médico e de São Lucas, um apóstolo que não conheceu Jesus, ele foi entregue à população em 18 de outubro de 1922, um ano marcado por acontecimentos importantes em nossa história. Com suas dez décadas, o estabelecimento não ficou estacionado no tempo e nos registros oficiais ou sociais. Personalidades lá nasceram, mesmo um chefe da nação, os vultos importantes da política, das artes e da vida social por lá passaram e encontraram a necessária assistência. Tecnicamente, acompanhou a evolução que acontecia nas nações mais progressistas e interessadas em oferecer tratamento de alto nível a sua clientela. Sigo a crônica do São Lucas, há décadas, até porque por lá passaram pessoas de minha família em busca de assistência imprescindível. Os nomes que integram seu corpo clínico estão inseridos na história da medicina mineira, e não esqueceria Juscelino, Júlio Soares, Lucas Machado, Dario de Faria Tavares e dezenas de outros, suficientes para ocupar toda esta coluna. Todas as pessoas que viveram este longo período da existência de Belo Horizonte têm o que contar sobre o estabelecimento da avenida Francisco Sales com Ceará, completando o quarteirão com Otoni e avenida Brasil. Recordo com saudade e reverência aquele trecho da capital, em que aproveitei longo período de juventude, de estudo e de consolidação de velhas amizades. Constato, com alegria, que o São Lucas cumpre religiosamente seu dever, como ensinou o seguidor de Jesus, evangelista que não o conheceu, mas soube acompanhá-lo nos mais nobres sentimentos e nas lições de solidariedade e de amor ao próximo. É bom dizê-lo. Naquele ano já distante, mas não remoto, inaugura-se o São Lucas, para acolhimento de pacientes com recursos necessários à assistência recebida. Com essa pecúnia, mantinham-se os indigentes do outro lado da avenida Francisco Sales. |
Por Manoel Hygino - 15/10/2022 07:04:17 |
JK, 120 anos Manoel Hygino Em 2002, comemorou-se o centenário de Juscelino Kubitschek, ano que o Brasil soube com alegria festejar o nascimento de um presidente que se identificou com as melhores tradições da terra descoberta por Cabral. Agora, o registro mudou de figura. Muito aconteceu desde então e o Brasil se encontrava em campanha política, talvez a mais acirrada da República. Mas a Academia Mineira de Letras, com seus 113 anos de existência, não poderia deixar de render homenagens a um dos acadêmicos mais ilustres e queridos, que é o menino nascido em Diamantina e cuja memória é religiosamente preservada. Não mais o setembro, período em que a campanha se achava em ebulição, com troca de farpas e desaforos entre os candidatos. Mas, o presidente do sodalício, definiu programar uma homenagem pelos 120 anos de JK: 7 DE NOVEMBRO - 19:30 HORAS - AUDITÓRIO VIVALDI MOREIRA - SEDE DA AML - Sessão solene: "Nos 120 anos de nascimento do acadêmico Juscelino Kubitschek "- com a presença de Maria Estela Kubitschek Lopes (filha) e de Jussarah Kubitschek Lopes (neta). 8 DE NOVEMBRO - 17 HORAS - IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS, NA PAMPULHA - - Missa em Ação de Graças pelos 120 anos do acadêmico Juscelino Kubitschek. Celebrada pelo acadêmico dom Walmor Oliveira de Azevedo, nas presenças de Maria Estela Kubitschek Lopes e Jussarah Kubitschek Lopes. A verdade verdadeira é que todos os colegas da Santa Casa adoravam trabalhar com Juscelino, como aconteceria depois na vida pública, em todos os cargos que ocupara. Um deles elogiava seu estilo liberal, a amável convivência, a todos cumprimentando com uma palmadinha nas costas. Um dos companheiros chegou a observar que ele pensava e agia como o Padre Vieira – todos os homens, de qualquer nacionalidade ou raça são irmãos. Ser pobre e doente não constitui castigo de Deus, mas consequência da imprevidência individual ou das circunstâncias. Ajudar o pobre, recebê-lo, é meritório, pois ele representa a própria pessoa do Salvador. Esta é a personalidade que a Academia homenageará em princípio de novembro, um mês após a eleição. |
Por Manoel Hygino - 13/10/2022 10:43:15 |
Montes Claros - 190 Manoel Hygino Com 31 dias, outubro era o décimo mês do ano, segundo o Calendário Gregoriano, o oitavo do computo romano. Assinala os movimentos populares que resultaram no retorno de Luís XVI, de Versalhes a Paris, assim como da corte e da Assembleia Constituinte. Representava também o fim da ameaça de fome e uma reconciliação do trono com o povo. Cá no Brasil, é o período da revolução de 1930 e, no dia 5, da Revolução Portuguesa de 1910, além da de 19 de outubro de 1921. Para o autor deste registro, contudo a alegria é pelo aniversário de sua mãe, no dia 5; a festividade religiosa do dia 12, agora é feriado na cidade paulista de Aparecida, que visitou ainda criança; e dos 190 anos de emancipação político-administrativa de Montes Claros, sua cidade de nascença, em 16 deste mês. Eu, como todos que nasceram na urbe do Norte, prezamos imensamente o fato de termos vindo à luz da vida ali. Parece que aprendemos o verso do vate que determina: ama, com fé e orgulho, à terra em que nasceste. Foi o que se depreenderia das grandes comemorações do 150, organizadas com o máximo de cuidado e interesse por Hermes de Paula, médico e historiador, entusiasta e partícipe de tudo que de belo e bom a sua cidade oferece ao estado e ao país. Não foi simples. Hermes, com demoro, devotou dois anos à efeméride, o que também lhe permitiu a elaboração e edição de “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes”, com mais de seiscentas páginas, que passou a constituir uma espécie de Velho Testamento sobre o município. A médica Mara Narciso, também jornalista, evoca aquela época: “Construíram-se o Colégio Marista São José e o Parque de Exposições João Alencar Athayde; e aconteceram avanços urbanísticos e uma arrancada civilizatória”. “Juscelino, presidente da República e Bias Fortes, governador, compareceram aos eventos. O prefeito de Montes Claros era Geraldo Ataíde. A cidade não tinha hotel para hospedar essas figuras ilustres, que ficaram nas casas dos organizadores. A festa constou de desfiles, representações folclóricas, rodeios, cavalhadas, leilões de gado, inaugurações, baile de gala e muitas promessas. Com estimados 417,5 mil habitantes (2021) e a 422 km de Belo Horizonte, no Polígono das Secas, Montes Claros é o milagre do trabalho do seu povo. Que se possa usar o passado dos vultos desta terra para enaltecê-los, arrancando das suas lutas o estímulo para avançar rumo ao futuro promissor, para a maioria da população da cidade”. A cidade norte-mineira se orgulha do que as gerações passadas construíram, mas estão seguras de que muito se está fazendo e muito se fará. É viver para conferir. |
Por Manoel Hygino - 8/10/2022 09:15:51 |
O obscuro porvir Manoel Hygino Bom, mas nem tanto. O cadastro geral de Empregados e Desempregados do país trouxe bons resultados em agosto, superando os números de julho. Foram abertas 278.639 vagas de emprego com carteira assinada contra 223.345 do mês anterior. O setor de Serviços apresentou mais postos de trabalho. Por outro lado, a média salarial passou para R$ 1.949,84, com elevação de 1,52%. O mesmo não se dirá das contas do governo de agosto. O Tesouro Nacional informou que houve déficit primário de R$ 49,97 bilhões no mês. Isso representa uma queda expressiva, pois, em agosto, quando tinha mostrado superávit. Antes que setembro acabasse, no dia 24, tinha-se outra informação pouco agradável. A trégua do mercado financeiro durara menos do que se desejaria. Um dia após forte queda, o dólar teve a maior alta diária desde abril e a Bolsa de Valores fechou no menor nível em uma semana. Não foi só. O mercado financeiro global teve um dia de instabilidade após a divulgação de dados econômicos apontarem que a Europa está entrando em recessão. Além da escalada nas tensões entre Rússia e Ucrânia, a divulgação de que as intenções de compra por gerentes (índice usado para medir para onde vai a economia) caiu no continente e piorou o clima. E mais, os temores de recessão global impactaram os preços internacionais do petróleo. A cotação do barril do tipo Brent, usado nas negociações internacionais, caiu mais de 4%, e fechou a US$ 86,57. Era o menor nível desde janeiro, antes do início da guerra do leste europeu. E o que virá à frente? O Brasil inicia em janeiro um novo quatriênio governamental. Quem quer que se assenta no Palácio do Planalto enfrentará duros desafios. O país, polarizado politicamente, terá de haver-se com um pesado repto, estabelecido inclusive pelas maiores potências. Nem os mais sagazes e competentes analistas têm o condão de antever o que o porvir exigirá do Brasil, de sua gente já tão sacrificada. É ter confiança, honestidade e pé na tábua. |
Por Manoel Hygino - 4/10/2022 08:55:16 |
Novo quatriênio Manoel Hygino Professor, jornalista, escritor, consultor jurídico da Câmara dos Deputados, Edmilson Caminha, cearense por nascimento, é hoje, incontestavelmente, um dos mais conceituados e aplaudidos cronistas e articulistas do Brasil, e incluo-me entre seus admiradores. Em 2008, publicou pela Thesaurus, de Brasília, “O monge do Hotel Boa Vista”, contendo parte da correspondência trocada com o não menos importante autor Antonio Carlos Villaça, falecido no Rio de Janeiro. Villaça elogia uma pequena obra-prima de nossa ensaística: Retrato do Brasil, de Paulo Prado, realçando as qualidades desse “paulista, culto e rico, aristocrata e intelectual, coisa bastante difícil de ver hoje em dia”. Em carta, ele comenta com Caminha que 1982 parece 1928, no pensamento de Prado: “O que mais me impressionou no livro foi a sua surpreendente e, de certa maneira, decepcionante, atualidade: o ‘post-scriptum” poderia ter sido escrito não em 1928, mas hoje, prova de que este pobre e mal disfarçado país pouco mudou nos últimos cinquenta anos, em sua tacanhice política e cultural. “O Brasil, de fato, não progride; vive e cresce, como cresce e vive uma criança, doente no lento desenvolvimento de um corpo mal organizado” (pág. 143). “Na desordem da incompetência, do peculato, da tirania, da cobiça, perderam-se as normas mais comezinhas na direção dos negócios públicos” (pág. 145). O analfabetismo das classes inferiores (...) corre parelhas com a bacharelice romanticado que se chama a intelectualidade do país” (pág. 146). "Um vício nacional, porém, impera: o vício da imitação” (pág. 146). Sobre este corpo anêmico, atrofiado, balofo, tripudiam os políticos. É a única questão vital para o país – a questão política (pág. 147). A questão militar, mal de nascença de que nunca se curou o país. No último triênio de 2022, cada brasileiro poderia bem fazer uma análise ou meditação sobre o que ora ocorre. Em que evoluímos, se melhoramos, se o povo está satisfeito e feliz, como espera o quatriênio administrativo que se começa. É um novo tempo, confiando-se em que se pode propiciar melhor futuro para a nação, com mais igualdade entre todos os segmentos sociais. Nossa gente merece. |
Por Manoel Hygino - 1/10/2022 08:58:41 |
A fome ameaça Manoel Hygino O presidente da República e candidato a reeleição contesta que 33 milhões de brasileiros estejam subalimentados e até passando fome. Não vamos contestar, até porque se vive o delicado momento de eleição do próximo ocupante do Palácio do Planalto. Mas não se pode negar que a situação mundial quanto ao problema não é das mais confortáveis. A fome alheia nos envolve, porque fazemos parte do todo. Ademais, temos de conhecer que a FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, tem advertido sobre o gravíssimo desafio, observando que cerca de 8,1 milhões de pessoas em todo o planeta estão em condições de subnutrição. A própria ONU argumenta que, ao final desse 2022, a população do mundo chegará a 8 bilhões de pessoas e, daqui e mais oito anos, teremos 10 bilhões habitando este pedaço do universo, de modo que as perspectivas são sombrias ao extremo. Fábio Zukerman e Ailin Aleixo, cofundadores da Akuanduba, consultores ESG, alertam que, há dois anos, os problemas com a seca resultaram na quebra de 45% da produção de soja no Rio Grande do Sul, enquanto em 2019 16 milhões de toneladas foram perdidas por falta da água que vem do céu. Mencionados técnicos vão além: “Pesquisadores de universidade federal em Minas Gerais (Viçosa) garantem que nos próximos 25 anos as mudanças climáticas vão afetar diretamente a produção das lavouras. Na prática, o agronegócio pode perder até R$ 5,7 bilhões por ano com o desmatamento”. E há mais a considerar: “Cerca de um quarto do sul da Amazônia – nos Estados de Acre, Amazonas, Rondônia, Pará, Tocantins e Mato Grosso do Sul – atingiu o limite crítico de redução das chuvas por perda de floresta. Em algumas dessas regiões, essa redução já comprometeu 48% do volume de chuvas anuais. Nesse ritmo, perderemos produção de alimentos, investimentos e lucro e ganharemos escassez, fome, desnutrição e pobreza, que atingirá tanto animais quanto pessoas. A pergunta que fica é: o quanto realmente estamos preparados para esse cenário? O quanto realmente pequenos negócios, produtores e restaurantes têm lutado para mudá-lo? É preciso fazer mais, e correr sem se emaranhar nas próprias pernas”. |
Por Manoel Hygino - 28/9/2022 08:44:24 |
Como um museu Manoel Hygino Nestes dias em que há ameaça de chuva, que se espera despencar das alturas e falha, o desembargador Rogério Medeiros Faria de Lima, pôs-se a ler, como de seu hábito. E conta depois num bilhete via e-mail: “Releio hoje “Janela do sobrado”, memórias do montes-clarense Dr. João Valle Maurício, cujo centenário de nascimento celebrou-se este ano. Era médico, escritor, professor e ex-reitor da atual Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros). Foi amigo de infância do conterrâneo Darcy Ribeiro, também nascido em 1922. Não precisava dizer, está implícito: ambos levados da breca. Ficaram fraternos para sempre. Ocupou o cargo de secretário estadual de Saúde no governo do honrado Francelino Pereira. Integrou a Academia Mineira de Letras”, como aconteceu com João Maurício. Mas o magistrado tem algo mais a contar: “Quando eu era juiz de direito em Montes Claros, sentava-me em agradáveis bares, aos sábados, com os saudosos João Valle Maurício, Mário Ribeiro (também médico, irmão de Darcy) e outros septuagenários. Todos ainda peraltas e contadores de casos muito divertidos. João Valle Maurício costumava dizer que sua adolescência foi muito – digamos – “agitada”. Montes Claros tinha então 30 mil habitantes e 10 mil, ou seja, 10% da população, habitava as outrora chamadas “casas de tolerância”. Salvo engano, o antropólogo e escritor Darcy também relatava isso nas suas “Confissões”. Desculpem-me os politicamente corretos. Vou mudar de assunto. Vejam a dedicatória do livro, de 8/5/1995: “Ao Dr. Rogério, jovem e brilhante Juiz”. Brilhante é fruto da bondade e amizade do Dr. Maurício. Jovem? Fui...” Mais vale a companhia de um bom livro. Certa feita li uma entrevista de Carlos Drummond de Andrade, onde o poeta mineiro reafirmava o seu antigo gosto pela leitura: - O homem que lê nunca está só. Morreu recentemente o genial comediante, jornalista e escritor Jô Soares. Divertiram-me muito os seus antigos programas televisivos semanais, assim como os do Chico Anysio. Eu sei, a minha era passou. Vivo só da saudade, porque parei no tempo e não sigo o dito “progressismo”. Mas não incomodo ninguém e quero paz. Releio antigos textos do Jô, amigo do meu amigo Eros Grau; ambos imortais da Academia Paulista de Letras. Vejam a pérola colhida da sua coluna semanal na revista “Veja”: “O mau-caráter foi reprovado no exame de consciência” (Editora Abril, nº 1.127, p. 11)”. Observação: Darcy e Maurício serão homenageados em 2 de dezembro, quando a Academia Mineira de Letras simbolicamente se transferirá para Montes Claros. |
Por Manoel Hygino - 27/9/2022 09:09:56 |
Pena de morte Manoel Hygino Com bons advogados, criminosos no Brasil não ficam por detrás das grades. Este é o julgamento dos apresentadores de televisão que têm programas diários nas tardes, em prestigiadas emissoras da maior cidade do país e do mais rico estado da União. Para eles, por mais hediondos que sejam os crimes ou vultosos furtos e roubos, consegue-se brecha na lei que beneficia o marginal e sensibiliza os magistrados. Pelo menos é o que proclamam os profissionais do microfone que sugerem a pena de morte para aliviar a pressão nos presídios. Estudo da Datafolha, em 2018, mostrou que 57% dos brasileiros desejavam a pena capital para criminosos condenados. Naquele ano, rebeliões e guerras de quadrilhas levaram o governo federal a determinar intervenções no Rio de Janeiro e Roraima. A ideia, contudo, não pegou. Um dos líderes dos promotores de Justiça em Minas, Joaquim Cabral Netto, a propósito lembra Nelson Hungria, ministro do Supremo Tribunal Federal, mineiro da Zona da Mata, visceralmente contra a pena máxima, a ponto de defender daqui, Caryl Chessman, o bandido da Luz Vermelha, na Califórnia, em 1948. Em conferência no Centro Acadêmico 21 de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, argumentava: “Para erradicar o mal, não é preciso erradicar o homem. O que cumpre fazer não é matar o homem criminoso, mas o criminoso no homem”. “A criminalidade não se extingue ou declina com a pena de morte. Ao invés de arrogar-se arbitrariamente o direito de matar, ao Estado incube promover a remodelação da própria sociedade, para que se apresentem melhores condições políticas, econômicas e éticas, eliminadoras das causas etiológicas do crime”. No caso de Chessman, lembro bem, ele foi condenado e executado por roubos e estupros a casais de Hollywood. Oswaldo Faria foi aos EUA para descrever as últimas horas do criminoso para a Rádio Itatiaia. Na Revista Jus Navigandi, Carlos Biasotti, comentou que traduziu-se na época veemente protesto contra “esse resíduo de barbárie incompatível com o mais elementar espírito de solidariedade humana”. O que pensaria a respeito a geração de hoje? |
Por Manoel Hygino - 24/9/2022 08:36:20 |
A economia agora Manoel Hygino Agora que as eleições batem à porta, os brasileiros, com legítimas razões, perguntam: estamos melhorando em termos de economia? Como será 2023, quando já tivermos um novo presidente na República e um novo governo? Quem não entende do riscado, evidentemente queda em dúvida, porque o povão, o cidadão que sobrevive com seu salário, sente o Natal chegando com notícias pouco alvissareiras. As instituições financeiras consultadas pelo Banco Central elevaram a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano de 2,26% para 2,39%. Para ano que vem, a expectativa para o PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país é de crescimento de 0,5%. Em 2024 e 2025, o mercado financeiro projeta expansão do PIB em 1,8% e 2%, respectivamente. É para rir ou chorar? Grande parte dos jornais comenta que a economia entre nós já começou a caminhar, mas lentamente, em passo de tartaruga. Nada que justifique euforia, quer para as autoridades, quer para os consumidores, que diminuíram as queixas quanto ao valor das mercadorias. O comércio varejista entrou no segundo mês com redução de faturamento. E só se compra quando se tem dinheiro. Não basta a inflação diminuir, porque a receita do trabalhador não aumentou. Se bem que há aqueles segmentos que vivem em alegria, sabe Deus como, apelando semanalmente para os festejos na periferia, que terminam em grande parte nas delegacias de polícia, quando não nos institutos de medicina legal. Existe realmente um alívio para os consumidores? Porque não há razão efetiva para celebrações, mesmo que os economistas oficiais revelem certa tranquilidade. Lá fora, no exterior, tampouco aparecem motivos para alegrias e comemorações. A situação anda mal não somente pelas explosões de revolta da natureza com chuvas em volume alto em determinadas regiões, em temperaturas altíssimas na Europa, incêndios até no Canadá. Nem se comente sobre pandemia, porque os registros são trágicos e o presidente da Organização Mundial de Saúde ainda não a considera terminada. Pelo menos declarou à Imprensa de todo o planeta. |
Por Manoel Hygino - 21/9/2022 08:57:41 |
Um Andrada em cena Manoel Hygino Em tempo de campanha política e às vésperas do pleito de outubro, recordo Joel Silveira, um jornalista sobre o qual quase não mais se fala, que cobriu a II Grande Guerra, excelente no texto e formulador de perguntas perversas. Pois, em 1943, ele se programou para uma entrevista com Antônio Carlos, ex-presidente de Minas (dizia-se governador), ex da Assembleia Nacional, líder da Aliança Liberal, ministro da Fazenda e substituto eventual de Vargas, chefe da nação, pois a Carta não previa um vice. Liberado dos compromissos políticos, no Rio de Janeiro, sede do governo da República, Antônio Carlos e Joel se encontraram, se bem que o mineiro lhe adiantara que entrevista não daria. Na mesa do Andrada, centenas, milhares de pedidos de empregos, cartas de apresentação, aposentadorias, melhorias de ordenado etc. Antônio Carlos só dizia: “perfeitamente, perfeitamente”, consoante definição de que é capaz de “tirar a meia sem tirar o sapato”. Joel Silveira conta que, com 71 anos de idade, o Andrada não perdera nenhuma de suas características: o mesmo homem, fino, elegante, maneiroso, de bom humor, hábil em conduzir a conversa, não se atordoa, não fugia às perguntas, respondendo-as a seu jeito. Fora redator do “Jornal do Comercio”, de Juiz de Fora. Em 1918, Antônio Carlos deixou o Ministério da Fazenda, de que era titular, dirigindo-se à Companhia Sul América, em que era segurado. Precisava fazer um empréstimo de sete contos de réis, uma ninharia. Durante o conflito mundial, passara por suas mãos todo o dinheiro do país, mas saiu pobre. O presidente da Sul América, Moreira Magalhães, conhecedor do fato, ficou admirado. Como é que uma pessoa que, durante a Guerra, tinha ordem de sacar em banco contra todos os bancos da nação, necessitava com urgência daquele dinheirinho? Antônio Carlos foi chamado à diretoria e o presidente do estabelecimento se explicou: - Quero abraçar o homem que, deixando o Ministério da Fazenda, vem pedir sete contos emprestados. O ex-presidente de Minas e da Constituinte esclareceu como de outras vezes: “Os Andradas nunca se preocuparam com dinheiro”. |
Por Manoel Hygino - 20/9/2022 10:17:09 |
Conselhos vitais Manoel Hygino J. D. Vital, ou simplesmente Vital, é cidadão suficientemente conhecido e conceituado nos meios intelectuais mineiros. Jornalista e escritor, já publicou amplamente sua produção, entre os quais livros preciosos. Recentemente, empossou-se na Cadeira 10 da Academia Mineira de Letras, saudado por Danilo Gomes, marianense de nascimento e um dos maiores cronistas do Brasil. Na Academia, presidida por Rogério Faria Tavares, Vital (é assim que gosta de ser chamado) ocupa a cadeira cujo patrono é Cláudio Manuel da Costa e cujo fundador foi Brant Horta, sendo o primeiro sucessor João Etienne Filho e segundo Fábio Proença Doyle. “A pressa é inimiga da perfeição. Mas, necessária. A notícia tem prazo de validade. Por isso, o jornalista compreende o lado efêmero da condição humana, do poder e da glória. Tudo passageiro” Vital fez um discurso, que eu diria dirigido aos jornalistas e que constitui uma espécie de advertência aos que não respeitam ou não prezam o labor desses profissionais. Deste modo, vou simplesmente transcrever um trecho do que o empossado declarou: Diz-se que “a pressa é inimiga da perfeição. Mas, necessária. A notícia tem prazo de validade. Habituados com a transitoriedade de seus escritos, mesmo os mais combativos contra a injustiça, a violência e a corrupção, logo transformados em papel de embrulho: lidam com o “giornale”, de “giorno”, em italiano. Por isso, o jornalista compreende o lado efêmero da condição humana, do poder e da glória. Tudo passageiro. A vida curta embrulhada em dor, paixão, fracassos, alguma alegria e a fragilidade do amor. Obstinados em registrar o diário, formam uma grei que segue à risca a recomendação do escritor, historiador e general romano Caio Plínio Segundo, Plínio, o Velho: “Nulla dies sine linea”. No encalço da perfeição, Plínio seguiu Apeles de Cós, que não passava um dia sem traçar uma linha, como observa Jacyntho Lins Brandão, já acadêmico, um das maiores autoridades em Literatura e cultura da Grécia antiga. “Os jornalistas, também não. Nenhum dia sem uma linha, na Remington, em que o ranzinza Agripino Agrippino Grieco escrevia com um dedo só”. O lema AML é “Scribendi nullus finis”, nunca falta o que escrever. Vital termina. Recorro ao Latim do seminário e tão apreciado na Casa, para responder à confiança dos que me elegeram: “Ecce ego, quia vocasti me”; “Vocês me chamaram, aqui estou”. Ex-assessor de Imprensa de Tancredo em Minas, o orador afirma inserido entre os escritores apressados, condenados escrever para o dia, na expressão do confrade Humberto Werneck. “Gente conformada com a certeza de que a pressa é inimiga da perfeição”. Mas necessária. A notícia tem prazo de validade”. |
Por Manoel Hygino - 17/9/2022 08:41:18 |
Gente nova na AML Manoel Hygino Ex-ministro e ex-prefeito de Belo Horizonte, professor da PUC-MG, deputado federal e membro da Academia Mineira de Letras, Patrus Ananias é um ás da oratória. Nascido em Bocaiúva, terra do sempre lembrado José Maria de Alkmim, foi aluno da professora Maria Antonieta Antunes Cunha e lhe coube saudar a mestra em sua posse na ilustre casa de tão nobres cultores das letras. Em sua infância, a cidade natal de Patrus “parecia fechada às possibilidades do desenvolvimento, que se tornara uma palavra muito presente no Brasil dos anos 1950”. Em 1962, porém, “acolhendo os fluxos desenvolvimentistas da década anterior, tempos marcados pela presença das práticas e dos princípios democráticos que se impuseram às ameaças golpistas de 1952, 1955 e 1961”, a situação começou a mudar com um prefeito diferente e bom, dinâmico, empreendedor, tolerante, alegre, uma versão, com dimensões locais, de JK. A cidade iniciou horizontes prósperos com Wan Dick Dumont. Ele pacificou e abriu Bocaiúva ao progresso, quando lá chegaram a professora Maria Antonieta Antunes Cunha e o marido, o médico Eunápio Antunes. A mudança no campo político se transportou à educação, cultura, artes, à literatura e à saúde. Promoveu-se uma nova revolução pacífica e amorosa, por obra e graça de Antonieta. Introduzindo seus alunos no novo contexto, abriam-se os livros e as questões sociais e humanas da vida real. Passou-se a ver e sentir as letras de nossos autores com “a atenção aos desafios que a realidade nos impõe, presentes em tantas obras clássicas da literatura e das artes”, promovendo-se “uma revolução cultural”. Secretária Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Antonieta fez o quase impossível. Foi forte e venceu resistências. Agora, está na Academia e muito contribuirá – disse Patrus – para que a entidade, sob a esplêndida liderança, amplie ainda mais os seus espaços de interlocução com a sociedade e, sobretudo, com as crianças e a juventude. Vai contribuir muito para que a literatura, que mais prezamos, tenha bons encontros e diálogos com a música, o teatro, o cinema, a pintura, a história, a filosofia. Espaço do saber aberto, compartilhado, dialogante, oferecendo novas perspectivas às possibilidades humanas. |
Por Manoel Hygino - 15/9/2022 09:06:08 |
Gorbachev, Elizabeth II Manoel Hygino Praticamente uma semana separou a morte de Mikhail Gorbachev da de Elizabeth II. Ele, falecido em 30 de agosto; ela, em 8 de setembro deste 2022 de tantos e infaustos acontecimentos para seus países e para a humanidade. Ambos atravessaram décadas de profundas crises e transformações em todo o mundo, enfrentando os desafios impostos pelo tempo, pelos comandantes das mais importantes nações, verdadeiros impérios, que foram o da Rússia e da Grã-Bretanha. No decorrer do longo percurso como protagonistas nas articulações ou como participantes ou colaboradores relevantes nas negociações que se processavam, souberam portar-se com dignidade e superior discernimento, para que se lograssem as soluções mais convenientes nas horas adversas. Gorbachev manteve relações complexas com os novos líderes do Kremlin desde sua eleição a presidente da URSS com mandato de cinco anos, mas soube portar-se com a competência que se fazia imprescindível. Apresentou o projeto de reconstrução da economia, a perestroika, e proclamou a glasnost, a abertura do poder. Deu fim à guerra fria, com a derrubada do muro de Berlim, assim como promoveu medidas para pacificar nações poderosas em confronto. Rússia, Ucrânia e Bielorrússia constataram que a União Soviética não mais existia e em 25 de dezembro de 1991 deixa a presidência assumida em período já crítico. Fora do poder, tornou-se um dos líderes mais polêmicos de sua geração. Exaltado pelas nações que queriam paz, internamente passou a ser até ridicularizado nas grandes cidades Russas. Quanto a Elizabeth II, viveu como chefe de Estado as dificuldades e desafios de um mundo que se redesenhava, em meio aos mais preocupantes ensaios da II Grande Guerra. Com a renúncia do tio, que abdicou, e a ascensão do pai, George VI, soube acompanhá-lo e ao povo inglês no conflito que convulsionou o planeta. Não foram poucos os desencontros na intimidade da família real, mas Elizabeth se sobrepôs com grandeza ao desprestígio do clã, abalada a simpatia pelo affair da princesa Diana, morta em acidente em Paris. Partiu para restauração da popularidade, conseguida pelas décadas de devotamento aos seus misteres como mãe e rainha. Assumirá agora o rei Charles III, o monarca mais velho do Reino Unido. |
Por Manoel Hygino - 14/9/2022 08:43:19 |
Piso da enfermagem Manoel Hygino O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, criticou a sentença do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu liminarmente o piso salarial da enfermagem. O valor estabelecido era de, no mínimo, R$ 4.750. Lira publicou nas redes sociais que respeita as decisões judiciais, mas não concorda. “São profissionais que têm direito ao piso e podem contar comigo para continuarmos na luta pela manutenção do que foi decidido em plenário”. A decisão cautelar do ministro foi concedida no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7222 e será levada a referendo no plenário virtual do STF nos próximos dias. Ao fim do prazo e mediante as informações, o caso será reavaliado. A ação foi apresentada pela Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços (CNSaúde), que questionou a constitucionalidade da lei 14.434/2022, que estabeleceu os novos pisos salariais. Entre outros pontos, a CNSaúde alegou que a lei seria inconstitucional, porque a regra que define remuneração de servidores é de iniciativa privativa do chefe do Executivo, o que não ocorreu, e que a norma desrespeitou a auto-organização financeira, administrativa e orçamentária dos entes subnacionais. Sabe-se, à suficiência, que o SUS é o sistema que mais oferece vagas no âmbito de saúde ao Ministério. Mais da metade dos leitos do Sistema oficial são disponibilizados pelos SUS, cujos relevantes serviços foram avaliados pela população durante os dias mais severos da pandemia. Milhares de vidas foram salvas por ele. No entanto, para que possa atuar assim, o Sistema vinha enfrentando terríveis dificuldades, exatamente porque as tabelas de prestação de serviços estão desatualizadas, há anos. Os esforços não têm sido atendidos. Mas o trabalho não parou. Os hospitais operam no vermelho. Seus administradores se comprometem, até pessoalmente, para que os estabelecimentos atendam convenientemente à população. A autoridade faz ouvidos de mercador, como se os apelos de reajuste não lhe dissessem respeito. Agora, surgiu o reajuste da enfermagem. Mais do que justo. Mas quem paga? O Presidente da Câmara acha ruim. Os hospitais também; e o pessoal da enfermagem, sempre sacrificado. Imprescindível que se defina quem paga a conta, sem isso, nada feito. |
Por Manoel Hygino - 8/9/2022 08:34:59 |
Sem dizer adeus Manoel Hygino Animação, tão pouco vista em datas anteriores, faz-me pensar que o brasileiro se empolgou realmente com a data da Independência neste ano da graça de Deus 2022 da era cristã. De um instante para outro, esqueceram-se as multidões em torno de festivais de múltipla natureza, as ruas se encheram, os alto-falantes espalharam a longas distâncias sons pouco sentidos em ocasiões outras. Patriotismo? Para expulsar para bem longe o choro dos que perderam seus entes queridos durante a terrível pandemia da Covid-19? Ou as eleições de 2 de outubro se superpuseram às perspectivas ainda não suficientemente claras da economia? Quase 700 mil pessoas perderam a vida em dois anos e meio. Não é algo que se olvide de um momento para outro. Que o digam as famílias enlutadas e ainda em pranto pelos que partiram na viagem sem volta. Que esperaremos de 2023, já que o ano presente evolui a findar? Entre janeiro e julho, 14 mil pessoas encaminharam à Receita Federal a declaração de saída definitiva do país. É como redigi: definitiva! São brasileiros que anularam a expectativa de dias melhores neste que é o maior país do hemisfério Sul do Novo Mundo? A ida de brasileiros para o exterior, especialmente para os Estados Unidos, ocorreu com força no ano passado, devido a piora da crise econômica no nosso país e a liberação das pessoas vacinadas contra a Covid-19. Aconteceu aviso prévio de adeus em apenas sete meses, representando também 90% do total do ano precedente. Um jornalista pergunta: o que explica esse movimento tão acentuado? Quem indaga também responde. Certamente, o ceticismo com relação a um futuro melhor por aqui, depois de mais de 200 anos de Independência e 500 de descobrimento. O fluxo, contudo, não surpreende ou assusta. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, 4,2 milhões de brasileiros vivem em terras estrangeiras. Será que os que se vão de vez do Brasil o fazem por pressão da fome, que se amplia por novos quadrantes do território nacional? Mas, o que podem esperar, se também outras nações se acham ameaçadas por semelhantes catástrofes humanitárias? O avanço da pobreza não é fenômeno restrito ao Brasil e às nações em desenvolvimento. Precisamos de devoção à igualdade, fundamentada na Justiça Social. É um primeiro passo. |
Por Manoel Hygino - 6/9/2022 09:29:37 |
O Dia 7 Regozijamo-nos, os da geração presente, por sermos partícipes das comemorações do sétimo dia de setembro, quando se festeja o bicentenário da Independência do Brasil. Eram transcorridos 522 anos da chegada ao território do Novo Mundo, em que se fundaria uma nação nova, a frota de Cabral - a frota de Cabral era composta por nove naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos. O que diferenciava uma embarcação da outra era o formato das velas e o tamanho: enquanto as caravelas mediam 22 metros de comprimento e transportavam até 80 homens, as naus podiam chegar a 35 metros e tinham capacidade para 150 tripulantes. Necessários, pois, mais de 500 anos para que os novos habitantes da terra pudessem julgar-se aptos a assumir a grave missão de sobreviver sem o jugo da nação europeia. Era de esperar-se que, no dia 7 do nono mês deste 2022, que nossas cidades, que se contam aos milhares, apresentassem o aspecto da mais exaltada alegria e entusiasmo, que a tudo e todos trajassem com gala e que os sinos das catedrais e demais igrejas soassem em tangeres que advertissem tratar-se de uma data única desde 1500. O coração de Pedro, por especial deferência, foi transportado desde o Porto para o Brasil para juntar-se simbolicamente aos ossos depositados no Museu do Ipiranga-SP. O coração, mantido num monumento-relicário, se destaca no recolhimento da grande nave da Igreja da Lapa, Portugal, próximo ao altar-mor. É um elegante mausoléu, encimado por uma urna lacrimal e assentada sobre um sarcófago de estilo grego, construído em granito proveniente das pedreiras em que combateram os soldados fieis a Pedro, na grande luta contra o irmão D. Miguel. Os historiadores e a imprensa não falharam. Farto material se disponibilizou entre os interessados. O coração do primeiro imperador voltará a Porto, mas ficarão marcas inesquecíveis dos dias aqui passados. A Independência não confere, automática e imediatamente, a liberdade. Depois do dominador ou colonizador pode suceder uma dominação estrangeira ou daqueles outros grupamentos, não melhores do que a anterior. A liberdade tem raízes mais profundas e não se conquista e se estabelece pela conquista do poder público. Esta é a lição que a história nos alega com o 7 de setembro de 2022. Oxalá todos entendam. O povo brasileiro não é propriedade de A ou B, não há dominados e dominadores. |
Por Manoel Hygino - 3/9/2022 09:44:51 |
Panorama sombrio Manoel Hygino Seria ótimo que nesse bicentenário da Independência do Brasil, a maior nação do hemisfério Sul das Américas desse uma inequívoca demonstração de maturidade nas eleições programadas. Cerca de apenas um mês separa as duas datas e o único país em que se fala a língua portuguesa mostraria que é grande não apenas em dimensões territoriais. O coração de Pedro I que aqui está se exultaria, mesmo em silêncio, pelo acerto de sua decisão no Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. Seria uma belíssima oportunidade para que os brasileiros, de todos os rincões, se rejubilassem por provar que o tempo de mando de ditadores ou homens fortes que recorreram à força ou a manobras oportunistas para impor suas decisões, é coisa do passado. Imagine-se como seria grandiosa uma manifestação desse teor que influiria positivamente nas definições do futuro e das gerações futuras. Estudioso dos tempos pretéritos, o jornalista e escritor Carlos Taquari, que exerceu e exerce a profissão em grandes veículos de São Paulo, com missões em outros países, observa que a Venezuela detém recorde de tempo passado sob o governo de caudilhos, mais de um século, em verdade. A Bolívia coleciona o maior número de golpes militares, e hoje há bolivianos dispersos por todo o hemisfério para fugir das insânias e sofrimentos que na pátria padeciam. A América Latina sofre com os efeitos e consequências de diretrizes das nações europeias colonizadoras. Sofre, e muito. Mas as nações colonizadas não fizeram por menos, como se constata e prova. O mesmo autor se refere também a outras nações e aos governos que as estigmatizaram pesadamente. É o caso do México, que ostenta o pérfido título de aquela em que um partido político ficou maior tempo no poder em prejuízo para seu povo. O Chile varia com dirigentes de vária posições ideológicas e em detrimento dos interesses de seus cidadãos. De Cuba, não se precisaria rebuscar no passado porque sua crônica perversa segue em nossos dias. A Argentina se destaca pelo número de mortes e prisões resultantes de sua repressão política, não se precisando referir aos graves problemas econômicos destes anos recentes e até hoje. Nem sequer chegamos às pequenas repúblicas da América Central. Não há limites para a tirania e a opressão. Setembro de 2022 no Brasil constitui uma oportunidade inigualável para comentar e criticar, condenar com veemência. |
Por Manoel Hygino - 31/8/2022 18:23:30 |
A nova chance Manoel Hygino O desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, que goza do privilégio de excelente memória, lembrou fato de junho de 1981, em sua cidade natal, São João del-Rei. Era o feriado de Corpus Christi, e o então senador Tancredo Neves recebeu o ex-presidente Jânio Quadros para um almoço no Solar dos Neves. O hoje magistrado estava atento, estudava Direito, captou as conversas e guarda as palavras até hoje. Houve o almoço e, após, enquanto se bebia um saboroso licor, os presentes se manifestavam, satisfeitos. O presidente perguntou ao anfitrião: “Se lhe fosse dado escolher outra época para ter nascido, qual escolheria”? Tancredo respondeu, sem titubear: “Em Paris na Belle Époque!" Ao que Jânio retrucou, com seu português castiço: "Eu quisera ter nascido na Grécia, ao tempo de Platão”. E cada qual justificou sua preferência. O jovem que ainda completaria 20 anos em 8 de setembro, tudo escutava boquiaberto. Já andava lendo Platão, A República, para a disciplina Teoria Geral do Estado. A excêntrica aula, naquele princípio de tarde fria, em São João del-Rei, ele não esqueceu jamais... Que diriam os sucessores de Jânio e Tancredo, agora que estamos em outro século e tantos foram os que passaram pela chefia da nação? Não conseguiram ele – Jânio e Tancredo, concluir os seus mandatos. Como foram difíceis estes períodos que fluíram do feriado religioso em São João del-Rei ao do bicentenário da Independência, em 7 de setembro vindouro. Os dirigentes dos destinos nacionais neste ínterim têm sido marcados por acontecimentos múltiplos, muitos dos quais dramáticos. Poderiam ser piores, afirmaram alguns, mas os que passaram pela gestão dos negócios públicos, visando encontrar saídas para os desafios, talvez não tivessem ocasião para decidir onde viverem alegres momentos em algum lugar do mundo. As eleições de agora nos abrem uma oportunidade nova para escolher um presidente da República. Eis uma nova chance para eleger quem se sinta disposto a enfrentar a incúria, a corrupção, a incompetência que ainda vicejam ou dominam a máquina administrativa. |
Por Manoel Hygino - 30/8/2022 10:28:55 |
Um planeta cansado Manoel Hygino Por iniciativa do advogado e escritor (dentre outros títulos que tem), Napoleão Valadares, nascido em Arinos, realizou-se naquela cidade mineira, com patrocínio do município, um Encontro de Escritores em maio último, com participação de quatro autoridades em cada tema escolhido: Anderson Braga Horta, Eugênio Giovenardi, Marcos Silvio Pinheiro e Wilson Pereira. Vou cingir-me hoje ao segundo, nascido em Casca-RS, formado em Filosofia e Sociologia, ecologista com especialização em água, autor de diversos livros e membro de várias Academias e do IHG do DF. Ele está convencido de que “o planeta da sinais de cansaço”. Argumenta: “A evolução tornou a espécie humana diferente de todas as outras vidas”. “Somos, no planeta, os únicos viventes a usar o fogo, a derrubar árvores, a cultivar os campos, a desviar o curso dos rios...”. Essas diferenças entre o ser humano e os demais seres vivos romperam a harmonia original do planeta”. Acrescenta: “A Terra leva no cangote 8 bilhões de humanos e outros tantos bilhões de não humanos que disputam diariamente o alimento e água para sobreviverem e se reproduzirem. A população do Brasil, segundo o IBGE, é de 212 milhões de pessoas e, de acordo com as informações da Confederação Nacional da Agricultura, o rebanho bovino alcança o inacreditável número de 216 milhões de cabeças”. Uma imensidão. Apenas para ilustrar a grande competição pela comida e pela água, temos a segunda população doméstica de cães, gatos e aves canoras e ornamentais em todo o mundo. O país é o terceiro maior em população de animais de estimação. Interrompemos, mas não paramos. A ONU alerta os governos dos 190 países estabelecidos no planeta para o fato de dois bilhões de seres humanos, isto é, um quarto da população mundial, lutarem contra a desnutrição e a dificuldade de acesso a água potável... Além disso, as mudanças físicas e climáticas que a terra enfrenta há bilhões de anos, intensificaram pela ação humana nos duzentos anos mais recentes. E há muito mais, e esta realidade afeta a biodiversidade de toda a população mundial, especialmente nossos descendentes, que terão dificuldades enormes em administrar nossa herança climática e nosso espólio ecossistêmico. |
Por Manoel Hygino - 29/8/2022 13:30:45 |
A falta de água Manoel Hygino Não são boas as notícias recentemente divulgadas sobre o abastecimento de água em Belo Horizonte. É que, como informado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, a situação não é das mais confortáveis. O organismo, há pouco, emitiu alerta sobre o quadro ora constatado, que revela previsão de escassez. O objetivo do comitê é orientar e alertar os órgãos competentes sobre a possibilidade de um período de escassez. De acordo com o secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, a preocupação com o leito d’água deve ser constante. “Ele é o responsável por mais de 60% do abastecimento de Belo Horizonte e quase 50% da região metropolitana. Então, ele é muito significativo e importante para manter a disponibilidade hídrica da região”. Votamos assim a um período dos mais difíceis na história da capital, cujo atendimento era sumamente precário, exigindo a ajuda utilíssima dos caminhões-pipa, como se faz até hoje na região norte-mineira, sempre sofredora de longas estiagens. No agosto findante, a advertência do comitê já fora divulgada, mas é apenas o começo de uma crise que pode assumir proporções muito maiores. Bem verdade que não há ainda previsão de racionamento, mas o aviso prévio já constitui algo para incomodar a população, não só da capital, mas de toda sua região metropolitana. Desde já, ficou o conselho: é imprescindível o uso racional de água, pois a escassez poderá afetar a segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O comunicado se dá pelo fato de o Rio das Velhas ter entrado oficialmente em alerta no começo de agosto. Mesmo não havendo previsão para que aconteça racionamento, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) reforça a necessidade dos usuários do sistema se precaverem. Não é nada bom repetir o drama de décadas atrás, quando segmentos importantes da população se viam prejudicados. O Rio das Velhas veio para salvar a situação, quando o presidente da República era Juscelino, ex-prefeito e ex-governador e conhecia bem de perto o problema. Mas a cidade continuou crescendo, a região metropolitana idem, e a abrangência do problema hoje teria dimensões muito mais expressivas. Uma população muito maior sentiria. |