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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 28 de setembro de 2024
 

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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 51)

O PROJETO

Ao criarmos a empresa piloto, aqui em Montes Claros, em dezembro de 1967, sugeri que entregássemos a elaboração do projeto à empresa NORDESTE PROJETOS, cuja competência eu ficara conhecendo por ter sido essa empresa que fizera o projeto do FRIGONORTE.
A escolha foi tão acertada que após a aprovação do projeto contratamos a empresa para continuar como nossa representante junto à SUDENE.
Na decisão de implantação da Coteminas levamos em conta a vantagem locacional, as fontes de matéria prima, as possibilidades de mão-de-obra, o reconhecimento do mercado de demanda e o estímulo através dos incentivos fiscais e creditícios da Sudene.
Na definição do tecido a ser produzido evitamos colidir com os interesses da indústria têxtil mineira.
Na escolha das máquinas orientamo-nos por pesquisa realizada pelo CEPAL, na indústria têxtil do Brasil. Dados colhidos em 850 fábricas do País, apresentavam o rendimento das fiações em apenas 58% do rendimento padrão e o das tecelagens em torno de 54% do que se podia alcançar com maquinaria moderna.
A mesma fonte acrescentou que estavam obsoletos 80% dos fusos e 70% dos teares instalados.
Era este o quadro da indústria têxtil nacional.
Cresceu a nossa disposição de optar pelo que de mais moderno existia no mundo.
Prosseguindo na pesquisa, verificamos que estavam saindo das pranchetas da engenharia européia um tipo de tear avançado tecnologicamente para produzir tecido de modo contínuo e em várias larguras, sem lançadeiras e outros acessórios, produzindo por 6 teares comuns. Foram esses os teares que compramos para a Coteminas.
Em 1968 o projeto ficou terminado e foi entregue à Sudene. Esperávamos que fosse aprovado naquele mesmo ano.

IMPASSE NA SUDENE

O projeto Coteminas, apresentado em 1968, encontrou resistências em seu trâmite. E caiu num impasse. As notícias não eram animadoras. Dizia-se que o projeto não seria sequer analisado, isso porque os estados nordestinos queriam que a Sudene primeiro cuidasse da renovação do parque têxtil do Nordeste, que estava envelhecido.
Certo dia, em Brasília, sendo eu deputado, fui procurado pelo Governador João Agripino, que me disse o seguinte:
Estou informado de que o nobre deputado é presidente da Companhia de Tecidos Norte de Minas - Coteminas, com projeto na Sudene, para implantação de uma moderna fábrica de tecidos.
– É verdade, Governador. Estamos com esse projeto na Sudene.
– O projeto de vocês - disse ele - dificilmente será aprovado. A Sudene está voltada para a recuperação do parque têxtil nordestino, em via de tornar-se obsoleto. Só depois disso irá acolher projetos novos.
A conversa do Governador me preocupou. Eu tinha conhecimento desta preferência da Sudene pela recuperação das fábricas do Nordeste e sabia que se propalava em Recife que a partir de dezembro a Sudene não iria mais receber cartas-consulta de projetos têxteis. Por um período de 2 a 3 anos.
A uma outra pergunta dele eu informei que era nosso propósito implantar a fábrica em Montes Claros, na Área Mineira da Sudene.
O Governador João Agripino era figura respeitável no Congresso. Por sua experiência parlamentar e pela liderança que exercia, eu sempre o admirei.
No prosseguimento de nosso diálogo, a certa altura ele disse ao que viera.
– Vocês deviam pensar numa solução. De minha parte, posso ajudar. Se vocês levarem o projeto para João Pessoa, eu garanto a aprovação e ainda faço a doação do terreno e ofereço o aval do Banco do Estado. Podem contar com o Governo da Paraíba para o que vocês precisarem.
– Eu fico muito grato, Governador, mas pelo menos até o momento o nosso propósito é fazer a implantação do projeto em Minas.
– Vocês planejaram para Minas, mas isso pode mudar. Eu garanto a concordância da Sudene. Além do mais, prosseguiu, por que Minas? Minas não tem algodão de fibra média e longa. Nós temos. No futuro vocês terão de exportar. Minas não tem mar. A fábrica de vocês fica bem é na Paraíba. Pense nisso, deputado, e conte comigo.
O Governador João Agripino lutava bravamente pelo seu estado.
A conversa me preocupou por que o Governador João Agripino desfrutava do mais alto conceito na Sudene. Numa disputa, a Sudene se posicionaria em favor da Paraíba, pois era voz corrente, na Sudene, que Minas era rica e não merecia os incentivos da autarquia. Além disso, o Governador João Agripino era da UDN e nós do PSD. A UDN era íntima da revolução. Magalhães Pinto, presidente da UDN, fora o chefe civil da Revolução. Nós, do PSD, éramos tratados sob suspeita, por causa do Juscelino. Por isso tudo, fiquei preocupado com a conversa do Governador João Agripino.
Além do mais, sabia-se que a Sudene resolvera paralisar a aprovação de projetos têxteis a partir de Janeiro do ano seguinte, para reestudar a indústria têxtil do Nordeste e criar um programa voltado para a renovação de seu equipamento. Essa suspensão seria de 1 a 3 anos. Se a portaria suspensiva entrasse em vigor antes da aprovação da Coteminas, adeus fábrica de tecidos!

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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