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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 28 de setembro de 2024
 

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Mensagem: E agora, Rio?

Manoel Hygino ( Jornal ´Hoje em Dia´)

Fernando Gabeira, jornalista, revolucionário armado contra a ditadura militar, como conta em “O que é isso, companheiro”, livro que virou filme, candidatou-se a prefeito do Rio de Janeiro, cidade em que passou a maior parte de sua existência. Com pálido início, a preferência por seu nome e foi aquecendo, fazendo que alcançasse o segundo turno, na renhida disputa.
Gabeira é figura polêmica. Em determinado momento, quando havia repúdio quase generalizado ao uso da maconha, ele próprio usuário que fora -defendeu a descriminalização. Aliás, há uma onda nesse sentido: descriminalizar.
No início dos anos 80, ele viajou de ônibus a Montes Claros para pesquisar a vida de mulheres importantes dali: D. Tiburtina Alves, que ganhou realce nacional graças ao episódio de 6 de fevereiro de 1930, e a esposa do ex-prefeito Alpheu Quadros.
Um jornalista lembra que, no principiozinho, Gabeira espantara o Rio envergando minúscula sunga de crochê, ou assemelhado, mas conversou na quente cidade mineira com muita gente e circulou em mais de uma moto. Foi uma celeuma: não parecia o ex-guerrilheiro urbano, que ajudara no seqüestro do embaixador Elbrick, dos Estados Unidos.
Em “O que é isso, companheiro?”, de 1981, Codecri, Gabeira detalha sua participação num dos mais ousados episódios da luta contra a ditadura militar. Depois, ele seria banido com destino à Argélia. Eram quarenta a serem libertados, que se encontraram no aeroporto militar do Galeão no Rio. Conheciam-se apenas por nome ou referências.
“Fomos colocados num avião da Varig, algemados dois a dois. Cada dupla era protegida por um policial no avião. Visto de fora aquele avião parecia um avião normal”. Gabeira elogia a ótima comida oferecida pela Varig: filé com batatas. “Boa demais para quem passara tanto tempo na cadeia.”
Ao lado do jornalista de Juiz de Fora, um policial que tivera um primo comunista em Goiás. Gabeira comentou que também tivera um tio tuberculoso em Minas. Orientava seu interlocutor, que desejava saber mais sobre a Argélia.
A palavra-chave era souvenir, o abre-te sésamo para compras na Argélia. Onde houvesse afixado o vocábulo, estava um convite. Parar e comprar. No próprio aeroporto, já se podia adquirir lembranças inesquecíveis.
Mas, o carioca-do-brejo, como os mineiros apelidam o juiz-forano, voava para longe, já sentindo saudade do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa. Embora o governo assinasse uma pena de banimento, paradoxalmente Gabeira sentia que só então começava a viver.
“Lembro-me como se fosse hoje da Baía de Guanabara, das praias, da cidade do Rio de Janeiro desaparecendo de nossa visão”. E meditava:
“Se soubesse que era por muito tempo ou talvez para sempre, se soubesse que não era eu que estava partindo, mas que o carrossel empurrava aquele avião para um caminho, num certo sentido, sem volta, até que diria: Tchau Vera Cruz, tchau Santa Cruz, tchau Brasil”.
Ao renunciar à carreira de jornalista, Fernando Gabeira abria clareiras para outros flancos: a literatura e a política, embora aquela tenha estreitos liames com a reportagem e a biografia. O homem vive os episódios que descreve.
Na política, houve o suspense até o último voto: seria ele o prefeito da cidade do mundo que mais amou? E o eleitorado perguntava: será que dá certo? Agora é aguardar o correr da história.

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