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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A Dança das Palavras

O imortal Adherbal Murta de Almeida escreveu, na orelha da capa do livro “A Dança das Palavras” da poetisa Doris Araújo, que: “Poesia é emoção que emana da estética das coisas: do voo das borboletas, do canto do sabiá, do amanhecer do dia, do sorriso da criança, do amor de mãe, do ribombo dos trovões, dos serenos da madrugada. Há pessoas que têm uma percepção imediata e sublime deste rebentar do belo e há outras mais felizes, que até conseguem traduzir essas emanações em palavras que cantam, choram, sorriem, gemem”.
Integrante do Grupo “Oficina das Letras” e membro da Academia Montesclarense de Letras, Dorislene Alves de Araújo e Almeida – Doris Araújo – em suas poesias não deixou que as palavras, como enuncia Domingos Paschoal Cegalla, dormissem “seu sono profundo como as pedras no seio das montanhas”. Ela as despertou e com elas construiu, com profundidade filosófica, uma bela coletânea de poemas, que compõem o seu livro “A Dança das Palavras”.
Dizem que poucas pessoas leem livros de poesias, e porque não são sentidos os versos morrem; eles se matam. É o que nos afirma Doris Araújo em um dos poemas de seu livro: “Os meus versos morreram. / Eu os enterrei bem fundo / no meu peito e na minha alma. / Os meus versos se mataram. / Andavam em crise existencial. / Sentiam-se lesados, ultrajados / e, imerecidamente, ignorados. / Eram versos vivos, efervescentes, / virgíneos na sua essência. / Distorceram, macularam, / violentaram até as suas vísceras. / E os tornaram virosos, letais. / Os meus versos morreram. / Os meus versos se mataram. / Eu os enterrei bem fundo / no meu peito, na minha alma. / Eles não contagiam mais”.
Os seus versos, todavia, estão vivos e efervescentes em cada texto contido nas folhas de seu livro, transparentes e brilhantes como os sóis que iluminam a sua arte de poetizar. Eles passeiam voluptuosos pelo erotismo de seu corpo, que torna rubras as rosas. Tão sublimes quanto o enlevo de sua alma embriagada de sentimentos inquietantes como as ondas agigantadas de um mar revolto. Os seus sonhos, enfeitados de estrelas, não deixam que a terra macule os seus pés, em desvarios de loucura. Neles ela mostra o lado humano de sua alma exterior, energia que ela manifesta com prazer para deleite de seus leitores. Deles extrai-se, dentro da teoria machadiana da alma exterior, a importância que têm os outros para ela mesma.
É uma pena que o tempo tenha levado algumas de suas composições em versos, mesmo que elas fossem mágoas ou dores bem doídas. A poesia é, em verdade, “rebento de momentos sofridos”. Não conheço a sua prosa, mas aplaudo o seu subjetivismo poético.
Em uma quinta-feira de fevereiro (19/02/2009), na sede da Academia Montesclarense de Letras, encontrei-me com Doris Araújo. Contou-me ela que tinha lido o meu “Serrano de Pilão Arcado – A saga de Antônio Dó”, mas eu ainda não conhecia a sua obra poética. Li, depois, “A Dança das Palavras”. Agora, quando me recordo do encontro, veio-me à lembrança o artigo do dramaturgo Alcione Araújo “O poeta esconde a poesia sob a pálpebra”, publicado no último número da Revista da Academia Mineira de Letras, no qual ele relata o seu primeiro encontro com Carlos Drummont de Andrade.
Se eu tivesse lido, antes, a poesia de Doris Araújo teria sentido as mesmas emoções que teve Alcione Araújo ao se assentar, em um ônibus, no Rio de Janeiro, ao lado de Carlos Drummont de Andrade.
Depois de ler “A Dança das Palavras”, verifico que eu não sabia, naquela tarde de quinta-feira, que estava conversando despreocupadamente com um gênio da arte literária.
Agora, recostado no espaldar da cadeira, em frente ao meu computador, ganho liberdade para meditar. Releio no artigo de Alcione Araújo: “O poeta me ignora. Simplesmente não me vê. Se olhasse pela janela, poderia me perceber, pelo menos, de soslaio. Mas ele age como se ali não houvesse ninguém. Abre o livro e lê, nariz quase colado ao papel. O ônibus parte. Olho pela janela, fingindo ensimesmamento. Na verdade, atento a cada movimento do poeta, à sua respiração, até ao seu olhar. O poeta não sabe, nem pode saber, que ao seu lado está um leitor de seus versos, que compartilha tanto de sua sensibilidade que se sente cúmplice do olhar, de retinas fatigadas, que pousa sobre homens e coisas. O poeta não sabe, nem pode saber, que este que ele ignora a seu lado, leu todos os seus poemas, de todos os seus livros, assim como todos os livros sobre os seus livros.”

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