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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: DE ROÇA MOLHADA E ONÇA PINTADA<br><br><br>Não sei se foi ontem, ou no ano passado, mas tenho certeza que foi num dia desses. <br><br>Estranho é que a gente se lembra com tanta saudade, que chega doer no coração , de leve, tipo medo de não se repetir jamais.<br><br>Naquela velha cozinha da fazenda, noite e madrugada se misturavam na beirada do aceso fogão de lenha que, além de aquecer o sereno da noite, era o grande responsável pelo tira-gosto à altura de velhos amigos que se reencontravam, agrupados à sua frente, em volta da centenária e ainda firme mesa de madeira, de três metros de comprimento e muita história pra contar. <br><br>Sentados nos bancos de aroeira os mais chegados se revezavam no ir e vir à chapa gigante de ferro batido, já preparada e completamente untada de gordura (da carne de sol) para receber aqueles bifes previamente cortados, que ficavam ali, graciosos em seus coloridos dois pelos e bem amontoados dentro de uma grande - e já corroída pelo tempo - gamela de pau .<br>À espera de serem fritos, mal ou bem passados, dependendo do gosto do freguês, eram pegos e levados ao fogo pelo grande garfo do capeta (poderoso tridente que em outros tempos já até servira para pescar incautas curimatãs que insistiam em ficar pitando no córrego do fundo do quintal) para logo serem levados à mesa e fatiados numa grande tábua, salpicada pelos quatro cantos de pimenta “malaguetinha” e farinha.<br><br>Lá de Morro Alto.<br><br>Mais aquele caldo de mandioca e arroz com pequi feitos com ciência durante toda à tarde pela cozinheira oficial da fazenda e deixados no borralho para sustentação da turma.<br>Pro mais adiante da noite. Que ia ser longa, ela já sabia. <br><br>Lá fora, a chuva não dava descanso. Graças a Deus, molhado cheiro de mato.<br><br>As mariposas, imprudentes como sempre, teimavam em procurar luzes dentro de casa e de vez em quando, uma ou outra, desvairada, caía na chapa quente. Imaginem vocês, quando era tanajura, tinha gente que até a misturava na farinha e...comia, onde já se viu!<br>Tonto, fazendo bonito, porém muito aplaudido.<br><br>Também, em cima da mesa, um garrafão de um “ex-vinho Cabeça de Touro”, atualizado até a tampa por uma deliciosa Viriatinha de 15 anos, confirmada e assinada a procedência e idade pelo dono, o grande cantador Beto Viriato.<br>Se bem me lembro tinha umas Canarinhas cantando, afinadas, e uma Santa Rosa rezando. Todas, dando conta do recado, direitinho.<br><br>Na grande mesa, um povo tomando vinho, outro povo arregaçando na cerveja, cujo ninho era o tanque de lavar roupa, com gelo e serragem até o tampo. As pingas só entravam nos intervalos da cerveja e do vinho. Povo sem termo!<br><br>As conversas já lá iam adiantadas, até chegar na preferida dessas ocasiões, sempre a mesma coisa naquele norte querido : conversa de onça, onça pintada, sem pintas, enfim, onça de todo e qualquer jeito. Nunca vi gente gostar tanto de uma mesma conversa. Todo mundo dá palpite, cada um conta um caso, do tio, do avô e dos perigos acontecidos por conta da presença da pintada. E cada ano os casos ficam melhores.<br><br>Até a hora que um tocador pega na viola e canta :<br><br>“ Um tocador, de violão, não pode tentar prosseguir quando lhe acusam de estar mentindo...” <br><br>Como diz o outro : aí pode largar...<br><br><br><br>Abraços a todos.<br><br><br>Flavio Pinto

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