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Mensagem: DO CRIME TRANSPARENTEOswaldo AntunesO assunto está na ordem do dia: alguns crimes deixam de ser crimes quando praticados à luz do dia. E pensar que tantos morreram no escuro em defesa da honestidade e da dignidade pessoal. No ano passado foi sepultado em Montes Claros o homem do povo Porfírio Francisco de Sousa que carregou discretamente várias marcas de torturas, praticadas quando sequer o ideal de liberdade podia ser transparente. Como ele, os belorizontinos vereador Orlando Bonfim e o estudante José Carlos da Mata Machado, torturados e assassinados entre paredes. Vale lembra-los agora pelo contraste. Morreram obscuramente, por uma moralidade clara. Estiveram nas catacumbas da nossa formação histórica, quando hoje a transparência ilumina a injustiça social, a malversação do poder e do dinheiro publico.Passou a ser, no mínimo, curiosa a verificação de que a perversão publica é justificável desde que se faça às claras. À luz do dia, o delito passa a ser aceito. Mas não chega a ser novo esse tipo de moral política. Não fosse a falta de cultura de quem a pratica, poderia ser a continuidade do modo infinitivo de roubar a que aludiu o Padre Antônio Vieira no Sermão do Bom ladrão. Na verdade, muitos que se elegem para cargos públicos desconhecem o sermão famoso. Mas esse analfabetismo que não impede a esperteza. A manha, a astúcia que a politicagem ensina, é perpetrada em prejuízo do outro analfabeto político, o que morre de fome sem saber o porquê do custo de vida e o que engole calado o preço do feijão, da farinha e do remédio, de tudo que depende de decisões não muito transparentes. É forçosa ainda a conclusão de que a corporificação nos órgãos de poder leva á vigência desse aproveitamento malicioso. À falta de um critério moral na escolha dos homens públicos, passa a vigorar a regra do desfrute, desde que feito à vista de todos, pela maioria. Até alguns órgãos e homens que deviam promover e garantir a Justiça entendem que esse suposto poder lhes é dado pelo povo.
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