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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: ´ARGOLlNHA´, VEU, GRINALDA E FLORES DE LARANJEIRA A Cavalhada era uma das festas tradicionais mais bonitas da nossa cidade. Era o ponto alto das Festas de Agosto. Dava gosto ver os senhores da nossa melhor sociedade correndo cavalhada. Com que entusiasmo vestiam aquelas roupas de ´ofi¬ciais´, azuis e vermelhas, com dragonas e botões dourados, bem elegantes, montados em cavalos muito bonitos e amestrados, selas novas e ´incrementadas´. Com o afluxo dos automóveis e o domínio da cibernética, o cavalo perdeu sua ´cotação´. Antigamente, fazendeiros que se prezavam, possuíam bons cavalos. Era comum vê-Ios desfilando pelas ruas, vaidosos, mos¬trando suas habilidades como ´marchadores´ e ´esquipadores´. Havia uma verdadeira competição, cada qual queria ter o melhor cavalo. Hoje, ao contrário, todo fazendeiro tem seu carro (último tipo e ano), caminhonete ou jipe. Apenas os vaqueiros e peões ne¬cessitam dos cavalos. Desaparecendo-os, e os apreciadores desse es¬porte, a Cavalhada também se foi. Mas, ela teve, nos áureos tempos, muita influência na vida dos montes-clarenses. Era total a adesão às corridas e disputadíssimos os lugares de Reis, Cristãos e Mouros. Era até muito ´chic´ e importante ´correr cavalhada´. Roupas caríssimas, cavalos excelentes, e muito entusiasmo: durante os 3 dias das Festas de Agosto, toda a população se volta¬va eufórica para assistir à grande disputa entre ´Mouros´ e ´Cris¬tãos´ . A origem das Cavalhadas vem dos torneios medievais nos exercícios de guerra e práticas de galanteios de fidalgos. Estas festi¬vidades chegaram ao Brasil, com os portugueses, já apresentando, naquela época, feição cívico-religiosa. Foi em 1905. Num mês quente e ensolarado de agosto. O ´Largo da Matriz´ estava todo engalanado para a Cavalhada. Tudo era alegre e colorido! Os enormes arcos de bambus, muito verdes, enfeitados de papel crepon multicor, davam um to¬que pitoresco àquele ´largo´ singelo (hoje praça Dr. Chaves), on¬de a poeira se levantava como nuvens açoitadas pelo vento. As bandeirolas, guirlandas coloridas e folhas de bambu se movimentavam num balanço gostoso ao som da música que enchia a praça. Tudo era alegria, era festa! Entretanto, a alegria era muito maior em casa do Cel. Cassimiro Xavier de Mendonça, que morava naquele abençoado ´Lar¬go da Matriz´, num bonito sobrado colonial (construído por ele), hoje residência da viúva do saudoso Hildebrando. O velho Cassimiro era ´sistemático´, protótipo do patriarca respeitável da antiguidade clássica, pai de oito filhos, dos quais quatro eram moças bonitas e casadoiras, inclusive duas gê¬meas que, por serem tão parecidas, os próprios namorados (só de longe) se enganavam quando as viam na janela do sobrado. Uma delas estava nervosíssima naquela tarde festiva, pois seu noivo, Tobias Tupinambá era, com muita honra, o ´Rei Cristão´. Ele era bonitão, elegante, forte, moreno de olhos verdes, culto e bem falante recém-chegado do Seminário de Diamantina (seus pais sonhavam ter um padre na famrlia). Na força dos seus 20 anos e conhecendo a morena bonita do Largo da Matriz, apaixonou-se, mandando às favas o Seminário e os doces sonhos de seus pais. Mas, o regime do velho Cassimiro era ´dureza´ e Tobias só poderia vê-Ia de longe. E quando as gêmeas vinham juntas à janela, ele se confundia todo, sem saber, ao certo, qual era a sua eleita. Resolveu ficar noivo, sendo logo aceito e marcado o casamento, pois o sogro não queria noivado demorado. Foi um grande amor à primeira vista. Naquela tarde, no sobrado, suas irmãs, primas e amigas, reuni¬das no quarto grande que dava janelas para a Praça, conversavam animadamente como fazem as mulheres quando se encontram. O assunto era ´ele´. O Largo estava repleto! Tinha gente até nos galhos das man¬gueiras. A música tocava com grande entusiasmo e todos os olhos se voltavam para os garbosos ´oficiais´ de azul e vermelho que se enfileiravam em lados opostos da Praça, montados em cavalos fo¬gosos, que de vez em quando, nervosos, sacudiam as cabeças, ba¬lançando as crinas lustrosas e bem penteadas, fazendo tinir todos os enfeites das arriatas de pratas e dos peitorais, cheios de guizos que prendiam as estilosas selas. Como estavam bonitos aquelas cavalheiros! Roupas coloridas, dragonas e botões dourados, botas lustrosas de pelica preta, espo¬ras de prata, tudo impecável! Em poucos minutos a luta se trava, recordando-nos as grandes batalhas de séculos passados. As moças, ansiosas, se debruçavam nas janelas do sobrado. A ´noivinha´, coitada, cada vez mais aflita! Enquanto cavaleiros corriam em disparada, dando voltas em toda a Praça, ao compasso da música, ora Cristão ora Mouro se cruzavam batendo as espadas ou lanças enquanto suas capas enor¬mes de cetim voltavam no ar, num movimento bonito e gracioso. Lutavam com espadas, lanças, pistolas e, finalmente, a dispu¬ta de ´argolinhas´. Era aí que eles demonstravam suas habilidades (agilidade, des¬treza, perícia), acertando as ´argolinhas´. Era de praxe oferecê-Ias à esposa, noiva ou pessoas e autoridades mais importantes da cida¬de que, em agradecimento, colocavam na lança do cavaleiro uma ´prenda´ (geralmente dinheiro) amarrada com laço de fita. Portanto, o noivo encabulado, se esforçava pois sua chance de tirar a argolinha e mostrar que era ´machão´ estava se esgotando! A torcida era forte. Todos sabiam que a noiva do rei Cristão acompanhava aflita os lances da corrida. Ele não podia fracassar, era questão de honra. Os amigos e compadres do velho Cassimiro também não abriam mão dessa vitória. . A música tocava animada. Os cavaleiros continuavam sua dis¬puta. Os espectadores vibravam de entusiasmo, esperando a vitória dos Cristãos! Havia grande suspense! . Ele corria, corria, mas não acertava. Estava nervoso. Quase to¬dos os companheiros cristãos tinham sido contemplados e ele nada! Lá no sobrado, continuava a agitação. As amigas rezavam o terço, faziam promessas e as velas se queimavam no oratório da Santa Padroeira. Seu Cassimiro também estava muito nervoso, pois, se o genro perdesse, era um fiasco para toda a família. Nos intervalos, enquanto os cavaleiros se relaxavam, era a vez dos palhaços. Montados em cavalos velhos e lerdos, passavam bem devagarinho por baixo das argolinhas. Aí paravam, ficavam de pé em cima da sela e, calmamente, enfiavam a lança nas argoli¬nhas, saíam oferecendo-as aos espectadores que Ihes davam ´gor¬jetas´ pela estrepolia. Para a criançada, não tinha nada melhor, e até os adultos muito se divertiam com as piruetas dos palhaços. Voltavam novamente os cavaleiros à grande disputa. Era a parte em que o povo mais vibrava. - Será que o noivo vai conseguir? Esta pergunta pairava no ar e o coração da filha do Cel. Cas¬simiro batia fortemente. De repente, ouve-se: ´Bravo! Bravo!´ Grande gritaria e até foguetes! (já estavam encomendados). O Rei Cristão está eufóri¬co! Todo garboso, dá voltas em toda a praça (galopando ao som da valsa) e, aproximando-se da janela do sobrado, levanta sua lança em cuja ponta brilha a ´argolinha´ e oferece-a à sua noiva que, muito sorridente (mas um pouco afobada), debruça-se à ja¬nela e coloca na ponta da lança seu lindo véu e grinalda. Todos os olhares acompanhavam aquela bonita cena! Ele agradece a sua noiva e parte, novamente, em galope, dando mais duas voltas em toda a Praça com sua lança enfeitada com as flores de laranjeira. Ao passar em frente ao sobrado, lan¬ça olhares à sua noiva, que os recebe apaixonadamente. Casaram-se, e como nos contos de fadas, tiveram muitos fi¬lhos e foram felizes. Quando me entendi por gente, mamãe con¬tou-me esta história tão romântica. Durante muitos anos meu pai ainda correu cavalhada. Eu as¬sistia todas e ficava muito orgulhosa quando ele passava naquela bonita roupagem azul e dourada, a coroa de ´rei´, a enorme capa esvoaçando, enquanto o cavalo galopava ao som das valsas. Que saudades eu sinto, hoje, das cavalhadas e do meu garboso Rei Cristão!
Cidade: Montes Claros/MG

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