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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A SANTADA

1955 Formávamos um bando de meninos, todos moradores da Rua Tiradentes e adjacências e descíamos para a exótica Rua XV, no centro dos nossos Montes Claros. O intuito era aprontar com o mestre santeiro Firmino Sacristão, entre outros.
Passávamos em frente á sua oficina, para fazer o reconhecimento. Estivesse ele sentado trabalhando nos reuníamos em frente ao bar de Tito dos Anjos, para planejar a traquinagem.
Os dois mais corajosos, eu e Waltin Coutinho, íamos à frente e parando na porta de entrada da oficina, o saudávamos: como vai seu Firmino? Em seguida batia-se na aroeira da soleira da porta, com o nó dos dedos, ou na tábua do piso para produzir o barulho paco paco, compondo o seu apelido.
Juntando o som de Firmino, com o som da madeira paco paco, o homem explodia e descarregava a verborréia nos pestinhas que o incomodavam.
Vítima da coincidência fui chamado pela minha avó paterna, Belarmina Pereira, que exercia o papel de depositária de encomendas vindas e idas para a sua terra natal Guanambí, para levar até o atelier do mestre santeiro a estátua de Santo Antonio, padroeiro daquela cidade baiana, para reformas urgentes.
A me ver entrar na sua oficina, o mestre me recebeu de cabelo eriçado e expressão de carrasco. Fui logo relatando as recomendações do prazo de entrega, visando à festa do padroeiro bem próximo, e solicitando o preço a ser pago pelo prefeito.
Fiz cara de santinho de olhar baixo. Ele me olhou nos olhos e informou a data da entrega e o valor a ser cobrado. Em seguida sentenciou: mande outra pessoa vir buscar! Você não serve! Em seguida arrematou: não volte nessa loja!
O destino me fez escolhido para o acerto final com o mestre santeiro. Chequei com cara de santo do pau oco, paguei a conta apanhei a estátua, já embrulhada e, ia me mandando quando ele vociferou: eu falei para você não voltar aqui!
Cutucou o cão com vara curta! Era à hora da vingança. Entreguei a encomenda com todo cuidado a minha avó, calcei o meu quedes para poder correr melhor, voltei entrando desafiadoramente no salão, e olhando de frente para a sua reação de espanto e incredulidade, falei alto e claro: bom dia, seu Firmino Paco Paco!
Ele me arremessou a primeira estátua de santo ao alcance da sua mão. Preparado, abaixei e o petardo bateu na aroeira do esquadro da porta de entrada, esfacelando-se em mil pedaços. Foi o dia mais feliz da minha vida de menino. Passei um ano sem voltar a Rua XV.
Entretanto, realizei a façanha que todo garoto gostaria de ter feito!

Raphael Reys

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