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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: “Confete, pedacinho colorido de saudade”<br><br> Não me passou pela cabeça escrever sobre o carnaval. Contudo ao ler no “Jornal de Notícias” do dia 06 de fevereiro a crônica “Caindo a Máscara” de Felipe Gabrich e uma matéria emocionante na página “Celebridades Nossas”, de Marcos Guimarães, focalizando a figura inesquecível de Dona Afra Bichara, a maior carnavalesca de Montes Claros, não resisti e aqui estou alinhavando lembranças esgarçadas.<br> A emoção brotou de uma nascente, se transformou num fio de água, num riacho, num rio e lá estava eu acompanhando o cortejo alegre de Dona Afra. Uma saudade louca, arrasadora voltou de repente invadindo meu peito, ressuscitando todas as lembranças adormecidas.<br> Livre do tempo e do espaço vou atrás de Dona Afra curtindo o mais precioso dos bens, que é a alegria. Uma charanga animadíssima tocava marchinhas carnavalescas e como uma rainha, com direito a reverências, súditos e aplausos, Dona Afra comandava o carnaval daqueles tempos com o respeito e admiração da cidade. Também “seu” Vavá alfaiate usando uma camisa amarela de cetim, boné de marinheiro, tocando seu piston, animava o corso. A cabeça fervilha de recordações e como num filme, vejo Roque Barreto tocando surdo em meio a serpentinas, confetes e o cheiro delicioso, inebriante do lança-perfume Rodouro!<br> No Clube Montes Claros, a animação das matinês reunia adolescentes e crianças. Lembro-me das mais animadas folionas: Layce Tourinho, Janete Bessone e Marly do Prado. Layce, de família baiana, trazia no sangue e no pé a alegria de dançar. Usava fantasias lindas, uma para cada dia, e sempre tirava o primeiro lugar. Janete – hoje saudade – requebrava sem parar, animada como ela só, e Marly do Prado, lindíssima, num sarong dos mares do Sul, era a rainha do carnaval!<br> Viver é um exercício que deixa marcas. Carnaval é tempo de festejar, tempo de brincar, de sentir animação e alegria. Eu tinha mais ou menos dezesseis anos, minha avó Marieta sugeriu que eu deveria fazer um retiro espiritual nos treis dias de carnaval. Chegaram na cidade uns padres redentoristas, famosos por suas pregações. Concordei mais pela curiosidade que pela fé. Como me arrependi! Enquanto o Clube Montes Claros fervia de animação, eu usando um vestido com um “bolero” de mangas compridas – não se podia entrar na igreja com roupa decotada e sem mangas; o saudoso Padre Dudu, bastante inflexível, estabeleceu essa ordem para o sexo feminino – contrita, comecei a escutar o sermão. O Padre descrevia num tom de voz tétrico, as angústias do purgatório, os horrores do inferno, os demônios e suas maldades, esperando algum dia aqueles que pulavam o carnaval. O acerto de contas com Deus seria implacável. O medo me dominava, eu suava em bicas com o calor de fevereiro, o bolero de mangas compridas e as labaredas do inferno. “Meu coração batia que nem um bongô” e saí correndo da igreja. Cheguei em casa revoltada e para dormir precisei tomar “maracugina”.<br> .No outro dia, feliz da vida, fui dançar meu carnaval, apesar de nunca ter fantasiado; essa é uma das minhas frustrações...<br> <br> Hoje, tento analisar o carnaval mineiro. Nas cidades históricas e ribeirinhas é bastante animado. Em Belo Horizonte parece a parada de sete de Setembro, a alegria é vivida por decreto. Não há termo de comparação com a animação de Salvador, Recife e Olinda.<br> Porquê? Existe um jeito mineiro de ser? Penso que sim, e eu o reconheço na sobriedade dos sentimentos. Somos todos mais resguardados e contidos.<br> Apesar de ter nascido e vivido numa Minas sem barroco, oratórios, incenso, sem montanhas, em pleno sertão, ainda assim somos contidos. O Norte de Minas, uma das muitas Minas de Guimarães Rosa, cultua as serestas, danças folclóricas, mas o carnaval não tem lá seu espaço e destaque.<br> Por isto, Dona Afra, “seu” Vavá alfaiate, Roque Barreto e tantos outros que animaram o carnaval dos anos 40, 50, 60 não podem ser esquecidos e merecem um lugar de honra na história do carnaval Montes-Clarense.<br><br> Carmen Netto Victória<br> Fevereiro de 2005

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