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Mensagem: Entre os escombrosManoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 16/02/2007)Em política, quase sempre as denúncias e rigorosas comissões de inquérito terminam em pizza. A expressão já se vulgarizou e, mais do que isso, se tornou uma espécie de axioma, verdade incontestável no Brasil, abençoado por Deus. Ou não é mais?<br>O cidadão é desrespeitado, todos os dias e horas, em qualquer lugar, por atitudes de múltipla natureza. No trânsito, cujos sinais nem sempre são obedecidos, mesmo com os dispositivos eletrônicos; nos bancos, onde as filas permanecem e nem os idosos escapam enquanto os gatunos esperam os aposentados à porta, monitorados pelos comparsas lá de dentro. Não me vou estender, senão teria de ocupar laudas e laudas e espaço de jornal também tem limitação.<br>Em termos de drogas e sexo, tampouco há fronteiras. Não que o escrevinhador desta diária coluna seja pudico. O rapto das sabinas, na época em que Roma começava, é brincadeira, diante do que ocorre presentemente. Aliás, drogas e sexo andam juntas e faturam enormidade.<br>A ação da Migdal, uma empresa que já negociava com empréstimo e venda de mulheres no princípio do século passado, mesmo bem antes, trazendo-as da Europa devastada pelas guerras para o Novo Mundo, tornou-se insignificante diante do que hoje ocorre e ninguém ignora.<br>Sexo consome as pessoas e as pessoas são consumidas por ele. Em volume, não terá comparação em qualquer época da história. O recato deixou de existir e há anúncios de motéis em todos os meios de comunicação, e os e as jovens, adolescentes, tratam do tema com amplo conhecimento. Não entro no mérito de vantagem ou desvantagem. Não pretendo pregar moral.<br>Ao receber carta de Pirapora, encontro a repulsa de um brasileiro que visitou a igreja jesuística de Barra do Guaicuí, onde o Rio das Velhas despeja suas águas no São Francisco. O turista, sabedor de ali estar uma grande relíquia do Norte de Minas, tão importante quanto a igreja do Brejo do Amparo, em Januária, e da igreja de Matias Cardoso, se espanta. Enfim, são construções muito antigas, do século 16, talvez 17.<br>O visitante descreve o que encontrou: ruínas, telhas remanescentes caindo e o rasto dos depredadores nas pedras seculares. Nomes, palavras obscenas, dúzias de preservativos, espalhados por todos os lados.<br>E é um sítio histórico, em que belíssima árvore esbanja vitalidade dentro do templo, como se fossem uma peça única. Naquele local belíssimo, no encontro dos dois rios que cortam Minas e constituem uma síntese de nosso passado, o desrespeito.<br>O missivista estranha que assim aconteça, pois, no Rio Grande do Sul, há proteção completa ao que sobrou das reduções jesuísticas, que hoje formam o sagrado território das Missões, também com muita história de sangue e heroísmo, de religiosidade e fé.<br>Consta que o corpo de Fernão Dias Pais esteve sepultado por ali. A verdade não é tão exata assim, mas há liames. De fato, dando seqüência a suas provações, o bandeirante veio a falecer, com muitos dos seus homens, inclusive índios, em decorrência de uma peste.<br>Em determinado tempo, falava-se que os restos de Fernão Dias teriam ido para Santos, onde se achavam enterrados. Não é verdade, como atesta Salomão de Vasconcelos, confirmado por austeros historiadores, entre os quais Luiz de Paula Ferreira, que nasceu em Várzea da Palma.<br>Morto, o bandeirante foi instalado num barco para tomar caminho de São Paulo. Mais uma vez, a sorte não contemplou o desbravador. Houve o naufrágio da embarcação e o corpo levado pelo Rio das Velhas. Foi encontrado muitos dias após, procurado tenazmente pelo filho Garcia Rodrigues.<br>Resgatado, foi sepultado nas proximidades de Guaicuí, como confirma Simeão Ribeiro Pires. Aconteceu num cemitério, ou na velha igreja de pedras, erguida pelos jesuítas no governo Tomé de Souza. Eschwege diz que o local ficou assinalado por modesta cruz de madeira. Depois, tudo se perdeu.
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