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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 25 de setembro de 2024
 

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Mensagem: MATRIZ DE ANTIGAMENTE<br><br>Assim decorria a vida em M. Claros. . .<br>A cidade era simples, desconhecia clubes sociais, rádios e televisões.<br>As crianças cresciam colecionando santinhos que o bondoso Padre Marcos lhes dava, ao invés de autógrafos de Roberto Carlos, Ronie Von e outros.<br>Não conheciam a música estridente dos ´Beattles´, e todo mundo gostava de um choroso violão em noites enluaradas, pois a cidade era quase escura, e quando a lua surgia não faltavam seresteiros para saudá-la.<br>A gente era modesta e mesmo nas tradicionais famílias ricas que podiam mandar seus filhos estudarem nas capitais, as senhoras eram distintas, mas modestamente vestidas.<br>Montes Claros era como uma grande famflia, e os menos afortunados não se sentiam humilhados, porque pobres e ricos brincavam juntos e se misturavam nas escolas públicas.<br>As crianças desconheciam ´complexos´ e os jovens, ´angústias´ e ´frustrações´. Enquanto as famílias, à noite, se reuniam em grupos, conversando, brincavam na rua de ´chicotinho queimado´, ´boca de forno´, ´veadinho quer mel´, correndo em volta do coreto da Praça Dr. Chaves, rodeado de viçosas mangueiras.<br>E as coroações de Nossa Senhora! Muita gente ainda se lembra, com saudades. Era o grande acontecimento da velha Matriz no mês de maio. As novenas eram animadas e, durante todo o mês, a Igreja permanecia repleta, ninguém faltava. Era nesse mês que, sob os olhos da Virgem Maria, muitos romances floresciam.<br>Os rapazes, muito compenetrados e caprichosamente penteados e perfumados não perdiam as novenas, pois era lá que outros olhos de longe, ansiosos buscavam os seus cheios de promessas. . .<br>Qual a criança daquela época que não queria subir no altar todo enfeitado, jogar flores em Nossa Senhora e colocar à sua cabeça a coroa resplandecente?<br>O mês de maio era mês festivo e esperado com ansiedade por todos, e a Matriz o centro de atenções.<br>Como nos ´Début´ de hoje, cidade civilizada, as mães de ontem queriam seus anjos muito lindos e era interessante a competição de vestidos de anjo. As mães se desdobravam cheias de entusiasmo, vários dias, na confecção deles, bordando-os de aljôfares e imaculados arminhos.<br>As asas e as coroas eram verdadeiras maravilhas, num aprimoramento de arte e bom gosto. Nisto, Siá Aninha Braga era doutora. Sabia transformar as leves penas de garça, com perícia, em imaculadas asas, com as quais os anjos de Montes Claros subiam ao altar.<br>O coro era lindo! E, nas coroações mais importantes, a convite dos pais, ouvia-se o acompanhamento afinado do Tonico de Naná, Adail e Dulce Sarmento, e as vozes tão belas de Inhá Dias e das saudosas Idalice Prates e Iza Sarmento.<br>Era impossível! pensar em coroação sem antes pensar em Doe na Zinha Prates.<br>Uma vida inteira dedicada às obras da Matriz. Era ela quem ensaiava os anjos, ensinando-lhes os mais belos cantos, orgulhosa e feliz quando, dentre eles, descobria uma voz mais afinada, mais segura e forte. Era como se descobrisse um tesouro. Para ela, os lindos anjos da cidade eram a vida da Matriz, eram vida de Montes Claros, eram a sua própria vida!<br> E, após as coroações à saída da Igreja, ouvíamos comentários<br>das ´comadres´ (algumas despeitadas, outras bajuladoras):<br>- Você viu, comadre, a beleza do vestido da menina de Dona Picucha? Era cor de rosa, leve como uma pluma e todo salpicado de estrelas!<br> - Mas ela pode, não é mulher de doutor?<br> - E a asa da menina de Dona Quita Bessone, você reparou?<br>Isto sim é que é uma asa, só mesmo filha de Juiz!<br>- Mas você reparou, comadre, que aquelas meninas já estão muito crescidas para coroarem a Virgem Maria? Aqui para nós, que Deus me perdoe, se estou levantando falso, mas já ouvi dizer que estão até namorando lá em cima do altar. . .<br>- Cale a boca, comadre, isto é blasfêmia.<br>Como era simples a nossa gente e que corações tão puros!<br>Como são diferentes as crianças de hoje, desprovidas daquele entusiasmo e da simplicidade que tanto nos emocionavam!<br>E não terminavam aí as novenas. Logo após, todas as noites,tínhamos os célebres leilões com belíssimas e gigantescas toceiras de canas encostadas às paredes da velha Matriz e a tosca mesa coberta de frutas, bolos, doces, biscoitos e as ´ceias´ que as ´donas´ da noite faziam Questão de apresentar como novidades, tudo muito enfeitado de papel de seda repicado e colorido. Chegava-nos às narinas um cheiro delicioso de frango assado, tu tu de feijão com<br>lingüiça nas belas bandejas rodeadas de frescas folhas de alface.<br>´Sapeávamos´ até tarde, e não despregávamos as barrigas da tentadora mesa, até que um rapaz ´corajoso´ (´fazendo bonito´ para alguém) arrematava uma bandeija de frutas e jogava para a meninada apanhar. Aí começava a melhor folia e pintação, e nesta competição perigosa saía sempre alguém choraminganda, enquanto outros se deliciavam com as saborosas frutas.<br>Quando o mês de maio se findava e com ele as nove nas e as coroações da Virgem Maria, a Praça e a Matriz ficavam tristes, escuras e vazias, e crianças, velhos e moços se lamentavam saudosos.<br>As lindas asas, coroas cintilantes e vestidos acetinados, eram guardados em grandes caixas, com naftalinas, para, no próximo ano, se encontrarem novamente com a Virgem Maria no singelo e bonito altar da Velha Matriz.

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