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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 25 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Crianças do Brasil

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 25/02/2007)

Tão cedo não se apagará a memória dolorosa da morte de João Hélio, a criança sacrificada nas ruas da Cidade Maravilhosa. O bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias Duarte, chamou-o “mártir-mirim da vida”. Admitindo que o assassínio poderá transformar-se em “pizza”, com rigorosas comissões de sindicância e inquéritos abertos no país, o prelado ainda espera, contudo, que as crianças sejam respeitadas e consideradas, merecendo amor dos pais e do país.<br>Num recorte que guardei, sem assinatura, encontro a explicação, dentre tantas: o menino João Hélio Fernandes é a mais recente vítima da falência do sistema, do descalabro moral do Legislativo, da sociedade emparedada nas jaulas gradeadas das casas e apartamentos.<br>Nélson Lott vê a favela como a nova Califórnia, lugar em que a maioria é de pessoas de fora, acreditando que sua permanência será passageira. Não têm vínculos, não os cria. Pela própria topografia e geografia, com seus becos, vielas e desordem geométrica, a família perde até o contato visual com os seus integrantes.<br>Paredes de tijolo aparente, esgotos a céu aberto e a cumplicidade geral com os malfeitos. Para os garotos, vale o tênis da grife anunciado na televisão, o celular mais incrementado, a roupa da marca, a terra de Marlboro, a paz das estradas vazias para o carro último modelo, mulheres apaixonadas por cerveja. Bicho solto, no meio das feras soltas.<br>Um mineiro que foi à Itália, nos dias antecedentes ao Carnaval, enviou de Assis, terra de Francisco Bernadoni, uma comovente mensagem, mais uma confissão. Fê-lo a partir da ermida, em que, em 1208, o pobrezinho de Assis ouviu os Evangelhos e tomou o burel de eremita, quando tinha 20 anos.<br>O autor dessa mensagem tão especial também tem o nome de Francisco, e fala de Francesco e dos que passaram a acompanhá-lo, pobres voluntariamente, sujos, quase nus. Nasceram para apanhar, jamais bater.<br>Em Grecio, em 23 de dezembro de 1224, Francesco instalou o seu presépio na pedra, o primeiro do mundo. No Monte Alverne, recebeu os estigmas, que carregou consigo até a morte. Ali pereceu, aos 44 anos. Nu, foi estendido sobre a terra, chamou a irmã morte e cerrou os olhos em 4 de outubro. Há 781 anos.<br>O Francisco brasileiro, de que só conheço o primeiro nome, não sei quem é, envolve-se no ambiente santo de Assis, da igrejinha de Santa Maria dos Anjos - Santa Maria Angeli. Lembrou palavras de Francesco: “Assis, quantos se salvarão por ti!” Voz clara, cegos os olhos.<br>O brasileiro se condoeu com o que acontece no Brasil. Soube que um menino de 6 anos foi arrastado pelas ruas de uma das mais belas cidades do mundo. Agora, cruel.<br>Lembra que já tinham feito semelhante com patriotas das Minas Gerais. Felipe dos Santos, em 1720, arrastado por cavalos nas ruas íngremes de Vila Rica. Mas era um adulto, um homem feito, conhecedor das cousas, das bondades e maldades da vida, com projetos e sentimentos rebeldes. Agora, arrastam um menino de 6 anos, na cidade que serviu de palco ao enforcamento de Joaquim José.<br>A todos os homens de bem, aos que crêem, esse conterrâneo faz um apelo: “Atendei ao meu pedido. Voltai comigo a esta igrejinha de Santa Maria dos Anjos. O ano é 1208. Faz frio e neva. Procuramos por Francesco Bernadoni. Ele nos curará esta dor, imensa dor”.<br>Há algum tempo, transcrevi o final de uma bela crônica de Rubem Braga, texto que me parece válido agora: “E protegei sobretudo os meninos pobres dos morros e dos mocambos, os tristes meninos da cidade e os meninos amarelos e barrigudinhos da roça, protegei suas canelinhas finas, suas cabecinhas sujas, seus pés que podem pisar em obra e seus olhos que podem pegar tracoma - afastai de todo o período e de toda maldade os meninos do Brasil, os louros e os escurinhos, todos os milhões de meninos deste grande e pobre e abandonado meninão triste que é o nosso Brasil, ó glorioso São Cosme, glorioso São Damião”.

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