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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Caçados no sertão

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 27/02/2007)

Os assaltantes que atacaram, na primeira quinzena de fevereiro, a agência do Banco do Brasil em São Romão, tomando rumo de Riachinho, entraram numa área histórica, em que muitos grupos, durante largo tempo, travaram vultosos embates. O esforço, agora, da polícia mineira para prender os novos bandoleiros foi dos mais desafiadores, por ser uma região de difícil acesso e locomoção.<br>Mais de 400 policiais, civis e militares, numerosos veículos, inclusive dois helicópteros, foram acionados para localizar e prender os bandidos, que chegaram a trocar tiros com agentes da lei. Fizeram reféns e feridos entre batalhões da PM.<br>Não faltou empenho policial. A região de Riachinho, Bonfinópolis e Santa Fé se tornou área conflagrada. Três carros foram roubados e abandonados em face da pressão policial. Trabalhadores rurais temeram mais que a seca ou as intensas chuvas: a ação da bandidagem, que estende tentáculos até o Noroeste mineiro.<br>Não houve Carnaval na região. A polícia embrenhou-se na mataria, caçando os criminosos sob pontes e em cavernas. Os mais antigos ouviram falar da passagem por ali dos revoltosos de Prestes e os que os combatiam, homens do Governo ou por ele pagos, mesmo jagunços.<br>O próprio Prestes contou sobre a façanha na região, quando sua gente passou entre duas colunas inimigas. Uma guarda permaneceu em Riachão dos Machados, recuando posteriormente para proteger a retaguarda da coluna. Um contingente chegou a Rio Pardo. Nas proximidades de São Romão, na beira do São Francisco, houve sangrento confronto entre os legalistas de Bernardes e a tropa de Prestes.<br>O professor Dario Teixeira Cotrim, conhecedor da região, autor de muitos livros sobre a matéria - terra e homens, descreve os avanços e retrocessos dos seguidores de Prestes, desde que deixaram a Bahia em direção ao Sul. No alto das serras que dividem Minas e o vizinho do Norte, houve o primeiro combate.<br>Dario cita Domingos Meireles: “A região de Rio Pardo (Montezuma), em Minas Gerais, onde a tropa está acampada, recuperando-se do desgaste sofrido pela campanha do Nordeste, oferece novo alento aos rebeldes. O campo aberto, cheio de pastagens, é inadequado para o tipo de combate preferido pela jagunçada”.<br>“Todo o percurso da Coluna foi feito pelas colinas, sempre nos topos das serras, para evitar as grandes cheias dos rios, pois o ano de 1926 foi de muita chuva no sertão da Bahia”. Oitenta anos depois, repetia-se o fato.<br>Então como agora, a aflição da população era idêntica à de outras localidades, e é ainda o professor Dario quem observa: “Até mesmo integrantes do exército revolucionário denunciaram por escritos os abusos - incluindo-se aí estupro de senhoras indefesas (...); em vez de aguardar em festa a Coluna, moradores de vários lugarejos fugiam apavorados com a proximidade das tropas”, como registrou Consuelo Dieguez, à revista Veja, em 9 de junho de 1999.<br>Os tempos são outros e a autoridade tem hoje instrumentos de ação que, naquela época, não existiam. Apenas a região é a mesma, impondo dificuldades numerosas, e o medo da gente simples do interior.<br>A diferença de forças é enorme. Agora são centenas contra 7 (supõe-se) criminosos, embora armados convenientemente para assaltos, não para uma guerra que passaram a enfrentar. A Coluna conquistava adeptos ao longo de sua marcha; os bandidos ficaram sós, numa região inóspita e que não conheciam suficientemente.<br>Os jagunços deste princípio de século estão cercados, encurralados, possivelmente famintos e ameaçando a população para que lhes forneça alimento. As condições são completamente diferentes. Não têm meios para matar uma vaca para tirar a carne para comer. Não podem cavalgar em retirada. Quem se der ao trabalho ou prazer de voltar à leitura de “Grande Sertão: Veredas” encontrará minuciosas descrições de combates naquele pedaço do Brasil.

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