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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 18 de maio de 2024
 

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Mensagem: Seguindo pegadas

Manoel Hygino dos Santos (Jornal Hoje em Dia, 05/03/2007)

Já comentei que algum organismo overnamental, em nível federal ou estadual, ou entidade cultural importante, deve estar programando o centenário de nascimento de João Guimarães Rosa, no ano que vem. Embora desconheça qualquer iniciativa a respeito, evidente é que não se perderá a oportunidade única de celebrar como merecido uma data de tamanha relevância.<br>Observo que uma das preocupações ou propósitos de estudiosos é identificar entre personagens reais as que se supunha mera ficção de Rosa. À medida que o tempo passa, verifica-se que não são poucas, entre aquelas que compuseram a dramatis personae de sua portentosa obra, com ênfase “Grande Sertão”: Veredas”, cujos cinqüentenário de lançamento se registrou em 2006.<br>Na preciosa Revista da Academia Mineira de Letras, número XXXII, Marco Antônio de Sales Coelho publicou texto, de título “As diversas vidas de Rotílio Manduca”, referindo-se a um personagem de Rosa no “Grande Sertão”. No número seguinte, quem discorre sobre o fascinante tema é Levínio Castilho, engenheiro, pesquisador do ficcionista de Cordisburgo.<br>Pois bem. Já em 1972, Levínio Castilho tinha redigido um valioso ensaio sobre Rotílio Manduca, para identificá-lo com Zé Bebelo, da obra maior de Rosa. Examinar-se a descrição física e a maneira de ser e agir das duas figuras - a da saga e a da realidade, para enfim o ensaísta afirmar peremptoriamente: “Zé Bebelo e Rotílio são duas personagens distintas e uma só erdadeira, que é o Cel. Rotílio Manduca, da Fazenda Baluarte”, citada nominalmente em “Grande Sertão”.<br>Quando criança, ouvia eu em minha cidade e região falar em Rotílio Manduca, de vida curiosa e cuja nota biográfica, extensa, Milene Antonieta Coutinho Maurício insere em seu “Emboscada de Bugres”, inclusive com foto. Nascido em 3 de maio de 1885, em Remanso, Bahia, por lá fez o primário. Inteligente e viajado depois, diz Milene, escrevia poesia e freqüentava as rodas elegantes das cidades visitadas.<br>Fez amigos importantes na política e na literatura, no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Belo Horizonte e Salvador. Era amigo de Lampeão e com ele andou todo o Nordeste. Dele se separando, radicou-se no município de São Francisco, onde se tornou conhecido e temido por seu senso de justiça, como se fazia à época.<br>Cito o que diz a historiadora, para que o leitor compare com o Zé Bebelo, de Rosa: “Percorreu o Urucuia, o sertão bravo da Serra das Araras, onde imperavam os desmandos, a prepotência e o crime. Ali foi duro, austero, respeitado. Chefiava um pequeno e temido “bando”, fazendo justiça e ameaçava por onde passava.<br>Aprendera a tática no meio ambiente em que vivia. Adquirira, por força da necessidade, o mimetismo de camaleão, que muda de cor, segundo a conveniência”. Era um verdadeiro artista no disfarce, como estes que se vêem em filmes de cinema. Com notável rapidez, trocava de roupa, alterava as feições, colava um bigode postiço, barbicha e outros sinais de identificação.<br>Escapou da polícia envergando uma grossa batina preta e, de outra feita, usando uniforme de oficial. Com todo esse cabedal, tornou-se famoso e até lendário. Teve uma vida aventuresca, de que se guardam fragmentos na crônica regional.<br>Em 1925, foi preso e levado a julgamento em Montes Claros, acusado de mandar matar à traição os irmãos Neco e Cassimiro, de conhecida família. O júri foi presidido pelo dr. José Bessone de Oliveira Andrade, pai do grande advogado e escritor Darcy Bessone e avô do ex-deputado Leopoldo Bessone.<br>O clima era de guerra, mas, prudentemente, graças ao magistrado e ao acusador, promotor Alfredo Coutinho, evitou-se uma tragédia no julgamento. Os partidos “de Cima” e de “Baixo” estavam ali representados por jagunços armados até os dentes.<br>Por falta de provas, Rotílio foi libertado. Em 3 de maio de 1930, dia de seu aniversário, foi assassinado com uma facada nas costas, em um vapor no São Francisco.

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