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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A SAUDOSA ´EUTERPE MONTES-CLARENSE´ Por incrível que pareça, nossa cidade já teve sua Banda de Música, e por sinal bem antiga. Ela foi fundada no princípio do ano de 1857, tendo tocado pela primeira vez, em público, no dia 7 de julho de 1857, quando a Vila das Formigas passou à cidade de Montes Claros. Mas, eu só a conheci muito e muitos anos depois, já com outros músicos e regentes (pois não sou tão velha assim...) e, quando me entendi por gente, ela já existia. O drama da reorganização e funcionamento da ´Euterpe Montes-clarense´ é uma longa história triste em que seus componentes lutaram e sofreram para reerguê-la mais tarde, pois, com a morte do seu 1º regente, o Mestre Risério (que Dr. Carlos Versiani mandou buscar em Diamantina especialmente para fundar a Banda) e, mais tarde, dos professores Justino Guimarães e Pedro Guimarães, grandes músicos, a Banda quase desapareceu. Suaram para angariar dinheiro junto à população para compra de novos instrumentos, cavaletes e até de uniforme branco com botões dourados, boné todo enfeitado de galões para os dias de grande gala. Sobrevivia aos trancos e barrancos, graças à perseverança dos próprios músicos, fazendo esse trabalho sem nenhum salário. Tocavam pelo prazer de tocar. E como se sentiam felizes dentro daquela fantasia empunhando seus instrumentos! Durante muitos anos, a ´Banda Euterpe Montes-clarense´ foi um sucesso e esteve presente em todos os acontecimentos sociais e políticos mais importantes da nossa terra. Tudo era muito difícil, mas eles eram como soldados em seu posto de honra. Não desanimaram. Eu adorava vê-los ensaiar. À tardinha, o piston do Augustão quebrava o silêncio daquela praça antiga, chamando os músicos. Dava gosto vê-los chegando, um a um, afobados, trazendo seus instrumentos de metal amarelo-ouro, polidos e lustrosos. Durante anos, a casa do Augustão, na rua Justino Câmara, bem perto da Praça Dr. Chaves, foi o ponto de encontro desses homens extraordinários, que lutavam, esforçavam-se para que a Banda sobrevivesse. Eu gostava de ver a cara vermelha do Augustão, quando soprava com entusiasmo seu piston; e o Tonico da Naná, sempre risonho, com sua invejável clarineta; ´Joãozinho de Siá França´ (sempre solfejando um dobrado), com sua trompa; o Corsino, com o seu trombone; Sebastião Péba, com o enorme bumbo; Olímpio de Abreu, sempre sisudo, supervisionando a turma; Juca de Sapé, exímio na sua clarineta, e outros instrumentos complicados cheios de voltas e botões; do José Teixeira, Judelcino, Aristides Guimarães, He do Ó, Procópio e os mais jovens, Adail Sarmento, Luís de Augustão e o Altininho, ´mascote´ da Banda (era bem criança ainda) e já conseguia manobrar os ´pratos´ e o fazia com perícia e entusiasmo, parcerando com seu primo João Teixeira. Ensaiavam lindos dobrados, marchas militares, valsas. As Festas de Agosto se aproximavam e a Banda não podia ´fazer feio´ nas missas dos reinados de Nossa Senhora, São Benedito, procissões do Divino e nas empolgantes ´cavalhadas´, um belo espetáculo em que a Banda tinha um papel importante. Estas comemorações tradicionais na cidade eram animadíssimas, começando às 4 horas da madrugada, com a ´Alvorada´. Muita gente ainda se lembra, era uma delícia! Acordávamos com o som da música, o pipocar dos foguetes, o repicar dos sinos da velha matriz! Abriam-se as janelas que, de repente, ficavam cheias de curiosos. Outros corriam para a rua, eufóricos, para ver a banda passar, na alta madrugada. Um céu lindo, estrelado, era testemunho da alegria daquele povo simples, enquanto uma brisa leve, gostosa, passava levantando nossos cabelos e provocando arrepios... Tudo era tão natural, interessante e a Banda passava imponente, no seu uniforme branco, retumbando com entusiasmo seus instrumentos lustrosos, dando-nos um ´show´ de alegria que nos contagiava e deixava em nossos ouvidos, por muito tempo, sons doces e melodiosos daqueles célebres dobrados... Aos domingos, tínhamos retreta na Praça Dr. Chaves, quando ela era apenas um enorme ´largo´, sem calçamento, rodeado de frondosas mangueiras com um coreto no centro. Era ali que a Banda ficava por umas 2 ou 3 horas, deliciando nossos ouvidos com sua música bonita e bem ensaiada. Todos se juntavam ansiosos para ouvi-la: crianças, moços e velhos. Os casais de namorados tornavam-se mais enamorados e românticos, era o momento das declarações... Os velhos, lembrando os tempos passados, escutavam embevecidos seus acordes. E a criançada aproveitava para brincar. Corria em volta do coreto, brincando de ´Chicotinho Queimado´, ´Veadinho Quer Mel´, ´Boca de Forno´, escondendo-se no meio da multidão, esbarrando-se de propósito nos casais de namorados, para vê-los atrapalhados e as caras assustadas das mocinhas que se encabulavam... Anos mais tarde, os ensaios passaram para a casa do tio Basílio, que era naquela época presidente da Banda, cargo que muito o lisonjeava. Após os ensaios, havia farta mesa de biscoitos e bolos sortidos, feitos especialmente para o café dos músicos e era famoso. Nessa hora, apareciam muitos ´filantes´ desse cafezinho gostoso e ´bem acompanhado...´ Nesta época, como em toda cidade do interior, havia rixas políticas ``alimentadas`` pelos coronéis. A nossa era dividida ao meio pelos dois partidos os ´Estrepes´ e os ´Pelados´ ou sejam: ´Partido de Baixo´ e ´Partido de Cima´. E, lado a lado, haviam também as duas Bandas: a ´de baixo´ e a ´de cima´, que se chamava ´União Operária´, por sinal que ´muito arrumada´ também, mas, não sei porque, eu torcia pela Euterpe, a ´de baixo´. A rivalidade entre as duas era tremenda e crescia tanto quanto a dos partidos. Cada qual queria ser melhor, procurando desmoralizar a outra. E não faltavam os bajuladores dos coronéis, que atiçavam fogo na fervura. Certa ocasião, a ´União Operária´ ensaiava com grande entusiasmo, às escondidas, em casa de um correligionário político, Ulisses Pereira (um conceitado tenente reformado da antiga Guarda Nacional), preparando-se para a estréia num grande acontecimento político esperado na cidade. Seus músicos queimavam as pestanas ensaiando ´O Guarany´ de Carlos Gomes. Sabem o que aconteceu? A Euterpe Montes-clarense mandou um dos seus músicos mais inteligentes escutar, às escondidas, o que a outra Banda ensaiava. O ´espião´ assim o fez, em segredo, durante alguns dias, e aprendeu, trazendo o resultado para os companheiros. Iam se vingar dos adversários. Conseguiram escrever a música cobiçada, através do solfejo do ´espião´, que tinha excelente ouvido, e treinaram bastante a partitura. Numa bela tarde de maio, num domingo festivo, quando a Praça Dr. Chaves estava repleta, a Euterpe Montes-clarense executava, no coreto, ´O Guarany´ com grande euforia, deixando a assistência boquiaberta! Foi uma bomba na cidade! O ´Partido de Cima´ se revoltou, pois, aquela música havia sido encomendada especialmente para a ´União Operária´ abrilhantar sua próxima festa. Viam por água abaixo o sucesso tão esperado. Foi uma boa peça que a Euterpe e os ´Estrepes´ pregaram a União Operária e nos ´Pelados´ e, acreditem, o fuxico rendeu por muitos e muitos anos, tornando-os cada vez mais inimigos e despeitados. Hoje, quase todos esses valentes músicos já desapareceram e, com eles, enterraram também as duas Bandas de Música de nossa cidade. Quase ninguém se lembra delas e a maioria dos montes-clarenses nem sabe que elas existiam e que tantos serviços prestaram a esta comunidade quando a cidade nada possuía para distrair e alegrar seus moradores... Merecem, portanto, uma palavra, um gesto de louvor, uma homenagem àqueles homens que tanto se esforçaram e se dedicaram à nossa cidade. E é o que faço agora. Com o coração cheio de gratidão e saudade, eu peço a Deus por estas almas tão puras, que durante muitos anos, sem nada exigir, deram à nossa cidade música, alegria, amor!<br>Cidade: Montes Claros/MG<br>
A FOTO
Banda Euterpe Montes-Clarense (foto de 1947): Agnelo, Antonio, Joel, Zé do Ó, Joaquim Mendes, Militão Barbosa, Afonso, Domingues, Benedito, Natalino, Antonio Diniz, Augusto Teixeira, Nadir ( regente ), José Cunha, Benfica, França do Ó, Dezim e Agenor.

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