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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Crime cinematográfico

Waldyr Senna Batista

Existe relação entre a criminalidade e os buracos da rodovia BR-135, que liga Montes Claros a Belo Horizonte?
O empresário Antônio Henrique Sapori, diretor da Transnorte Cargas, garante que sim. Devido às más condições da estrada, no trecho entre Buenópolis e o trevão de Curvelo, as carretas carregadas desenvolvem velocidade média de vinte/trinta quilômetros por hora, trafegando sempre à noite. E são atacadas, em pleno movimento, por quadrilhas que utilizam método cinematográfico para roubar as cargas.
Segundo ele, protegidos pela escuridão e pelo reduzido movimento na estrada, no horário noturno, os ladrões usam corda e gancho para escalar as carretas, abrindo a porta traseira delas usando alicates, com que cortam os cadeados. No interior do veículo, sem que o motorista possa perceber, o assaltante seleciona a mercadoria de seu interesse, que vai deixando sobre o asfalto, para ser recolhida por comparsa que segue de perto o caminhão, em outro veículo. Terminado o saque, o assaltante fecha a porta, instalando nela outros cadeados, de tal forma que o assalto só será notado na garagem, quando as chaves que o motorista tem não servem nos cadeados substituídos.
Diz Antônio Henrique Sapori que seis caminhões de sua empresa já foram violados dessa maneira, com prejuízos de dez/quinze mil reais em cada ocorrência. As cargas são protegidas por seguro, mas nem sempre tem sido possível receber o reembolso, pois as seguradoras exigem a apresentação do BO ( boletim de ocorrência) firmado por autoridade policial, que se recusa a fornecê-lo porque não há como precisar o local em que se deu o delito, impossibilitando determinar a jurisdição, além de outros detalhes como a nomeação de testemunhas. Assim sendo, o prejuízo fica para a empresa transportadora, que tem também de administrar a insatisfação das pessoas que despacharam e as que esperavam receber as mercadorias roubadas.
Os furtos de cargas em rodovias não são novidade. Eles ocorrem com tanta freqüência, que os caminhoneiros, de há muito, evitam viajar à noite, ou o fazem sempre em grupo, formando cortejo de proteção. Na BR-135, caminhões carregados com cigarros eram vítimas constantes, desviados para matagais, onde as cargas eram levadas pelos assaltantes, com os motoristas sofrendo violência. Mas esse lance de uso de cordas e ganchos para escalar veículos em pleno movimento, constitui inovação. O que mostra que os criminosos ainda não chegaram ao limite da imaginação para alcançar seu intento.
O diretor da Transnorte Cargas é de opinião que tudo está ligado às más condições da BR-135, que obriga a redução da velocidade dos veículos. No caso, com as carretas trafegando devagar, quase parando, elas se tornam presa fácil dos marginais. A partir da reconstrução da estrada, ele acredita que poderá ser implantado esquema de vigilância capaz de monitorar o tráfego noturno, com a instalação de postos em pontos estratégicos.
E fica uma pergunta, que certamente também não merecerá resposta: diante da audácia dos bandidos, como se vê no caso do transporte de cargas, como fica a segurança dos passageiros de ônibus no mesmo trecho crítico ? É sabido que alguns veículos têm sido assaltados por ladrões que embarcam fingindo serem simples passageiros e, no meio da viagem, agem criminosamente. Que tipo de medida está sendo adotada para prevenir a continuidade e o agravamento dessa situação ? Se depender da reconstrução da rodovia, teme-se que não aconteça com a urgência que se faz necessária.

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