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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 25 de setembro de 2024
 

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Mensagem: ALINE MENDONÇA
O ANJO METAFÍSICO

Magra, empinada, nariz proeminente, atenção concentrada, olhar atento, voz de trovão, vontade de ferro, e uma energia inesgotável. Falo do saudoso anjo lírico Aline Mendonça. Um anjo torto com uma voz de contestação às opressões que a vida nos apresenta.
O Instituto Norte Mineiro localizado onde hoje é o Automóvel Clube, em l955 cursávamos o primário. Uns Montes Claros romântico com professor Márcio, o dândi, com seu paletó de veludo verde tentava conter o ânimo de Aline, que afrontada por algum menino, mandava um téco na hora.
A sua missa era de corpo presente, não despachava para o bispo. Cresceu e foi para as grandes metrópoles levar o seu protesto, a sua voz e a sua arte tendo que editar o seu primeiro LP.
Das homéricas serenatas que fizemos varando as noites deste sertão e, com a sua voz violando os nossos corações e rompendo o silêncio das madrugadas, tudo sob os acordes do violão de Nenzão Maurício.
Começávamos na Praça Coronel Ribeiro, com Ornellas solando o Prelúdio de Bach; o ensaio para o vôo. Daí e pela noite a cantar no prédio em construção da Escola Normal. As paredes tremiam como uma caixa de ressonância sob o efeito das nossas vozes, tudo regado a Hi Fi.
As quatro da matina chegavam quando Deus era servido, e comíamos o pão saído do forno da Padaria Globo lambuzado de manteiga Alvorada, e sorvíamos o fumegante café. Dormíamos quando bem aprazia o sono de justos pecadores, sob a tenda da amplidão na Praça da Matriz, sobre, e sob jornais, e a companhia dos parceiros da noite, do canto e do vagar em busca da sofreguidão.
Desta turma, saíram artistas: O maestro Armênio Graça, os violinistas Nenzão Maurício e Ornellas, o cantor e ator Tino Gomes, ainda adolescente, e tantos outros, hoje avós.
“Fecho os olhos e me vejo no trio de vozes com Tinin, e ela cantando ‘Conversa de Botequim”, e sorvendo gim tônica. Walmor de Paula fazendo com as mãos e a boca às vezes do trombone e Julião Prates marcando a percussão com os dedos na mesa do bar. Tempos que não voltam mais!
Tecendo, assim como Penélope, o romantismo às avessas!
Na sua ida para o mundo superior estivesse entre nós o poeta maior Vinícius decerto teria dito: Meus amigos, se durante o meu recesso virem por acaso passar a Aline. Peçam silêncio geral! Depois... Apontem para o infinito. Ela deve ir como uma sonâmbula envolta numa aura...
No infinito, onde agora se encontra junto ao anjo João Chaves, e a cantarem suavemente como uma dádiva: ’Amo-te muito, como as flores amam. O frio orvalho que o infinito chora. Amo-te como o sabiá da praia. Ama a sangüínea e deslumbrante aurora. Oh! Não te esqueças que te amo assim. Oh! Não te esqueças de mim. Amo-te muito como a onda à praia e a praia à onda, que a vem beijar... Amo-te tanto como a branca pérola. Ama as entranhas do infinito mar. Amo-te muito, como a brisa aos campos e o bardo à lua derramando luz. Amo-te tanto quanto amo o gozo e Cristo amou ardentemente a cruz.
Raphael Reys

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