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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Serenata, a alma sonora de Montes Claros

Roberto Elísio*

Na quinta-feira da semana passada, noite da posse de Manoel Hygino dos Santos como o mais novo integrante da Academia Mineira de Letras - justa distinção a uma vida dedicada ao jornalismo e à literatura - reencontro o velho e querido amigo Paulo Narciso, também jornalista e também literato. Ele acabava de chegar de Montes Claros para abraçar o conterrâneo, depois de realizar a façanha que representa hoje percorrer a abandonada rodovia que liga aquela cidade norte-mineira à capital do Estado. Estende-me a mão, na qual carregava com o maior cuidado um CD: “A Lola recomendou-me que entregasse pessoalmente a você, seresteiro de Santa Luzia, amigo de Montes Claros”.<br>Maria de Lourdes Chaves - a Lola - é filha do grande compositor João Chaves e sobrinha de meu saudoso companheiro de imprensa Hermenegildo Chaves - o inesquecível Monzeca. Formou, em seqüência a uma tradição local, um conjunto de serestas que é o retrato vivo da alma sonora da Montes Claros eternamente boêmia e romântica, apesar de toda a evolução do tempo, como nas palavras de abertura do CD ressalta Luiz de Paula Ferreira, outro admirável cultor das mais puras manifestações do espírito.<br>O pequeno disco viaja ao passado com o que há de mais belo no cancioneiro lírico brasileiro, a começar do consagrado “Amo-te muito”, carro-chefe das composições de João Chaves. Seguem-se, do mesmo autor, “Volta”, “Bardo”, “Segredo”, “Perdão”, “Eterna Lembrança”, “Palmeira Antiga”, além de várias outras canções como “Sertão” e “Ter Mãe”, de Dulce Sarmento, “Montes Claros Centenária”, do já citado Luiz de Paula, “Gondoleiro do Amor”, de Castro Alves, “Meus Tempos de Criança”, de Ataulfo Alves, e “Saudades”, de Cassimiro de Abreu, entre outras pérolas musicais produzidas em tempos passados, mais remotos ou menos remotos, porém sempre presentes nas formas discretamente singelas do sentimento humano.<br>Pérolas de Saudades foi o título escolhido para o CD do Grupo de Serestas “Lola Chaves”. Percorre as marcas da sensibilidade anteriormente fixadas pelo Grupo de Serestas “João Chaves” e pelo Grupo de Serestas “João Vale Maurício”, que sempre insistiram em não deixar morrer um tempo em que era mais simples o ato de ser feliz.<br>Em meio às celebrações da Semana Santa, em convite permanente às reflexões, sobretudo acompanhando procissões pelas ruas serenas da minha velha e também seresteira Santa Luzia, ouvir a seleção enviada por Lola pelas mãos de Paulinho Narciso é quase escutar a música infinita do silêncio, como dizia o poeta luziense René Guimarães. É realimentar a saudade, esse “doce mal que se bendiz, que fere mas não deixa cicatriz”. Se possível, sem chorar. O que é difícil.<br><br><br>(* Jornalista e escritor, aos domingos escreve no Hoje em Dia, BH)

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