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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: “Lá vem o Dó, cambada!
Quem não tem canoa,
cai n´água.”

SERRANO DE PILÃO ARCADO

HAROLDO LÍVIO

Ultimamente, ando lendo, com muito gosto, o romance de Petrônio Braz, indo e vindo pelos capítulos, conferindo seu relato com as narrativas que ouvi de meus pais, barranqueiros de São Francisco, em saudosos serões dos bons tempos. Era quando a família se reunia, à luz do lampião, num tempo em que éramos crianças e ouvíamos, encantados, histórias das façanhas dos capitães de jagunçada que perturbaram a paz pública, em cidades da beira do rio. Falava-se, principalmente, das tropelias de Indalécio, de Antônio Dó e de Rotílio Manduca, que formaram o triunvirato do banditismo no sertão sanfranciscano.
Esses caudilhos desafiaram as autoridades e cometeram toda sorte de abusos, supostamente no intuito de reparar injustiças, atos de arbitrariedade cometidos pelos poderosos contra os humildes e despossuídos. Alguns desses bandidos, a exemplo de Rotílio, que gozava da proteção de políticos influentes, tiveram a petulância de substituir o próprio Estado, com tropa uniformizada e agindo em nome da lei. O famigerado Rotílio chegou a ter parceria com a polícia militar, imaginem só, participando do combate à Coluna Prestes, nos anos 20. Petrônio Braz, que se glorifica com a publicação de Serrano de Pilão Arcado, é um estilista, sem nenhum favor, e soube transmitir ao leitor a melhor informação possível sobre a origem e os episódios marcantes dessa era de desmando e terror. E, com rara felicidade, escolheu a figura mitológica de Antônio Dó para romancear a epopéia da jagunçada.
Honestamente, não é todo dia que aparece um livro digno de ser lido inteiramente. Estou, com muita convicção de acerto, recomendando este livro aos amigos que me solicitaram indicação para leitura agradável. Trata-se , no caso presente, de obra de tomo, mas o leitor não encontra nenhuma turbulência na travessia prazerosa da leitura. Nota-se divergência quanto ao gênero literário da obra. Muitos, na maioria, acham que é romance histórico, porém o alcance do enredo vai muito além disso. Contém história documentada e comprovada, sim, mas exposta com pinceladas de romantismo e acentuado lirismo. E não é puramente romance porque não se afasta do compromisso com a verdade dos fatos. Simplesmente, o autor narra a saga de seu personagem real tal como sucedeu. Isto basta.
Este livro segue a trilha da literatura regionalista de Minas Gerais, que começou com “Inocência”, de Taunay, e prosseguiu nas obras de Afonso Arinos e Mário Palmério, os autores mais proeminentes, que vieram antes do imaginário de João Guimarães Rosa. Enquanto me delicio com a leitura, troco figurinhas com Petrônio Braz, pois afinal de contas, conheci pessoalmente personagens do livro, como o Dr. Tarcísio Generoso e Dona Laurinha Mesquita. Levo as vantagens de ser filho, neto e bisneto de barranqueiros e ser, por conseguinte, muito enfronhado nesses “causos” de jagunços. Confesso que estou lendo a saga de Antônio Dó com o mesmo prazer que desfrutei, há longos anos, percorrendo as páginas dos romances de José Lins do Rego, que abordou a temática do cangaço, muito parecida com a trajetória dos jagunços de Petrônio Braz, este serrano da Serra das Araras.

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