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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: No país da cultura

Petrônio Braz

O povo francês foi às urnas, em primeiro turno, para a escolha de seu novo presidente, que deverá substituir Jacques Chirac, que esteve à frente dos destinos da grande nação européia por doze anos.<br> A humanidade globalizada ainda se lembra da presença do erudito François Mitterrand no comando do governo francês.<br> Doze candidatos disputaram o primeiro turno. Mas o que chama a atenção de nós outros que estamos do lado de cá do Atlântico, não é a disputa eleitoral em si mesma, nem o número de candidatos, mas a qualidade do conjunto, o valor pessoal de cada um, fato que fere os mais rudimentares princípios de brasilidade de todos nós.<br> Quase todos os políticos franceses estudaram na Ecole Nationale de Administration, onde são preparados para a difícil missão de orientação e de direção dos destinos da nação. Os políticos franceses, respeitados pelo povo, carregam ares de nobreza e de moralidade.<br> Mas isso em nada se parece com o Brasil de nossos tempos. Um fato, porém, chamou a minha atenção, o da aparente semelhança entre o candidato Nicolas Sarkozy e o brigadeiro Eduardo Gomes.<br> Todos os políticos têm momentos de afirmação e de escorregão. Nicolas Sarkozy, um dos doze candidatos, quando no exercício do cargo de Ministro do Interior de Jacques Chirac, em pronunciamento nos arredores de Pais, quando os jovens estavam se rebelando contra a discriminação e o desemprego, se referiu a eles como racaille (gentalha). A partir de então a palavra se fixou inexoravelmente à sua pessoa.<br> No Brasil, há muitos e muitos anos, quando a corrupção ainda não maculava a vida pública do País, quando os políticos eram respeitados e até mesmo admirados, nas eleições de 1950, em um comício de campanha, o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN (partido de direita), afirmou que os trabalhadores eram marmiteiros. O adjetivo, tomado politicamente como pejorativo, se fixou à sua pessoa durante todo o restante da campanha.<br> Apesar do racaille, o culto Nicolas Sarkozy, advogado e orador brilhante, está no segundo turno juntamente com a socialista Ségolène Royal (diplomada pela Ecole Nationale de Administration), e as pesquisas indicam a vitória do primeiro, no dia 6 de maio próximo.<br>No Brasil, nos idos de 1950, o eleitor brasileiro, dominado pelo queremismo, repudiou o Brigadeiro. O brigadeiro Eduardo Gomes perdeu as eleições, supostamente por uma palavra.<br>Uma palavra lá e cá, somente uma palavra.<br>Todavia, Sarkozy, candidato de direita, propõe abertamente uma verdadeira demolição social para as classes populares, com aumento da jornada de trabalho, generalização da precarização do trabalho, uma intensificação da perseguição aos imigrantes, uma intensificação da repressão policial nos distritos populares, com valorização da nacionalidade francesa.<br>Marmiteiro, aqui, derrotou o brigadeiro Eduardo Gomes; racaille, lá, poderá eleger Nicolas Sarkozy.<br> Apenas este aspecto a ser lembrado, já que o fato de serem cultos os políticos franceses, não há como se estabelecer comparação, nem lembrar semelhanças.<br>No Brasil de hoje, todavia, diante de tanta corrupção, os valores se modificaram. Não se cuida mais de analisar uma só palavra de um determinado candidato, mas os valores financeiros representados pelos desfalques aos cofres públicos. É maior aquele que mais furta.<br>Até quando!<br>

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