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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O CAVALO MANIADO



1968-O cenário era a Fazenda Larga de propriedade de Durval Durães, no alto do platô. E ao chegarmos, e após termos passado pelos caminhos que circundavam a serra, e abertos os vinte e sete mata-burros, numa verdadeira Via Crucis, desfrutamos o clima de montanha, propício a um bom e reparador sono; dormido em um colchão recheado com flor de marcela. Era o puro e exótico cheiro dos sertões. Na nossa bagagem, uma caixa de Viriatinha!
Como na propriedade não havia a presença incômoda de muriçocas, a primeira que se desprendeu de uma peça de roupa dobrada, que levamos, e ao ser vista, provocou uma perseguição envolvendo todos. Só paramos após a captura e extermínio da vampira.
Numa noite em que lá estávamos numa serenata ao luar, contemplando a vastidão dos céus, do alto da montanha, tomando umas e escutando o arrojo do acordeão de Dizim Barbosa; resolvemos para contrariar o clima reinante, abater um porco preto e magro da propriedade a tiros. Dico Barbosa alegou para o Durval, termos atirado em uma onça preta na escuridão. Da carne, fizemos farra abastada por três dias.
Como nas pedras no alto do platô havia uma manada de bodes e cabras, que voltaram à vida selvagem após fugas progressivas há mais de uma década, aproveitamos o ensejo e preparamos uma caçada, montados a cavalo e usando carabina e cartucheira Boito 16 como armas.
Dico Barbosa me empurrou como montaria um cavalo já selado, de que não gostei á primeira vista; a intuição me fez refugar aquele animal, entretanto a turma forçou e acabei aceitando, e caí na armadilha do cavalo maniado, que era o ídolo da fazenda. Ao aproximarmos das pedras no alto da serra, me deixaram como o último da fila na exígua trilha, que ficava ao lado de um enorme precipício, do qual se avistava parte do Norte de Minas. Lá embaixo as mangas de colonião dos Gomes e as casas vistas daquela elevação, do tamanho de uma mosca.
Eu estava com um mau pressentimento, já sentia um frio enorme, arrepios, quando o dito animal, deixando as patas dianteiras apoiadas na trilha, jogou a traseira no despenhadeiro. Impossibilitado de subir de volta, agarrei instintivamente na cabeça do cavalo e gritei por socorro aos demais companheiros; quando escutei a algazarra. Desceram das montarias e rolaram no chão de tanto rirem, todos por lá já conheciam o mau costume do cavalo para com os visitantes incautos.
Depois de alguns segundos pendurados no precipício assustador, o animal subiu de volta a trilha, e para completar o meu assombro, relinchou de contentamento, por haver feito o batismo de mais um trouxa.
Passei o resto do dia com a moral à zero! Teve companheiro que foi acometido de cólicas de tanto rir.
A caçada não deu em nada, os bodes e cabras eram muito ariscos e se escondiam entre os talhes das pedras altas; não se conseguia localiza-los facilmente, para fixar a pontaria.
Levei dois dias para me recuperar plenamente do trauma provocado pelo cavalo maniado. Os gozadores fizeram festa com o meu batismo da roça, e a minha cara de espanto.
Raphael Reys

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