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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Uma inesquecível noite de M. Claros pede o tambor ancestral dos Catopês, o violino por si triste dos Marujos e a alegre algazarra de Caboclinhos. Requer, precata, músicas seresteiras de João Chaves e os bailados do Banzé, jovens puxando de volta o passado que não passou. <br>Ontem, noite inesquecível, foram chamados todos à praça da Catedral para abrir as comemorações dos 150 anos da ‘cidade” de Montes Claros, que – ao assim se deixar chamar em 1857, por decreto imperial e curiosa particularidade, já era vila autônoma, dona do seu nariz e de sua bravura, com governantes seus, próprios. Nada anotei, ou anotei até que a noite se perdesse nos céus, transferida para a foguetada cívica, digamos, “maravilha de milhares de brilhos e vidrilhos”. <br>Vou tentar lembrar. O prefeito Athos fez a abertura e logo vieram os catopés - os carroceiros-irmãos Tonão e João Faria puxando a turma, sem o fardamento escorreito, só aos santos reservado nos seus dias de agosto e glória. O Banzé de Zezé Colares puxou os aplausos da platéia quando levantou as canções de dona Dulce Sarmento, tão nossa, e quando, como fez a seresta em seguida, interpretou “Montes Claros Centenária”, do mestre Luiz de Paula, ali todo integral nos seus próximos e quase 90 anos. A seresta, antecipei, veio com dona Fina de Paula, desnecessariamente apoiada num cajado, regendo tudo, cantando, cantando alto, por si e por Virgílio, ensinando, mostrando como se faz cultura sem nada pedir em troca.<br>Passeei o olhar em volta e vi, sim, que muito da história de M. Claros de alguma forma transita – como por toda parte - entre os 47 vivos tidos como herdeiros de outros 103, estes sim pioneiros/patriarcas listados como mortos, mas mais vivos do que nunca. (A história, diga-se, transfere responsabilidades e uns, depois de outros, deixam as sombras e assumem o seu papel – maior ou menor, não importa. Fazem o que têm a fazer, e não esperam reconhecimento algum – porque cumprem o que lhes impõe a consciência. Não perseguem gratidão, e de igual forma não estão ao alcance da ingratidão). Mas não é isto o que espero dizer.<br>Abri estas linhas, no impuslo que tudo devora, para contar que vi dona Ruth Tupinambá Graça (foto). Que revi dona Ivone Silveira e doutor Oswaldo Antunes e Waldir Senna, e que ruidosamente vivei Luiz de Paula quando a velha Catedral, ela também, inclinou suas torres austeras para ouvir mais de perto, em silêncio como todos, o “Montes Claros Centenária” – hino desta cidade do ´Amo-te Muito´. Que burgo é este, meu Deus, capaz de ostentar - com serena modéstia - hinos tão altos, cantados por todos, mundo afora?<br>Dona Ruth, ouso dizer, é quem com maior graça e ternura conta hoje a nossa história. Desce dos seus 91 anos para, com emoção e limpo e alto romantismo, narrar de onde partimos, a longa história e travessia - a nos tomar pelas mãos e nos conduzir por dias e noites, esplendor de sonhos. (Disse 91 anos, mas ninguém acreditará. Não usa óculos sequer para enfiar linha na agulha, mora só, por gosto de governar-se, e quando serve-se da caneta para conversar, ninguém é capaz de lhe seguir). Quando a virem, reparem nos seus olhos. Neles, por força do sonho-sonhos, não há mudança que se possa atribuir ao tempo – 9 décadas. A vida, é certo, não reside no que pode ser visto e contemplado, pois além transpôs. E ela, menina-catita de 90 anos, a todos isto ensina, com leve, encantador sorriso. Uma eterna princesa, em particular do nosso Chimbica, tão lembrado. <br>Não faz menos dona Ivonne Silveira, professora, mestra, heroína de rosto ameno, sempre disponível, amável – símbolo das mulheres de M. Claros, embora nascida no Brejo das Almas – belo nome que precisa voltar. Mãe de todos nós, seus filhos por amor, escolha e declaração. Que dizer de doutor Oswaldo Antunes, rijo preceptor da maior bancada de “homenageados” ali nomeada, representação do ´O Jornal de Montes Claros´, sem pedir, sem insinuar, sem pretender, sem jamais ousar. Bancada apenas menor, e talvez, do que os de sobrenome Chaves – incontrastavelmente instalados no zimbório intelectual máximo desta nossa breve civilização. (Monzeca, para não inchar a lista com seu sobrenome, discretíssimo preferiu não deixar a ruela sua na cidade velha). Zimbório que a todos acolhe, re-une sempre, domo, jardim de Academus. <br>De Luiz de Paula Ferreira, de alto estofo intelectual, repetirei para concluir e encerrar que as torres da Catedral se inclinaram longamente para ontem ouvir a sua poesia.<br>Foi, sim, uma noite inesquecível, debaixo do suave luar de Outono. Céu que hoje se deixou enfarruscar de saudades, já de ontem 9 de maio. Montes Claros. <br> (Foto: Rádio Montes Claros 98 FM)

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