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Mensagem: Bebida alcoólica e violênciaWaldyr Senna BatistaA proposta de redução do horário de funcionamento dos bares e similares como forma de ajudar a combater a violência em Montes Claros não tem conseguido sensibilizar os setores responsáveis pela segurança pública. Eles preferem manter a vigilância policial, que se tem mostrado insuficiente, por ser mais repressiva e pouco preventiva; e a própria sociedade, vítima maior da violência, limita-se a investir em instrumentos de defesa, quando devia também cobrar das autoridades, com rigor, ação preventiva mais eficaz. A restrição ao consumo de bebidas alcoólicas, mediante o encurtamento do horário de funcionamento daqueles estabelecimentos, seria um dos itens mais importantes.<br>O sociólogo Túlio Khan, citado em artigo do jornalista Gilberto Dimenstein na Folha de São Paulo, afirma ser cientificamente comprovado que bebida e crime andam juntos. Ele é responsável por análises realizadas por técnicos em saúde e segurança pública com amostras de sangue de 1073 pessoas vítimas de homicídio, e o resultado é que em 41% delas constatou-se a presença de álcool. Estima-se que a bebida tenha sido ingerida, na mesma proporção, pelos agressores. A pesquisa revelou também que, de 454 vítimas fatais de acidentes de trânsito, em São Paulo, 194 haviam ingerido o equivalente a duas latas de cerveja ou três copos de chope.<br>O autor do artigo informa que, desde 1999, no estado de São Paulo, houve queda de 54,7% no número de homicídios dolosos, tendência que permanece neste ano. Ele atribui parte dessa queda ao fato de alguns municípios da área metropolitana da capital e bairros paulistanos haverem antecipado o horário de fechamento dos bares. Embora reconhecendo que as causas da criminalidade são bem mais complexas, Gilberto Dimenstein aponta como fator importante dessa verdadeira tragédia “a glamurização publicitária da bebida, associada ao sucesso, ao charme sexual e até à saúde”, como se constata em todos os veículos de comunicação. Por isso, ele aplaude a notícia de que o Ministério da saúde estaria preparando campanha para restringir a publicidade de cervejas no país. E cita que países desenvolvidos vêm estabelecendo políticas restritivas para o anúncio de bebidas alcoólicas, inclusive cerveja, preocupados com a saúde da população em geral e dos jovens em particular. Estes, no Brasil, estão bebendo cada vez mais e, ainda por cima, começando mais cedo.<br>Levantamentos de opinião pública têm indicado que a violência transformou-se na maior preocupação dos brasileiros, superando até mesmo o desemprego. Em Montes Claros não se faz necessária pesquisa para se constatar que a situação é parecida, haja vista a transformação operada na paisagem da cidade nos últimos dez/vinte anos, período em que se ergueram muralhas e se instalou pesada parafernália eletrônica como escudo dos moradores principalmente em bairros em classe média-alta.<br>É preciso reconhecer que o sistema de segurança pública da cidade tem mostrado relativa eficiência, embora bem distante do ideal e do que costumam apregoar os responsáveis pelas polícias civil e militar, com base em estatísticas que situam Montes Claros em quarto lugar no “ranking” mineiro da violência. Ao que se sabe, nessa classificação pesam mais os chamados “crimes violentos”, com importância secundária às demais formas de violência, entre elas o tráfico e o consumo de drogas. Vale lembrar que, nos primeiros quatro meses do ano, registraram-se aqui 31 homicídios, alguns deles com características de execução. Se mesmo assim Montes Claros figura em confortável quarto lugar, o que se pode imaginar estar ocorrendo nas cidades classificadas em piores posições ?<br>A verdade é que essa estatística em nada contribui para a tranqüilizar a população, que, mais do que números, sente os efeitos do clima de insegurança predominante. Em vez de se acomodar sob o efeito da comparação com outras cidades, o importante é agir objetivamente para superar as dificuldades. E uma das medidas preventivas a considerar é a redução do horário dos estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas. Pelo menos neste caso, o que é bom para São Paulo, uma das cidades mais violentas do Brasil, é bom para Montes Claros.
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