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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: INTUIÇÃO MATERNA <br><br><br>Aos dezenove anos me apaixonei por roupas estilos safári. A aura reinante na moda jovem ainda era a do blue jeans. Blusões, jaquetas e calças de algodão prevaleciam. Tudo costurado com linha aparente, com zíper ou botões grandes.<br>Adquiri um tecido de algodão seridó, ocre claro, um diagonal mesclado, uma beleza. Copiei o modelo de uma jaqueta francesa, extraída de uma revista internacional de modas. Para confeccioná-la, encomendei-a a minha mãe, uma libriana com apurado gosto estético. Muito habilidosa em tudo que fazia.<br>Na ocasião, ela passava por um momento psicologicamente difícil de sua vida, uma fase que a deixou sensível e fina, suscetível a variações de humor. Exigiu ela mesma comprar os aviamentos e fazer, ao seu gosto, variações na estética do modelo.<br>Como tenho um sexto sentido para o perigo, ocorreu-me o insight que algo fora do habitual aconteceria a partir daquele seu posicionamento.<br>Pronta a confecção, fui experimentá-la. Foi quando notei que os botões postos eram de um pesado metal amarelo, modelo da Alpaca Eberle. As peças tinham um baixo relevo acentuado. Eram bastante grandes em tamanho para servir na função de abotoar, estando também dotadas de uma base pontiaguda disposta em cone rombudo, Essas peças eram habitualmente usadas em decoração de selas gaúchas.<br>Na jaqueta, sem a sustentação correta, as partes ficavam com a face para baixo, dando à roupa confeccionada um tom ridículo, destituído de um sentido estético. Enfim, um peso ingente.<br>Algo me disse para não reclamar - a intuição materna tem lá origens consistentes. Fiquei calado contra a minha vontade. No meu entender, o modelo ficou bastante alterado, impróprio. Reservei-o para uso em atividades não urbanas.<br>Num fim-de-semana prolongado ao lado da turma dos Durães Barbosa, companheiros de outras viagens, de aventuras, caçadas e pescarias, numa manhã em que caia uma garoa fina na fazenda, sob os incentivos de Zizi Rocha, partem para um treinamento coletivo de tiro ao alvo.<br>A plataforma de exercícios foi montada em uma velha cerca abandonada, feita de lascas de aroeira. Distribuímos as armas entre os atiradores, colocando ainda às latas nas pontas das peças, e iniciamos a sessão.<br>Tive uma sensação de peso nos parietais. Era a intuição do perigo. Ela sempre se me apresenta assim.<br>O segundo tiro praticado partiu de uma carabina Winchester 44. O projétil, com a ponta achatada, atinou o corpo endurecido da aroeira e ricocheteou, acertando-me na altura do coração.<br>A grande peça metálica colocada no referido casaco como botão partiu ao receber o impacto! A base da peça afundou-se na minha caixa torácica, dilacerando o tecido e terminando amparado numa falsa costela, com o que, felizmente, o projétil foi desviado. Fragmentos acertaram a aba de um chapéu jaberrou que eu usava na ocasião. Lá estavam à serventia das feias peças de metal, escolhidas por minha mãe para que abotoassem a minha jaqueta.<br>O aparente desacerto feito por uma mãe - é sempre certo para um filho - é uma providência divina! A sua implicância em colocar os aviamentos - completamente contrários à minha escolha - foi uma dádiva que, com certeza, salvou a minha vida!

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