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Mensagem: O Casamento de Lucizinha e Dedeto Prates<br><br>“Tem dias que levanto com uma vontade imensa de recuperar memórias perdidas. Sinto que o que está mais distante, ao mesmo tempo, está mais próximo”.<br>(Com licença de Rubem Alves)<br> Maio chegou neste 2007 com seus dias claros e luminosos. O céu de um azul total, sem uma nuvem. Noites mais frescas, um friozinho gostoso.<br> Os ventos que descem da Serra do Curral me levam até a Fazenda das Quebradas em Montes Claros, onde, no dia 30 de maio de 1959, aconteceu o casamento de Lucizinha e Dedeto.<br> Nossa vida é feita de coisas passageiras; a gente precisa reviver na medida do possível momentos que nos sensibilizaram intensamente. Gosto de recordar esses instantes que me emocionaram ao longo do caminho. <br> A beleza de certos momentos vividos se eterniza, e são eles que dão encantamento à vida. O casamento de Lucizinha e Dedeto se eternizou em minha memória, porque se revestiu de um encanto único.<br> Eu tinha nesta ocasião dezoito anos, era uma romântica convicta e esperava com ansiedade a oportunidade de assistir um casamento no campo, como aqueles descritos em romances de amor, ou vistos nos filmes ingleses. Mamãe fez para mim um lindo vestido de “voal” estampado. Comprei uma sandália branca para combinar, mas ficou uma frustração que espero ainda resgatar: queria usar um chapéu de palha italiana, enfeitado com fita e flores. Mas, como achar esse chapéu na Montes Claros de 1959?<br> Tudo conspirava em favor da cerimônia. A beleza da Fazenda das Quebradas, com seus jardins, os tons, o perfume das flores, a brisa da tarde, o crepúsculo. O entardecer coloria tudo de dourado, ocre e vermelho. Uma profusão de cores refletindo na serra onde o cruzeiro, com os braços abertos, acolhia a todos presentes.<br> A queda das flores da paineira forrava o chão como um tapete rosa, surpreendente, lindo e diferente! Sob esta árvore foi armado o altar, coberto com alva toalha de linho, um crucifixo dourado e castiçais com velas. A decoração era a própria natureza, que nesse dia se esmerou mais ainda.<br> Lucizinha saiu de sua casa de braço dado com o pai, Pedro Cristino Veloso. Estava linda! Usava um vestido de noiva branco, esvoaçante, feito pelas mãos de artista de Teresa Dias, minha querida tia Tê. Uma grinalda singela realçava sua beleza morena, sua faceirice. Havia um brilho de felicidade nos seus olhos.<br> A Banda do 10º Batalhão tocou a marcha nupcial, enquanto ela percorria um tapete de flores rosas em direção ao altar onde Dedeto a esperava rodeado de familiares.<br> Arinha, serena e aristocrática como uma marani indiana, era a soberana daquele paraíso. Compartilhava com todos a emoção que, como um véu diáfano, nos envolveu. <br> Senti naquele momento de intensa beleza, a presença e o brilho de Deus. <br> Na medida que transcorria o casamento, celebrado por Monsenhor Gustavo, a luz dourada da tarde iluminava os noivos e ampliava a beleza daquele cenário: flores rosas que, ao menor sopro da brisa, caíam da paineira sobre os presentes; o azul do céu de final do outono, a Ave-Maria de Schubert...<br> Naquele instante de fascinação e felicidade, nada mais fiz que agradecer a Deus em silêncio. Revesti-me de um grande sentimento de paz. Experimentei uma emoção que não consegui explicar!<br> A Fazenda das Quebradas era famosa na arte de bem receber. De sua cozinha saíam almoços e jantares dignos dos deuses. As compotas de figo, laranja, limão; os doces de leite e pêssego, servidos em terrinas e compoteiras antigas. Tudo tão montesclarense, tudo tão mineiro!<br> A recepção não fugiu à regra. Farta, deliciosa, requintada como tudo era requintado nas Quebradas.<br> A lua cheia atrás da serra sucedeu o entardecer. Estrelas começaram a cintilar, mudando os tons da noite que chegava devagarinho, mas a alegria e o encantamento persistiam. Tudo sugeria estarmos vivendo um sonho.<br> Subimos na carroceria de um caminhão forrado com colchões e iluminadas pelo clarão da lua, envolvidas pelo enlevo vivido, retornamos a Montes Claros.<br> Este foi o casamento mais romântico, mais bonito que já assisti.<br> A fantasia e o sonho que dão um encanto maior à vida continuam comigo. Agradeço a Deus não terem se extraviado para o esquecimento recordações e lembranças emocionantes, como foi o casamento de Lucizinha e Dedeto.<br><br>Carmen Netto Victória
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