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Mensagem: Paulo Narciso, sempre que pode e pode sempre, me cobra pelos textos que costumo ou costumava escrever aqui. É que me tem faltado assunto. O leitor poderá dizer, com certa razão: mas diante de tanta indecência solta por aí, tanta falcatrua, tanto roubo, ao ler o que a Policia Federal anda fazendo, alguém pode alegar falta de assunto para escrever? É justamente esse o problema: gosto de me considerar um jornalista à procura de “furo”, isto é, denovidades. Daí que corrupção deixou de ser novidade há muito tempo. Por lá, por aqui, em qualquer lugar da santa terrinha. Antigamente era privilégio de um determinado tipo de gente chamada de bandidos. Hoje ninguém sabe exatamente quem é ou não é bandido. Li há muito tempo, quando costumava ler para encontrar assunto e escrever, que hospício é o lugar onde se colocam alguns poucos loucos, porque a maioria deles está nas ruas, dirigindo carros ou pulando na frente deles... Diga-se o mesmo, agora e com mais razão e propriedade, das cadeias e penitenciarias, onde ficam, apenas e aproximadamente, 0,002% dos criminosos. Os outros estão ocupando cargos públicos ou se colocam perto deles; muitos estão vendendo medicamentos, ambulâncias e saúde pública. Só alguns poucos vendem bebidas e cereais. E quantos, ocupando púlpitos e microfones, conseguem vender até a fé em Deus. HÁ grandes proprietários de veículos de comunicação que vendem de tudo, inclusive o patriotismo, a moralidade e a justiça social. Até os encarregados de fazer Justiça estão vendendo ‘”justiça”. Policiais estão se vendendo a granel. Quem pode, vende tudo. E o leitor vai perguntar: e os que não podem, os pobres, esses coitados vendem o que? Nada? Esses, não porque querem, mas porque são forçados, vendem o voto, vendem o suor o sangue, alguns vendem até as filhas menores de idade. Mas o leitor não deve se importar muito com isso, porque estou escrevendo apenas por falta de assunto. Manoel Bandeira, dizendo das crônicas de Rubem Braga, escreveu: “Braga é o estilista cuja melhor performance ocorre sempre por escassez de assunto”. Mas Bandeira falava da poesia que Rubem punha em suas crônicas quando não achava o que escrever. E não há como colocar um pouco de poesia em crônica sobre corrupção. A não ser que se ponham os versos de Augusto dos Anjos. Se o leitor não teve contacto, ainda, com esse poeta pernambucano que faleceu em 1914, veja essa sua previsão em versos: O mundo resignava-se investido/nas forças principais do seu trabalho.../A gravidade era um principio falho,/a análise espectral tinha mentido!//O Estado, a Associação, os Municípios?eram mortos. De todo aquele mundo/restava um mecanismo moribundo/e uma teologia sem princípios// Eu queria correr, ir para o inferno,/para que da psiquê no oculto jogo,/morressem sufocadas pelo fogo/todas as impressões do mundo externo!//Mas a terra negava-me o equilíbrio.../Na natureza, uma mulher de tudo/Cantava, espiando as árvores sem fruto/a canção prostituta do ludibrio!. Um bom final de semana para quem como nós, você e eu, ainda estamos soltos....
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