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Mensagem: AS RASPADEIRAS DE TRISTEZAS E O MURO DA COWANDedico esta crônica ao amigo e escritor Raphael Reys, querido nas zonas rural, urbana e boêmia e nossa aldeia.Dedico-a, também, ao muralista Chiara de Bernardino (MS24419), dos lindos Açores portugueses.Meu saudoso pai Nonô, certa feita, não resistindo à intensa curiosidade de um inteligentíssimo menino montes-clarense, muito seu amigo, resolveu ensiná-lo o que eram zona boêmia e rapariga. Parou o carro do outro lado da avenida, em frente à porta de entrada do sobrado de “tia” Anália e explicou ao garoto que zona boêmia era o lugar para onde as pessoas, quando tristes, se dirigiam para se alegrarem e que as chamadas raparigas eram as enfermeiras da Santa Casa da Alma dos Homens. Esse petiz, hoje o brilhante maestro e cineasta Armênio Graça Filho, narrou, numa crônica, o diálogo que, então, travou com meu pai:– Armeninho, todas as cidades se dividem em vários lugares, chamados zonas. Aqui neste lugar, onde estamos, é a Zona da Alegria. Ali, do lado, é a Praça de Esportes, a Zona do Esporte, aonde as pessoas vêm nadar, jogar futebol etc. Lá, no cemitério, é a Zona das Pessoas Mortas. Há também a Zona das Escolas, onde ficam o Grupo Escolar, o Colégio Imaculada Conceição, a Escola Normal. Entendeu?– Mas, Nonô, por que o nome rapariga?– Rapariga, Armeninho, é uma palavra de outra língua que, dividida em pedaços, você vai entender: “rapa” é raspar, tirar; “riga” significa tristeza.E o menino concluiu:– Então, Nonô, rapariga é raspadeira de tristeza!?A zona boêmia da Princesa do Norte era famosa, primeiro pela beleza, carinho e calor humano de suas moças e, depois, pelo poema que a ela dedicou o genial Carlos Drummond de Andrade, o “Cabaré Mineiro”, que deu título a um dos mais premiados filmes de nosso grande cineasta Carlos Alberto Prates Correia.A primeira sede da COWAN, logo que a empresa começou a crescer, foi no Prado Oswaldo Cruz, em plena zona boêmia, na região a que chamávamos simplesmente de “Praça de Esportes”, ao lado do sobrado da saudosa “tia” Anália. O randevu era adornado pelas mais belas “raspadeiras de tristezas” que se conheciam à época e teve entre seus freqüentadores até o Presidente Juscelino Kubitstchek de Oliveira, nacionalmente conhecido por “Nonô Pé-de-Valsa”. Ambos os terrenos eram imensos e tinham a separá-los, de um lado, um extenso e antigo muro divisório. De repente, numa indômita tempestade, os velhos tijolos não resistiram à força do vento e dos raios e o muro ruiu. Fato natural, sem culpa de nenhum confinante, ambos teriam que arcar com as despesas da reconstrução, pois não ficaria bem para as moças terem suas intimidades devastadas e nem para os trabalhadores da empresa serem irresistivelmente levados a ver o que se passava no interior do sobrado, negligenciando suas pesadas tarefas. O preço da restauração era bastante salgado e Walduck Wanderley procurou “tia” Anália, de orçamento em punho, para discutir de que forma ela pagaria sua metade. A dama da noite argumentou que a situação não andava muito boa, devido a uma crise que assolava o país, e que as meninas não estavam faturando quase nada, apenas o necessário para se manterem. A COWAN já tinha uns cinqüenta empregados ali, muitos deles já habituados, ao final do expediente, a se dirigem às sacerdotisas para deixarem, em seus doces braços, os cansaços de suas árduas jornadas de trabalho. Fizeram, então, o seguinte acordo, com participação das meninas e dos empregados: “tia” Anália pagaria, in natura, sua parte na reconstrução do muro. Todo empregado da empresa que fosse ao randevu se identificaria a ela, que anotaria o nome num livro de contas correntes. Se o empregado fosse mais de uma vez durante o mês, bastaria que ela colocasse um “x” à frente de seu nome. No final do mês apurava-se o número total dos “programas”, inclusive por pessoa, e multiplicava-se pelo preço usual que as moças cobravam para rasparem as tristezas dos homens. Em menos dois meses, para surpresa de todos, Anália pagou sua metade do muro. Walduck, sempre bondoso, sentindo que poderia tirar o pão de cada dia da boca de alguns de seus empregados, especialmente dos mais assíduos aos leitos das meninas, decidiu não descontar nada de seus salários, presenteando a todos o que teriam de pagar por suas jornadas de amores bandidos. O maldito muro divisório foi reconstruído em tempo recorde, para tristeza dos empregados e das moças, alguns deles e algumas delas já em fase de afáveis e profundos xodós. Zé Amorim, filósofo-mor da corte catrumana, sentenciou:– Eh, Mola Forte, você vai acabar quebrando essa empresa se ficar fazendo negócio desse tipo, porque xibiu bem administrado dá mais dinheiro que banco...
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