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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: EDMUNDO ANTÔNIO DIAS NETO

Um de meus vizinhos de esquina se chamava Edmundo Antônio Dias Neto. Era inteligentíssimo. Sabia de tudo. Filho do estimado e repeitabilíssimo Professor João Neto e de D. Maria, irmão de Carminha, Branca e Paulinho, era, de todos os meus amigos de infância, o que eu mais admirava. Tramávamos as mais mirabolantes “estrepolias”. Nossa amizade era tão profunda que, nos meus 12 anos, fiz a ele um versinho, assim: amigo do coração/o endiabrado Edmundo/cujas estrepolias são/as que ninguém faz no mundo. Abro um parêntese para dizer que só hoje descobri que a palavra estrepolia não consta de meus dicionários. E como a usávamos! Supus, até, que ela talvez viesse do verbo estripar e o derivativo correto seria estripolia, também não encontrado em meus “pais-dos-burros”. Só sei que a pronunciávamos como escrevi aqui e como constou do versinho e que ela é uma palavra muito nossa, dialética.
Em outubro de 1957 os russos haviam lançado ao espaço o Sputnik, a primeira nave que orbitou em volta da terra. Incentivado por meu professor de Ciências Naturais, o saudoso mestre Francolino Santos e ainda entusiasmado com o sucesso dos soviéticos, resolvi montar meu laboratório no corredor, aos fundos do casarão da Presidente Vargas. Depois de apresentar o local, dotado até de um pequeno telhado e de uma velha prateleira, a Edmundo, resolvemos construir nossa própria nave espacial. Se os russos fizeram a deles, por que não fazermos a nossa? Seria a primeira espaçonave montes-clarense. Edmundo gostou da idéia e logo elaborou o projeto numa imensa folha de cartolina. Passamos à sua execução. Enchemos um cano de pólvora, furamos um buraquinho em sua base, onde colocamos um pavio de barbante. Pregamos um imenso foguete de compensado num cabo de vassoura, que enfiamos num longo e grosso cano. Tia Yayá, sempre generosa, até no nome, financiou a empreitada, sem nada dizer a meus pais. Fomos, mais de cinqüenta meninos, lançar o artefato ao espaço, onde construíam o campo de futebol do Cassimiro de Abreu, antiga chácara de “seu” Benedito Gomes. O pavio, mesmo embebido em álcool, não funcionou, devido ao excesso de terra fofa produzida pelas obras de nivelamento do terreno. O primo Geraldo Eustáquio Mirabeau, hoje festejado cardiologista do Rio de Janeiro, passava férias conosco. Resolveu dar uma de bacana, dizendo: – eu rixxco! Colocou um palito de fósforo no buraco do cano, preso ao chão por fortes arames roliços e estacas de madeira para que só o foguete voasse, e “rixxcou”. Voaram aos céus cano, base de madeira, arames, estacas, cabo de vassoura, foguete de compensado e tudo o mais. Gerinha Português, nosso Chefe, verberou, na correria, que todos deitássemos, de bruços, ao solo, para que nada caísse em nossas cabeças. Só Geraldo não deitou. Chorava e gritava que estava cego. Descemos para a cidade, em ruidosa procissão, carregando-o nos braços e invadimos o consultório médico de meu tio Luiz Quintino. Felizmente só ficou com o rosto manchado de pólvora. Que alívio!
Hoje, no Café Kahlúa, através do brilhante advogado Paulinho, esposo de Júnia, filha do inesquecível Dr. Bento Campos, soube da morte de Edmundo, ocorrida ontem. Edmundo tornou-se um dos mais renomados engenheiros do Brasil. Sempre exerceu a profissão em São Paulo, onde residia. Isso nos separou apenas no espaço físico porque, espiritualmente, nunca nos desligamos um do outro. Pois é, menino travesso, você nos deixou antes da hora, mas para nosso orgulho, deixou também um nome respeitado, tal qual seus dignos pais, na sociedade em que viveu. Sua vida valeu a pena. E nós, companheiro, tenha absoluta certeza, sempre nos lembraremos de você com a mais profunda saudade que seremos capazes de guardar em nossos corações. Descanse em paz, meu querido Edmundo, e vê se faz logo alguma “estrepolia” aí nesse aprazível lugar destinado aos bons onde, tenho certeza, você agora se encontra. Brinde a todos daí com a alegria e com a luz fulgurante dos aldeões de nossa tribo. Projete um foguete sideral. Chame um menino de nossa tribo, por nome Sidney, para participar dessa nova empreitada. Ele ficará muito feliz. Até breve, caro amigo.

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