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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Mensagem: O RABO DA ONÇA

O peão tinha o apelido de Bocó de Argola. O levamos para um garimpo de quartzo junto com outros que também foram contratados no pátio da Central do Brasil, onde dormiam temporariamente, enquanto aguardavam um porto para ancorar. A mina a se explorada, ficava no município de Francisco Sá, numa fazenda abandonada de propriedade do amigo Felisberto Brant, então meu vizinho no Bairro São José. Tempos do saudoso 1968.
Chegando ao garimpo, o Bocó se revelou o mestre da embromação, da catimba. Gastava quase todo o tempo útil a enrolar cigarro de palha, levava horas banhando-se e se esfregando com bucha no poço. Enquanto os peões faziam quatro viagens carregando trinta quilos por vez, ele executava apenas uma viagem, levando no máximo quinze quilos”.
O moral do pessoal de serviço já estava afetado pela sua habitual e irritante malandragem. Hipólito, o encarregado da extração, arrancava os cabelos de preocupação com ele. Foi quando resolvi intervir, usando a malícia. Avisei ao encarregado da minha intenção, e na madrugada seguinte, às quatro e meia, saí na frente e me alojei no leito seco de um córrego, entre os tufos de capim alto e abaixo do tronco, passagem obrigatória de todos.
Levei um cone para potencializar a voz e esperei que toda a turma atravessasse a pinguela. Bocó vinha atrás, já bastante atrasado fazendo um cigarro de palha, o saco de estopa dependurado no ombro, quase caindo, o corpo gingando. Parava, batia os pés no chão, no ritmo de uma moda caipira que cantava com grande contentamento e impunidade.
Na campana montada, esperei que ele pisasse na pinguela e pelo cone bradei um grande urro, imitando o esturro de uma onça! O seu chapéu de palha volteou no ar demoradamente até chegar onde me encontrava. Escutei os seus berros de medo, morro acima, Bocó correndo no cascalho miúdo, que afundava a cada passada.
Dei distância e corri pela trilha, parando e urrando. No caminho encontrei os seus pertences perdidos. Chegando ao platô onde acontecia a extração, e após se recuperar, ainda arfando e gesticulando desordenadamente, relatou os fatos ao encarregado. O mesmo, conhecedor da região sentenciou: não foi onça não seu Bocó, é melete velho, que urra que nem onça, No que ele retrucou: Foi onça sim seu Hipólito, o rabo dela bateu no meu nariz, quando saltei a pinguela, fazendo ela errar o pulo ne mim.
Daí por diante, Bocó era sempre o homem do meio na fila indiana de peões, mas não agüentou dois dias, batendo-se em retirada, a pé. Sequer esperou o pagamento semanal.

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