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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Havia, havia na Catedral, ontem, na missa de 7º Dia do menino Sidney Júnior mais mulheres do que homens.<br><br> E, talvez, até mais crianças do que homens, homens feitos, digo. <br>E a igreja estava plena, cheia.<br><br>Há muito noto o que ontem pôde ser visto, confirmado. <br><br>As mulheres, que são as mães dos homens, as mulheres estão tomando a frente, adiantando-se entre todos, principalmente nos momentos de grande dor, como este.<br><br>O exemplo é o de Simone Pacheco, tia do garoto imolado pelo viciado em drogas que transitava livremente pela cidade, embora já carregasse nas costas – não importa se débil mental ou não – pelo menos um outro homicídio, candidamente confessado: a morte da mulher que não lhe deu o dinheiro que exigiu.<br><br>Simone, de olhos claros, vivos, de intenso vigor, e fulgor, a inspirar decisão e autoridade, foi quem liderou as buscas ao menino.<br> <br>Chefiou a família, distribuiu missões, tratou com a polícia e se pôs – ela mesma – à frente da procura desesperada, urgente.<br> <br>Chorando. <br>Sempre chorando.<br>
Chorou, chorou, chorou. <br>Chorou sem parar por estes dias todos.<br>Desfaleceu de tanto chorar no cemitério. <br>Chorou muito na missa de ontem.<br><br>Contudo, esta Joana D’Arc do Sertão dá sinais de que não se entregará. <br><br>Nada sugere que venha a recuar, a ceder, a transigir, a desistir.<br><br>Ao contrário.<br><br> Do seu verde, limpo e alto olhar há luzes que apontam para outras direções. <br><br>Tiraram-lhe o sobrinho amado, redobraram-lhe a coragem.<br><br>É bom guardar o seu nome.<br><br>As mulheres podem nos salvar. <br><br>Talvez apenas elas. <br><br>E entre elas, as mães, únicas com autoridade e força para içar do despenhadeiro moral um Brasil que dá mostras de que desmaia - inerte, abobado, perdido, irreconhecível, extraviado, amputado do seu passado e distante do futuro que lhe foi antevisto pelos sonhadores de todos os tempos. <br><br><br>Ninguém pode tanto quanto as mães, e parece que elas não estão mais dispostas a ceder um milímetro em defesa da vida; elas – que são o centro deste prodígio humano/divino - a própria vida. <br><br>Ao preço que for. <br>Custe o que custar, elas nos salvarão.<br><br>Ontem, na Catedral, todos viram: era delas a ação e delas a determinação. <br><br>Tudo comandavam. <br><br>Com serenidade e firmeza, arrancadas não se sabe de onde; com doçura ainda, e imensas doses de energia, atitudes que comovem tanto quanto o drama do menino que ali nos levou e re-uniu.<br><br>O garoto imolado - é preciso repetir - na manhã ensolarada do Corpus Christi, numa área povoada, conhecida e freqüentada da cidade, o seu Parque de Exposições.<br><br> Aonde, historicamente, Montes Claros juntou as suas maiores multidões – de 40, 50, 60 mil pessoas, 80 mil.<br><br>Voltemos à missa.<br><br>Não houve ali, ontem, um estalido, um movimento, um mínimo gesto no encerro profundo delas, as mães, nada que pudesse ocultar ou sugerir o levante iminente, já a caminho.<br><br>Nenhuma insinuação de rebeldia, de revolta, de ira. <br><br>Os Dias de Ira, o dies irae (“Dies irae, dies illa/solvet saeclum in favilla:teste David cum Sibylla”), mantra do século 13, não arrostou os bancos apinhados da Catedral, tomados ontem pelas Mães.<br><br>Na imobilidade gestual de quem fala livremente com Deus, sempre e a sós, as mães exibiam, era possível ver, um fragor secreto, a força desconhecida que pode e vai nos salvar em breve, quando, talvez daqui mais um pouco, permitirem que soltem da garganta o grito lancinante que move o mundo, e o faz recomeçar.<br><br>E não para a vingança.<br><br>Mas para a reconstrução urgente do que se decompõe.<br><br>Não permitirão que seus filhos mais sejam mortos nas ruas. <br><br>Que seus maridos não voltem.<br><br>Que a porta da sua casa deixe de ser o território risonho da infância, para modelar-se como último recuo do medo. <br><br>As mães desconhecem o sentimento de covardia.<br><br>E o que acontece quando as mulheres, elas também, se calam, abafam o próprio rumor?<br><br>Ontem, na Catedral, centenas delas, em ordem, procuravam abraçar a mãe do menino, em silêncio. <br><br>E choravam. <br><br>Mais de uma tirou uma carta, lacrada em envelope, e a depositou às pressas nas mãos da mater dolorosa da noite.<br><br>O que pretendiam dizer? O que disseram?<br><br>Certamente não constará lá o desagrado pelo Dia de Luto Oficial que a prefeitura não quis, ignorou, pequeno gesto implorado pela tia, mas que untaria simbolicamente as dores de todos nós que sangramos com o martírio deste menino Sidney. <br><br>Bandeiras a meio-pau, a meio-mastro, são sempre dolorosas, rumorejam, rugem sobre a própria ferida -, mas falam profundamente para dentro de nós.<br><br>Talvez nem a lei permitisse que o prefeito assim o fizesse, mas ele precisava dizer publicamente alguma coisa. Perdeu uma rara oportunidade de levantar-se, e de levantar a cidade prostrada, caída junto do menino. <br><br>Quando as mães escrevem cartas e as vão entregar, com dispensa das palavras pronunciadas pela boca, numa missa de 7º Dia, talvez queiram dizer mais do que toda a fonética é capaz de explorar.<br><br>É possível entrever:<br><br>As mulheres, as mães do Brasil, já se movem em nosso socorro. <br>

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