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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A cidade é uma festa

Waldyr Senna Batista

Muitos dos que testemunharam a apoteótica comemoração do centenário de Montes Claros, em 1957, tentam estabelecer paralelo entre o que aconteceu há 50 anos e o que tem sido apresentado nos últimos dois meses na chamada “comemoração continuada” do sesquicentenário. A atual festa, na visão desses saudosistas, perde de goleada.<br>Eles argumentam que a programação que está sendo cumprida teve muito pouco de especial, apropriando-se de itens da agenda cultural e artística de sempre, mesclada de eventos que foram surgindo. Embora a cidade, nesse período, tenha sido transformada em uma festa, ela quase não foi percebida. O ápice se dará na próxima terça-feira, com a entrega de medalhas aos 300 personagens que “fizeram a história”. Se forem computadas as listas alternativas, as de contestação e as produzidas por segmentos específicos, que reivindicam parcela na história, esse número se aproxima do milhar.<br>A grande repercussão da festa do centenário, que não teve medalhas, talvez se explique pelo fato de a cidade de então corresponder à sexta parte da atual, em número de habitantes, desprovida de maiores atrações. De forma que tudo o que contrariasse a bucólica rotina ganhava proporções monumentais. Já a cidade de hoje é trepidante, dotada de ruidosa movimentação artística, cultural e social nos “points” em que predominam principalmente os jovens, ou nos clubes, redutos de mais de uma dezena de cronistas sociais. No passado, eram um ou dois cronistas, com função mais de meros repórteres. Os da atualidade são promotores de festas, atuando em escala profissional que exige investimentos pesados, com passarelas, fartura de luzes e efeitos sonoros de elevada potência, para satisfação da “galera”.<br>Toda essa parafernália faz com que qualquer dessas festas suplante o inesquecível baile de gala do centenário, que o sempre lembrado Lazinho Pimenta dizia ter sido tão espetacular que provocou radical transformação do “society”, levando as mulheres a estar sempre “up to date” para terem lugar nas listas das mais elegantes, que eram o “frisson” da época. Coisas do Lazinho...<br>Outro ponto tido como fundamental para o sucesso da festa anterior foi o envolvimento da comunidade, fundado no sentimento do porque me ufano da minha cidade, com o que se conseguiu até a renovação da pintura da fachada dos imóveis da área central, proporcionando à cidade aspecto festivo e agradável. Nisso teve o toque de Hermes de Paula, que presidiu a comissão encarregada dos festejos. Iniciativa semelhante seria inviável agora, mas deveria ter sido tentada pelo menos em áreas críticas, como no entorno da praça de esportes, onde a maioria dos prédios apresenta aspecto mais parecido com o Iraque depois da guerra.<br>O desfile histórico, com grupos caracterizados, foi outra atração do centenário, amplificado no imaginário pela modéstia do cenário em que se apresentou. Em comparação com os festivais internacionais de folclore que a cidade tem acolhido, provavelmente aquele desfile histórico seria ofuscado.<br>Mas, por ser de natureza efêmera, tudo isso esfumou-se pouco tempo depois da grande festa, ficou apenas nas memórias mais privilegiadas. De concreto, o que restou como o empreendimento marcante do centenário foi o parque de exposições, empreendimento da iniciativa privada cujo vínculo com a grande festa foi apenas devido à data escolhida para ser inaugurado. Idealizado para mostrar a pujança da principal atividade econômica da região, ele vem cumprindo seu papel, influindo na melhoria genética do rebanho de corte, levando os pecuaristas a se atualizarem na exploração do negócio deles e servindo de atrativo para a vinda das mais importantes personalidades da política e da administração pública nacional, com isso projetando a cidade.<br>Mesmo com a pecuária tendo perdido a primeira posição no contexto da economia regional, o parque de exposições jamais perdeu sua importância. Absorveu o ciclo da industrialização inspirado pela Sudene, saiu dos rodeios na base do “segura peão” que fazia vibrar o público e assimilou a nova fase das apresentações artísticas de grandes platéias. Influiu até na maneira de se fazer política na cidade, possibilitando o estreitamento do contato dos que militam nessa área, que quase sempre se tinham como inimigos e, com o parque, tornaram-se apenas adversários. Como convém à gente civilizada.

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