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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: NOS TEMPOS DOS CARROS DE BOI

Como uma bomba, a notícia estourou. Uma nova lei municipal proibia os carros de boi nas ruas da nossa cidade...
Esta notícia, assim tão de repente, alvoroçou Montes Claros.
Os fazendeiros, possuidores de grandes matas, revoltaram-se, pois, viam por água abaixo seus planos de devastação das florestas (aliás, um crime), que seriam cortadas e transformadas em milhões de cruzeiros, uma vez transportadas em carros-de-boi e vendidas na cidade.
E o romântico carro-de-boi desapareceria mesmo, para grande tristeza dos poetas e dos ´bolsos´ dos fazendeiros...
Não mais ouviríamos sua lamuriosa música pelas ruas estreitas e esburacadas, que tornavam mais difícil seu percurso e, às vezes, o carreiro tinha que ser mesmo muito esperto para não se despencar lá de cima, quando os bois se embolavam e se arrastavam, ao virar de uma estratégia esquina.
Aí então os ´tubarões´ se lembravam de que, desaparecendo os carros-de-boi, teríamos necessidade de lenharias onde adquirir a lenha, aos metros, para o consumo dos nossos gigantescos fogões.
E em todos os cantos da cidade, principalmente nas entradas, brotavam como, por encanto, as lenharias. E a lenha farta, boa, de angico e aroeira, foi substituída, nas lenharias, pelos míseros metros de ´pau terra´ e ´cagaiteira´.
Era o grande negócio dos idos de 38.
Ainda me lembro do João, tipo displicente, pai da paciência e lenheiro fiel da Dona Bela Costa, que já era veterana nesse negócio e sua lenha era reconhecida e procurada como das melhores da redondeza. Ele passava cochilando em cima da carrocinha de lenha e, ao que se concluía, é que o burro (não era tão burro) era ensinado, pois, seguia rumo certo, cortando a cidade de Norte a Sul, com a mercadoria que oferecia diariamente à população que não tinha outra escolha senão se acostumar com os ´minguados´ metros.
Era comum a gente ver carroças ´bem arrumadas´, como verdadeiras fogueiras de paus cruzados, para encherem mais depressa com menos lenha, e ía se estreitando à medida que subia a ´pirâmide´.
A eterna preocupação do comerciante em lesar o freguês. E assim as lenharias tiveram seu bom tempo, muita gente até se enriqueceu.
Foi aí, então, que um grande amigo nosso, o Aluízio Lobo, que passava os maiores apertos apesar de ser um excelente farmacêutico, e que não teve nunca oportunidade de possuir uma farmácia, resolveu abrir uma lenharia.
Alugou um grande terreno, fez um galpão, comprou meia dúzia de machados, um burro velho, uma carroça de segunda mão, arranjou três bons machadeiros, e lá se foi o seu capitalzinho.
Ia levando a vida na expectativa de grandes negócios, ia cedo para a lenharia e, de lá, só voltava à noite...
Aos poucos, foi vendo que o negócio não era dos melhores. Os fregueses começaram a exigir lenha boa e, os mais granfinos, lenha picadinha de 20 centímetros para os fogões de ferro, que alguns já possuíam.
Os machadeiros se desdobravam de sol a sol, a lenha só empilhando, nada de sair. O dinheiro não entrava porque a lenha não saía, e com isto o amigo foi ficando triste e preocupado. Tinha que enfrentar as despesas, ainda bem que era solteiro, mas era arrimo de família. O ´lenheiro´ rodava toda a cidade com a carrocinha toda pintada de azul, mas, ninguém comprava. Era azarado.
Naquele tempo, o negócio era bem mais difícil, população pequena, corria pouco dinheiro. Que diferença de hoje! Com as propagandas da televisão, acredito que até um ´picolé de areia´ bem embalado dá para tapear muita gente...
Até o burro foi ficando triste, pois, via sua ração se escasseando cada vez mais. Chegou a tal ponto que nosso amigo precisou dispensar os empregados e até vender a lenha já picada.
Os fogões a gás apareceram, mais tarde, e aí o negócio fracassou mesmo. Ele estava num aperto desesperado, a lenharia não fazia nem para o cigarro. E o burrinho enfraquecia, enfraquecia, cada vez mais, já não agüentava nem a carroça vazia.
Que fazer? Correu lá em casa para arranjar emprestados vinte cruzeiros antigos (naquele tempo era muito dinheiro), para comprar milho para o esfomeado burro e alguma coisa para suprir sua despensa pobre. Voltou para casa feliz, assoviando e balançando a notinha cor de laranja madura. Mas, inocentemente, chegou bem perto do animal para se certificar de que o pobre ainda vivia. O asno abriu muito os olhos e a fome era tanta que esticou o pescoço e... ´vapt!´, abocanhou a notinha, de sua mão, de uma só vez.
Nosso amigo ficou tão surpreso, teve um impacto tão grande com o acontecimento, que começou a rir, rir, enquanto o burro, avidamente, ia mastigando a ´amarelinha´. E, quem sabe, talvez pela coincidência da cor do milho, parece que se sentiu alimentado...

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