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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Gato escaldado

Waldyr Senna Batista


Montes Claros e o Norte de Minas desenvolveram forte instinto de autodefesa, que se manifesta instantaneamente sempre que surgem ameaças de supressão de serviços públicos instalados na região. Isso talvez se explique pela secular exclusão de que padece esta parte do estado e é extremamente positiva essa reação até quando ela excede em intensidade o prejuízo presumido. Seria uma espécie de síndrome, que leva ao protesto antes de se avaliar a dimensão do dano.

Exemplos existem aos montes. A lona do chamado Unicirco é um deles. Surgiu como que caída do céu, permaneceu durante meses realizando movimentação de supostos cursos para a área circense e acolhendo espetáculos artísticos e culturais, num espaço que era tido como imprescindível. De repente, foi retirada, e só então se soube que o imenso pavilhão foi idealizado com o objetivo de levantar dinheiro governamental destinado à cultura. Seu paradeiro, no momento, é ignorado, e não consta que esteja fazendo falta.

O trem do sertão é outro exemplo. Desde 1947, prestou excelente serviço de integração do Centro-Sul com o Nordeste, induzindo o desenvolvimento. A interligação que se fazia em Monte Azul da Leste brasileira com a Rede ferroviária federal, funcionava como incremento da economia local. Mas, a partir dos anos 1960, com o surgimento das rodovias, o trem do sertão tornou-se economicamente inviável para a empresa que o explorava e que passou a privilegiar o transporte de cargas, em detrimento dos passageiros, que tiveram de se afeiçoar aos ônibus, mais rápidos e mais confortáveis, embora muito mais caros. A extinção do serviço provocou enorme prejuízo para a população pobre, mas restaram os saudosistas, que se organizaram em entidades para lutar pelo retorno do trem, meta impossível de ser alcançada, pois o propósito de todos os últimos governos é de manter a exclusão do transporte de passageiros. O PAC (plano de aceleração do crescimento), recentemente anunciado, prevê recursos para a liquidação da Rede ferroviária federal, cujo acervo foi arrendado a grupos privados, que só se interessam pelo transporte de cargas.

Outro exemplo ? A extinção do curso de bovinocultura que a UFMG mantinha no Colégio agrícola de Montes Claros. Foi só se falar na medida para surgirem protestos. Descabidos, pois é prática nas universidades a desativação de cursos que tenham cumprido sua finalidade, substituídos por outros para os quais haja maior demanda. As faculdades particulares, inclusive as locais, fazem isso constantemente.

E o caso mais recente é o da liquidação da Franave ( Companhia de navegação do São Francisco), também incluída no PAC, com prazo de 180 dias para ser extinta. Criada em 1963, a Franave era a única estatal a operar na hidrovia do São Francisco, numa extensão de 1.371 km ( 49% do trecho navegável do rio). Desde 1998, o transporte fluvial de cargas opera apenas no trecho baiano, de 598 km, de Ibotirama a Juazeiro. No governo passado, realizaram-se dois ou três leilões, sem licitantes, visando a privatização da empresa, que hoje dispõe de 70 funcionários e apresenta prejuízo acumulado de R$ 7,8 milhões, além de contenciosos que somam R$ 8,6 milhões. Um quadro de inviabilidade, já que a Franave é obsoleta, tendo transportado, em 2006, apenas 57 mil toneladas ( a hidrovia Tietê-Paraná, em São Paulo por exemplo, transporta 2 milhões de toneladas/ano). Pois, mesmo diante desse quadro castatrófico, ali mesmo em Pirapora realizaram-se protestos contra a extinção da empresa, apontando-se incoerência do governo em face do projeto de transposição e revitalização do rio São Francisco. A alegação é de que, com R$ 14 milhões, pode-se executar a dragagem do canal, o controle de sua largura e profundidade e fazer sua sinalização para navegação, com o que a Franave se tornaria viável. Seria como salgar peixe podre.

Outros exemplos existem, comprovando que o choro, além de ser livre, é cego a argumentos e a dados consistentes que apontam em outras direções. Mas é bom que, apesar dos equívocos e dos excessos, a região esteja sempre atenta e atuante para evitar a repetição de esbulhos que se tornaram históricos. Gato escaldado

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