Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: CONTEXTO SOCIAL DA VIDA DE ANTÔNIO DÓ

Petrônio Braz de Carvalho(*)

Esse artigo tem por objetivo discutir em breves linhas o contexto social da vida do bandoleiro Antônio Dó, retratada no livro Serrano de Pilão Arcado – A Saga de Antônio Dó, de autoria do meu avô o Dr. Petrônio Braz.
Antônio Dó nasceu na fazenda do Salitre em Pilão Arcado no sertão baiano. Onde cresceu ajudando o seu pai na lida do gado. Benedito, pai de Antônio Dó, cansado das constantes secas e das intensas tocais e lutas políticas, resolve vender as suas terras para subir o rio São Francisco em direção às terras mineiras. E assim é que os Antunes de França, a família de Antônio Dó, vão para as terras de São Francisco, ainda conhecida como Pedras dos Angicos, onde sobre a tutela do líder liberal Cel. Nunes Brasileiro, adquirem um pedaço de terra e com o seu esforço e trabalho vão aos poucos progredindo materialmente.
A vida social de Antônio Dó é marcada pelo sincretismo religioso, tão presente na vida do povo brasileiro. Tanto que o velho Benedito antes de se decidir definitivamente em ir para São Francisco sente vontade de seguir o líder messiânico de origem católica Antônio Conselheiro e ao mesmo tempo para confirmar a sua decisão de ir para as terras mineiras vai juntamente com o seu filho Antônio Dó ao terreiro de Candomblé do Pai Firmino, onde esse tem o corpo fechado.
Após o assassinato do juiz e político Antero Simões, pelos correligionários do Cel. Nunes Brasileiro e com o advento da República, o cenário político de São Francisco se torna extremamente violento. A sanha dos novos mandões da terra se volta contra todos os antigos partidários de Nunes Brasileiro, mesmo para aqueles que não participaram do assassinato do juiz e nem tinham pretensões de poder político como era o caso da família de Antônio Dó.
Já na República, Antônio Dó sofre o primeiro golpe de ódio dos poderosos de plantão. Um pequeno sitiante Maurício Rocha articulado com o vizinho de Antônio Dó, o fazendeiro e político Chico Peba, tramam se apropriarem de um pedaço de terra de propriedade da amásia de Antônio Dó. Chico Peba temia o crescimento material de Antônio Dó, pois, por serem de correntes políticas diferentes esse poderia fazer frente ao seu predomínio político na Boa Vista, região onde os dois possuíam fazendas. No meio da disputa por essas terras Antônio Dó é humilhado e preso pelo Capitão Américo, que deveria agir de forma imparcial para apurar os fatos, mas agiu com tremenda imparcialidade para favorecer aos interesses de Chico Peba que era da sua mesma corrente política.
Chico Peba agora com Marcelino, então cunhado de Antônio Dó, trama o roubo do gado da irmã de Antônio Dó. Um dos irmãos de Antônio Dó descobre a trama e acaba assassinado por Marcelino. Mais uma vez as autoridades judiciais, policiais e políticas de São Francisco não fazem nada para corrigir as injustiças. E Antônio Dó se ver completamente desamparado do auxílio da lei e da justiça do Estado nas terras de São Francisco.
Agora a gota d’água viria com a questão de um olho d’água em que envolveu mais uma vez Antônio Dó e Chico Peba. Eram os dois condôminos da fazenda Boa Vista e nessa existia dois olhos d’água de servidão pública que serviam de bebida para o gado criado por esses dois e demais condôminos da fazenda. Chico Peba por ser o líder político do local e estão sobre o manto do poder resolveu cercar um dos olhos d’água para consumo apenas do seu gado, mesmo essa atitude indo contra as posturas determinada pela Câmara Municipal. Antônio Dó indignado com essa atitude e por ser ele juntamente com Chico Peba os dois maiores condôminos da fazenda Boa Vista resolve cercar o outro olho d´água para o consumo do seu gado. Chico Peba procura as autoridades municipais que mandam derrubar a cerca de Antônio Dó, que ele a reconstrói. É intimado a comparecer na cidade para prestar esclarecimentos junto às autoridades locais e já sabendo das injustiças de que seria mais uma vez vítima e temendo ser preso novamente se dirige para a Vargem Bonita no município de Januária, onde passa a arregimentar jagunços para vir a São Francisco acertar as contas com as autoridades locais e com os seus dois principais desafetos Chico Peba e Marcelino.
O gado de Antônio Dó passa a ser roubado as vistas das autoridades municipais e essa mais uma vez nada fazem para impedir esse abuso.
Antônio Dó então entra na cidade com o seu bando e não consegue chegar a um acordo com as autoridades locais para ter ressarcido os seus prejuízos em virtude da arrogância e prepotência desses. A partir de então vai viver vários confrontos com a polícia de onde sempre vai se sagrar vitorioso. Vai viver agora longos anos nos sertões de Minas Gerais, Bahia e Goiás, onde faz aliança com vários coronéis e luta contra o interesse de diversos outros coronéis. Passa a ser uma espécie de autoridade policial e judicial na sua área de influência, principalmente na região da Serra das Araras, resolvendo questões de demanda de terra e gado. Encerra os seus dias em suas terras na Serra das Araras.
Assim podemos perceber que o contexto social da vida de Antônio Dó, apresentado pelo Dr. Petrônio Braz em Serrano de Pilão Arcado – A Saga de Antônio Dó reflete como a opressão e a injustiça caiam sobre o ombro daqueles que não se encontravam sobre o manto do poder. A imparcialidade das autoridades judiciais e policiais, movida pelas paixões políticas, levava ao extremo o abuso do poder, fazendo com que homens como Antônio Dó reuni-se jagunços e os armassem para tentar fazer justiça e lutar contra o predomínio autoritário dos coronéis. Na ausência de uma estrutura judiciária justa, no meio de um cenário de quem pode mais manda mais é que Antônio Dó tenta se livrar da opressão através da arregimentação de jagunços para impor a seu talante a justiça no sertão sem “lei”. Dessa forma podemos considerar Antônio Dó um fora da lei por ser um foragido das leis estabelecidas pelo Estado, mas, não um bandido por que o ímpeto que lhe moveu a arregimentar jagunços não foi a sanha assassina e nem o desejo do lucro fácil pelo contrário ele buscava a reparação de injustiças sofridas.
_______
Referência Bibliográfica
BRAZ, Petrônio. Serrano de Pião Arcado - A Saga de Antônio Dó. São Paulo: Mundo Jurídico, 2006

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima