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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: (Obs ; Essa crônica é em homenagem a escritora Iara Tribuzzi e as suas lembranças.)<br><br>VIRGÍNIO PRETO<br><br>Era assim mesmo que ele era conhecido e chamado. Bastante alto, parecia um guerreiro Zulu. Um gigante de ébano. Musculoso, imponente, sempre vestido com roupas de qualidade, botas canos altos com fivelas de alpaca, chapéu Ramenzoni abas larga a proteger do sol.<br>Carregava na mão direita, presa ao pulso, uma pirata com cabo ricamente confeccionado. Detalhes de prata faziam a decoração da peça. Na cinta e por debaixo da camisa manga comprida, um revólver Clark, cabo de marfim.<br>Ao andar era imponente, se mostrava mesmo, locomovia-se com as pernas semi-abertas demonstrando importância. Falava como um trovão. Timbre metálico, forte, rouco, às vezes arrastado, gutural, persuasivo.<br>Andava fazendo barulho com as esporas colocadas nas botas e próximas ao solo. Era só figuração!<br>Teatralmente apontava para o interlocutor com a mão da pirata, fazia gestos torcia o nariz, abria e fechava os olhos demonstrando o seu parecer, o seu contentamento ou a sua reprovação.<br>Tirava e colocava o chapéu em estudados movimentos. Puro teatro!<br>Imitando um ator de academia, chegava até a babar um pouco quando “filosofava” sobre a vida. Como tinha o conhecimento prático do mercado, era um experto que só levava vantagem.<br>Funcionário da empresa Anglo inglesa, gerente do “pastorador” (terreno em que hoje fica a Coteminas), um grande curral onde era guardado o gado a ser analisado que passavam por Montes Claros.<br>Na verdade, o comprador era o engenheiro Benjamim do Cachimbão, que sucedera ao inglês Mister Stuart, e Virgínio auxiliava na seleção e despacho da boiada. Benjamim Veiga, o expert em bovinos, fechava o negócio. Viajavam a cavalo, de carro, de avião.<br>Dado à roupagem psicológica que vestia e a imagem que passava, a função que exercia como auxiliar crescia sobremaneira e impressionava pecuaristas que, julgavam ter ele poder de decisão na compra do gado. Todos comiam na sua cumbuca, era tratado à pão de ló.<br>Como o seu ego inflado falava com estardalhaço e tratava a todos de: vem cá menino! Na verdade, ele era corretor de cavalos de raça, mas montava as espécies postas à venda como se fora o proprietário dos mesmos.<br>Certa feita, um novo delegado moralista resolveu botar ordem na cidade. Escorraçou bêbados, malandros e como Virgínio era um desbocado, falava o que bem queria à hora que bem lhe conviesse, e com quem estivesse à sua frente, o homem da lei o prendeu e o processou, para servir de exemplo.<br>Deu o maior rebú! Os pecuaristas revoltam e Virginio foi solto a poder de muita influencia política e o delegado transferido.<br>Representando a comunidade nos negócios de gado, rodava pela noite como cicerone de compradores, vendedores e gerentes de frigoríficos que para cá afluíam em busca de negócios e de prazeres noturnos.<br>Substituía Benjamim Veiga um recluso, que não tinha a vivência da noite.<br>Montava sempre animais de raça, arreiados com sela trabalhada e arrematada com presilhas de prata. Virgínio uma figura ímpar e exótica dos dias e das noites montes-clarenses, de outros tempos.

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