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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: JOÃO SAPATEIRO

O universo não seria o que primeiro notaríamos, muito menos o sublime ou o grandioso – Borges

Foi o personagem que propiciou um tom exótico á minha infância. Fui privilegiado espectador de suas curas espíritas. Sua história começa em 1950, aos sessenta anos de idade e sob a ação de retificações cármicas era leproso.
Nessa ocasião mendigava pelas ruas poeirentas dos Montes Claros, usando um cabo de vassoura com uma lata de marmelada vazia, presa à extremidade, evitando assim o contato direto com o passante que, depositava ali, um tostão.
Estatura baixa, magro, porém musculoso, jeito simples de nordestino, comedido, roupas rasgadas, chapéu de couro, uma embira no lugar do cinto. Morava numa choupana de palha e adobe no Cristo Rey, local reservado pela Prefeitura para portadores de hanseníase. Ali viviam confinados parcialmente.
Esse local ficava onde atualmente é o Feijão Semeado, no lado a Praça Itapetinga. Quando ainda portador do mal, João foi acolhido por uma equipe de obreiros Kardecistas, que executaram a sua cura desobessesiva, já que o mal maior era de fundo espiritual.
Curado, construiu o seu barracão próximo onde se situa hoje o DER. Passou então a fazer parte atuante da mesma equipe que o atendeu. Sapateiro por profissão confeccionava sandálias em couros crus, solados de pneumáticos. Modelo rústico.
O nosso relacionamento cresceu quando o meu pai tornou-se habitual comprador desses produtos artesanais, para revenda em sua loja, a Casa Boa Vontade.
Da equipe fraternal formada para atendimento avançado de pacientes graves, em seus domicílios e que funcionou de 1955 até meados de 1963, fizeram parte, como líder; Maria Rameta, a mestra doutrinária, além de Laertes David, Claudionor enfermeiro, Alcides Sapateiro e Dona Baroniza.
Outros, constantes e ocasionais colaboradores fraternais, que cuidavam do banho dos pacientes, corte de cabelo e curativos.
Aos oito anos a minha função no grupo era o de transportar a pesada maleta de madeira contendo a medicação de urgência e utensílios para curativos e pequenas cirurgias. O atendimento dos pacientes era feito com a caravana indo a pé até o objetivo. Posteriormente no Ford Bigode logo depois, na Rural Willez do meu pai.
Levávamos também alguns pacientes e acompanhantes a pé até a casa de João Sapateiro para tratamento. Como caminho usava a manga de pasto do conhecido fazendeiro Cow-Boy de Janaúba. As margens da Lagoa de Dona Alice, no matagal de tabuas do hoje, Bairro São José.
Lá chegando encontrávamos um ambiente simples com uma grande mesa de madeira, usada para o culto do evangelho e a doutrinação das entidades sofredoras. A especialidade de João Sapateiro era o expurgo. O paciente atendido e em estado grave, após os passes, expelia pelo nariz as chamadas materializações de entidades ovóides, que estavam provocando a sua subjugação ou loucura.
Essas partes semi-etéricas depois de expelidas eram enterradas no quintal. E o paciente curado voltava à normalidade. Emanuel Pinto adorava assistir as seções.
Seu João é o fundador das fraternidades espíritas Francisco de Assis no norte de Minas. Consta ter falecido já centenário.

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