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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Tempo e seu escritor

Manoel Hygino (jornal ´Hoje em Dia´)

No Automóvel Clube de Montes Claros, lança-se, em 7 de novembro, um livro de curto nome: “O Tempo”. Em sua longa gestação, o título variou, mas restou o essencial: as memórias de um jornalista que não se curvou diante das circunstâncias adversas, das ameaças, das perseguições de adversários ou inimigos que queriam silenciá-lo.
O autor, Oswaldo Antunes, em seu bem elaborado volume não se cinge ao relato de sua experiência, desde a infância no interior, à formatura e formação na capital e ao retorno às origens, para pregar idéias. Para a elas chegar, buscou conhecer a si mesmo, como ensinavam os antigos, para melhor compreender-se e a seus sentimentos.
“O Tempo” faz lembrar Macombo. Gabriel Garcia Marques soube contar, em minúcias e marcas do gênio, histórias imperecíveis, a partir de vivência com os problemas mais candentes da vida de sua pátria e de sua aldeia. Tornou-se universal, como imaginara Tolstói.
Oswaldo Antunes é respeitado no norte-mineiro, mercê do jornalismo sério que fez em Belo Horizonte, ao tempo em que também estudava Direito. Nas suas áreas se tornou admirado, por suas qualidades e pelo comportamento independente diante dos fatos, jamais de subserviência aos poderosos.
Quis saber quem eram os Antunes em cujo meio nascera e formara seu caráter. Procurou identificar-se desde a origem, desde o pirralho que experimentara a angústia solitária de ouvir a mãe gritando, altas horas da noite, em crise nervosa. Logo a mãe, serenidade, segurança e amparo. Chorou convulsivamente, no quarto escuro, a cabeça suarenta enterrada no travesseiro de paina.
O menino fez-se mais triste, quando o pai teve de vender a loja, cerca de 1929, coincidindo (?) com as conseqüências do “crack” da Bolsa de Nova York. A crise parecia chegada ao distante país e à recôndita cidade em que nascera.
De busca em busca, descobriu raízes judaicas, resultado de pesquisas em autores até do século XVII. Os Antunes vieram de Portugal e, na origem do patronímico, alcançou o ano 991. Ana Rodrigues, ou Roiz, mulher de Heitor Antunes e ancestral maior da família no Brasil, foi levada para Portugal, onde morreu na prisão, sem condenação, por judia e desobedecer à religião oficial. Condenada após morta, seus despojos foram desenterrados e cremados, para a condenação atingir os descendentes.
Na grei, o bispo Dom Lúcio Antunes de Sousa, nascido na fazenda de Santo Antônio do Brejo dos Mártires, então pertencente ao Distrito de Lençóis do Rio Verde, hoje Espinosa, em 1863. Ao morrer, deixou em testamento a afirmação de que “absolutamente nada tem ou possui, não deixando, portanto, bens de qualquer natureza ou espécie...”
Mas também há Antônio Antunes de França, de coragem insubmissa, o bandoleiro Antônio Dó. Por 50 anos trabalhou duramente para construir patrimônio e prestígio social, mas não participando de política e de administração pública viciada, imperante no São Francisco. Foi perseguido por vizinho, que requereu a força policial a serviço da politicagem. Em sua sepultura, está inscrito: “Pôs-se fora da lei procurando a Justiça que a prática perversa da lei não permitiu. Esse homem de gênio forte, com a capacidade de indignação dos Antunes, tinha o instinto da luta contra o errado e a inconformidade com as injustiças, tudo deixado um legado precioso de gerações insubmissas”.
A insubmissão é a palavra que predomina nesse livro, relato de fatos sobre um homem que não quis, e que não era de seu feitio e formação, inclinar-se ao poder. Sua vida como jornalista e advogado o demonstra, no livro o autor aparece na terceira pessoa.
Durante quase 40 anos, o jornal que criou e dirigiu se pautou por divulgar acontecimentos em todos os âmbitos com honestidade, rigorosa isenção e independência. No último número, o “Jornal de Montes Claros”, que viveu 38 anos, publicou:
“Entendemos não se justificar a existência de um órgão de imprensa, jornal, rádio ou televisão, pela ganância moral do dinheiro, por benesses que possa encontrar junto ao poder ou pela facilidade de viver sob a tutela de grupos econômicos”.

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