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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Montes Claros tem um encontro com a sua história amanhã, quarta-feira, dia 7 de novembro, às 20 horas, no Automóvel Clube. O jornalista Oswaldo Antunes autografará o livro de memórias ´A Tempo´. Ao lado de Waldyr Senna Batista, dr. Oswaldo - como o chamamos com carinho - é o decano e pai da moderna imprensa de M. Claros. Entre outras revelações agora definitivamente lançadas à consulta permanente da história, está o relato de como encontrou, morto, minutos depois, o ex-prefeito Toninho Rebello, o maior prefeito de todos os tempos de M. Claros.
<br>Eis o relato daquele 10 de novembro de 1992:
<br>“Dos amigos, o primeiro a chegar à casa naquele dia foi o Diretor de O Jornal de Montes Claros, que viu Toninho como que dormindo, semblante sereno, a cabeça apoiada no colo da filha Cristina, ela acariciando-o e chorando, as lágrimas a caírem sobre seu ventre expandido onde pulsava uma vida nova. Era vida menina, prestes a sair da Plenitude para o mundo, enquanto o avô se acabava no mundo fortuito e na Plenitude imergia. A cena revela mais esperança e futuridade do que tristeza e passamento. O homem público, pai, avô, amigo não se fora completamente: a vida e seu brilho pareciam ter ficado onde estava o corpo quieto, e, como lá fora a radiação da branca e diurna lua cheia, acariciavam a família despercebidamente, consolavam amigos, vigiavam a cidade amada. Seus cuidados pareciam flutuar no vento, como a resposta melódica na canção dos Beatles, farfalhando os galhos floridos da acácia amarela que fora plantada pelo morto”.
<br>A cena que Dr. Oswaldo fixa, do momento em que Toninho transpõe em mais de um sentido os limites desta vida, a suavidade do quadro, sua altivez humílima que arrasta e comove, provocam-me a necessidade de também mencionar o que talvez tenha sido a ultima conversa de Toninho fora do ambiente familiar no princípio da tarde em que, sem aviso, partiu. <br><br>Por volta do meio-dia daqueles 10 de novembro, finalizado o expediente da manhã na Rádio Montes Claros 98 FM, vi-me paralisado diante do telefone. Um impulso, incomum, mandou-me que ligasse. Para quem ? – perguntei-me, incomodado pela necessidade rara. Empunhei o telefone como que cumprindo uma ordem e liguei para.... Toninho, o que não era habitual.<br><br>(Jamais lhe incomodei nos tempos repetidos em que foi prefeito e eu jovem repórter, e publicamente confesso que sempre acerquei-me mais do cidadão Toninho, fora e longe do poder, embora minha admiração pelo prefeito só faça crescer. Quando passou a ser alvo de perseguições as mais abjetas, que lhe pretendiam alcançar também a família, a ele me juntei instantaneamente, com que imantado ao que lhe poderia acontecer, e deste tempo também guardo recordações do seu exemplo, e sempre o mais alto).<br> <br>Toninho estava ótimo naquele começo de tarde. Havia acabado de chegar do Parque de Exposições, e pelo telefone novamente o revi, manso, prudente, modesto, limpo no corpo e na alma, como sempre metido em camisa alva e bem passada por sobre a calça, como se ao alcance da mão existisse permanentemente um estoque de camisas, limpas como ele, sóbrias como sempre foi.
<br>Na conversa, de vinte minutos, mencionamos aspectos da vida da cidade, lançamos um olhar sobre o cotidiano e nos despedimos com afeto, nos prometendo novas conversas mais amiúdes. Desci para o almoço com minha mãe, quando o telefone imediatamente tocou ao chegar.

Era o prefeito Mário Ribeiro. Ele avisou que ia me dar uma notícia dura, e recomendou que me assentasse. “Toninho Rebello acaba de morrer”. <br>Contraditei imediatamente, com veemência,dizendo que havia falado com ele quinze minutos antes, que era impossível, que era engano, que não podia ser - relutei o mais que pude. Mário Ribeiro não deixou dúvidas, categórico, mas não convincente. Larguei do telefone, tomei o carro, corri para a casa de Toninho.
<br>Ao entrar na reservada rua que desemboca na sua casa, onde menino estudei com o seu filho Jacinto nas amoreiras que lá existiam, derramadas sobre o muro, ao entrar na rua o movimento na porta da casa fez-me convencer daquilo que não fora capaz o telefonema de Mário Ribeiro. Estava mesmo morto, e apenas fisicamente, o maior prefeito da história de M. Claros, paradigma do homem público que imaginei e conheci na vida, em profundo desacordo com o que viria depois e prossegue até hoje.
<br>No rastro da emoção que o depoimento de Oswaldo Antunes desperta, contemplo seguidamente a cena de Toninho morto no colo da filha, que silenciosamente chora. Morto, parece ainda maior do que vivo, repete a lição do professor Pedro Sant’ana, também saudade nossa. Eternas lembranças, às quais, é preciso recorrer, e meditar.

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