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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: “Esta crônica é uma homenagem às reminiscências do notável autor Augustão Bala Doce. Um pouco da sua infância, certamente fará brotar lágrimas em seus olhos”.
G A L<br><br>Estatura média, tez mulata, corpulento, musculoso, carrancudo e generoso. Este era Gal! Amigo do peito e empregado da fazenda Lagoinha de propriedade de Biô Maia. Alpercatas de couro, canivete Corneta, palha macia e fumo de rolo, calças Triunfador, camisas riscadas.<br>Meio desligado das coisas deste mundo bobo, meio desatento, seu espírito passeava no etéreo e ele caminhava na realidade. Empregado da Fazenda Lagoinha, Sancho Pança do Dom Quixote Biô (Gabriel da Silva Maia), proprietário das terras, assim era Gal.<br>Nos bons 1950 ele vinha à cidade buscar Quita Maia para passar uns dias no Cedro. Imitando Ford Bigode, ele botava a menina pendurada na sua costa e saia guiando feito carro pelas trilhas até a Lagoinha. Pisava tão macio que Quita chegava dormindo no destino.<br>Vendida a fazenda, seu único rincão, veio com o seu amigo e patrão, orar no apartamento de Quita Maia, já adulta e casada, na Rua Dom Pedro II, no centro de Montes Claros. Não ficou embora tivesse cama, mesa e banho. Detestava modernidades, não misturava o seu barro humano ao barro das gentes da cidade.<br>Lá havia escadas e os botões do elevador para apertar. Ele não sabia mexer em botões! A solidão da urbe agregou à sua alma o peso da saudade. A cachaça, sorvida na meiota, aliviava. Às vezes, duas meiotas. Era difícil subir todos aqueles degraus com os parietais pegando fogo e as pernas bambas.<br>O bom mesmo era morar no plano, no chão de Meu Deus, lá na Lagoinha, onde tinha canário cantador sob a amplidão dos céus, as lagartixas comendo inseto nas palhas.<br>A modernidade trouxe a telefonia automática de Hildebrando Mendes e, com ela, o aparelho de baquelita preta da Siemens. <br>Relata-nos Augustão Bala Doce, que Gal, chamado para receber um comunicado do patrão, vindo em espirais metálicas pelo telefone e como o berço não lhe embalara a retórica, exclamou no dialeto “pé-quebrado”, estando espavorecido!<br>Ué! Como é que cabe seu Biô aqui dentro desse trem preto! Ato seguinte arrancou os tentáculos e artérias daquele monstro grudado na parede. E com sua violência em nome do pudor, quebrou tudo visando libertar o patrão, possivelmente espremido ali na barriga daquela estrovenga.<br>Voltou para a Fazenda Lagoinha e foi morar numa palhoça no pé do morro Dois Irmãos.Não tinha mais Biô para dois dedos de prosa e conversava com os duendes, com o espírito da pedra e com o caipora das florestas. Assoviava com os passarinhos e escutava o choro da mata no anoitecer e o chiado do chocalho da cascavel!<br>Assistia o sol nascer, via as sombras do lusco-fusco e as assombrações da chapada.<br>Chegou o vento de agosto, o mês do desgosto. Uma lufada de ar atiçou uma faísca do fogão de barro e a Salamandra do pé da serra pôs fogo na palha do casebre. <br>Naquela noite, Gal tinha tombado no chão de terra batida, vencido pela cachaça branquinha, saída da cabeça do alambique e ingerida sob a égide da tristeza.<br>E aí, foi fogo no lombo de Gal! Ficou que nem tição! Virou cinza. Retornou às cinzas de que viera e como uma Fênix alçou vôo com as asas de Pteros.<br>Deuses, gigantes, ninfas, efébos e homens-menino, quando morrem por aqui vão para o Olimpo. Lá chegando, o Arcanjo Gabriel amparou-o sob suas asas.

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