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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Inofensivos Doidos Mansos

Ruth Tupinambá Graça

Até os anos 40 ou talvez mais um pouco a nossa Montes Claros, Princesa do Sertão, era realmente uma princesa muito pacata, livre dos ladrões, assassinos e tarados, não se falava em seqüestros, estupros e violências.
Podíamos sair de casa á noite, dormir de portas abertas.
Os poetas cantores faziam serenatas altas horas, sem nenhuma preocupação de assaltos ou coisas semelhantes. As ruas mal iluminadas eram o ideal para os namorados aproveitarem o luar dando rédeas ás emoções do coração, não correndo o risco de serem violentados.
As crianças brincavam livremente nas Praças á noite, andavam sozinhas, os jovens freqüentavam Clubes livre dos assaltos.
Que saudade eu tenho daminha infância! Como eu tinha liberdade e como aproveitei bem aquele período tão bom da minha!
Sinto que o mesmo não acontece aos meus bisnetos, que hoje vivem presos em apartamentos como passarinhos engaiolados. Não existia perigo nenhum em nossa cidade.
Aparem apenas, de vez em quando, ‘Doidos Mansos’ inofensivos, que se descansarem, atormentados muitos vezes, pela criança que, maldosamente atiravam-lhes pedras arreliando só para vê dizerem palavrões.
Não causavam nenhum mal a nossa cidade e nem mesmo aquelas crianças malvadas.
À noite dormiam sob as marquises ou qualquer arvore, ao relento, deitados no chão duro, tendo como travesseiros, monte de papelão sujos catados nas ruas.
Se sentiam frio ou fome, ninguém se preocupava {falha do ser humano} e aqueles pobres permaneciam encolhidos, minguados como seu próprio destino, mergulhados em sua miséria de corpo e de espírito.
Embora desmemoriados (o cérebro é um enigma) e naturalmente acordados os “sonhos” vinham como uma recompensa divina, um presente do céu para amenizar-lhes o sofrimento. Alguns sonhavam que eram reis ou príncipes e como tais se compenetravam julgando que tudo à sua volta lhes pertencia, tinham visões.
Outros, entretanto, sentiam-se como soldados em guerra. Quantas vezes os viram marchando pelas ruas, com um porrete ao ombro, aflitos, atormentados, como se ouvissem o rebombar ensurdecedor dos canhões...
Havia ainda os que se julgavam poderosos, tinham até lar, família, filhos e riquezas... e
viviam a procurá-los, falando sozinhos, dando ordens como se fossem chefe de família e até sorriam absorvidos naquele mundo fantástico!
Outros mais audazes faziam discursos, em voz alta, pregando religião como se fossem padres ou pastores, enrolando a língua num “falso inglês”.
Os populares, muitas vezes, paravam par ouvi-los e até se distraiam á custa daqueles pobres desmemoriados. Não me lembro dos seus nomes, mas foram muitos que, quando criança, os vi percorrendo as ruas da nossa cidade, e fora destas alucinações, muitas vezes, apáticos encostados às portas de um boteco ou padaria, esperando pacientemente uma esmola.
Muita gente ainda se lembra destes pobres coitados, almas simples, sem maldades.
Ninguém sabia de onde vinham nem pra onde iam.
Até poucos anos, ainda perambulava pelas ruas o “Galinheiro”, um destes desmemoriados. Mal podia andar, falava muito e tudo que encontrava pelas ruas ia pendurando em volta do seu corpo, por todos os lados, parecia mais uma árvore de natal.
Ninguém sabia nem ele mesmo, o que faria com tanto penduricalho.
Hoje nossa cidade é civilizada e cheirosa. Raramente se vê um esmoler ou um destes malucos pelas ruas, e quando isto acontecer as autoridades responsáveis tomam as devidas providências.
Infelizmente ao contrario da tranqüilidade de outrora, a violência domina nossa cidade.
Ao invés dos Doidos Mansos, que em nada nos prejudicavam, os arados, estupradores, ladrões e assassinos tomaram conta da cidade, tirando nosso sossego.
A todo o momento surgem terríveis casos de violência, que nos amedronta, causando pavor a toda comunidade. Nem sempre as autoridades conseguem captura-los, continuam soltos e cada vez mais perigosos.
Enquanto isto, a população é que sofre e permanece presa, enclausurada por trás dos altos muros e as cercas elétricas que se multiplicam, dia a dia em nossa cidade.

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