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Mensagem: ASSOVIANDO BOLEROCowan, 1979. Zé Amorim, então diretor da indústria cerâmica andava de um lado para outro no pátio, arrancando os fios dos cabelos, cheio de preocupações. O forno contínuo estava parado há quinze dias. Produção zero, caixa em vermelho!Uma engrenagem vital para o funcionamento do forno estava quebrada. A Retifica União avaliou o estrago e sugeriu enviar a mesma para São Paulo, onde havia mais recursos.O Zé andando pra lá e pra cá, no pátio da Cowan, quando recebe a visita de Tico Lopes, notando a cena de sofrimento procura ampara o amigo desolado.Toma a cena e fala: calma, Zé! Dê tempo ao tempo. Tudo vai se resolver. Já que o prejuízo é inevitável relaxa e toma uma Viriatinha vai comer uma farofa de galinha caipira na Zinha, aí em frente. Muda de ares e vai dar tudo certo!Zé, moralmente severo, olha acusatoriamente para o Tico, aquelas alturas meio hippie, vestindo calças jeans rasgadas e sentencia ao bom estilo Amorim-Curraleiro:Eu não sei é como você não endoida seu F.D.P! Andando para cima e para baixo com essa bolsa de couro de homossexual pendurada à tiracolo e cheia de fitinhas frescas. Cordãozinhos atravessados e babilaques. Cabelo iêiêiê... e cheirando à vodka.Completando a sentença amorinciana o Zé conclúi: Tem trinta e cinco peões há quinze dias assoviando bolero no pátio! Eu tô é lascado! E você desfilando com essa bolsa viadeira!...Tico leva o Zé para passear no Mercado Municipal, visando desanuviar a cabeça do homem de negócios. O Zé sai à procura de laranja flor, sua paixão. Logo depara com um bruaqueiro rebuçando a beirada de um saco de aniagem cheio das laranjas.Por cima do monte ensacado, três laranjas descascadas e com o tampo superior cortado e pendente. Zé arranca os tampos e, com avidez, suga as laranjas uma a uma deixando só a bucha. Ato seguinte cospe teatralmente os caroços retidos na sua boca, um a um, numa pontaria certeira, os lançando na lata de lixo.O Tico pergunta três vezes: Tá doce? Na quarta vez que pergunta, o Zé responde: só falta uma mão de cinza e um tacho de cobre!...
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