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Mensagem: A seca depois da seca Waldyr Senna Batista O pior da seca é o que vem depois dela. Na fase crucial, por volta de setembro/outubro, há a expectativa de que choverá nos próximos dias. Se isso não acontece até o início de novembro, tem-se como instalada a crise, e então começa o estresse dos produtores rurais.No ano passado, de janeiro a dezembro, a precipitação pluviométrica medida pelo serviço de meteorologia, que funciona na unidade local da UFMG, foi de 437,6 milímetros. Muito pouco, com a agravante de que o período foi precedido por um mês de dezembro também ruim de chuva, na marca de 197,1 mm. Seguiram-se números sofríveis em 2007: janeiro, 140,0; fevereiro, 264,1; março, 24,8; abril, 16,4; voltando a chover 13,3 mm em outubro; 72,5 mm em novembro; e 101,9 mm em dezembro. Considerado o período de dezembro de 2006 a dezembro de 2007 (treze meses), o total foi de 634,7 mm.Em levantamento que abrange 102 anos (desde 1905), o serviço, que foi operado, sucessivamente, por Dnocs, Sudene, Codevasf e INMET, registra anos muito melhores e piores. O campeão negativo absoluto foi 1936, quando choveu insignificantes 171,2 mm, portanto, a pior seca de todos os tempos; no outro extremo, em 1960 caiu um verdadeiro dilúvio, testemunhado por muita gente que ainda está aí para contar: 2.763,1 mm.O engenheiro-agrônomo Otaviano Figueiredo Barros, que fez a tabulação dos dados, opina que a incidência média anual de chuvas em Montes Claros situa-se em 1.100 mm, com base no que a região é classificada como semi-árida. Tomados os números absolutos, o quadro talvez não pareça tão crítico. Mas ele chama a atenção para o detalhe da má distribuição das chuvas, devido ao que, mesmo quando os números foram satisfatórios, não significa que as chuvas tenham sido mais benéficas do que em outros em que elas foram escassas, porque podem ter se concentrado em um mês ou dois. Isso os dados disponíveis não revelam. No ano recordista (1960), por exemplo, choveu exageradamente em pouco mais de trinta dias, provocando cheias do rio São Francisco em Pirapora e Januária, e Montes Claros ficou isolada durante vários dias, devido ao deslizamento de aterro na serra de Bocaiúva, onde foi necessário abrir desvio.Quanto à seca do ano passado, ela ainda não terminou. Começou no dia 22 de abril, data da última chuva (1 mm), e só voltou chover em 19 de outubro (0,3 mm). Em novembro, choveu apenas 72,5 mm e, em dezembro, 101,9 mm. Em janeiro, que já entrou na segunda quinzena, praticamente não choveu, até agora, o que não chega a surpreender, pois é época do chamado “veranico”. Entretanto, depois de um dezembro insatisfatório, alimentou-se a esperança de que a mãe natureza iria operar a compensação, o que não aconteceu.Assim sendo, ainda que chova bem daqui para a frente e em fevereiro, o ano de 2008 promete ser muito pior do que o de 2007. Para a agricultura, o tempo favorável ao plantio ficou para trás. Para a pecuária, haverá superposição de prejuízos, pois não houve recuperação de peso dos rebanhos e as más condições das pastagens e o baixo nível dos mananciais não permitirão engorda satisfatória do gado. Haverá super oferta e reduzida demanda, podendo ocorrer queda de preços do boi gordo. A liquidez baixa agravará a inadimplência dos financiamentos bancários.Sob esse aspecto, as medidas anunciadas pelos governos estadual e federal parecem inócuas. A renegociação de dívidas prometida pelo governo federal esbarrou na burocracia . Deu em nada. Quanto ao governo estadual, que entrou muito tarde no circuito, o pacote anunciado com estardalhaço na mídia, nasceu defasado, pois refere-se a financiamento para compra de ração e suplementação alimentar; aquisição de caixas d’água e construção de barragens (que ficarão vazias esperando as chuvas de final de ano); aquisição de sementes de feijão e sorgo e de insumos para avicultura (que também teriam utilidade em novembro e dezembro); e redução no preço da energia elétrica.A propósito: a seca não atinge somente o Norte de Minas. Chove pouco em todo o país, e a ameaça de novo apagão é real, apesar das tentativas do governo em negar o fato.
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