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Mensagem: PODE FALAR ALTO!Agosto, 1970. Vestindo terno xadrezinho, modelo inglês, colete, gravata borboleta, sapatos de verniz alemão, lencinho de organdi no bolso superior do paletó, abotoaduras de ouro, topete de artista francês e cheirando a nuit de Noel.Este cartão de visitas dizia ser diretor presidente de uma fábrica de peças de reposição para fornos industrial em São Paulo. Gestos delicados, boquinha de fresco, movimentos faciais e labiais de finesse. Perguntou se havia muito engenheiro estrangeiro com sotaque na empresa e queria ser recebido pelo diretor João Bosco.Após a minha informação, João Bosco falou: estou muito ocupado e não vou receber esse cavalo de charrete. Manda-o cacarejar em outro terreiro.O enfeitado saiu pisando em brasas por não ter sido recebido. Empurrei a bomba para a Cowan, lhe sugeri falar com o Zé Amorim, diretor da empresa citada.Como o Zé era prático e explícito, além de adotar a funcionalidade nos seus afazeres de diretor da indústria cerâmica, atendia na entrada do prédio. Sem portas. Tudo aberto. Controlava tudo ao vivo e em cores.O dândi chegou, sentou e fez uma cara de muxoxo, com biquinho de boca, pois, imaginava um gabinete com poltronas de veludo e ar condicionado.Zé por trás dos óculos aro de tartaruga já sacara o enfeitado e a princípio não foi com a fachada daquele presidente de indústria de meia tigela.Iniciado o diálogo o homem exagerou na gesticulação cuidadosa. Movimento refinado, boquinha de finesse, falava baixinho e o semblante refletia meia gravidade.Com o natural calor dos fornos da indústria, aliado à temperatura escaldante de agosto e a frescura daquele almofadinha lhe enchendo o saco tupiniquim, a gola da camisa Volta ao Mundo do Zé ensopou.Não deu outra! Insuflado pela pressão tripla o Zé vociferou entre dentes: essa empresa aqui é nossa e não devemos nada a ninguém. Portanto, fique a vontade e pode falar alto seu F.D.P! Aqui não tem fresco e nem dama de alta sociedade! Portanto, pode abrir a sua caixa de ferramenta, e falar logo um bom dia fidúma égua!O almofadinha, que estava no seu dia de cão, se sentindo escorraçado, escafedeu-se e gramou o beco de volta à terra da garoa.
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