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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: No último sábado, a Arquidiocese de Montes Claros perdeu um de seus filhos mais ilustres. Cônego Adherbal Murta de Almeida morreu na Santa Casa de Misericórdia, vítima de um câncer no intestino. Iria completar 85 anos no próximo dia 8 de maio. Padre Murta era um dos intelectuais mais festejados e admirados do Norte de Minas. Muito brincalhão, ele exercia com maestria os papéis de sábio e padre, embora, antes de mais nada, fosse um premonstratense apaixonado. Tanto que cumpriu bem a missão que lhe fora passada, de sintetizar a história dos seguidores de São Norberto na Igreja Particular de Montes Claros, por ocasião do centenário da chegada dos primeiros padres de batina branca, antes mesmo da criação da Diocese, que só ocorreria sete anos mais tarde. A seguir o texto que Padre Murta elaborou e leu, emocionado, para uma multidão de fiéis aglomerada na Praça da Matriz, no já longínquo dia 27 de julho de 2003. O original, redigido de próprio punho, perdeu-se no tempo. Vive apenas na lembrança de quem o recebeu: algumas folhas preenchidas com caneta esferográfica vermelha. Fora esse pequeno e incômodo detalhe, o teor foi conservado intacto, sem qualquer edição. SÍNTESE DA HISTÓRIA DA ORDEM PREMONSTRATENSE EM MONTES CLAROS Pelo Cônego Adherbal Murta de Almeida, O.Praem. I – Quem foram os primeiros religiosos que aqui chegaram? Os primeiros premonstratense chegados a Montes Claros foram o Cônego Carlos Vincart e o Cônego Francisco de Paula Moureau, vindos de Sete Lagoas. Vieram a pedido de Dom Joaquim Libério de Souza, Bispo de Diamantina, a que pertencia a atual região de Montes Claros. De Sete Lagoas, a cavalo, montados em burros e mulas tiveram de percorrer 500 quilômetros até Montes Claros. A caravana que os acompanhou era grande: para tanta gente foram necessários 29 animais de carga e de sela. Saindo pois de Sete Lagoas no dia 09 de julho de 1903, chegaram em Montes Claros às 14 horas do dia 27 do mesmo mês. Foi uma festa, como veremos: foguetes, bombas, sanfonas e tudo mais. Foram morar no sobrado hoje chamado da Fafil. II – Objetivo da missão Havia, na imensa região que contornaria Montes Claros uma imensa falta de padres que se dedicassem à pregação do Evangelho e às demais labutas de um verdadeiro apostolado. Em vista disso, foi impossível dizer não ao insistente pedido do Bispo de Diamantina, a cuja jurisdição pertencia a região do norte de Minas. Além disso, a falta de estradas ligando as regiões rurais à sede da paróquia, tornava quase impossível o atendimento ao povo, por um só ou dois sacerdotes. O objetivo da vinda dos premonstratenses para Montes Claros era pois dar resposta às necessidades espirituais de um imenso número de pessoas ansiosas para se aproximarem de Deus. III – Escolha de Montes Claros Já naquele tempo, a escolha de Montes Claros como residência e campo de trabalho para os parcenses deveu-se ao fato de mesmo com as grandes carências da cidade, era ela sem dúvida aquela que prometia maior crescimento populacional, econômico, religioso em todo o norte de Minas. IV – Como foi a chegada? Às 14 horas do dia 27 de julho de 1903, já muito perto da cidade, avistamos os primeiros cavaleiros, que vinham fazer a nós, novos missionários, uma escolta de honra na entrada da cidade. Que acolhimento nos estaria reservado no centro daquele sertão, na sede da paróquia? Rumores negativos tinham chegado aos nossos ouvidos alguns dias antes contra nós que íamos para Montes Claros com as intenções mais pacíficas. Eram desconfiança, eu diria mesmo um surdo ódio contra os padres estrangeiros, os padres brancos ousaram aventurar-se num ambiente desconhecido para europeus. Outra parte da população, que não acreditava nas ameaças da facção adversária, desejava testemunhar sua simpatia aos missionários, e foi por isso que a nossa entrada na cidade foi acompanhada de mil demonstrações de carinho e de alegre recepção. Uma turma enorme de cavaleiros, estrondo de foguetes e de bombas, inequívocos sinais de um acolhimento cordial. Muita gente levada, quem sabe, pela curiosidade de ver padres de batina branca, tinha se agrupado na frente da casa do Cônego Lúcio, onde deviam descer os dois religiosos. Os cavalos, burros e mulas, assustados com as músicas e com as bombas se apavoraram sem entender o que acontecia. Tudo, porém, se limitou a um susto para eles e para nós. Graças a Deus, a pretensa turma dos contra manifestantes não apareceu. Os tímidos se limitaram a uma reserva tímida, esperando para se pronunciarem a favor ou contra os premonstratenses, as atividades deles na delicada missão apostólica que acabava de lhes ser confiada. Graças a Deus, foi uma alegria esfusiante, uma recepção amorosa e esperançosa. V – Dificuldades encontradas Colocados dentro de um ambiente novo e que lhes era totalmente desconhecido, os dois missionários tiveram de enfrentar dificuldades de adaptação aparentemente invencíveis. Primeiro, o desconhecimento total da língua portuguesa, sobretudo do português regional, rústico e por isso de aprendizagem muito difícil. Além das dificuldades lingüísticas, a própria cultura reinante no ambiente de trabalho lhes era quase inacessível. Junte a isso as carências financeiras e econômicas a serem encaradas. Mesmo o contato com as lideranças políticas e religiosas não lhes era fácil. Estas dificuldades não eram exclusivas para os dois iniciantes da missão, mas se estendiam aos outros religiosos, que foram chegando aos poucos, apesar de eles terem à sua disposição as experiências já vividas por antecessores. Hoje não me é difícil avaliar os desconfortos que foram aparecendo aos poucos no relacionamento entre os novos missionários e o povo rude com que tinham de conviver: os valores não eram os mesmos, havia uma distância aparentemente invencível entre os dois setores. Alguns anos mais tarde tive experiência disso no meu contato de jovem inculto vindo das margens longínquas do Jequitinhonha e os limiares da cultura francesa e belga dos que tinham passado a juventude entre as elitizações culturais e científicas reinantes nas universidades européias. VI – Obras realizadas Pode-se afirmar que até o presente nenhuma outra entidade religiosa conseguiu construir em Minas obras de tamanho quilate como os fizeram os premonstratenses. Vamos citar e enumerar as obras religiosas, culturais e físicas que esses abnegados filhos de São Norberto conseguiram realizar, por si mesmos ou por sua influência. Em Montes Claros: Escola Apostólica São Norberto, prédio e mais melhoramentos; Matriz de Nossa Senhora e São José; Observatório de meteorologia; 1º jornal (A Verdade); 1ª tipografia; Museu de história natural; 1º teatro (São Genesco); Início do futebol; Palácio Episcopal; Ginásio Municipal de Montes Claros; Colégio São Norberto; Paróquia de São Norberto; Catedral; Casas paroquiais. Em Bocaiúva: Casa paroquial Senhor do Bonfim; Nova Matriz; Matriz do Sagrado Coração. Em Salinas: Colégio São Norberto; Capela do Senhor Bom Jesus. Em Brasília de Minas: Matriz da Senhora de Santa Ana; Companhia Telefônica; Igreja do Rosário; Capela São João Batista; Colégio Sant’Ana; Casa Paroquial. Em Ervália: Colégio Brasil. VII – Campos de trabalho Congonhas do Campo, Sete Lagoas, Montes Claros, Itacambira, Bocaiúva, Jequitaí, Salinas, Brasília de Minas, São João da Ponte, Monte Azul, Ervália, Guarujá e Contagem. VII – Personagens Padre Carlos Vincart, Padre Francisco de Paula Moureau, Cônego Bento Maussen, Cônego Maurício Gaspar, Cônego Hugo, Cônego Jerônimo Lambin, Cônego Paulo Laenarts, Cônego Amando, Cônego Gregório Dorshe, Cônego José Boelartz, Cônego Marcos Van In, Cônego Agostinho de Breuher, Cônego Alderico Marnett, Cônego Gilberto Kremer, Cônego Hendrihks, Cônego Siardo Mães, Cônego José de Coen, Cônego Quirino Queiroga, Cônego Fabiano de Andrade, Cônego Sebastião Raymundo de Castro, Dom Geraldo Majela de Castro (atual Arcebispo de Montes Claros), Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho (atual Arcebispo de Pouso Alegre), Cônego Adriano, morto e sepultado em Monte Azul, Cônego Huberto Murta, Cônego Sérgio Rocha, Cônego João Batista de Souza Lopes, Cônego Hermando, Cônego Toninho, Cônego Emanuel, Cônego Evangelista, Cônego Osvaldo, Cônego Hermano Durval de Morais Ferrei, Cônego Estanislau, Cônego Geraldo Queiroz, Cônego Maia, Cônego Boaventura e Cônego Luiz Vale. VIII – Pormenores O Padre Chico ou Cônego Francisco de Paula Moureau era padrinha de batismo do filho do embaixador da Bélgica no Brasil, já naquele tempo famoso pelo amor aos esportes. Feito presidente da Fifa, Mr. Havelange, o tal filho do embaixador, ainda bem jovem, morava no rio, no prédio da Embaixada. Passando pela capital, Padre Chico era obrigado a hospedar-se na residência do embaixador, como hóspede honra. O santo sacerdote morreu aqui em Montes Claros, no dia 21 de outubro de 1962. Cônego Clemente Laurens foi vigário da Paróquia de Jequitaí.Grande historiador, publicava todo ano um pequeno livro em que gravava os acontecimentos mais importantes da região. Infelizmente, ninguém possui um exemplar sequer de obra tão importante. Na frente da atual igreja matriz da cidade há uma grande estátua do imortal apóstolo. Cônego Siardo Maes durante anos foi superior dos premonstratenses do Park. Homem sumamente intelectualizado, era membro da Academia de Letras de sua cidade natal na Bélgica, historiador da referida cidade. Existe até hoje um verdadeiro mundo de folhas por ele escritas sobre a história de Bocaiúva, onde ele foi zeloso pároco. Infelizmente, a grande obra nunca se transformou em livro. Cônego Gilberto Kremer era pessoa sumamente elitizado, foi um dos primeiros sacerdotes que, ao lado do Cônego Lucas, dirigia o seu próprio automóvel. Cônego Agostinho e Cônego Alderico, pároco e vigário de Bocaiúva, tornaram-se capelães militares na 2ª grande guerra, vivendo nos centros da guerra. Os horrores da guerra perturbaram muito o psiquismo do santo sacerdote, que morreu bastante desequilibrado. X – Avaliação e episódios importantes A meu ver, foi de grande importância para as nossas regiões a presença atuante dos premonstratenses. Cumpre lembrar que há nas cidade que os tiveram a seu serviço sete ruas ou praças perpetuando a presença deles na memória do povo. Por onde a gente passa, tantos anos depois, ao pronunciar o nome deles, há sempre pessoas responsáveis e gratas que se manifestam com elogios marcantes aos heróis inesquecíveis. Na história destas cidades e regiões houve episódios que os imortalizaram: a criação da Escola Apostólica São Norberto em Montes Claros; a religiosidade do povo de Bocaiúva; a eterna gratidão do povo de Jequitaí, a perpetuação de seus nomes em ruas e praças de Brasília de Minas em outros lugares. Mas, entre todos os fatos importantes que enriqueceram a comunidade parcense de Montes Claros, cumpre salientar a sua elevação à categoria de Priorado com o nome de Nossa Senhora Aparecida e São Norberto. Foi isso sem dúvida um impulso encorajador para a sua transformação em Abadia e um reconhecimento oficial da operosidade construtiva do Cônego João Batista de Souza Lopes e seu suplente Cônego Osvaldo, admirados e reverenciados por quantos o conhecem. Obs.: Material elaborado especialmente a propósito do centenário da chegada da Ordem Premonstratense em Montes Claros(MG) e lida no dia 27 de julho de 2003, na Praça da Matriz, onde aconteceu o Dia da Arquidiocese, que encerrou a Semana do Centenário.

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